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Os “conteúdos da linguagem musical” foram subdivididos em quatro categorias. Os “elementos do som e da música”, como o nome evidencia, compreende os conceitos próprios da teoria musical e do universo sonoro, como as características dos sons e fontes sonoras. “Os sons” que podemos fazer com o nosso corpo compõem outra categoria, tendo em vista toda a complexidade da voz e das técnicas para o trabalho com a mesma, além da percussão corporal. A categoria dos “recursos e materiais” traz os instrumentos musicais, entre outros recursos alternativos, que transpassam a posição de sugestões de atividades e passam a ser conteúdos que devem ser trabalhados. O mesmo ocorre na categoria “outros”, onde os conhecimentos prévios das crianças e preferências de estilos musicais passam de sugestões de trabalho a conteúdos que devem ser observados no decorrer da elaboração dos planos de aula. Organizando os códigos emergentes das análises em um processo semelhante ao anterior, foi possível compor as categorias com os conteúdos, conforme o quadro 3.

Quadro 3- Conteúdos da linguagem musical do CM

Categoria central: Conteúdos da Linguagem Musical Elementos do som e da música

Conteúdos:  Sons  Altura  Intensidade  Duração (ritmo)  Melodia

 Letras (da música)

 Ritmo (pulsação/andamento;

estruturas rítmicas)  Arranjos

 Partitura alternativa (representação/ registro alternativo)

Esses são elementos próprios do universo sonoro e da música. Em relação ao universo sonoro, para as crianças, é a exploração de tudo aquilo que produz o som e do que se pode utilizar para produzir o som. Trata também da intensidade (força: forte/ fraco), timbre (característica do som) e altura (sons graves, médios ou agudos).

A sequência de durações sistematicamente organizadas e estilizadas originam o ritmo. Além das estruturas rítmicas relacionadas aos gêneros musicais o termo também se refere à pulsação/andamento da música.

Não obstante a não utilização do termo “melodia” no decorrer do texto, o conteúdo é notoriamente mencionado em diversas atividades de apreciação, percepção registro sonoro, performance e criação de canções. Melodia é a voz principal da música, sua identidade. Pode ser composta por apenas sons ou acompanhada por letras da música.

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Arranjos são um exercício de criação acerca de uma composição existente, é a reorganização de uma composição musical para a performance.

A partitura alternativa é uma representação gráfica das estruturas sonoras por grafias não convencionais e criadas pelas próprias crianças, uma introdução à compreensão de que existem maneiras de se registrar a música para uma posterior execução (partitura).

Os sons

Conteúdos:

 Canto- Livre e direcionado/ individual e coletivo

 Percussão corporal

Essa categoria se volta aos sons livres de instrumentos musicais e outros materiais que utilizamos para a produção dos sons, tendo apenas o corpo como principal recurso. A voz é considerada o instrumento musical que todos temos, para a execução de melodias, junto a ela o corpo realizando movimentos percussivos através de palmas e passos, entre outros, salvo em casos de Pessoas com Deficiência (PCD).

Recursos e materiais

Conteúdos:

 Instrumentos musicais variados- tambores, sinos, xilofones, teclados, coquinhos, triângulos, pauzinhos, guitarras

 Objetos alternativos para a emissão de sons- materiais reaproveitáveis e sucata

 Gravações  Audições  Fontes sonoras

A categoria dos materiais utilizados revelam conteúdos como o conhecimento de instrumentos musicais, fontes sonoras e recursos. É preciso lembrar que as escolas do DF, para as quais o CM se volta possui realidades diferentes, não somente na questão pública e privada, mas também em relação aos espaços, materiais, verbas disponíveis e espaços destinados à Educação Infantil. Trazer ao diálogo possibilidades com materiais

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 Corpo (voz e percussão corporal)  Canções

 Brinquedos musicais

alternativos é uma forma que o CM encontrou de democratizar a Educação Musical às múltiplas realidades da rede e dos profissionais que atuam de forma direta com as crianças.

Repertório variado

Conteúdos:

 Gêneros e estilos musicais diversos  Trilha sonora

 Sons da natureza  Música folclórica  Música erudita  Música popular

 Música popular de massa  Cantigas de ninar

 Ritmos africanos e indígenas

 Produção musical nacional e internacional

 Músicas da cultura nacional

 Grupos musicais de cultura popular  Obras musicais da própria região  Música instrumental

Esses são os códigos que indicam o repertório sugerido pelo CM para o trabalho com música. A nomenclatura diversa e pouco padronizada, em especial quando se menciona “popular” pode parecer confusa, entretanto, tem a intencionalidade de incorporar aos textos toda a diversidade de menções ao repertório musical existente. Apenas sugiro um cuidado em relação ao termo “música clássica”, este que representa apenas um período da música erudita, e que não representa o que acredito ter sido a intenção dos redatores. O termo correto, portanto, seria “música erudita”. O repertório diverso sugerido tem múltiplas aplicabilidades, desde a preparação do sono, relaxamento, até a música para brincar ou apresentar, a questão é que para sua autenticação como conteúdo da linguagem musical, o repertório desenvolverá uma função de música pela música, o que envolve diversas fases, um deles a apreciação e identificação dos elementos sonoros, estes que depois podem enriquecer os processos de performance e criação.

