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ALGUMA SITUAÇÃO SE VOCÊ NÃO TEM CONHECIMENTO, NÃO TEM FIRMEZA NAQUILO QUE VOCÊ FAZ” (P8): Educação para as sexualidades no contexto da

Ideologia de gênero.

Jimena Furlani faz uma discussão acerca do termo que circula com forte apoio da instituição igreja, trazendo problematizações acerca da construção de uma cartilha com autoria de Felipe Nery16 sobre o que ele denomina “ideologia de gênero”. A seguir, imagens disponíveis na internet, de domínio público, ilustrando como o termo ideologia de gênero é abordado de forma a descaracterizar os estudos de gênero e as ações realizadas à luz desses estudos em instituições de ensino:

Figura 4- Folder sobre “Ideologia de gênero”

Disponível em: http://biopolitica.com.br/index.php/artigos/40-voce-ja-ouviu-falar-sobre-a-ideologia- de-genero.

16 Presidente do Observatório Interamericano de Biopolítica), aos 57min12s no vídeo intitulado "Prof. Felipe Neri

– Ideologia de Gênero e Plano Municipal de Educação", publicado no youtube no dia 18 de abril de 2015.(https://www.youtube.com/watch?v=7pSUXG-URyw ). Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0Bxw_jT3HkWUOcEJxc2dLX3VKcmM/view. Acesso em: 09/01/2018.

Diferentemente do que se propaga como “algo desastroso e com consequências impensáveis”17, comprometendo a segurança moral da sociedade, a autora inicia pontuando que:

O termo "ideologia de gênero" não está presente, não é de uso no contexto das Teorias de Gênero. Esse termo, essa expressão, foi criada/inventada, recentemente, no interior de alguns discursos religiosos. Trata-se de uma interpretação, equivocada e confusa, que não reflete o entendimento de "Gênero" presente na Educação e na escolarização brasileiras, nas práticas docentes e/ou nos cursos de formação inicial e continuada de professoras/as. (FURLANI, 2016, p.2)

Aos que fazem circular a ideia de “ideologia de gênero”, conecta uma fala de que, sobretudo as produções realizadas pela academia pretendem acabar com a constituição do que é determinado como “família natural”, atuando de forma a distorcer os estudos da constituição do sujeito enquanto processo histórico e cultural.

Os vários vídeos de palestras de Felipe Nery vêm ganhando espaço na mídia, causando pânico em famílias, pois prega que temáticas de gênero abordadas nas escolas tendem a instigar e “ensinar” a homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade, dentre outras orientações sexuais. Esses discursos vêm produzindo verdades e produzem reações como as que exponho a seguir:

“Nós tivemos uma apresentação na escola daquela música ‘a grande família” e as crianças dançavam essa música. Elas estavam animadas e levantou o público. Mas tinha uns bonecos nos colos das crianças e um menino estava com um dos bonecos, segurando durante a apresentação. Quando terminou, a família avançou na professora, que é experiente, uma professora que a gente pensa que vai ter argumento na ponta da língua, e eles não aceitaram o menino fazer a apresentação com o boneco no braço. Quando eu cheguei na escola no outro dia, estava um alvoroço. Eu disse que não tinha o que alarmar. A resposta é muito simples: Não é só mulher que segura o bebê. Estavam com “a unha na cabeça” e eu disse que se ficássemos igual a família, a gente não iria sair do lugar. Aí a gente percebe que até aquela estudiosa, que a gente pensa que está numa caminhada mais avançada, se sente acuada pela família na hora que a família aperta. Ela chorou, não respondeu nada. Nós tivemos que acudir porque a família agiu sem respeito. Foi no meio de todo mundo. Tudo isso por uma coisa tão simples. ” (P7)

O Pastor Ronaldo P. Mendes (2017), reforça atitudes como a descrita acima, voltando sua fala para questões religiosas:

Os nossos filhos devem ser instruídos à luz da Bíblia. Não permita que o mundo influencie seus filhos. Se eles já entendem, converse sobre os perigos que o mundo oferece. Instrua-os sobre sexualidade de uma forma sábia e com muita oração. Não tenha medo de falar porque o mundo não tem. Essa crença que o mundo chama de “ideologia de gênero” é mais um instrumento nas mãos

de satanás para destruir a família. Assim sendo, é abominável aos olhos de deus e não deve fazer parte de forma alguma da igreja do Senhor Jesus Cristo. ” (MENDES, 2017, s.p.)

A abordagem apelativa desses enunciados além de causar insegurança ao/às educadores/as, demanda que estudiosos/as se debrucem em produções e ações que possam conduzir ao entendimento de que ideologia de gênero está na contramão dos estudos de gênero.

Os Estudos de Gênero nos mostram que no Brasil, assim como no mundo, a família é uma das instituições sociais mais sólidas, porém, em permanente transformação. A Escola, vista como um espaço democrático e de inclusão, sabe que, além da família heterossexual tradicional (composta de pai, mãe e filhos/as) há outros modelos familiares, dentro da própria heterossexualidade, por exemplo: "as famílias onde a/o “chefe” (ou pessoa de referência) não é um homem ( mas uma mulher); famílias com mulheres (e/ou homens) solteiras/os com filhos/as; famílias com filhas/os agregada/os de diferentes casamentos; famílias com filhos/as adotados/as; famílias onde os/as avós moram juntos, ou outros parentes, etc.". Além disso, há também as famílias constituídas por mulheres ou homens homossexuais, com filhas/os biológicos ou filhos/as adotados/as, ou sem filhos/as. (FURLANI, 2016. p.3)

E explica ainda que:

Os Estudos de Gênero são propostas teóricas e reflexões que buscam combater a violência contra a mulher e as crianças, defendem o respeito às diferenças, à diversidade e entendem que a sociedade é plural e a escola deve discutir a exclusão a as formas muitas de preconceito. (FURLANI, 2016, p.2)

Em suma, a academia não pretende acabar com a constituição de família, mas dar visibilidade as várias formações da mesma, apresentando as famílias, em suas múltiplas representações. Contrário do que é apresentado no discurso fervoroso trazido Felipe Nery em um de seus vídeos18, de que o que se pretende é entrar nas escolas, estimulando as crianças a experimentar todos os tipos de sexualidade, confundindo e fabricando nelas percepções de si que não lhes pertencem.

Nesse sentido, o termo “ideologia de gênero” não representa as propostas dos estudos de gênero e educação para as sexualidades. O que a presente pesquisa trata como uma abordagem de gênero e sexualidade nas escolas conversa com o que foi amplamente descrito com subsídio teórico fundamentado por meio de ações planejadas como as realizadas pelo Pibid com responsabilidade e comprometimento ético político e estético.