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Algumas estratégias de preservação digital

4 MEMÓRIA DA INFORMAÇÃO CIENTÍFICA

4.2 A preservação da memória em meio digital

4.2.1 Algumas estratégias de preservação digital

Diferentemente dos formatos tradicionais, os objetos digitais são acessíveis apenas através de combinações específicas de componentes de hardware, software, mídia e pessoal técnico. Embora

esteja nas melhores condições de armazenamento, as mídias digitais podem ter sua vida interrompida pela falta ou inadequação de qualquer um dos demais componentes. (THOMAZ; SOARES, 2004, p.[2]).

Entende-se, portanto, que na preservação de documentos digitais, assim como na dos documentos em papel, é necessária a adoção de ferramentas que protejam e garantam a sua manutenção. Essas ferramentas deverão servir para reparar e restaurar registros protegidos, prevendo os danos e reduzindo os riscos dos efeitos naturais (preservação prospectiva), ou, para restaurar os documentos já danificados (preservação retrospectiva). (ARELLANO, 2004, p.17).

Do ponto de vista de Ferreira (2006, p.20), a preservação digital consiste na habilidade de garantir que a informação digital permaneça acessível e com qualidade de autenticidade satisfatória para que possa ser interpretada no futuro, recorrendo a uma plataforma tecnológica diferente da utilizada no momento da sua criação.

Nesse sentido, são várias as estratégias de preservação digital desenvolvidas por pesquisadores e especialistas da área, ao longo do tempo. (Quadro 2).

QUADRO 2. Estratégias de Preservação Digital

Atualização de

Versões Consiste em atualizar materiais digitais produzidos por um determinado software

através de regravação em uma versão mais atual do mesmo. É, possivelmente, a estratégia de preservação mais utilizada.

Conversão para Formatos Concorrentes

Trata-se de converter um objeto digital para um formato que necessariamente não tenha sido desenvolvido pela mesma empresa que elaborou o software proprietário no qual este foi produzido. Também está restrito a alguns tipos de objetos. Pretende resguardar conteúdos da descontinuidade de software, ou seja, quando o software não passar por versões atuais.

Emulação Estratégia baseada essencialmente na utilização de um software, designado emulador, capaz de reproduzir o comportamento de uma plataforma de hardware e/ou software, ou seja, utiliza tecnologias atuais e sobre elas reconstrói as funcionalidades e o ambiente de tecnologias que se tornaram obsoletas. Concentra-se na preservação do objeto lógico no seu formato original.

Encapsulamento Consiste em preservar, juntamente com o objeto digital, toda a informação necessária e suficiente para permitir o futuro desenvolvimento de conversores, visualizadores ou emuladores. O recurso é mantido no seu formato original, isto é, o encapsulamento ocorre juntamente a uma descrição formal do formato bem como do seu significado. Este processo poderá ser expresso em XML, por exemplo.

Metadados São informações de apoio aos processos associados com a preservação digital de longo prazo. Devem ser pensados em função das vocações e objetivos das comunidades, ou seja, partindo de uma base comum a vários parceiros, os conjuntos de metadados devem

sofrer as adaptações necessárias.

Migração Trata-se dos recursos digitais de uma plataforma para outra, adaptando os ambientes de chegada, cada vez que o hardware e/ou software se tornam obsoletos ou em antecipação a essa própria obsolescência.

Migração a

Pedido Tipo de migração que ao invés de as conversões serem aplicadas ao objeto de migração mais atual, deverão sempre ser aplicadas ao objeto original para evitar a deformação de objetos digitais originais.

Migração

Distribuída Tipo de migração a partir de um conjunto de serviços de conversão que se encontram

acessíveis através da Internet e que poderão ser invocados remotamente recorrendo a uma pequena aplicação-cliente.

Migração para Suportes Analógicos

Consiste na reprodução de um objeto digital em suportes analógicos tais como papel, microfilme ou qualquer outro suporte analógico de longa duração; no entanto os objetos interativos e/ou dinâmicos ficam excluídos deste tipo de estratégia.

Preservação de

Tecnologia Consiste na conservação e manutenção de todo hardware e software necessários à correta apresentação dos objetos digitais, a preservação na sua forma original.

Refrescamento

de Suporte Consiste na transferência de informação de um suporte físico de armazenamento para outro

mais atual antes que o primeiro se deteriore ou se torne irremediavelmente obsoleto.

Fonte: Adaptado de Ferreira (2006), Saramago (2002); (2004?) Objetivamente, podemos citar as bibliotecas, os arquivos, os museus, entre outras unidades de informação, como os espaços destinados ao armazenamento de informações com a missão institucional de preservar, localmente, a parte que lhes

convém da memória da humanidade. É notória a prevalência das atividades de alimentação referente ao acesso do que para a preservação da memória institucional.

