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Capítulo II- O Movimento Docente do Ensino Superior e a Criação do Sindicato Nacional

2. Criação da ANDES

Com base no Livro de Atas, (Ata nº 01 e nº 02) da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior, de 17 a 20 de fevereiro de 1981, inicia-se o tão esperado Congresso Nacional de Docentes Universitários, no Teatro do Centro de Convivência Cultural de Campinas, às 20 horas.

Participaram deste Congresso 67 ADs, 317 delegados inscritos, 287 delegados credenciados e uma Comissão Pró-AD. No entanto, das 67 ADs que

participaram da criação da ANDES, algumas não são mais filiadas ao Sindicato, segundo informes da ANDES SN (1996). Por outro lado, as ADs filiadas à ANDES, somam hoje, 93, o que vale dizer, é um número considerável (1996). É importante salientar também que esses números devem ser atualizados com freqüência, porque a criação de ADs nas universidades é parte do processo dinâmico do movimento docente, em cujo âmbito os nomes das ADs sofrem modificações, com o passar do tempo.

Dentre os nomes dos professores das ADs que participaram do Congresso de criação da ANDES destacam-se alguns que são hoje bastante conhecidos, tais como o do atual Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, representante da ADUNICAMP, o do político Aloysio Mercadante Oliva, representante da APROPUC/SP.

Assim, os professores presentes ao I Congresso Nacional dos Docentes Universitários realizado em Campinas/SP, decidem pela criação de sua entidade nacional, por 221 votos.

“deliberaram e resolveram, por duzentos e vinte e um votos a favor, seis contra e nenhuma abstenção, criar uma entidade de âmbito nacional denominada Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – ANDES. Em seguida o Congresso elegeu por maioria simples uma Comissão Diretora da referida Associação...”.

No entanto, no que se refere à data de criação da Associação Nacional, a página 5A da mesma Ata, deixa algumas interrogações quanto ao dia de criação da Associação Nacional. Após a composição da Comissão Diretora, encontramos a seguinte explicação:

“foi proposto ao Congresso a aprovação dos seguintes Estatutos Provisórios: Título I - Denominação, Caráter, Fins, Sede e Foro. Capítulo I – Da Denominação e dos Fins. Art. 1º - A Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – (ANDES), criada pelo I Congresso Nacional de Docentes Universitários, no dia 20 (vinte) de fevereiro de 1981, em Campinas, Estado de São Paulo...”.

Com relação a essa questão, o entendimento que se tinha era de que a deliberação pela criação da ANDES ocorreu no dia 19 de fevereiro e a sua criação de

fato, no dia 20. O retorno de um E-mail, encaminhado para a Secretaria do Sindicato, no dia 19 de março de 1998, para se compreender e se definir essa situação, foi o seguinte:

“- A ATA de fundação da ANDES tem a data de 19/02/81 por que registra a instalação da Seção e a aprovação da criação da Entidade ANDES (Associação dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) nesse dia.

- Ocorre, no entanto, que na descrição do fato de criação é citada uma proposta que descreve o Art. 1º com a criação da ANDES em 20/02/81.

- Essa citação leva a um engano, possivelmente produzido pela indicação da diretoria provisória, no dia 20/02/81.

- Tal confusão obscurece a real leitura do documento – mesmo citado o dia 20/02/81, este foi como proposta (por erro ou por intenção), porém a aprovação se dá no dia 19/02/81, que é o registro oficial daquele momento.

- Finalmente o legislador dá prova dessa intenção, dirimindo todas as dúvidas, no momento que fez o registro em cartório, quando cita a data de 19/01/81, sem qualquer vacilação.

- Por isso não temos dúvida de que em 19 de fevereiro de 1998, comemoramos 17 anos de fundação da ANDES, hoje Sindicato Nacional, que irá comemorar 10 anos em 26/11/98”.

Segundo essas informações, portanto, a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior - ANDES - é criada no dia 19 de fevereiro de 1981, pelos professores presentes ao I Congresso Nacional de Docentes Universitários, que contou com a presença de pessoas ilustres que compuseram a mesa. Dentre elas destacamos a do sindicalista Luiz Ignácio Lula da Silva; a do professor Ernest Hamburguer, pela SBPC; a do advogado Carlos Cruz, pela OAB; a do professor Guilherme Tell R.F. Gomes, presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais; a de Jacó Bittar, presidente do Sindicato dos Petroleiros, pelo Movimento Sindical de Campinas, São Paulo. A ANDES foi criada tendo por finalidade uma ampla representatividade dos docentes das Instituições de Ensino Superior que, além de congregá-los e encaminhar todas as suas reivindicações e lutas, tem por finalidade convergir o MD rumo às questões mais gerais, pertinentes à sociedade brasileira.

A citação abaixo aponta a finalidade da criação da ANDES em 1981. “Congregar e representar os professores das IES brasileiras, expressar as reivindicações e lutas desses professores, no âmbito

econômico, social, cultural e político, incentivar a criação de novas ADs, preservar os interesses regionais e setoriais da categoria, e coordenar e fazer convergir o MD na direção das iniciativas de alcance nacional”.

