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CAPITULO II DO BRINCAR AO MUSEU

3. Abordagem ao processo educativo em museus

3.2. Para quem comunica o museu?

Sabemos que, nas últimas décadas, o conceito de Museu Nacional, que teve a sua origem no século XIX, e se transmitiu por toda a Europa, tem variado, de acordo com o contexto político/cultural. Neste limiar do século XXI, pretende-se, não um museu para uma elite acolitada por convidados especiais e amigos, mas para toda a comunidade, isto é, aberto a todos, uma vez que a sua essência é o público. O discurso da modernização em educação, que apela à inovação, integra os ideais dos "lugares-comuns", na medida em que estes também prospectivam a "ideia de

comunhão de um lugar, nomeadamente, com a ideia de partilha interiorizada de um espaço e de uma lógica que, sendo predominantemente cognitiva, também é um lugar sociaF'233, e onde os contextos de trabalho permitem contornos, desafios e

valências críticas das práticas discursivas, valorizando assim os "saberes

profissionais úteis à prática educativa"28*. O Museu aparece como espaço comum e

recurso para uma realização aditiva da formação permanente dos educadores e da sua aplicabilidade nos contextos de trabalho, em que se permite uma melhor identidade dos projectos culturais e educativos e dos "ideários pedagógicos" de acordo com os seus interesses e necessidades. No contexto museal, a nível

282 Guedes, Maria Natália, op. cit., 1994, p. 76.

283 Correia, op. cit., 1999, p. 3. 284 Idem, p. 6.

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europeu, tem-se apelado para a consolidação e autonomia dos profissionais dos serviços educativos, ao mesmo tempo que se desenvolvem sistemas e novas estratégias de exposição, dando mais relevância ao "potencial educativo do novo

museu e possuindo maior conhecimento sobre as características do público que os visita"2*5. Perante este desafio o museu, demonstrando interesse e preocupação

tem-se esforçado, por conhecer os motivos e o tipo de público que recebe. Para isto, os investigadores têm promovido pesquisas e reflexões críticas situadas no tempo e no espaço, procurando analisar as necessidades e interesses dos visitantes, segundo o leque etário.

Será que o público se desloca ao museu pela simples curiosidade de encontrar coisas diferentes? Ou será que se desloca porque lhe interessa completar a área dos conhecimentos inerentes à sua formação? Ou será uma simples distracção para esquecer a monotonia e as preocupações do dia-a-dia? Ou será talvez uma pequena emulação, fazendo gosto em acompanhar um familiar, um amigo, um vizinho e mostrar-lhe coisas bonitas, antigas, desconhecidas? Ou então,

um daqueles visitantes que frequentam o museu por tradição familiar, e quer continuar a mantê-la, apenas por "aparência"?286 É deste leque de escolhas

possíveis que emergem grupos distintos de público, de diversas origens etárias, culturais e étnicas, identificados ou não - aqueles que permanecem no anonimato porque ninguém os interpelou.

Hooper-Greenhill, op. c/f.,1998, p. 26, (nossa tradução).

Erving Goffman chama a esta situação "representação teatral". Diz este autor: "Pode chamar-se de 'aparência' aqueles estímulos que funcionam no momento para nos revelar o status social do actor". Este sociólogo, interaccionista simbólico da tradição dramatúrgica, analisa o comportamento humano como uma "metáfora teatral" em que o contexto habitual de interacção é o palco. As pessoas são actores que estruturam os seus desempenhos para impressionar a "plateia". Cf. Goffman, Erving, A representação do eu na vida

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Hooper-Greenhill refere que "o primeiro passo consiste em compreender que

'o público' se divide numa série de grupos que possuem certas características em comum. O conceito de grupo-alvo, extraído da teoria da investigação de mercados, pode ser muito útil neste sentido"267.

A museologia actual está a caminho de sustentar uma construção de educação capaz de conceber e (re)construir programas educativos, participativos e interactivos, no sentido de ir ao encontro das necessidades de diversos grupos de públicos-alvo, proporcionando-lhes o manuseamento de colecções e/ou outras actividades distintas, consoante os valores, interesses e formação de cada um ou de cada grupo. Não é apenas a boa qualidade dos objectos expostos e uma apresentação tecnicamente bem concebida que poderá fazer o sucesso de uma exposição. Esta só se obterá se os visitantes já estiverem motivados para os conteúdos que irão observar288.

Roy Strong diz que "para poder comunicar, o Museu deve, evidentemente, ter

à sua disposição meios de comunicação (...) e com a enorme diversidade de meios que isso implica: publicações, conferências, rádio, televisão, vídeo"239 e Internet, isto

é, recorrendo às variadas técnicas e recursos de marketing. Sabemos que o progresso científico e tecnológico atinge cada vez mais o ser humano. É através deste progresso, que a (in)formação, o entretenimento são difundidos, que modificamos a nossa maneira de conhecer e compreender o universo, ao longo da vida. Nesta linha de pensamento, Correia postula que a Ciência e a Tecnologia tendem a "deixar de ser encaradas simbolicamente como um 'património da

287 Hooper-Greenhill, Eilean, Los museos y sus visitantes, Gijón (Astúrias), Ediciones Trea, 1998, p. 117, (nossa

tradução).

288 Cf. Guedes, Maria Natália, op. cit., 1994, p. 49.

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humanidade', para passarem a ser consideradas como um 'bem económico', ou seja, como um instrumento imprescindível ao aumento da competitividade nacional nos mercados internacionais"230.

Os media, como veículos de informação fazem parte implícita do "processo de comunicação, o que quer dizer que pertencem a um processo especial e único através do qual as comunidades humanas são formadas e no qual v/Vem"291. A televisão, a rádio e a Internet são entidades globais, com repercussões profundas, que nos fazem ligar ao que acontece pelo mundo. Para o público mais pequenos existem os "jogos de regras que lhes proporcionam experiências divertidas e agradáveis por meio, entre outras, de salas interactivas; ajudam a exercitar a memória e a actividade mental nos mais crescidos, proporcionando-lhes estímulos adequados"292. Não serão estes os meios de comunicação mais adequados para a

divulgação das actividades do museu, capazes de atrair a atenção de um público vasto? Não poderão projectar, modos próprios e pessoais de leitura, de forma a despertar nele interesse, motivações educativas e culturais, melhorar a interpretação dos objectos expostos e as actividades realizadas e a realizar? Neste sentido, nos últimos anos o IPM (Instituto Português dos Museus) tem aderido aos sistemas tecnológicos criando sites e outros meios, com o objectivo de ampliar a divulgação, a acessibilidade e a formação nos museus.

Todavia, esta vasta informação só desempenhará um papel construtivo se for acompanhada por um trabalho contínuo de formação. Hooper-Greenhill postula que através de projectos, consultas e colaborações consegue-se atrair novo público aos

290 Correia, As ideologias educativas em Portugal nos últimos 25 anos, Porto, Edições ASA, 2000, pp. 13-14;

Cf. ainda Fernandes, Rogério; Felgueiras, Margarida, op. cit., 2002.

291 Sorlin, P., Mass Media, Oeiras, Celta Editora, 1997, p. 4. 292 Hooper-Greenhill, op. cit., 1998, p. 42, (nossa tradução).

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museus. No entanto, isto "requer tempo e técnicas de divulgação e de relações

públicas para a captação de novos públicos, cuja maioria aceita bem as iniciativas dos museus e gosta de participar"293.

3.3. O que pode oferecer o museu às crianças em idade pré-