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Entrevistado: José Márcio Nicolosi

CAPÍTULO V: Conclusão final

2. Entrevistado: José Márcio Nicolosi

Diretor do Núcleo de Animação da MSP – Mauricio de Sousa Produções.

1) Para você, o que é cinema de animação?

O Cinema de Animação é uma das mais completas, senão a mais completa forma de expressão artística. Em todas suas variantes técnicas, do stop motion à computação gráfica, entre tantas outras, pode-se perceber em seus processos de criação e produção, conhecimentos de todas as outras formas de arte.

2) O Estado Brasileiro, no decorrer das décadas, apoiou o cinema de animação? (estúdios, animadores, filmes etc).

Não tanto como poderia ou deveria.

3) Qual época foi a melhor para a animação no Brasil?

Depende da área em questão: a animação na publicidade sempre teve mais tradição, produziu-se muito, e com muita qualidade durante os anos 1960 até 1990, quando a computação gráfica veio com força e assumiu posição de destaque no mercado até nossos dias. Na área de entretenimento, neste mesmo período, tivemos pouquíssimos curtas e longas metragens produzidos, muito mais pela determinação de seus heróicos autores do que por exigências de um mercado estabelecido. Hoje, temos várias produções e co-produções de séries brasileiras com qualidade, exibidas principalmente em TVs a cabo, e até longas metragens premiados internacionalmente. Coisas impensáveis num passado bem recente.

4) Como você compara os estúdios do Brasil com os da Europa e os da América do Norte?

No Brasil temos muito poucos estúdios com estruturas similares, principalmente voltados para a produção de séries e longas.

5) Comente sobre o Anima Mundi e ABCA - Associação Brasileira de Cinema de Animação.

Festivais em geral são importantes para a divulgação de trabalhos e exibição de obras de extrema qualidade artística, que não encontrariam espaço nas mídias tradicionais. As associações devem atuar em defesa dos interesses legítimos da classe profissional e especificidades do mercado de trabalho. Acredito que estas sejam apenas algumas das funções de um festival como o Anima Mundi e de uma associação como a ABCA.

6) Por que existe preconceito, por parte dos cineastas, em relação à animação e aos animadores, com conceitos, por exemplo, de que animação não é cinema?

Ignorância. Falta de informação e, principalmente, de visão a respeito do assunto. Mas há exceções.

7) Comente o que mais te marcou no trabalho de animação, em estúdios fora do Brasil.

Curtas metragens como "Pai e Filha" do holandês Dudok de Wit, e longas como " A Viagem de Chihiro" de Hayao Miyazaki, são exemplos de que bons roteiros, aliados à criatividade visual, fazem a diferença.

8) Como você vê a hierarquização de estúdios, animadores e formas de fazer animações nos USA, Europa e no Brasil?

São sistemas e métodos estabelecidos, após décadas de existência, num mercado bem definido. Aqui, embora tenhamos muitos talentos, ainda é preciso formar mão de obra, principalmente nas áreas de criação, de produção e de gerenciamento de negócios, neste sentido ainda estamos engatinhando. É preciso criar um estilo brasileiro de animação, muito mais compatível com a nossa realidade e capacidade produtiva. Usamos parâmetros equivocados há muito tempo, principalmente na área do entretenimento.

9) Em sua obra, você se inspirou em algum cineasta ou animador?

São muitos os cineastas e animadores que me inspiraram e me inspiram atualmente. As animações para cinema do "Tom e Jerry", da dupla Hanna e Barbera, e seus seriados de TV posteriores como "Os Flintstones"; os curtas do Bugs Bunny dirigidos por Tex Avery e Chuck Jones; os curtas e longas do diretor e animador independente e alternativo Bill Plympton; os filmes mágicos de Hayao Miyazaki e muitos outros.

10) O que é o cinema de animação no Brasil hoje? Como chegou a ser o que é? Qual foi e é a sua importância (se teve/tem)? Quais foram os elementos mais determinantes ao longo de sua história? O que já foi feito e o que precisa ser feito em termos de um incentivo à produção contemporânea?

Há mais gente produzindo filmes de autor, séries para TV, curtas e até longas metragens com o apoio de leis de incentivo e editais, o que é um bom sinal. Comecei no desenho animado na MSP em 1979, nos comerciais e longas da Turma da Mônica, produzidos pela então Black & White. Depois trabalhei como animador freelancer do mercado publicitário, prestando serviços basicamente para duas produtoras de São Paulo: Luiz Briquet Filmes e Daniel Messias Cinema de Animação. Foram animações para centenas de comerciais com personagens como: Bond Boca, Pernalonga, Snoopy, Frango Sadia entre outros. Aprendi na prática, com erros e acertos, lendo o que havia disponível na época e estudando e pesquisando muito por conta própria. Neste período entre 1984 e 1990 ganhei experiência e jogo de cintura. Em 1991 voltei a MSP e atualmente dirijo o núcleo de animação, sou responsável pelas produções dos Cine Gibis (8 edições), de comerciais e especiais de TV e da nova série Turma da "Mônica Toy". A Animação brasileira precisa criar seu próprio espaço aqui e fora do Brasil. Adaptar-se e descobrir uma forma de produzir de maneira diferente, pois a concorrência é muito forte e desleal. Equacionar tudo isso não é simples, mas é possível. Vontade política e comunhão de objetivos são imprescindíveis para que haja sucesso nessa empreitada.

Continuei na animação por necessidade, determinação e amor ao ofício.

12) Como o Mauricio liderou com as adversidades de fazer animação no Brasil? Mais detalhes sobre o percurso.

Maurício de Sousa é um ícone no Brasil. Homem dos Quadrinhos que produziu muito desenho animado com seus personagens famosos, a exemplo de seu colega e amigo Osamu Tezuka no Japão. Financiado por parcerias ou com recursos próprios, ele produziu animações para Cinema, Vídeos e DVDs ao longo de décadas. As crises financeiras no país provocaram o desmanche da equipe várias vezes. Fato lamentável, pois a continuidade na produção é fator fundamental. Contudo, um pequeno núcleo foi mantido e é com esse mesmo núcleo, dando suporte para alguns estúdios terceirizados, que ele, Maurício, enfrenta a árdua tarefa de estabelecer um mercado de trabalho mais estável no Brasil. Na minha opinião, é um dos poucos, senão o único, com capacidade e nome para isso.