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O brincar ou a brincadeira é atividade principal da criança. Sua importância reside no fato de ser uma ação livre, iniciada e conduzida pela criança com a finalidade de tomar decisões, expressar sentimento e valores, conhecer a si mesma, as outras pessoas e o mundo em que vive. Brincar é repetir e recriar ações prazerosas, expressar tristezas, desconfortos, situações imaginárias, criativas, compartilhar brincadeiras com outras pessoas, expressar sua individualidade e sua identidade, explorar a natureza, os objetos, comunicar- se e participar da cultura lúdica para compreender seu universo. (BRASIL, 2012, p.11)

Entrelaçar o brincar nas atividades propostas na/para a Educação Infantil conduz a criança e suas representações para o foco da educação de crianças pequenas. Por meio de experiências brincantes elas vão construindo significados e expondo sentimentos, sensações e (re) criando o mundo a sua volta. Aos pequenos/as, deve ser oferecido um ambiente lúdico, onde na perspectiva de Elaine Dias:

A Educação Lúdica está longe de ser uma simples brincadeira ou passatempo. É uma atividade inerente a criança que leva o ser humano ao encontro do

conhecimento, da socialização e do desenvolvimento do seu caráter. O lúdico na educação infantil tem sido uma das estratégias mais bem-sucedidas no que concerne à estimulação do desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem de uma criança. Essa atividade é significativa por que desenvolvem as capacidades de atenção, memória, percepção, sensação e todos os aspectos básicos referentes à aprendizagem. (DIAS, 2013, p.03-04)

As brincadeiras, oferecidas como combustível para os momentos de ludicidade, irão auxiliar em um processo de ensino-aprendizagem prazeroso e amplo, possibilitando por meio das interações descobertas farão desencadear reflexões, posicionamentos, representações as mais diversas do mundo e de si. Segundo Tizuko Kishimoto:

Para a criança, o brincar é a atividade principal do dia-a-dia. É importante porque dá a ela o poder de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, de repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade e identidade por meio de diferentes linguagens, de usar o corpo, os sentidos, os movimentos, de solucionar problemas e criar. Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver. (KISHIMOTO, 2010, p.1)

Nessa tônica, brincar configura ferramenta nos processos educativos embora não haja necessidade de ser anunciada para as crianças como tal. A mediação existe, vinculada ao observar, contemplar. Além de inerente à criança, instiga ao aprendizado. Nas palavras de P2:

“As possibilidades do brincar são infinitas, dá para aprender todos os conteúdos, pensamentos, conquistas, levantamentos de hipóteses, desenvolvimento da linguagem. A partir da brincadeira tudo isso é possível”.

O brincar deve perpassar pela liberdade de escolhas. As crianças precisam ter seu tempo de organização respeitado para brinquedos, lugares, companhias para fazerem acontecer a brincadeira. Tal organização demanda tempo, que não raramente não é disponibilizado a ela s. Há um cronômetro organizacional dentro do qual as coisas devem acontecer. Meia hora no parquinho, vinte minutos com os brinquedos da sala, e por aí vai.

A criança, mesmo pequena, sabe muitas coisas: toma decisões, escolhe o que quer fazer, interage com pessoas, expressa o que sabe fazer e mostra, em seus gestos, em um olhar, uma palavra, como é capaz de compreender o mundo. Entre as coisas de que a criança gosta está o brincar, que é um dos seus direitos. O brincar é uma ação livre, que surge a qualquer hora, iniciada e conduzida pela criança; dá prazer, não exige como condição um produto final; relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades e introduz a criança no mundo imaginário. (KISHIMOTO, 2010, p.2)

A organização de tempo/espaço se faz necessária pela demanda de turmas para utilizar os espaços de Cmeis, mas até que ponto restringimos possibilidades e cerceamos os corpos dessas crianças em suas brincadeiras?

