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Algumas paralisações docentes, greves nacionais e o III CONAD

Capítulo II- O Movimento Docente do Ensino Superior e a Criação do Sindicato Nacional

5. Algumas paralisações docentes, greves nacionais e o III CONAD

Nos dias 21 a 25 de setembro de 1981, ocorre a “Semana de Mobilização”, sendo o dia 23, o Dia Nacional de Paralisação. As reivindicações feitas pelos vários setores das Universidades estavam assim definidas: Fundações - envio ao Congresso do Projeto de Carreira Unificado para os docentes das IES Fundações Federais e exclusão das Fundações da Lei 6733; Autarquias - por 45% de reposição salarial a partir de março de 1981 e reajuste semestral a partir de setembro, enquadramento dos discriminados pelo projeto de carreira; Particulares - pela estabilidade de emprego durante o ano letivo; Estaduais - pelo reajuste semestral. Esta paralisação atingiu 24 Universidades e instituições isoladas e parcialmente outras 5, num total de 25 mil professores. O papel desempenhado pela ANDES era o de canalizar o movimento específico dos vários setores universitários e dos técnicos administrativos e articulá-lo com o movimento das demais categorias de trabalhadores, haja vista que as verdadeiras causas da exploração do trabalho deve unificar à todos, conforme nos explicita a citação que segue. Assim, é papel da ANDES,

“canalizar no seu seio esse movimento específico, articulando-o, com os demais setores de docentes universitários - particulares, fundações e estaduais e direcionando-o politicamente no sentido de colocá-lo não só no contexto mais amplo de todos os professores, mas também dos funcionários públicos e de todos os

trabalhadores. (...) Nada impede que essas lutas venham a confluir, embora haja níveis de mobilização diferenciados no momento. A ANDES deve abrir o espaço para o movimento fluir naturalmente, organizando-o e dirigindo-o sem canalizá-lo fora do seu curso normal. A própria luta salarial é política em si mesma, desde que não caia em um cooperativismo cego que não veja mais nada em torno, sem enxergar as verdadeiras causas da exploração do trabalho que unem todos os trabalhadores. (...)” (Boletim da ANDES nº 5, outubro de 1981, p. 2)

Se até 1979, as greves aconteciam apenas nas universidades, a partir de 1980 já existia a tentativa de torná-las unificadas por meio da Coordenação Nacional das ADs, no sentido de fortificá-las nacionalmente. Como exemplos dessa tentativa, no dia 17 de abril de 1980 ocorre o “Dia Nacional de Luta Salarial” em que o movimento docente reafirma a questão salarial e de carreira do magistério e dias 11 a 13 de junho de 1980, paralisa as atividades dos docentes, pelas mesmas reivindicações. (Boletim da ANDES nº 5 setembro de 1980, p. 2 e 3). Com esses e outros acontecimentos emergenciais da época, define-se o dia 23 de setembro de 1981, como o “Dia Nacional de Paralisação”.

Após o sucesso desse Dia de Paralisação, em que o maior número de professores que aderiram foram os das Universidades Federais Autárquicas, a ANDES envia ao Ministro da Educação e Cultura Rubem Carlos Ludwig, um ofício de nº 029/81, no dia 28 de setembro do mesmo ano, solicitando uma audiência para o dia 15 de outubro de 1981, com o objetivo de conhecer as respostas do Ministro às reivindicações dos professores dos três setores, encaminhadas quando da realização da Semana de Mobilização nos dias 21 a 25 de setembro de 1981.

Em muitos Estados houve grande cobertura da imprensa que explicitava em suas manchetes as seguintes notícias com referência à greve do dia 23: “25 mil professores paralisaram”, “Professores hoje em greve nacional”; “Os docentes universitários farão semana de mobilização”; “Ludwig atribui paralisação em Universidade Federal a intolerância do professor”; “ANDES anuncia a paralisação em 17 instituições”; “ANDES entrega reivindicações ao Ministério;, dentre outras. (Boletim da ANDES nº 5, outubro de 1981, p.3). Conquistou-se, com essa paralisação, 30% além do aumento reivindicado para o funcionalismo, enquadramento dos

professores colaboradores do ano de 1980 e um espaço de seis meses para a discussão nas ADs sobre a reformulação da universidade.

Dessa forma, em meio a toda essa mobilização de reivindicações e lutas por parte da ANDES, várias ADs são criadas e grande parte das que já existiam passam a confirmar seu compromisso de filiação junto à Associação Nacional. Outras, reafirmam tal compromisso, a exemplo da ADUSP, em Assembléia no dia 23 de setembro de 1981. O professor José Jeremias de Oliveira Filho, na época Presidente da ADUSP, propõe que, “além dessa confirmação seria necessária também a adesão individual dos associados da ADUSP à ANDES, tendo como objetivo aumentar o compromisso político do professor com sua entidade nacional”. (Boletim da ANDES nº5, outubro de 1981, p.3)

Assim, o MD do 3º grau aponta para o dia 23 a 25 de outubro de 1981, em Brasília, a realização do III CONAD e o Primeiro Congresso da ANDES, para 1982, na cidade de Florianópolis/SC, com os temas: avaliação do movimento docente e da ANDES, programa de lutas específicas e gerais, e determinação de formas de ação, Estatuto da ANDES e eleições, sem se perder de vista um dos pontos fundamentais do movimento que era a continuação da mobilização dos docentes do Ensino Superior.

Como ficou demonstrado, é inegável a contribuição que a criação da ANDES trouxe ao movimento docente como um todo, especialmente no fortalecimento das Associações de Docentes. Embora o ano de 1984 aponte o final do regime autoritário implantado pelos militares nos anos 60, no Brasil, toda a mobilização do final da década de 70 e a criação da ANDES em 1981, pelos professores universitários, foi muito difícil. O momento ainda era de repressão e autoritarismo, ao lado das grandes mobilizações organizadas pela sociedade civil, partidos políticos, dentre outros, que ocorriam no País se contrapondo ao regime imposto. Portanto, a criação de uma Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior devia ser vista pelas ADs como uma força urgente e necessária que, embora inexperiente, era corajosa no seu objetivo de articular e unificar o movimento docente, no seu conjunto. Isso foi, de fato, importante, porque ao mesmo tempo em que fortaleceu todo o movimento docente de 3º grau, fortaleceu e estimulou o surgimento e a configuração de novas ADs nas Universidades

brasileiras, o que ocorre até os dias de hoje, dentre os muitos acontecimentos históricos que marcaram nacionalmente o movimento docente.

6. Gestões da ANDES - 81/88 – Fatos marcantes