No que se refere à função básica da ANDES, o respeito à autonomia das ADs e a participação junto a outros movimentos organizados da sociedade, são fundamentais para fortalecer a luta pela democracia brasileira.

“respeitar a autonomia das ADs e buscar a integração com as entidades representativas de professores, trabalhadores e demais setores sociais, na luta pela democracia e pelos interesses da sociedade brasileira, devendo ficar provisoriamente sediada em Florianópolis, Santa Catarina, até a realização do seu I Congresso”

a) Estrutura provisória da ANDES

Uma vez criada a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior7, passou-se à elaboração do seu Estatuto, em que constam a sua finalidade e a sua estrutura organizacional.

É aprovada a seguinte estrutura provisória para a ANDES: O Congresso Nacional, que será

“realizado ordinariamente uma vez por ano, formado por delegados eleitos pelos docentes filiados às ADs ou Comissões Pró-ADs, em votação ou Assembléia Geral especialmente convocadas para esse fim, obedecendo a proporcionalidade adotada para a realização do I Congresso Nacional de Docentes Universitários”

Deve também “deliberar sobre o estatuto definitivo da Entidade e convocar eleições diretas para a segunda Diretoria”.

O Conselho Nacional de ADs – CONAD - que será

7 Todas as informações quanto à criação da ANDES e seu Estatuto Provisório, constam na Ata nº 1 de

“constituído por um representante de cada AD, eleito em Assembléia Geral. As Comissões Pró-AD's participarão do CONAD com direito a voz. As atribuições do CONAD são: fiscalizar o cumprimento das deliberações do Congresso, deliberar subordinado às decisões do Congresso e funcionar como Conselho Fiscal da Entidade. O CONAD reunir-se-á ordinariamente a cada seis meses e extraordinariamente quando convocado pela Diretoria ou por 1/4 dos seus membros”.

A Diretoria, que terá a seguinte composição: “1 presidente, 2 vice- presidentes, 1 secretário geral, 2 secretários, 2 tesoureiros e 9 vice-presidentes regionais”, quais sejam: Norte (Pará, Amazonas e Acre), Nordeste I (Bahia, Alagoas e Sergipe), Nordeste II (Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), Nordeste III (Maranhão, Piauí e Ceará), Leste (Minas Gerais e Espírito Santo), Centro Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal), Rio, São Paulo, e Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná). “A duração do mandato da diretoria será de dois anos. A estruturação da diretoria provisória também será a mesma, com exceção do tempo que será de dois meses, após a realização do 1º Congresso da ANDES”.

Quanto `as atribuições da Diretoria da ANDES, as mesmas ficaram assim definidas:

“dirigir o MD e encaminhar as lutas aprovadas pelo Congresso, fortalecer e estimular a criação de novas ADs, convocar ordinária ou extraordinariamente o CONAD, constituir Comissões para encaminhar tarefas específicas, convocar, se necessário, reuniões de ADs para encaminhamento das decisões do CONAD, e das Vice-Presidências Regionais”.

Já com relação às atribuições da 1ª Diretoria, as mesmas ficaram assim definidas:

“preparar e divulgar para a mais ampla discussão entre os docentes das IES um ante-projeto de estatuto da ANDES, preparar o 2º Congresso Nacional de Docentes Universitários, preparar eleições diretas para a diretoria da ANDES, elaborar estatuto provisório para efeitos de registro da entidade como sociedade civil”.

As atribuições do I Congresso da ANDES ficaram assim definidas: “deliberar sobre o Estatuto definitivo da ANDES e convocar eleições diretas para a sua diretoria”.

No que diz respeito às lutas gerais, constatou-se, pelos documentos, que três grandes questões foram definidas: Participação na Campanha Nacional pela democratização do País, Campanha Nacional pela defesa e ampliação do ensino público e gratuito e destinação de 12% do orçamento da União e 25% dos orçamentos estaduais e municipais para a educação.

Já no elenco das lutas específicas apenas quatro foram possíveis de ser aprovadas: luta pela democratização da Universidade, eleição dos dirigentes das IES pela comunidade universitária, luta contra as demissões sumárias de docentes e luta pela readmissão de todos os professores demitidos.

A ANDES, portanto, é uma Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior que foi criada, segundo informes de professores de algumas ADs, pela necessidade que tinham essas mesmas ADs de uma representação nacional. Com a criação da ANDES essas ADs constituem-se sua base, cuja Diretoria Provisória ficou assim definida: Presidente- Osvaldo de Oliveira Maciel; 1º Vice-Presidente- Agamenom de Almeida; 2º Vice-Presidente- Laurindo Leal Filho; Secretário Geral- Luiz Pinguelli Rosa; 1º Secretário- Newton Lima Neto; 2º Secretário- Flávio Valente; 1º Tesoureiro- Mindé Menezes; 2º Tesoureiro- Francisco Alves; Vice-Presidente da Regional Sul- Sérgio Pires; Vice-Presidente da Regional SP- Carlos Baldijão; Vice-Presidente da Regional RJ- João Ferreira Filho; Vice-Presidente da Regional Leste- Renato Ortiz; Vice-Presidente da Regional Centro-Oeste- Marco Antonio Leite; Vice-Presidente da Regional Nordeste 1 (BA,AL,SE)- Amundson Portella de Holanda Cavalcanti; Vice- Presidente da Regional Nordeste 2 (PB,PE,RN)- Rubens Lira; Vice-presidente da Regional Nordeste 3 (MA,PI,CE)- Arlindo Raposo; Vice-Presidente da Regional Norte (PA, AM,AC)- Carlos Tomaz.

