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Algumas consequências do SIT às formas de sociabilidade em trânsito

A cidade conseguiu cumprir as exigências do Plano Diretor de 1994 implantando o Sistema Integrado de Transporte (SIT), em julho de 1997 (conforme anexo B). Como será apresentado de forma mais pormenorizada no capítulo III, o SIT é composto por “[...] cinco terminais urbanos, sendo um localizado na área central (Terminal Central) e quatro localizados nos bairros de grande integração urbana: Santa Luzia, Umuarama, Planalto e Industrial.” (RODRIGUES; SOARES, 2004, p. 164). Cores diferentes identificam os veículos do sistema, de acordo com as linhas que são alimentadoras, distritais, interbairros, radiais e troncais (conforme anexo C). Para a implantação do sistema, grandes investimentos na área de infraestrutura foram feitos, mediante concorrências públicas com a iniciativa privada, a qual ficou responsável pela construção dos cinco Terminais urbanos.

Dentro dos objetivos da Prefeitura de Uberlândia de implantar não somente um plano setorial, mas de criar condições para implementação do plano diretor na sua totalidade, a SETTRAN - Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes, tem implantado modificações no sistema viário, presentes no Plano Diretor da cidade. Estas ações visam equacionar os problemas de circulação viária existente bem como proporcionar ao cidadão conforto e segurança em seus deslocamentos. As medidas prioritárias são aquelas que tem por objetivo a área central da cidade, as áreas de influência dos terminais e itinerários de transporte coletivo. (BORGES, 2011, p. 06).

Os Terminais do SIT serviram, assim, como elementos essenciais do plano de reestruturação da cidade, sendo responsáveis pela criação de subcentros em bairros importantes, induzindo o crescimento urbano a partir dos eixos de estruturação. Quando foram cumpridas as orientações relacionadas ao transporte público, contidas no Plano Diretor, também se efetivaram modificações no modo de interagir dos passageiros. Se antes eles se encontravam em diversos pontos de embarque espalhados pela cidade, agora os Terminais concentram o maior volume de embarque e desembarque de usuários do SIT. Tudo isso acarretou consequências nas formas de sociabilidade de indivíduos em trânsito em Uberlândia-MG, fomentando maior número de relações estabelecidas nos espaços restritos dos Terminais urbanos.

O Terminal Central é constituído por três pavimentos: o primeiro é responsável pelo embarque e desembarque dos passageiros; no segundo está presente o Pratic Shopping, área comercial com diversas lojas e inúmeros tipos de serviços e produtos; e o terceiro é destinado

a um estacionamento para veículos particulares. Os passageiros que pretendem embarcar diretamente no Terminal, sem ter vindo antes de outros pontos da cidade, não têm acesso direto aos ônibus do transporte coletivo. Eles seguem primeiro ao pavimento do shopping, para posteriormente descer às plataformas de embarque. Esse fato é passível de críticas, pois os usuários do SIT são obrigados a circularem pelo espaço das lojas, sendo induzidos à prática do consumo.

Um fator problemático concernente à construção do Terminal Central está associado à sua localização, situado no entroncamento de duas importantes avenidas da cidade (Avenida João Naves de Ávila e Avenida João Pinheiro). Ele também está defronte à Praça Sérgio Pacheco, utilizada pelos moradores para práticas esportivas, recreativas, culturais, de socialização e de encontros em geral. Com isso, a convergência do SIT para esse local trouxe conflitos viários ao seu entorno, uma vez que o volume de ônibus que circula pela região cresceu vertiginosamente. A utilização da praça como espaço de sociabilidade ficou comprometida, tendo em vista o barulho dos ônibus e a impossibilidade de crescimento de sua área verde, em razão da obra do Terminal. Houve, assim, a própria transferência de grupos antes frequentadores da praça, como jovens estudantes, para o shopping localizado no piso superior do Terminal Central, alterando o espaço físico onde se dão parte das formas de sociabilidade da cidade (RODRIGUES; SOARES, 2004).

Além disso, outras críticas podem ser aplicadas à ocorrência do SIT em Uberlândia- MG, já que o sistema necessitou de corredores (eixos) exclusivos para os ônibus. A prioridade aos mecanismos do transporte coletivo deve ser entendida como fundamental, pois valoriza os passageiros do sistema público de transporte em detrimento do deslocamento de veículos particulares, garantindo a redução de carros circulando e, consequentemente, a emissão de gazes nocivos ao meio ambiente. Contudo, no caso de Uberlândia-MG,

[...] para a implantação desses eixos foi necessário o alargamento da pista de rolamento, atingindo os canteiros centrais, dessas avenidas, o que causou impacto ambiental com a retirada de várias árvores de pequeno, médio e grande portes, principalmente na avenida Monsenhor Eduardo, que teve o paisagismo prejudicado. (RODRIGUES; SOARES, 2004, p. 168).

É inegável que demandas coletivas da população uberlandense contaram para a elaboração do Plano Diretor de 1994, mas, como destacam Rodrigues e Soares (2004, p. 161), houve muita polêmica em sua formalização, pois “[...] o envolvimento direto com a

comunidade e sociedade não foi considerado, sendo apenas utilizadas algumas pesquisas acadêmicas realizadas pela Universidade Federal de Uberlândia como subsídios, sem as devidas citações de seus autores.” Assim, é legítimo questionar até que ponto o planejamento realmente garante benefícios à coletividade com obras de necessidade pública ou se ele apenas atende a interesses imobiliários de agentes privados. O favorecimento da lógica da especulação imobiliária possibilita o desenvolvimento de determinadas áreas das cidades que são de propriedade particular.

No referente às deliberações sobre o transporte coletivo, as propostas contidas no Plano que foram efetivadas acarretaram consequências ao modo de deslocamento dos indivíduos que necessitam desse tipo de transporte. Eles passaram a frequentar os Terminais urbanos não só para embarcar e desembarcar, mas para realizar compras, marcar encontros, reunir os amigos, ou mesmo passear pelo shopping. Esses locais, e de modo especial, o Terminal Central, integraram o cotidiano da cidade como espaços plurais que reúnem coletividades de indivíduos em interação, seja ela direta ou indireta, consciente ou inconsciente.

Nos diversos trajetos e itinerários dos ônibus, também estão em trânsito indivíduos em interação. Assim, a instalação do SIT em Uberlândia-MG alterou as formas de sociabilidade entre os usuários do transporte coletivo, os quais passam a necessitar dos Terminais urbanos para se deslocarem. Se antes os indivíduos estabeleciam relações em pontos dispersos pela cidade, hoje o Terminal Central reúne a maior parte das linhas, exigindo, de grande parte desses usuários, a passagem por seu espaço.

Dando sequência às reflexões sobre a manifestação da sociabilidade em ambientes de passagem, são expostos, no capítulo a seguir, o histórico da construção do Terminal Central, bem como as análises empíricas da pesquisa em torno das interações entre indivíduos em situação de trânsito.

Todos os dias é um vai-e-vem: analisando a sociabilidade em trânsito