Mais uma vez aciono Cláudia Ribeiro para falar do quanto “a infância é definida pelo adulto que desconsidera as especificidades da criança, submetendo-as às suas necessidades. [...] do poder sob as várias formas, coagindo corpos e mentes infantis mediante um mecanismo próprio que é a disciplina”. (2014, p. 5).

O discurso contraditório surge quando a disciplina confronta com a intenção de um espaço brincante. Sabe-se que as crianças aprendem por meio das interações, o que foi mencionado mais de uma vez no decorrer do presente texto Oliveira, 2012; Brasil, 2012, Brasil, 2017; Ribeiro, 2014 e Dias, 2013, reafirmando tal condição; porém, na contramão do conhecimento do/a educador/a, surgem questões como a que P3 relata:

“Os pais cobram as atividades da apostila feita, perguntam: Por que meu filho não fez tal página da apostila? Cobram do professor, o professor se sente acuado e acaba ficando na apostila mesmo. Pouco importa o que tem que ser feito com a criança. Como no exemplo da psicomotricidade... como desenvolver psicomotricidade com a criança sentada escrevendo? Estas realidades passam deturpadas para os pais, professores, que acabam ficando nesse engessamento. ”

Em consonância, pontua-se também que:

O contato com diferentes formas de letras em cartazes, propagandas, embalagens, refrigerantes, revistas e jornais auxilia a entrada no mundo letrado. Brincar de colecionar, comparar e fazer álbuns com letras, verificar se uma tem perna de um lado ou de outro, partes abertas e fechadas, diferenciar os números são brincadeiras interessantes que se podem fazer na sala. Brincar de fotografar ou desenhar letreiros, placas de carros, sinais de trânsito, propagandas, visitar um supermercado e verificar sua sinalização e as marcas dos alimentos são interessantes “passeios” para iniciar a criança no mundo dos diferentes textos. Desenhar, pintar, dançar, cantar e imitar a mãe que dá comida ao bebê são outras formas de letramento, textos que enriquecem as experiências das crianças. Nesse percurso, é importante que a criança seja agente, tenha iniciativa e oportunidade de falar, de se expressar e participar do mundo letrado. (KISHIMOTO, 2010, p.7)

As contradições permeiam todo o contexto de ensinar e aprender com ou sem MDP, não somente pelos discursos, mas pelos fatores que os levam a serem ditos, perpassando pelo poder macro, que envolve documentos vigentes na legislação, decisões do poder executivo de cada município, olhar das necessidades de gestores/as de instituições, cobrança por uma educação de qualidade e consequentemente demanda de mercado para esse público, constituindo um rizoma em que vários fios podem ser puxados e se mergulhamos neles encontramos vários aspectos que não demandam ofertar uma receita.

A intencionalidade desta pesquisa consiste em problematizar os fios puxados. Não pretendo elencar o certo/errado, adequado ou não, usar/banir o MDP, mas sim questionar, convictamente, como está ocorrendo o processo educativo na Educação Infantil. KISHIMOTO ressalta ainda que:

Pelas brincadeiras, a criança socializa-se, integra-se em diferentes grupos sociais, aprende a explorar, compreende seu ambiente, desenvolve diferentes formas de linguagem e mantém a saúde mental e física. Não significa a ausência de professor nem de conhecimentos. Requer o planejamento de espaços, seleção de materiais e conteúdos, materializados em projetos de interação com as crianças, visando à construção do conhecimento, de acordo com as características e ritmo da criança. (KISHIMOTO, 1997, p.5)

Tais dizeres instigam análises das singularidades para então haver condições de traçar as melhores estratégias para cada município, nunca perdendo de vista que a criança deve ser acolhida em um espaço brincante, que ofereça segurança para as aventuras que as interações irão lhe proporcionar, desaguando no direito de assegurar experiência s que perpassem sua condição de sujeito produtor de cultura e história.

“ESTÁ LONGE DO QUE ME CABE DIZER QUE TEM QUE DEIXAR DE SER ISSO OU