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CAPÍTULO 12 – CONCLUSÕES

12.2 ALGUMAS CONSTATAÇÕES E RESPECTIVAS IMPLICAÇÕES

É importante destacar que o enfoque central deste trabalho foi a modelagem matemática, para predição da concentração de partículas ao longo de procedimentos cirúrgicos. Assim, a coleta e análise dos dados representaram aqui um esforço por entender o comportamento geral do ar da sala cirúrgica e de seus contaminantes, muito mais que uma tentativa de determinar com exatidão a contribuição de cada um desses fatores. Portanto, relativamente aos dados coletados em campo, é preciso que se diga que, ainda que, em seu conjunto, de forma geral, eles sugiram certas tendências bastante claras, isoladamente eles devem ser tomados com cautela, porque há interações entre fatores que precisam ser mais bem estudadas. De qualquer forma, a análise dos dados de campo permitiu as seguintes constatações e respectivas implicações:

1. A variação das partículas no interior das salas cirúrgicas estudadas, de forma geral, mostrou-se bastante definida, com padrões característicos e similares para cada etapa do procedimento cirúrgico. Ou seja, revelou-se, nesse comportamento das partículas em salas cirúrgicas uma previsibilidade que faculta a criação de modelos, como o que se propõe neste estudo.

2. A equipe cirúrgica mostrou ser uma importante fonte de geração de partículas e observou-se que, à medida que aumenta o número de pessoas, ocorre um aumento na concentração de partículas. Isso sugere que o número de pessoas na sala cirúrgica, bem como seu nível de atividade, deva ser mantido tão baixo quanto possível, especialmente nos procedimentos cuja natureza implique maior risco de contaminação aérea.

3. A manipulação de campos cirúrgicos provocou a geração de grande número de partículas, principalmente na faixa de 5 a 10 µm. Apesar de geradas por material esterilizado, essas partículas, em contato com superfícies contaminadas podem tornar-se viáveis e oferecer risco quando ressuspensas. Então, parece recomendável que se utilizem campos cirúrgicos descartáveis, pois estes emitem menos partículas.

4. Outra importante fonte de partículas foi a remoção por serragem da tala de gesso em cirurgias ortopédicas. Considerando que as superfícies da tala podem estar muito contaminadas, parece recomendável que a mesma seja removida fora da sala cirúrgica e que seja feita uma limpeza da pele do paciente.

5. O diâmetro das partículas resultantes da atividade humana nos ambientes estudados concentrou-se principalmente na faixa de 5 a 10 µm. Nessa faixa, as partículas de escamas de pele representam a principal fonte de contaminação, pois têm usualmente diâmetro médio de 7,5 µm. E partículas nesse tamanho têm tempo de suspensão relativamente longo. Isso implica a necessidade de que o controle das partículas em salas cirúrgicas dê-se especialmente nessa faixa de diâmetro. 6. Os dados de campo sugerem que a concentração das partículas no início de um

procedimento, oriundas da cirurgia anterior e/ou do processo de limpeza da sala, podem ser um fator importante para a contaminação da ferida cirúrgica. Portanto, parece recomendável ligar-se o sistema de condicionamento de ar alguns minutos antes da entrada do paciente na sala cirúrgica e não apenas quando as condições de conforto térmico o exigirem. Também parece aconselhável manter o condicionamento de ar ligado após o ato cirúrgico, durante a limpeza da sala, para remover partículas geradas tanto pela cirurgia quanto pela própria atividade de limpeza.

7. O retorno do ar foi o fator que mais contribuiu para a eliminação das partículas no interior da sala cirúrgica. Desta forma, é importante que as grelhas de retorno

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sejam mantidas livres de obstruções, como mobílias e equipamentos à sua frente, que podem comprometer severamente o fluxo de ar de retorno.

8. A abertura das portas, em quase todos os casos analisados, resultou na queda da concentração das partículas no interior da sala. Assim, manter as portas abertas parece, à primeira vista, ser uma boa alternativa para remoção de partículas quando não há sistema de retorno ou quando este se mostra insuficiente para manter a concentração de partículas em níveis adequados. Isso pode ser especialmente verdadeiro para o caso do sistema de ar condicionado de janela, no qual a abertura da porta provocou sensível redução na concentração de partículas. Entretanto, esses resultados devem ser tomados com muita cautela, por várias razões. Primeiro, ainda que a abertura da porta favoreça a eliminação de partículas do interior da sala, por processos de convecção e dispersão, também propicia que o ar do corredor entre na sala por convecção. Com isso, podem penetrar partículas carregadas de patógenos, especialmente quando a sala cirúrgica localiza-se na proximidade de áreas contaminadas. Em segundo lugar, deve-se levar em conta que a remoção de partículas do interior da sala cirúrgica para o corredor implica piorar a qualidade do ar neste último. Assim, partículas contaminadas geradas em uma sala cirúrgica podem vir a atingir salas cirúrgicas próximas. Por fim, também se constatou neste estudo que a eficiência do retorno pode ser sensivelmente prejudicada pela abertura das portas. Diante desses fatos, a abertura da porta como forma de remover partículas só se justificaria naqueles casos em que o sistema de condicionamento de ar mostra-se claramente inadequado e os riscos da contaminação gerada internamente são elevados. A melhor situação é ter-se um sistema de condicionamento eficiente e manterem-se fechadas as portas.

9. À exceção do sistema de ar condicionado de janela, os demais sistemas estudados, quando ligados ao longo de todo o procedimento cirúrgico, conseguiram manter a concentração de partículas no interior das salas em níveis aceitáveis. Isso reforça que o sistema de ar condicionado de janela é inadequado para uso em salas cirúrgicas, pois não propicia adequada remoção das partículas geradas pelos procedimentos cirúrgicos.

10. Devido à baixa eficiência dos sistemas de filtragem, o aumento da vazão de insuflamento diminuiu a concentração das partículas maiores, porém provoca um aumento das partículas de pequeno diâmetro. Portanto, é preciso estar atento aos pontos de captação do ar externo pois, se este sofrer contaminação por partículas

pequenas e viáveis, como vírus, o sistema de filtragem poderá não ser capaz de eliminar esses elementos, e o aumento da vazão poderá resultar no aumento de sua concentração no interior da sala.

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