85 Outros

Conteúdos:

 Conhecimentos prévios (saberes autênticos e válidos, preferências de estilos musicais)

 Jogos, brincadeiras e atividades musicais variadas

É importante durante o processo

considerar os conhecimentos e

experiências que as crianças trazem à escola como saberes autênticos e, portanto, como conteúdos válidos para a troca de experiências com professores e outros estudantes e também enriquecimento cultural. Considerar as preferências de estilos musicais das crianças é uma forma de valorizar o conhecimento anterior e paralelamente introduzir novos conteúdos. Essa categoria pertence mais à metodologia do que ao grupo de conteúdos, mas exerce uma considerável influência na base metodológica de relação com as crianças.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos conhecimentos musicais do CM.

A forma como esses conteúdos são trabalhados são o que caracterizam a identidade de Educação Musical proposta pelo CM para a Educação Infantil.

No Currículo em Movimento a categoria central Experiências sonoro-musicais abriga todas as categorias referentes às metodologias, atividades, focos de desenvolvimento e contextos. A partir desse momento teremos o diagrama 8 como referência da organização visual da teoria. As metodologias foram divididas em Criação, Apreciação e Execução, modalidades centrais do fazer musical, ou seja, atividades que nos envolvem diretamente com a música.

França e Swanwick (2002) consideram essas modalidades como processos fundamentais de uma educação musical abrangente, pois constituem “possibilidades fundamentais de envolvimento direto com a música [...] conduzindo a insights particulares em relação ao funcionamento das ideias musicais” (p. 8). No texto citado a referência a essas modalidades pela sigla CAP significa Composição, Apreciação e Performance. Para essa pesquisa, utilizaremos a nomenclatura encontrada no Currículo em Movimento que apresenta

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similaridade em relação à sua função: a letra C se refere à modalidade de criação, ao invés de composição; e a performance é expressa no documento como execução.

Uma educação musical abrangente, como entendido pelos autores, se dedica ao desenvolvimento musical dos alunos por meio do engajamento com a música, em “experiências acessíveis e musicalmente ricas e variadas” (FRANÇA E SWANWICK, 2002, p. 8) o que equilibra a execução em relação às modalidades de criação e apreciação.

Destaco essa fala pelo fato de ser comum as escolas privilegiarem a execução de canções em ensaios repetitivos e pouco criativos a fim de apresentarem em culminâncias e festividades escolares. A ordem das modalidades (criação, apreciação e execução) no diagrama também é intencional. A criação (ou composição) é considerada o pilar do desenvolvimento musical, pois:

qualquer que seja o nível de complexidade, estilo ou contexto, é o processo pelo qual toda e qualquer obra musical é gerada. Esse argumento é suficiente para legitimá-la como atividade válida e relevante na educação musical (FRANÇA E SWANWICK, 2002, p. 8).

A título de esclarecimento, devemos ressaltar que as modalidades aqui mencionadas referem-se ao fazer musical, entretanto, não são necessariamente de exclusivo domínio da música. As artes, de uma maneira geral, detêm formas particulares de criação, apreciação e execução. Neste texto, os termos se voltam à linguagem musical devido ao objeto de estudo.

Psicologicamente falando, as possibilidades do cérebro humano vão além de apenas reproduzir experiências anteriores, de forma proativa ele combina e reelabora elementos da experiência anterior, criando assim novas situações, “a psicologia denomina de imaginação ou fantasia essa atividade criadora baseada na capacidade de combinação do nosso cérebro [...] tornando também possível a criação artística, a científica e a técnica” (VIGOTSKI, 2009, p. 14). Canalizando essa capacidade para as atividades musicais, temos novas melodias, combinações sonoras e ritmos, e, da mesma forma, o desenvolvimento de técnicas musicais. Cada atividade baseada na reprodução gera uma nova adaptação, as atividades de criação oportunizam o desenvolvimento de novos aprendizados, abrindo caminho para novos conhecimentos. Os tipos de composição também não devem ser pormenorizados em vista de grandes composições de virtuoses

As composições feitas em sala de aula variam muito em duração e complexidade de acordo com sua natureza, propósito e contexto. Podem ser desde pequenas „falas‟ improvisadas até projetos mais elaborados que podem levar várias aulas para serem concluídos. Mas desde que os alunos estejam engajados com o propósito de articular e comunicar seu pensamento em formas sonoras, organizando padrões e gerando novas estruturas dentro de um período de tempo, o produto resultante deve ser

87 considerado como uma composição- independente de julgamentos de valor. Essas peças são expressões legítimas de sua vida intelectual e afetiva (FRANÇA E SWANWICK, 2002, p. 11).