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Algumas limitações ultrapassadas pela Abordagem de activação-monitorização

II. Activação – monitorização – uma explicação alternativa para o efeito de ancoragem As explicações do efeito de ancoragem que até aqui foram revistas têm procurado compreender

2. Evidência de suporte à abordagem de activação-monitorização

2.2. Algumas limitações ultrapassadas pela Abordagem de activação-monitorização

Uma outra forma de demonstrar a pertinência de uma explicação de activação-monitorização como alternativa à explicação do MAS que actualmente parece reunir maior consenso é analisar alguns aspectos anteriormente apontados como limitações ou fraquezas do modelo bem como resultados que este explique mal ou mesmo não permita explicar.

Um dos aspectos anteriormente criticados no MAS foi a sua reduzida parcimónia, no sentido em que a explicação do efeito, que na sua forma básica corresponde apenas à combinação de dois princípios da cognição social (teste positivo de hipóteses e primação semântica), vai sofrendo acrescentos e/ou alterações em função do paradigma utilizado para a obtenção do efeito (e.g. paradigma clássico de ancoragem, âncoras auto-geradas, âncoras dadas numa tarefa anterior não relacionada) ou mesmo em função do tipo de âncora utilizada (i.e. âncoras plausíveis vs implausíveis). Pelo contrário, a explicação de activação-monitorização proposta neste estudo permite explicar de um modo mais parcimonioso os efeitos obtidos nos diversos paradigmas experimentais e independentemente do tipo de âncora utilizada: o efeito de ancoragem resulta então da combinação de um processo enviesado de recuperação de informação (por via da utilização de pistas encaradas como úteis em virtude da sua maior acessibilidade) com uma falha na monitorização que os sujeitos fazem das suas respostas e/ou das pistas que a elas conduziram.

A explicação do efeito obtido pela utilização de âncoras auto-geradas é talvez aquele cuja adequação à explicação que acabámos de referir parecerá mais questionável. As âncoras auto- geradas são valores a que os participantes recorrem por saberem estar próximos do valor da resposta que lhes é pedida. A sua utilização como pista de recuperação de informação resulta então da sua utilidade real para a resposta e não, como noutros paradigmas, da sua maior acessibilidade. Porém, o impacto que esta terá nas respostas dos participantes poderá ser moderado pela monitorização que estes fazem das suas respostas, traduzível na realização de maior ou menor número de ajustamentos sucessivos. Pensando num exemplo concreto, para responder à questão “quantos dias demora a órbita de Marte?” os participantes podem simplesmente pensar no número de dias da órbita da Terra e ajustá-lo para cima até um dado valor X que assumem como plausível ou, pela monitorização do valor X enquanto resposta possível, podem pensar em novas referências (e.g. número de dias da órbita de Júpiter) que necessariamente desencadearão novos ajustamentos.

Igualmente difíceis de explicar à luz do MAS são os resultados obtidos por Ariely, Loewenstein e Prelec (2003) num estudo em que procuraram avaliar o impacto que a apresentação de múltiplas âncoras teria na disponibilidade dos participantes para ouvir sons aversivos (willing to accept – WTA). A experiência era constituída por 3 ensaios, sendo que em cada um deles os participantes ouviam 1 novo som que embora fosse qualitativamente diferente dos restantes 2 era igualmente aversivo. Depois de apresentado cada som era perguntado aos participantes se estariam dispostos a ouvi-lo de novo, durante 30 segundos, em troca de um dado valor (âncora – 10, 50 ou 90 cêntimos) variável em função da condição em que o participante se encontrava (crescente – 10, 50, 90 – ou decrescente – 90, 50, 10) e do ensaio a que o som pertencia (1º, 2º ou 3º). Depois de respondida esta questão era-lhes então perguntado qual seria o menor valor pelo qual estariam dispostos a aceitar ouvir novamente o som aversivo.

De acordo com o MAS, em cada ensaio os participantes testariam a hipótese de aceitar ouvir o som novamente em troca do valor que lhes era apresentado como âncora, razão pela qual o valor em troca do qual diziam estar dispostos a aceitar ouvir novamente o som seria influenciado pela âncora que imediatamente antecedia a sua resposta. Pelo contrário, os resultados de Ariely et al. (2003) demonstraram que o valor pelo qual os participantes estavam dispostos a ouvir novamente o som aversivo era mais influenciado pela âncora dada no primeiro ensaio do que pela âncora que imediatamente antecedia o seu julgamento de WTA, razão pela qual se encontravam diferenças significativas, no segundo ensaio, entre as WTA dos participantes das condições ascendente e descendente, apesar das âncoras utilizadas nesse ensaio serem exactamente as mesmas nas duas condições. Ao introduzir uma componente de processamento deliberado, a abordagem de activação-monitorização proposta neste estudo permite facilmente explicar estes resultados assumindo para tal que a influência que uma dada âncora tem no julgamento de WTA um dado som é ajustada em função dos valores previamente indicados para sons que embora qualitativamente diferentes eram igualmente aversivos.

Outros resultados difíceis de explicar à luz do MAS são os obtidos por Mochon e Frederick (em preparação) em julgamentos sequenciais. Neste estudo era pedido aos participantes que realizassem 4 julgamentos referentes a 4 alvos: o peso de 1 girafa adulta, o peso de uma esfera de chumbo com a dimensão de uma bola de bowling, a população do Japão e o custo de fabrico de uma TV LCD de cinquenta polegadas. Todos os participantes realizavam os seus julgamentos em 4 condições diferentes: o alvo a julgar era apresentado isoladamente ou era precedido do julgamento de um estímulo pequeno, médio ou de ambos. Os resultados desta experiência revelaram que os julgamentos do alvo eram significativamente menores quando precedidos por julgamentos de

estímulos pequenos ou médios e ainda menores quando precedidos por ambos. Na discussão destes resultados os autores sublinham o facto do efeito ser obtido apenas quando os julgamentos são realizados na mesma dimensão, o que à partida iria de encontro à ideia de aplicabilidade do conhecimento (ao julgamento a efectuar) defendida por Strack e Mussweiler (1997). Porém, o exemplo citado pelos autores contraria esta ideia no sentido em que o efeito de ancoragem apenas deixa de ser obtido quando muda a dimensão de julgamento (e.g. número de dedos tem um guaxinim vs peso de uma girafa adulta), mantendo-se quando os dois julgamentos são pedidos numa mesma dimensão (e.g. peso), mas para alvos distintos (e.g. guaxinim vs girafa adulta).

À luz da explicação de activação-monitorização proposta no presente estudo estes resultados são explicáveis pela maior facilidade de monitorização inerente à condição em que os dois julgamentos são realizados em diferentes dimensões quando comparada com a condição em que estes pertencem a uma mesma dimensão e simultaneamente a uma mesma categoria. Esta maior facilidade de monitorização traduz-se logicamente numa monitorização eficaz da informação a utilizar na resposta ao segundo julgamento solicitado, traduzível no evitamento da utilização de informação relativa ao julgamento anterior, irrelevante para o julgamento a realizar.