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Algumas conclusões do segundo capítulo

CAPÍTULO II: Mapeamento da produção brasileira de animação

2. Panorama da Animação do Século XX: Principais Produções e Estúdios

2.3. Algumas conclusões do segundo capítulo

Ao apresentar de forma cronológica a produção realizada desde os primórdios até Meaow, encontramos um ponto de viragem muito importante, que se deu após a realização desta animação referenciada no capítulo anterior. Ou seja, observamos que as produções de 1980 aumentaram em intensidade em relação às outras décadas. Infelizmente, o primeiro filme ou curta-metragem brasileiro, Kaiser (1917), perdeu-se pela má conservação. Parece inacreditável que tenha se desintegrado devido ao não cuidado da obra. Animadores como Marcos Magalhães, Zé Brandão, Stil, Pedro Iuá,entre outros, tentaram traçar um pequeno panorama daquela época inaugural do cinema de animação e recriaram ou reanimaram O Kaiser,em 2013.

Notamos também que no início de nossa história o percurso da animação se firmou primeiro no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, polos industriais e culturais do Brasil. Só depois ela se espalhou, ainda que de forma tímida a outros estados e cidades. No decorrer de nossa história, alguns fatos sempre são recorrentes, desde Seth até Mauricio de Sousa. A questão mais complicada, e também mais rentável, é a questão da animação publicitária, pois todos os animadores do século passado tiveram que produzir animações autorais, sobrevivendo do trabalho publicitário. Somente no século XXI isto muda, pois agora existem algumaspolíticas ou incentivos que proporcionaram à animação brasileira autoral subsídios necessários para a produção independente.

Entre 1910 e 1940, poucas produções brasileiras foram feitas, enquanto que em outros países a produção de animação tornou-se bastante intensa, principalmente na América do Norte, onde a animação passava por um intenso processo de industrialização. Muitos aparatos tecnológicos foram empregados na animação, coisa que não acontecia plenamente no Brasil. Nossa animação, neste período, ainda era muito artesanal e a maioria dela era produzida apenas em papel. A rostocopia, por exemplo, foi largamente usada só a partir do primeiro longa-metragem, por Anélio Lattini.

Sinfonia Amazônica (1953), de Anélio Lattini Filho,foi o primeiro longa-

metragem brasileiro, uma animação que aborda lendas do folclore amazonensee que remete ao clássico Fantasia, dos Estúdios Disney. “É o primeiro longa-metragem em preto e branco, de grande relevância pelo bom teor artístico, embora de notada influência do estilo Disney.” (MORENO 1978: 76) Porém, o filme não obteve sucesso comercial e Lattini não conseguiu produzir o seu segundo longa que seria uma continuação do primeiro. Vendo-se numa situação crítica e sem retornos financeiros de sua animação, Anélio partiu para a animação publicitária e pintura artística, como podemos observar na imagem abaixo, um quadro do animador,intitulado Amazonas (1971).

Figura 30: Amazonas,Anélio Lattini Filho(1971).

Sua intenção era de propagar a cultura amazonense, desta vez por meio da pintura. Mas Lattini ficará sempre lembrado pelo seu intenso trabalho autoral e solitário de

Sinfonia Amazônica. A partir deste primeiro longa-metragem, outros animadores

também arriscaram produções ousadas neste nível.

Na animação abstrata, o grande precursor foi Roberto Miller, nome de destaque da animação experimental brasileira. Foi premiado por várias delas, tanto no Brasil como no exterior. Suas contribuições inovaram o cinema de animação nacional:“Precursor de uma nova corrente dentro da animação brasileira vai explorar a animação abstrata e experimental. Influenciado pelo animador Norman McLaren, volta de um estágio no Canadá na National Film Board e no final dos anos 50 realiza diversos filmes.”(GOMES 2008: 10) Os filmes dele foram filmes de artista e em formato curto.

Yppe Nakashima, que vinha da animação publicitária, arriscou também a realização de formatos maiores, ou seja, o longa-metragem. Produziu o segundo longa

da história da animação brasileira, Piconzé (1972). Para tal, criou pela primeira vez uma equipe grande e deu formação profissional a ela. Nakashima foi um dos primeiros a estabelecer um trabalho do tipo industrial, ainda que muito rudimentar.

Maurico de Sousa deu continuidade a este trabalho, dirigindo e animando centenas de comerciais para a televisão, desde os anos de 1960. A extinta CICA foi por várias décadas o principal cliente da produtora (MSP - Mauricio de Sousa Produções) dele. Apesar de Mauricio de Sousa ter criado seu primeiro estúdio de animação só no início de 1980, ele terceirizava estúdios e mão de obra. O que ele tinha de mais importante eram, na verdade, os personagens, que na época já eram bastante famosos. Após Yppê, o grande investidor em animação foi Mauricio de Sousa, pois ele estabeleceu um estúdio de tipo profissional e industrial, dando formação aos seus colaboradores. Muitos animadores de hoje passaram pelo seu estúdio. As Aventuras da

Turma da Mônica (1982) é até hoje o filme de animação que mais levou público às

salas de cinema. Basta lembrar o que o próprio autor diz: “Foi um sucesso estrondoso, três a quatro milhões de pessoas foram assistir As Aventuras da Turma da Mônica, no cinema”. SOUSA (apud LUZ, ANIMA, AÇÃO 2013) O forte da empresa foi o diálogo que se teve com distribuidoras, televisão (Rede Globo), artistas, como por exemplo, Pelé, jogador de futebol, como podemos ver na foto abaixo dos anos de 1970.

Figura 31: Foto: Mauricio de Sousa e sua equipeem 1971.

Podemos observar na foto algumas figuras marcantes: Itsuo Nakashima, à esquerda e de perfil; Pelé, ao centro, em cima e Mauricio de Sousa, à direita. Itsuo, filho de Yppê Nakashima, fez grandes contribuições no estúdio do Mauricio de Sousa, animando e criando os roteiros do primeiro longa-metragem da empresa. Ele permanece até hoje trabalhando com o Mauricio em suas produções. A década de 1980 foi a mais produtiva para a animação brasileira e os personagens da Turma da Mônica, por meio

das animações, foram os mais exibidos no país. Entretanto, no final da década, houve um declínio muito acentuado da animação brasileira e o grande fator disso foi a quebra da Embrafilme, que mesmo com os mínimos apoios que ela proporcionava, através de fomentos, era na realidade quase tudo que havia de incentivos estatais.

Neste segundo capítulo, procuramos, portanto, realizar um mapeamento e um panorama da animação no século passado, dando ênfase a algumas produções e momentos históricos. Também, tentou-se contar um pouco da história da animação publicitária e de alguns animadores/diretores que se destacaram pela tentativa de profissionalizar a animação no Brasil, como por exemplo: Joaquim 3 Rios, Walbercy Ribas, Daniel Messias e Otto Guerra.