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Capítulo 2 – Enquadramento Teórico

2 Enquadramento Teórico

2.1 Modelação de dados com estrutura hierárquica (tipos de aninhamento ou hierarquia)

2.1.4 Algumas considerações conceptuais

«Alguns conceitos centrais são intrínsecos para adoptar uma perspectiva multinível». Seja, por exemplo, o problema de consumo de droga10, pelos alunos, o que poderá afectar consequentemente a sua saúde e o seu aproveitamento escolar. Nem sempre os alunos que consomem droga, habitam em bairros considerados degradados, ou de baixo nível social e cultural, ou suburbanos, onde pode existir também, muitas vezes por arrasto, outro tipo de problemas como o consumo de álcool ou o vandalismo. Também nos bairros bem estruturados, tanto física como socialmente, pode existir o mesmo problema, agora, por motivos diversos, tais como por exemplo, o excesso de dinheiro que facilita a aquisição de droga e a falta de acompanhamento ou ausência prolongada por parte dos pais.

2.1.4.1 Fontes de variação contextual e composicional

Entre diferentes grupos, ou contextos, podem existir variações quanto ao consumo de droga provenientes de factores que são intrínsecos e medidos nesses mesmos contextos. Ou seja, estas variações são devidas, ao que se designa por efeitos contextuais11.

9 Salvo indicação contrária, vamos aqui, neste sub-capítulo, seguir as linhas mestras das considerações expostas

por Subramanian et al (2003), aparecendo as citações em itálico.

10 A problemática da droga é um exemplo que facilita a explicação das ideias e conceitos que aqui são expostos.

Poder-se-ia, igualmente, ter recorrido a um outro qualquer factor.

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Por outro lado, certos tipos de alunos são mais susceptíveis ao consumo de droga do que outros devido às suas características individuais por habitarem em certos bairros – temos variações designadas composicionais.

Paralelamente, semelhantes considerações se podem fazer em relação à relevância do apoio da Escola nas perspectivas profissionais dos alunos do 10º ano de escolaridade. Mesmo sabendo-se que as Escolas são diferentes entre si, quer-se então investigar, qual a fonte dessa variação e, qual o modo, como essa fonte de variação influencia o aluno na sua escolha e, também, a própria Escola – mesmo sabendo que existem limitações nos estudos deste tipo. Como assinalam Ruiz de Miguel e Castro Morera (2006) no seu trabalho sobre eficácia escolar:

«Na investigação clássica sobre eficácia escolar detectam-se algumas limitações, tais como, a impossibilidade de distinguir entre efeitos que provêm dos diversos agentes implicados no sistema educativo ou a impossibilidade de estabelecer as relações entre os diferentes níveis de agregação em presença12.»

Resumindo, a questão que se coloca «não é se existem variações entre diferentes contextos (o que sempre existe) mas qual é a sua fonte, isto é, são as variações entre diferentes grupos composicionais ou contextuais?». Estas «noções das causas de variação contextual e composicional têm relevância geral e são aplicáveis se o contexto é administrativo (p.e., regiões ou países), temporal (p.e., diferentes períodos de tempo) ou institucional (p.e., escolas)».

2.1.4.2 Heterogeneidade contextual

As diferenças contextuais podem ser complexas além de desagregarem as fontes de variação contextual e composicional. Ou seja, os contextos de escola (ou de turma, ou de bairro) podem ter grande influência num grupo de alunos (p.e., de turmas de cursos tecnológicos) e não influenciar outro grupo (p.e., de turmas de cursos científico- humanísticos).

12 «…A metodologia multinível permite superar estas limitações, convertendo-se numa ferramenta metodológica

17 2.1.4.3 Heterogeneidade individual

Uma qualquer característica de grupo, em determinados contextos individuais, pode variar mais ou menos em relação à média das diferenças. Por exemplo, alunos de cursos tecnológicos, além de serem contextualmente heterogéneos quanto à apetência para uma determinada profissão, podem apresentar maior variabilidade quando comparados com outros grupos.

2.1.4.4 Interacção Contexto – Indivíduo

Além das características individuais, também as diferenças contextuais, em conjunto com aquelas, podem ser influenciadas pelas diferentes características dos bairros (grupos). Contrariamente, «as diferenças individuais podem interagir com contextos». Seja o exemplo: alunos que “frequentam cursos técnico-profissionais” (característica individual) podem apresentar diferentes apetências para o trabalho manual/oficinal dependendo do nível (ou índice) de “pequenas empresas existentes no bairro” (característica do lugar) onde vivem. Haverá, portanto, alguma relação entre as apetências destes alunos e as características sócio- económicas dos bairros onde vivem? E estas últimas têm influência diversa em diferentes grupos de alunos? Mesmo levando em linha de conta «os efeitos complexos dos factores sócio-económicos individuais e dos bairros» onde os alunos vivem.

2.1.4.5 Contextos hierárquicos múltiplos

Também «os grupos contextuais, eles próprios, podem ser conceptualizados e medidos em níveis múltiplos», tal que variáveis individuais, «não sejam somente influenciadas pelo ambiente próximo dos alunos (p.e., bairros ou escolas) mas também pelos seus agrupamentos de nível superior ou macro-ecológicos» (p.e., concelhos ou regiões). Pelo que «uma análise das variações deve considerar a importância que ambos os grupos contextuais» terão: tanto os próximos (p.e., escolas) como também os macro-contextuais (p.e., regiões) aos quais, alunos e bairros, pertencem.

18 2.1.4.6 Mudança de pessoas, mudança de lugares

Os contextos estão em constante mudança tal como as circunstâncias (e as apetências) das pessoas (os alunos neste caso).

Cabe perguntar: se há mudanças ao longo do tempo nos alunos (p.e., nas apetências), pode haver igualmente e com o mesmo sentido, mudanças contextuais (da Escola ou do bairro) e, se sim, para que tipos de grupos de alunos?

2.1.4.7 Respostas inter-relacionadas

Por vezes as respostas estão inter-relacionadas, isto é, consideremos os alunos com comportamentos de risco: não só consomem droga, como também, por exemplo, álcool em excesso. Ressalta nestes comportamentos dois aspectos, típicos e comuns: um qualitativo (sim ou não) e outro quantitativo (quanto). Por exemplo, um aluno que bebe pode não quantificar o que bebe. Igualmente, um bairro com elevado índice de consumo de álcool pode ter poucas pessoas (alunos) que bebam mas, as que bebem, bebem em excesso, o que pode induzir conclusões enganadoras ao considerarmos a média.

«Este é um caso típico de abordagem de respostas múltiplas. Poder-se-ia perguntar se os bairros com elevado número de consumidores de álcool são os que têm elevado índice de consumo de álcool e/ou se os bairros com elevado número de consumidores de álcool também o são em relação ao consumo de droga, depois de ter em consideração as diferenças composicionais?»

2.1.4.8 Contextos sobrepostos “classificação cruzada”

Os contextos não são só hierarquicamente múltiplos, como também podem ser sobrepostos.

Por exemplo, os alunos que vivem em aldeias, podem ser influenciados tanto pelo ambiente de aldeia, ao conviverem com amigos da aldeia (ambiente local), como pelo ambiente do grupo de amigos (os pares) com quem convivem, na cidade mais próxima. Note- se que, «os locais onde vivem e os locais que frequentam» os pares, não têm, nem necessitam, «de estar aninhados uns nos outros».

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Pergunta-se: «qual é a contribuição relativa de grupos contextuais diferentes que podem estar (ou não), não aninhados uns nos outros, mas sobrepostos» (p.e., bairros e locais de convívio dos pares)?