Os lugares da memória, segundo Monteiro, Carelli e Pickler (2009, p.2) “[...], podem ser comparados à memória de longo alcance, graças à preservação de seus suportes materiais.” Para Pierre Nora (1993), a expressão “lugares de memória” é uma metáfora sobre a forma de organização das sociedades contemporâneas, temerosas pelo fim da identidade dos povos.

llza Fragoso (2008, p.66) descreve uma instituição-memória a partir de algumas características semelhantes a outras de diferentes gêneros. Um exemplo claro disso é uma pessoa jurídica. Membro da sociedade, esta tem relações de poder, assim como uma missão, e é oficializada mediante seu Estatuto, realizando ações coniventes à sua razão de ser. Desse modo, para esta autora, “se uma determinada instituição é instituída com o único propósito de guardar e preservar a memória, logicamente ela se denomina instituição-memória”.

Em CI, inicialmente, adota-se a ideia de memória institucional como prática de preservação e descarte nos processamentos da informação, baseada em políticas organizacionais. Já para as técnicas da

Biblioteconomia, a preservação da memória está associada às tarefas de desinfestação, restauração e conservação de documentos considerados de importância institucional histórica. Segundo Jardim (1995 p.1), “diversos termos tendem a ser associados à memória: resgate, preservação, conservação, registro, seleção; sendo a categoria preservação a mais utilizada”.

O volume de informação produzida em formatos digitais tem crescido sensivelmente ao longo das últimas décadas, e grande parte do conhecimento produzido no mundo está nascendo em ambiente digital, em diferentes formatos, (Born Digital).

Nesse sentindo, começam a surgir preocupações quanto a práticas eficazes da guarda de um patrimônio em meio digital. As mídias, atualmente utilizadas para armazenamento, são instáveis e a tecnologia necessária para o acesso é rapidamente superada por outras mais atualizadas.

Segundo Boeres, (2004, p. 29) a prática da preservação constitui uma das partes de um triângulo que apoia instituições de informação, sendo as outras, o acesso, o desenvolvimento e o gerenciamento de coleções. Sem preservação, o acesso fica impossibilitado e as coleções tendem a decair e se desintegrar. O autor ainda determina o digital, neste contexto, como "qualquer forma de representação de

seqüências de valores simbólicos que podem ser acessados, em princípio manipulados, copiados, armazenados, e completamente transmitidos por meios mecânicos, com grande confiança".

Nesse contexto de plataformas tecnológicas e informação digital, os Repositórios Institucionais surgem como um dos efeitos da sociedade da informação, exatamente na era contemporânea cujas relações com o tempo e o espaço modificam-se substancialmente. As características marcantes dessa nova sociedade, baseada na informação, no conhecimento e no digital, é o tempo real, o agora, o imediatismo, ou seja, as informações disponíveis no ciberespaço não têm garantias de durabilidade. Isso se dá porque a preservação parece não ser uma característica predominante nesse meio, devido à importância dada ao tempo imediato.

Para o movimento do acesso livre, a preocupação com a preservação ainda parece não ser vista com muita importância, sendo pouco tratada nos discursos e aplicações. Para Brody e Harnad51 (2006), “a preservação é uma preocupação fora de lugar quando se fala em aumentar o acesso e o impacto da pesquisa” (Tradução nossa). Dessa forma,       

51 […] preservation is a concern out of place when talking about

subentende-se que para o acesso livre, a preocupação não está na preservação para o amanhã, mas no acesso para o agora, o que fortalece ainda mais a característica do imediatismo da sociedade contemporânea.

Nessa perspectiva, é preocupante a ausência de articulações que fortaleçam o debate e o desenvolvimento de políticas de preservação digital, alerta já apontado por Peter Drucke (1962): "planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes".

Os dirigentes dos RI’s estão ligados aos serviços de informação das instituições e seu papel é disponibilizar a produção intelectual dessas em formato digital, visando à disseminação da informação. No entanto, faz-se necessário identificar o responsável para a preservação digital no contexto dos RI’s, pois do contrário ninguém se responsabilizará pela garantia do acesso a longo prazo.

Como estratégia de investigação desta pesquisa, indagamos sobre qual seria a importância da institucionalização dos Repositórios no contexto atual da Ciência e Tecnologia no Brasil e como seria possível validar cientificamente a credibilidade da iniciativa dos RI. Desse modo, outras questões são levantadas acerca dos efeitos práticos que o fenômeno do acesso livre à informação científica pode causar na produção

dessa e na memória, assim como o tratamento dado á preservação digital nos RI’s já implementados em território nacional.

4.3 A preservação digital e o modelo de