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Algumas características das famílias das crianças a observar

2. Enquadramento social do campo de observação

2.2. Algumas características das famílias das crianças a observar

Constata-se que a maior parte das crianças que frequentam estas UO vivem com seus pais e são provenientes de uma estrutura familiar de tipo restrito47, para

além de outras que vivem em situação monoparental e mesmo de família alargada.

46 Os dados aqui apresentados e que se irão seguir, foram recolhidos através de conversas com as respectivas

educadoras, nas declarações efectuadas pelos encarregados de educação nas fichas de inscrição das unidades de observação e ainda através de consultas aos projectos educativos do ano transato e de anos anteriores.

47 O que Iturra designa por "modelo central da cultura ocidental", que coincide com o "modelo central religioso".

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A unidade familiar funciona como esquema de referência no processo da construção da identidade de cada criança, uma vez que cada família tem as suas características

específicas, que lhe confere unicidade. Através dela a criança torna-se portadora da experiência e cultura familiar. Como diz Iturra, a "criança desenvolve o seu saber e o seu sentimento à medida do seu lar"46. Nesta linha de pensamento, Ferreira, citando

Shutz, realça que quando a criança chega ao jardim-de-infância, já possui

"um stock de conhecimentos pessoais adquiridos pela sedimentação de elementos de conhecimentos, interpretações e implicações pré-existentes comunicados por outros [...]; toda a interpretação deste mundo é baseada numa reserva de experiências adquiridas por via das suas experiências subjectivas significativas, as suas próprias e as que lhes transmitiram os seus pais ou outros [...]; estas experiências, sob a forma de 'conhecimentos disponíveis, funcionam como esquemas de referência no contexto de uma 'reserva de conhecimentos disponíveis'"49.

A autora, embebida no pensamento de Schutz, refere ainda, que o "stock de conhecimentos disponíveis" não é o mesmo para cada actor, uma vez que depende da história de vida de cada um, fruto de realidades multivariadas. Cada actor não é também, segundo os autores em referência, estruturado de forma coerente sistemática e consistente, sendo os conhecimentos disponíveis só em parte acessíveis à consciência mas permitindo-lhe, no entanto, "definir as situações em que se encontram a orientar a sua conduta"50. Importa assim entender como este

stock do conhecimento pré-existente, socialmente elaborado e transmitido é apropriado pelas crianças. Deste modo, interessa minimamente caracterizar o meio.

48 Idem, p. 27.

49 Cf. Schûtz, A., "Le chercheur et le quotidien", 1994, p. 12; Corcuff, Ph., "As novas sociologias", 1995, p. 68;

Blin, T., "Phénoménologie et sociologie comprehensive sur Alfred Schûtz", 1995, pp. 42-58; Goffman, E., "Les cadres de l'expérience", 1974, in Ferreira, Manuela, op. cit., p. 95.

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As famílias presentes nestas UO apresentam uma diversidade significativa quanto à situação profissional, habilitações literárias e idade dos encarregados de educação, como estão descritas nos quadros n.° 1 e n.° 2:

Quadro n.° 1 - Profissões e habilitações dos pais das crianças de Castelinhos

MÃE PAI

Criança habilitações idade profissão habilitações idade profissão

Gabi 4." classe 48 Empregada Balcão 4a classe 43 Construção civil Toni 12.° ano 37 Modista 12.° ano 39 Técnico Administrativa Titã 9 ° ano 39 Empregada Comercial 6.° ano 40 Empregado Comercial Vasco 6.° ano 34 Desempregada 6." ano 35 Empregado Comercial Tânia Licenciada 41 Professora 9.° ano 42 Técnico de Vendas Denise 6.° ano 33 Feirante 9.° ano 33 Feirante Marcelo 7.° ano 25 Empregada Balcão 6.° ano 28 Empregado Comercial Vânia 11.° ano 32 10.° ano 33 Ajudante Farmácia Lino Licenciada 36 Professora 11.° ano 41 Chefe de Vendas Lila 9.° ano 28 Desempregada 10.° ano 30 Vigilante Bé 10.° ano 33 Desempregada 12.° ano 34 Controlador Qualidade

Quadro n.° 2 - Profissões e habilitações dos pais das crianças de Pomares

MÃE PAI

Criança habilitações idade profissão habilitações idade profissão

Rita 9." ano 29 Doméstica 9. Ano 36 Serralheiro Dulce 10.° ano 24 Publicitária 11." 24 Esmaltador Tiago e

Renato * Licenciada 30 Bolseira Licenciado 31 Bolseiro Carlos 6.° ano 30 Doméstica

