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Alfabetização: áreas investigadas

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CAPÍTULO II – ALFABETIZAÇÃO: UM PROCESSO EM PERMANENTE

2.3 Alfabetização: áreas investigadas

Nesta análise nos detivemos em informar a área de conhecimento da qual se originou as teses e dissertações sobre alfabetização no Brasil no período de 1990 a 2009, presentes nos resumos. A preponderância da área pedagógica é bastante expressiva, das 860 teses e dissertações analisadas, 78% são desta área, conforme revela a tabela 13.

Tabela 13 – Áreas de conhecimento das Dissertações e Teses sobre alfabetização no Brasil – 1990 a 2009

Área Quant. 1990-1999 % Quant. 2000-2009 % Quant. Total %

Pedagogia 215 77 458 79 673 78

Letras/Linguística 33 12 82 14 115 13

Psicologia 30 11 42 7 72 9

Totais 278 32 582 68 860 100

Fonte: Dados elaborados por meio da análise dos resumos de teses e dissertações disponíveis no Banco de Teses Capes para a pesquisa o estado do conhecimento da alfabetização no Brasil – 1941 a 2009.

Até a década de 1970, os estudos e pesquisas sobre alfabetização, voltavam-se para a faceta psicológica, a partir da década de 1980 esta realidade foi mudando e hoje os estudos concentram-se na área pedagógica. Na perspectiva psicológica da alfabetização, “estudam-se os processos psicológicos considerados necessários como pré-requisitos para a alfabetização, e os processos psicológicos por meio dos quais o indivíduo aprende a ler e a escrever (SOARES, 2007, p. 18).

Carvalho relata que as expectativas psicológicas que prevalecem no meio educacional são que o professor domina o conhecimento produzido pela psicologia, ou seja, se ele conhece as estruturas cognitivas e seus estágios de evolução ou as teorias que explicam os processos interacionais, ele é capaz de tornar o conteúdo assimilável pela criança. Mas isso não procede, visto que a ação docente é bastante complexa e não se limita a mera aplicação dos conteúdos da Psicologia à prática pedagógica (CARVALHO, 2008).

Assim, perde-se o foco dos pesquisadores na prática pedagógica do professor alfabetizador, que se ocupa em fornecer elementos teóricos que lhes indiquem o que deve fazer.

Considerando que as teorias psicológicas não têm uma ingerência direta sobre a prática, sendo recriadas pelos professores com base nas necessidades do seu fazer cotidiano, cabe indagar se a diversidade teórica observada nas publicações se reflete na prática docente e, especialmente, como isto acontece (CARVALHO, 2008, p. 4).

Nas postulações de Carvalho podemos sintetizar as questões centrais que “polarizam o debate acerca da alfabetização e ação docente em duas posições quanto à relação entre Psicologia e alfabetização e Psicologia e Educação, que refletem diferentes concepções de conhecimento e diferentes maneiras de compreender o papel do professor” (CARVALHO, 2008, p. 3).

Carvalho pontua que:

A primeira posição, hegemônica na produção teórica da área, subordina o processo pedagógico ao desenvolvimento das estruturas cognitivas da criança, ao considerar que o conteúdo básico de um currículo é o próprio processo de pensamento. Assim, são as estruturas cognitivas já existentes que orientam o processo de aprendizagem. Neste caso, o papel do professor alfabetizador consiste em observar, compreender e acompanhar a criança nas etapas de construção da leitura e da escrita, reorganizando didaticamente o material, de modo a torná-lo assimilável, de acordo com o estágio do desenvolvimento em que a criança se encontra. A relação entre Psicologia e Educação estabelece-se de forma assimétrica, sendo a Educação um mero campo de aplicação dos conhecimentos produzidos pela Psicologia (CARVALHO, 2008, p. 3- 4).

Na segunda posição Carvalho afiança que

Há um papel definido para a escola: o de ensinar conteúdos científicos e socialmente relevantes, ou seja, possibilitar à criança o domínio dos conhecimentos exigidos pela sociedade para o futuro e que não são apreendidos por ela de forma espontânea ou apenas no convívio social. Tal posição defende um papel ativo do professor no processo de ensino-aprendizagem, porque considera que a aprendizagem estimula o desenvolvimento e não é apenas resultado deste. No caso da alfabetização, é necessário que o professor auxilie a criança a compreender as peculiaridades do sistema escrito, seu caráter simbólico e sua função social, criando situações de ensino que possibilitem tal aquisição. Por esta compreensão, as relações entre Psicologia e Educação são simétricas e complementares, sendo o conhecimento produzido na educação fundamental visando à ampliação do conhecimento psicológico sobre a criança (CARVALHO, 2008, p. 4).

Quanto à linguística, ela vem conquistando espaço nas discussões sobre alfabetização, como seu objeto de estudo é a estrutura e o funcionamento das línguas naturais, é preciso que os professores alfabetizadores conhecem-na adequadamente, visto que “ler e escrever são atos linguísticos e, portanto, a compreensão da natureza da escrita, de suas funções e usos é indispensável ao processo de alfabetização (CAGLIARI, 1992, p. 8).

A Tabela 14 evidencia quais os temas discutidos por área do conhecimento.

Tabela 14 – Temas distribuídos por áreas de conhecimento das Dissertações e Teses sobre alfabetização no Brasil – 1990 a 2009

Temas Educação Letras Linguística Psicologia Total

Alfabetização alunos com

necessidades especiais 32 01 03 07 42

Avaliação 16 01 01 05 23

Caracterização do alfabetizador 102 02 03 08 115

Cartilhas/Livro didático 14 03 02 - 19

Conceituação de língua escrita 38 02 05 06 51

Concepção de alfabetização 115 05 05 04 129 Determinantes de resultados 41 01 02 05 49 Dificuldades de aprendizagem 14 03 - 04 21 Formação do alfabetizador 94 03 06 03 106 Leitura 20 05 08 03 36 Letramento 27 01 02 03 33

Língua oral/Língua escrita 32 07 09 08 56

Método 09 02 02 - 13 Planejamento 02 - - - 02 Políticas Públicas 20 - - - 19 Produção de texto 08 04 05 05 22 Prontidão 03 - - 01 04 Proposta didática 76 01 04 04 87 Sistema fonológico/Sistema ortográfico 10 06 11 06 33 Totais 673 47 68 72 860

Fonte: Dados elaborados por meio da análise dos resumos de teses e dissertações disponíveis no Banco de Teses Capes para a pesquisa o estado do conhecimento da alfabetização no Brasil – 1944 a 2009.

Praticamente todos os temas são discutidos em todas as áreas do conhecimento reforçando as considerações de Soares (1985) sobre a complexidade da temática alfabetização. Cabe aqui ressaltar a relevância da formação do professor alfabetizador, que deve possuir conhecimento de todas as facetas apresentadas pela alfabetização para efetivar uma prática eficiente que possa garantir a alfabetização de todas as crianças. Esta não é uma tarefa fácil e não depende apenas do professor, mas também de políticas públicas que garantam uma formação de qualidade, condições mínimas de trabalho e um salário digno.

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