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A gestão de cheias junto às populações potencialmente afetadas por enchentes tem sido tema de pesquisa de diversos institutos para aplicação tanto em zonas rurais quanto para urbanas.

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Também cada vez mais possibilidades tecnológicas tem mostrado benefícios potenciais principalmente na disponibilidade de sistemas de alertas, modelos de previsão de vazão e outras ferramentas que possibilitam autoridades locais agir na prevenção e controle de cheias, isto devido ao impacto da inundação, ser considerado um dos mais significativos e preocupantes do mundo.

Uma das maiores experiências em controle de cheias no mundo e tida como referência mundial, vem de uma agência corporativa dos Estados Unidos, com os benefícios do desenvolvimento do Vale do rio Tennessee

De acordo com HOLLAND (1988), o Governo Federal criou por lei no congresso em 18 de maio de 1933, a “Tennessee Valley Authority” (TVA) uma agência corporativa que opera com um razoável grau de autonomia e flexibilidade de uma empresa privada, com a missão de controlar e desenvolver o Rio Tennessee e para melhorar as condições socioeconômicas dos habitantes da região.

O Presidente dos EUA, com o consentimento do Senado, nomeia os três membros do Conselho TVA para servir em 9 anos com mandatos sobrepostos. Este Conselho decide sobre os principais programas, organização e relações administrativas da TVA, sendo que a responsabilidade pela condução de programas da TVA, a aplicação de políticas e métodos e execução de serviços é delegada às principais unidades organizacionais. A TVA trabalha em cooperação com os órgãos federais, estaduais, locais e outros em seu programa de desenvolvimento regional.

Conforme HOLLAND (1988), as principais ferramentas utilizadas pela TVA para cumprir as suas responsabilidades são controle de inundações, navegação e produção de energia hidrelétrica e é um programa integrado de desenvolvimento de recursos naturais.

É o quinto maior rio dos EUA, com área de drenagem de aproximadamente 104.300 km² da parte sudeste central dos EUA. As cabeceiras do rio são compostas de grandes afluentes que são alimentados pelas águas das encostas das montanhas Apalaches. Nasce na junção dos rios Holston e French Board, em Knoxville, e corre para sudoeste por cerca de 400 km, em seguida, vira a oeste-noroeste, por cerca de 240 km antes de se dirigir para o norte cerca de 400 km até a sua junção com o rio Ohio apenas a uma curta distância a jusante de onde o Ohio se junta ao rio Mississippi (Figura 3.6.1).

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Figura 3.6.1. Sistema de reservatórios da bacia do rio Tennessee. No detalhe o encontro dos rios Tennessee e Ohio, e mais adiante deságua no Mississippi. Fonte: HOLLAND,

1988.

Durante a década de 30, o rio estava sujeito a grandes inundações destrutivas e que poderiam acontecer a qualquer momento durante o ano, e as condições econômicas e ambientais graves da região, ainda pioraram pela depressão econômica que tomou conta dos EUA.

Com a finalidade de reduzir os impactos de inundações ao longo do rio, no período de 1933 a 1941, a TVA construiu sete barragens ao longo do rio Tennessee e seus principais afluentes, e ao longo do tempo as inundações foram minimizadas pela operação de 47 barragens e reservatórios.

A TVA minimiza as inundações por meio do controle operacional destas 47 barragens e reservatórios por ela construídas, controlando rigorosamente uma planície de inundação com um eficaz sistema de gestão.

Historicamente, o período das cheias, começa em dezembro. Neste período, os grandes reservatórios estão com os níveis baixos para proporcionar espaço de armazenamento para as grandes cheias que são esperadas. Como a precipitação ocorre durante o inverno, de dezembro a março, os reservatórios estão autorizados a subir gradualmente até abril e mais rapidamente depois. A partir do final da primavera ou início do verão, a política adotada é o esvaziamento gradual dos reservatórios, de forma que possa atender outros quesitos da água como a navegação, produção de energia e abastecimento de água.

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Já o rebaixamento mais rápido ocorre durante os meses mais secos, no outono, buscando prepará-los para o período das cheias. Ao final de dezembro, os reservatórios estão em seus níveis baixos, uma vez mais, completando o ciclo anual. (Figura 3.6.2).

Figura 3.6.2. Bacia Hidrográfica do rio Tennessee. Detalhe: Sistemas de barragens e reservatórios. Fonte: HOLLAND, 1988.

