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II. Activação – monitorização – uma explicação alternativa para o efeito de ancoragem As explicações do efeito de ancoragem que até aqui foram revistas têm procurado compreender

2. Evidência de suporte à abordagem de activação-monitorização

5.1. Método a) Participantes

Para a realização desta experiência será necessária a participação voluntária de 40 estudantes universitários. Tendo em conta o grupo de calibração utilizado na construção do material (ver experiência 2), os participantes deverão ser, preferencialmente, estudantes de Psicologia.

b) Plano Experimental

Nesta experiência utilizar-se-á um plano factorial, com 2 condições de instruções (com e sem aviso do efeito), manipulação inter-participantes e 2 condições de tipo de âncora utilizada (âncora auto-gerada e âncora dada pelo experimentador), manipulação inter-participantes.

A variável dependente desta experiência será os julgamentos absolutos dos participantes e as suas respostas ao questionário de conhecimento geral funcionarão como um teste à manipulação (manipulation check).

c) Material

O material a utilizar nesta experiência consistirá num conjunto de 6 questões/pares de questões utilizadas por Epley e Gilovich (2001)4

às quais se juntam 9 questões/pares de questões retiradas do pré-teste realizado na experiência 2. Estas 9 questões correspondem às 3 primeiras questões de cada grupo de pré-teste (excluindo logicamente as questões de Epley & Gilovich, 2001, já utilizadas) e servem apenas para tornar as instruções da experiência mais credíveis (na medida em que se trata de um pré-teste de um questionário de conhecimento geral com vista à realização de um estudo comparativo nível de conhecimento geral dos estudantes dos vários cursos da Universidade de Lisboa, importa garantir que as questões versam diversos domínios de conhecimento e são em número percebido como suficiente).

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Três das questões utilizadas por Epley e Gilovich (2001) foram eliminadas na presente experiência por se pensar que não suscitarão âncoras consensuais entre o grupo de estudantes que participarão da experiência: a) Em que ano Washington foi eleito presidente dos EUA?; b) Quantos estados existiam nos EUA em 1840? ou por a própria pergunta poder suscitar mais facilmente a resposta final do que a âncora referência: c) Em que ano o segundo explorador europeu chegou às “Índias Ocidentais”

d) Procedimento

Tal como as experiências anteriores, esta experiência será realizada em computador e terá início com a leitura, pelos participantes, das instruções que neste lhes serão apresentadas.

A experiência é apresentada como fazendo parte de um conjunto de pré-testes de questões de conhecimento geral que estão a ser realizados com vista à construção de um questionário final a utilizar no âmbito de um estudo comparativo do nível de conhecimento geral dos estudantes dos vários cursos da Universidade de Lisboa. As questões colocadas aos participantes são exactamente as mesmas, sendo que metade dos participantes é testada no paradigma clássico, sendo os restantes testados com âncoras auto-geradas. As âncoras utilizadas na condição realizada no paradigma clássico correspondem àquelas que as pessoas consensualmente geram para responder às mesmas questões (e.g. A temperatura de congelação da vodka é maior ou menor do que 0ºC?, sendo 0ºC a temperatura que os participantes geram espontaneamente quando lhes perguntam “qual a temperatura de congelação da vodka?”). Metade dos participantes (1/4 de cada condição) recebe ainda um aviso da existência do efeito sendo-lhes explicado que as estimativas realizadas em condições de incerteza são frequentemente distorcidas pela informação que está mais acessível em memória, mesmo em situações em que esta é claramente irrelevante ou inadequada para o julgamento em causa. Uma vez respondidas todas as questões do alegado pré-teste, os participantes devem ainda responder às perguntas que expectavelmente terão orientado as suas respostas, isto é, as perguntas cujos valores terão servido de referência para responder às questões colocadas no presente estudo (e.g. Qual é o ponto de congelação da água?; Quantos dias demora a órbita de Marte em torno do sol?), indicando ainda se esses valores foram de alguma forma considerados nas suas respostas.

5.2. Resultados e Discussão

À semelhança das experiências anteriores e atendendo à diversidade de domínios a que as questões se referem, proceder-se-á normalização das estimativas absolutas dos participantes a fim de torná-las comparáveis. Depois de normalizados os resultados, calcular-se-á o valor médio dos julgamentos absolutos de cada participante de cada condição. Para a comparação dos julgamentos absolutos dos participantes será realizada uma ANOVA 2 (instruções dadas aos participantes) x 2 (tipos de âncora), complementadas com a realização de contrastes planeados entre as condições com e sem aviso e as condições com âncoras auto-geradas e âncoras dadas pelo experimentador.

Em linha com a hipótese de estudo, e desde que as respostas ao questionário de conhecimento geral estejam correctas, não é esperado um efeito do tipo de âncora utilizada, ou seja, não são esperadas diferenças significativas entre os julgamentos dos participantes das condições de âncoras auto-geradas ou dadas pelo experimentador. Na medida em que os participantes reconhecem a âncora dada pelo experimentador como errada, reconhecendo igualmente a sua origem (e.g. ponto de congelação da água), não há razão para esperar diferenças entre as 2 condições.

Pelo contrário, é esperado um efeito principal da condição de instruções dadas aos participantes traduzível num menor efeito de ancoragem na condição com aviso quando comparada com a condição sem aviso e independentemente do tipo de âncora utilizada.

Tal como já foi referido noutra secção e atendendo à especificidade das âncoras utilizadas nesta experiência, o facto do aviso do efeito conduzir à sua redução independentemente do tipo de âncora utilizada pode meramente ser interpretado como existência de ajustamento e não, como se pretende, de monitorização. Importa uma vez mais referir a este respeito que o processo de monitorização é aqui entendido como estando na base do processo de ajustamento. A diferença entre as âncoras dadas nesta experiência e as âncoras habitualmente usadas no paradigma clássico é que estas são reconhecidas como erradas e os participantes conhecem a sua origem enquanto habitualmente conseguem, na melhor das hipóteses, reconhecê-las como erradas. Ao reconhecê-las como erradas e qual a sua origem, os participantes iniciam um processo ajustamentos sucessivos, ao qual se encontra subjacente a monitorização das possíveis respostas que lhes vão surgindo, tal como no exemplo anteriormente referido. Admitindo que não existia monitorização, onde pararia o ajustamento?