Simão 6.° ano 35 Doméstica 4.a classe 46 Empregado Armazém Lili Secundário Ensino 40 Doméstica Secundário Ensino 43 Agente Hoteleiro Joca 12.° ano 31 Supermercado Operadora 6.° ano 29 Cozinheiro Nita 4a classe 31 Madeireira 6o ano 34 Ferrageiro Goreti 4." classe 30 Cortadora 4a classe 37 Motorista Nuno 7.° ano Escriturária 9.° ano 29 Técnico Telecomunica. Gabriel 6.° ano 31 Tipógrafa 4." classe 35 Operário Especializado Telmo 7.° ano 25 Empregada Limpeza 9.° ano 27 Cameraman

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Ao analisarmos o nível de escolaridade e a situação profissional dos encarregados de educação das crianças, dos dois grupos alvos constatamos

algumas diferenças que os gráficos 1 e 2 ajudam a visualizar.

Gráfico 1 - Habilitações literárias de pai e de mâe da população de Castelinhos

18 T •o ra ■o ■c (0 16 14 12 10 8 6 4 2 0

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I ■ ■ ■ ■ ■ ■ 88. SK m JSS 1 I Mâe I Pai 5 6 7 crianças 10 11

Gráfico 2 - Habilitações literárias de pai e de mãe da população de Pomares

18 16 14 10 ■o 10 ?« 12 o o S a> •o n 6 o % 4 2 0

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l l l l l l l l I II II I

9 10 11 12 ]Mãe iPai crianças

Relativamente ao jardim-de-infância de Castelinhos, gráfico 1, as habilitações literárias das mães destas crianças são ligeiramente mais elevadas que as dos pais.

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Apenas três casais apresentam as mesmas habilitações, sendo dois de habilitações

baixas.

No jardim-de-infância de Pomares, gráfico 2, as habilitações literárias dos pais, contrariamente ao de Castelinhos, são ligeiramente mais elevadas que a das

mães: 4 casais são os pais que apresentam maiores habilitações e 4 tem as mesmas; apenas em três casais são as mães que apresentam maior grau de habilitações, mas são mesmo assim habilitações muito baixas. Em ambos os grupos o nível de habilitações literárias é baixo.

Gráfico 3 - Caracterização profissional das mães de Castelinhos

Gráfico 4 - Caracterização profissional dos pais de Castelinhos

30% 40% 20% 10% ■ serviços ■operárias D técnicas superiores D desempregadas 91% I serviços I operários

Quanto às profissões das mães das crianças que frequentam o jardim-de- infância de Castelinhos, como acontece com as habilitações literárias, são também ligeiramente mais elevadas que a dos pais. Sendo 3 desempregadas, 1 operária, 4 ligadas aos serviços 2 técnicas superiores e uma cuja profissão se desconhece. Quanto à situação profissional dos pais apenas 1 é operário e 10 estão ligados aos serviços (sector terciário). Concluímos que, predominantemente, os encarregados

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de educação destas crianças estão ligados aos serviços e pertencem ao que se

designa pelo estrato baixo da classe média.

Gráfico 5 - Caracterização profissional das mães de Pomares

Gráfico 6 - Caracterização profissional dos pais de Pomares

33% 34% □ serviços ■ operárias □técnicas superiores ■ domésticas 64% □ serviços ■operários □técnicos superiores

Na análise referente às profissões das mães das crianças do jardim-de- infância de Pomares constatamos uma maior diversidade que nas profissões dos pais. Sendo 4 mães domésticas, 3 dos serviços, 4 operárias e 1 técnica superior, enquanto que a situação profissional dos pais se distribuem apenas por 8 operários, 2 sector de serviços e 1 técnico superior. O que revela que no jardim-de-infância de Pomares predomina a categoria socioprofissional dos operários, apresentando níveis de escolarização mais baixos.

Constatamos, assim, que em ambos os jardins-de-infância existe alguma diversidade quanto às situações profissionais mas também uma certa homogeneidade sociocultural, uma vez que verificando-se um nível de habilitações ligeiramente mais elevado ao nível dos serviços (Castelinhos), elas no total dos dois

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jardins são mesmo assim baixas, variando entre a 4a classe e o 12° ano, mais de metade dos pais e mães têm habilitações até ao 9o ano de escolaridade, sendo esta realidade mais acentuada em Pomares, onde o sector primário predomina. Podemos concluir que estas crianças são oriundas de um estrato social baixo de pequena burguesia urbana e do operariado.

Como pormenor, em Castelinhos existem 2 mães desempregadas e não existe a profissão doméstica. Em Pomares existem 4 mães domésticas e nenhuma desempregada. Com estas características socioculturais das famílias não é provável que estas crianças tenham tido experiências de visita a espaços culturais como bibliotecas/ludotecas, museus ou exposições. O contacto com o museu, através do jardim-de-infância terá sido uma primeira experiência.

3. O processo de tomada de decisões