Para HOLLAND (1988), a forma de medir o sucesso das operações de controle de cheias da TVA é comparar danos reais com as estimativas de danos evitados desde o fechamento da barragem Norris em 1936, isto porque a cidade do Chattanooga é especialmente susceptível à inundação substancial, e é utilizada como um ponto de verificação chave para tal comparação.

Os danos reais causados pelas cheias em Chattanooga foram de US$ 39 milhões nos últimos 50 anos, em comparação com a estimativa de danos evitados de 2.622 milhões dólares durante o mesmo período. As estimativas de danos causados pelas cheias pouparam desde 1936, incluindo Chattanooga, e em outras partes do vale e nos rios Ohio e Mississippi um total de US$ 3,03 bilhões.

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De acordo com HOLLAND (1988), o sucesso desse programa implantado pela TVA, deve- se ao controle de cheias, que juntamente com a expansão da navegação ao longo do canal de 1.050 km, e a produção de energia elétrica, fornecida para cerca de 8 milhões de pessoas, promoveu o desenvolvimento integrado da região, considerado um sucesso notável.

Deve ser destacado que paralelamente a este desenvolvimento, a agricultura, solo, floresta, animais selvagens, pescas, recursos estéticos e arqueológicos foram conservados e aprimorados com os avanços simultâneos e significativos na indústria, população, organizações de serviço, recreação, educação, saúde e renda pessoal.

Outra experiência nos Estados Unidos é com relação de como lidar com cheias rápidas, em artigo apresentado por GOERGAKAKOS, KONSTANTINE P. (2005), data apud MOGIL et al. (1978), relata que desde 1970, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos aplica rotina de cálculos para controle de cheias rápidas para produzir sistemas de alerta, com a finalidade de comparar em tempo real o volume de precipitação previsto e observado em um determinado período ao longo de uma bacia, dada a característica de um volume de chuvas para esse período na bacia hidrográfica. Quando o volume de chuva previsto é maior do que o volume de chuva característica, indica que inundações na bacia são prováveis.

No Canadá, segundo LOE et al. (2001), até o início da década de 1970, a gestão de várzea era dominada por uma abordagem estrutural em que a engenharia utilizava obras estruturais como barragens, diques e desvios para regularizar os sistemas hidrológicos, data apud (Environment Canada, 1993).

Relata que estes exigiram substancial investimento do governo. Por exemplo, entre os anos 1950 e 1970, e em menor medida, na década de 1980, o governo federal canadense alocou milhões de dólares para projetos conjuntos federais-provinciais para a construção de obras de controle de enchentes. Embora tivesse proporcionado alguns benefícios, a relação custo-benefício desta abordagem estrutural era questionável, uma vez que os pagamentos de assistência de danos causados pelas inundações continuavam a crescer, data apud BRUCE (1976) e para fazer piorar as coisas, algumas estruturas de maior potencial de inundação, uma vez que eram percebida pela população de proporcionar maior segurança, consequentemente, incentivaram o desenvolvimento ao longo de cursos de água sujeitos a inundações data apud (FRESHWATER & ARTHUR, 1985).

Relata que extensas inundações em 1974, demonstrou claramente que uma nova abordagem para a redução de danos causados pelas inundações no Canadá era necessário, e isto levou o

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governo federal em 1.975 a elaborar um Programa de Redução de Danos decorrentes de cheias a nível nacional, conhecido como “Canada’s Flood Damage Reduction Program” - FDRP, cujo objetivo era afastar-se da dependência de estruturas de controle cheias tais como barragens para o uso de medidas não-estruturais, incluindo zonemaneto e mapeamento de várzea.

Este programa representou uma mudança significativa na abordagem nacional da gestão de planícies no Canadá, a partir de uma resposta ad hoc usando as estruturas físicas de uma forma mais pró-ativa, para uma abordagem em todo o país "não estrutural". A Gestão de várzea não- estruturais abordou o uso de uma variedade de medidas, incluindo mapeamento de várzea e de zoneamento, de modo a garantir a não evolução de cheias na planície, e à prova de inundação, para reduzir a vulnerabilidade das estruturas existentes, data apud ALEXANDER (1993); Environment Canada (1993a).

Também relata que algumas províncias canadenses tais como Alberta, British Columbia e Ontario, já estavam explorando medidas de gestão de várzea não-estruturais, antes de 1975, e que o FDRP implantou as bases para uma abordagem consistente, de abrangência nacional, data apud WATT (1995).

