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CAPÍTULO 4- Relação entre as categorias emergentes

4.4 Algumas considerações

Na correlação do capítulo quatro pudemos observar que os Currículos foram comparados lado a lado em relação aos conhecimentos decodificados, mas isso não representa uma ligação improgressiva. A conexão estabelecida considera apenas as prescrições curriculares por ser esse o objetivo da pesquisa. É apenas uma parte dessa relação que se fosse analisada no todo ainda levaria em conta as características pessoais e escolhas didáticas dos professores e futuros professores, bem como a autonomia das escolas, professores e demais profissionais da educação na organização do trabalho pedagógico.

A Universidade oferece por conta da flexibilidade curricular a possibilidade de o aluno atribuir um norte à própria formação ao optar por disciplinas de outros departamentos. Entre as tantas opções de disciplinas disponíveis na graduação, pesquisas e estudos justificam sua existência para auxiliar as escolhas dos licenciandos.

Em relação ao ponto chave da presente pesquisa, que são os conhecimentos musicais oferecidos aos licenciandos em Pedagogia, analisando o PPPC podemos observar

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que algumas disciplinas permanecem no currículo, entretanto como optativas de oferta geral, ou seja, fora de fluxo, são elas: “Fundamentos da Linguagem Musical na Educação” e “Arte, Pedagogia e Cultura”. A disciplina “Educação em Artes” aparece no currículo como disciplina optativa recomendada para o fluxo, entretanto a ementa disponibilizada no documento não revela livros ou citações específicas da área de educação musical.

Não obstante a sugestão da professora Patrícia em relação à mudança do nome da disciplina de Fundamentos da Linguagem Musical na Educação para Educação musical, a disciplina continua com o mesmo nome. A leitura do PPPC não fornece informações suficientes acerca da escolha por essa permanência. A justificativa da professora na época é a de que o nome “fundamentos da linguagem” prefigura algo mais teórico e fragmentado; relembrou ainda que existe uma discussão acerca da arte ser uma linguagem ou não, e por fim, que essa terminologia se seguiria descontextualizada da proposta de um currículo em movimento.

Devo relembrar que na época da criação da disciplina a obrigatoriedade do ensino de música ainda não havia adquirido espaço na lei, o que ocorreu apenas em 2008, entretanto as discussões acerca do assunto já existiam. Uma das justificativas para a criação da disciplina foi o reconhecimento da escola como provável espaço de atuação dos futuros professores e o reconhecimento da música como área de conhecimento, tendo em vista as propostas de ensino já presentes no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Hoje a lei prevê essa obrigatoriedade, entretanto a disciplina prossegue como optativa.

A realidade do DF não se diferencia muito do cenário nacional que de acordo com a pesquisa realizada em 28 universidades federais brasileiras revela que apenas 10% dos cursos de licenciatura em Pedagogia das universidades selecionadas apresentam a música em disciplinas específicas obrigatórias. Em 59% dos PPCs analisados a música divide espaço com outras disciplinas de arte e cultura, ou não estão em caráter obrigatório. Ainda é uma realidade menos cruel do que os 31% que não apresentam o conteúdo de música em seus projetos pedagógicos.

É contraditório o aprender sobre música ser optativo, se legalmente o ensinar é obrigatório. Bellochio nos ajuda a refletir para além das prescrições quando afirma que

a formação musical durante a graduação não garante que a Música esteja presente nas práticas pedagógicas [...] porém proporciona a esses professores o contato com os conhecimentos próprios da área, mostra possibilidades de trabalho pedagógico- musical e problematiza a unidocência e suas relações com a Música na escola [...] o fato do professor unidocente vivenciar essas disciplinas, durante a graduação, pode

126 motivá-lo a aprofundar conhecimentos musicais e pedagógico-musicais após o ensino superior (p. 211).

Ainda que testemos a hipótese pensando por esse outro viés, é observável que faz- se indispensável que aos licenciandos sejam oportunizados os conhecimentos musicais durante sua formação, do contrário não conhecerão as possibilidades do trabalho pedagógico com a música, logo, não refletirão acerca das relações entre música e unidocência e possivelmente não terão motivação para aprofundar esses conhecimentos musicais em uma formação continuada.

Outra reflexão pertinente: as 5 disciplinas possuem uma carga horária de quatro créditos, o que equivale a 60 horas semestrais. Considerando que o espaço destinado às disciplinas optativas não seriam ocupados exclusivamente pelas disciplinas da música, se um licenciando em Pedagogia optasse por uma das disciplinas aqui citadas, seu contato com as experiências sonoro musicais educativas se resumiria às 60 horas semestrais de uma disciplina. Uma realidade expansivamente desproporcional de um contato mínimo com a música, em relação ao contato com as disciplinas de alguns conhecimentos, que ainda que também possuam um espaço na graduação igual a 60 horas, já se fizeram presentes por todo o decorrer de uma vida escolar. Refletindo sobre essa realidade e considerando um estudante que não foi oportunizado a um contato anterior com esses conhecimentos, nesse momento de graduação em Pedagogia a música, praticamente, seria iniciada do zero. O que poderia indicar a necessidade de formação continuada.

É oportuno ressaltar que diferente do que acontece em outros estados, onde os professores clamam por cursos de formação continuada em música, no DF a Secretaria de Educação disponibiliza alguns cursos11 por meio da Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação (EAPE) e pelas Oficinas Pedagógicas que destina seus cursos aos profissionais da SEDF, bem como de instituições conveniadas e parceiras, além dos estudantes de licenciatura e aos professores de outras instituições. Em sua entrevista a professora Patrícia cita alguns momentos de participação de integrantes e alunos das Oficinas Pedagógicas em suas aulas na UnB. Seria, portanto, interessante analisar a prática pedagógica

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Cursos disponibilizados em 2014 pela EAPE: Linguagem Musical na Educação Infantil e Anos Iniciais; Vivências com a musicalização;

Cursos disponibilizados em 2018 pela EAPE: Vivências com a musicalização;

Realizado pelas Oficinas Pedagógicas: Rodas de brincar II- Músicas, danças, folguedos e brincadeiras do Brasil e do Mundo;

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na Educação Infantil para observar como e se a música vem sendo trabalhada como área de conhecimento, na perspectiva de formação integral da criança.