O FDRP tinha três objetivos principais:

 reduzir a perda de vidas e sofrimento;

 reduzir os pagamentos de assistência às vítimas de desastres escalada de eventos de inundação, e

diminuir a necessidade de obras estruturais caras no controle de enchentes, data apud (Environment Canada, 1993b).

Estes objetivos foram atingidos por meio de um programa de custo compartilhado envolvendo mapeamento de várzea, seguido da designação das zonas vulneráveis a inundações.

No programa central foram estabelecidos acordos de participação entre o governo federal, províncias e territórios, por meio do qual o desenvolvimento em áreas inundáveis estava proibido, e a assistência a desastres foi retirada a partir da designação de novas áreas de desenvolvimento.

Os governos locais foram os principais parceiros, na medida em que foram encorajados a planejar o uso da terra e a proteção ambiental. Em Ontário, as autoridades de conservação também desempenhou um papel fundamental no fornecimento de programa. Com exceção das provincias de Prince Edward Island e Yukon, todas as províncias e territórios celebraram contratos com o governo federal por meio da FDRP.

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Nestes acordos, foram mapeadas e designadas 265 áreas de risco de inundação em 780 comunidades.

Finaliza que o objetivo deste trabalho foi de apresentar os resultados de um estudo que possa identificar e avaliar de forma sistemática os benefícios e custos associados definidos pela FDRP.

Na Tailândia, T. TINGSANCHALI, 2012, relata em seu artigo que mais da metade dos danos causados pelas cheias globais ocorrem na Ásia, e cita exemplos de inundações urbanas e de gestão de riscos na Tailândia.

Aborda que as causas de inundações são devido a fatores naturais, como chuvas fortes, inundações e marés altas, fatores humanos tais como bloqueio de canais ou agravamento de canais de drenagem, uso indevido do solo, desmatamento em regiões de cabeceira, e que o resultado são inundações com consequentes perdas de vidas e danos a propriedades.

Outro fator abordado é com relação ao aumento da população que resulta em mais urbanização e por consequência tornam as área mais impermeáveis, diminuindo a infiltração e consequentemente maior pico de cheias e drenagem e estes problemas tornam-se mais críticos devido a inundações mais severas e frequentes, causadas pelas alterações climáticas, e por consequência danos socioeconômico a população afetada.

Enfatiza que a prevenção de controle de cheias, inclui medidas de controle de enchentes estruturais, tais como a construção de barragens ou diques fluviais e as medidas não-estruturais, tais como a previsão de cheias e alerta de perigo de inundação, gestão de risco, participação pública e arranjo institucional. Faz uma análise de como as atividades de gestão de desastres de inundação têm sido tratadas por governos de países desenvolvidos, em desenvolvimento e não desenvolvido.

Por fim apresenta um quadro estratégico sobre a gestão integrada de inundações que inclui quatro etapas cíclicas a saber: 1) preparação antes do impacto da inundação, como a previsão de cheias e alerta; 2) a disponibilidade de informações no momento da chegada inundação; 3) respostas de emergência durante o impacto de enchentes e, 4) recuperação e reabilitação após o impacto de inundação.

MIRZA et al. (2001), apresentam artigo que analisa inundações catastróficas que afetam milhões de pessoas no sul da Ásia, especificamente no Nepal, Índia, Butão e Bangladesh. Cita que as bacias dos rios Ganges, Brahmaputra e Meghna, convivem milhões de pessoas, por fornecer água para a produção de alimentos e fibras e para fins industriais e domésticos. Porém também são

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fontes de inundações catastróficas que causam danos consideráveis à agricultura e infraestrutura nesses países.

O objetivo da pesquisa partiu de diversas alegações de que as inundações ao longo de toda extensão destes rios têm causado danos e custos a população. Para confirmar a veracidade destas informações, analisaram por meio de um aplicativo, com quatro testes estatísticos, diferentes séries de vazões de pico ao longo do tempo nas áreas onde foram inundadas.

Os estudos conclusivos indicaram de que não houve mudanças com relação ao perfil de cheias ao longo das últimas décadas, mas que o aumento de danos decorrente de inundação pode ser devido a uma combinação de outros fatores, tais como a melhoria das técnicas de avaliação de danos e, a expansão e intensificação do povoamento em áreas sujeitas a inundações, porém isto não foi testado neste trabalho conforme afirmam, mas que seria prioridade para o próximo trabalho.

3.7 METODOLOGIAS APLICADAS PARA CONTROLE DE CHEIAS NO BRASIL A