Segundo a documentação pesquisada, esses são os dados reais da criação da ANDES. No entanto, através do depoimento do professor Ivan Miguel Costa, da Universidade Federal de Uberlândia e que participou de toda essa mobilização, alguns

informes importantes revelam o que ocorria, de fato, durante este processo de criação da ANDES e da composição de nomes para a diretoria provisória.

“Quando da preparação para criação da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior, através dos ENAD’s e encontros informais na SBPC e outros, já havia concepções político-ideológicas bem diferenciadas dentro do movimento. Isto sempre foi escamoteado nas discussões e desaparece nos documentos oficiais das entidades. Foi criado e reforçado o mito de um movimento puro, representativo das bases e sem nenhuma vinculação ideológica ou político-partidária. Quem conhece por dentro o movimento sindical brasileiro sabe que isto não é verdade.

A criação da ANDES uniu, num primeiro momento, professores que traziam história prévia de militância político-sindical, ideologia de esquerda e vinculação partidária claramente definidas; professores engajados no levante da sociedade civil contra a ditadura militar, que conheciam bem a necessidade de organização e de unidade e professores de ideal acadêmico, apenas fascinados com o arejamento e o clima de liberdade que estava nascendo.

O primeiro grupo tinha experiência maior, estratégia clara da necessidade de se evoluir para o Sindicato Nacional e a garra da militância. Foi o grupo que mais trabalhou no início do processo para viabilizar a entidade nacional, liderado por Newton Lima Neto da Universidade Federal de São Carlos, que foi o Secretário Geral da Coordenação Nacional de AD’s e responsável pela correspondência e estratégias de mobilização. Pelo trabalho tornou-se candidato natural à 1º Presidente da ANDES.

Quando a ANDES foi criada, no entanto, outros embates e questionamentos de representatividade foram colocados. Os principais: a questão regional, resolvida com a criação das secretarias regionais, a questão setorial (na época as AD’s eram fortes nas universidades federais autárquicas, que tinham um salário muito defasado e estavam em campanha salarial. A mobilização era frágil nas fundações federais onde os professores tinham salário diferenciado mas nenhuma estabilidade. As universidades particulares mais mobilizadas já tinham tradição de luta por meio dos SINPRO’s e viviam o problema de dupla representação. As estaduais negociavam com governos estaduais deferentes, pautas de reivindicações bem diferenciadas o que levava à luta isolada. A base da ANDES eram as universidades federais autárquicas) e a questão da representatividade acadêmica dos líderes do movimento nacional para facilitar a penetração em setores resistentes à concepção

sindical. Além do mais, no grupo sindical já havia a mesma divisão ideológica que sempre atravessou o movimento sindical brasileiro, que pode ser resumido em concepções PT x concepções PC.

Quando Luiz Pinguelli Rosa, de grande prestígio acadêmico e militante na SBPC contra a ditadura militar, apoiado por facções sindicais resolve bater chapa, Newton Lima Neto, que era de uma fundação federal, não sai candidato e apoia Osvaldo de Oliveira Maciel, que vem de uma boa gestão como presidente de AD, tem prestígio institucional na Universidade de Santa Catarina e prestígio acadêmico.

Vencendo Maciel, Luiz Pinguelli vai para a Secretaria Geral da 1ª gestão e, para se evitar qualquer divisão, o grupo sindical prestigia Luiz Pinguelli e o apóia para Presidente na Segunda Gestão.

Newton Lima Neto seria naturalmente o 3º Presidente da ANDES, mas, foi novamente impedido, desta vez, por trabalhos acadêmicos. O movimento só o fez justiça, pelo trabalho realizado, na quarta gestão da ANDES, em que chegou a Presidente competindo com Paulo Rosas de Pernambuco (Chapa: em defesa da Universidade), quando a ANDES, já consolidada, apresentava para escolha direta duas concepções sindicais diferenciadas”. (Uberlândia/MG, 1999).

Assim, podemos constatar que, a exemplo do movimento sindical de outras categoria de trabalhadores, também o movimento docente tinha concepções sindicais diferenciadas quanto à forma de conduzir a luta da categoria docente do ensino superior. Apesar de estar representada pelos três setores de ensino – federal, estadual e particular – no dia de sua criação, a associação nacional, neste momento, era mais representativa dos professores das universidades federais autárquicas que se encontravam em difícil situação salarial. Essas concepções sindicais permeiam até os dias de hoje o movimento docente do 3º grau.

A partir de fevereiro de 1981, a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior tinha como tarefa fundamental estruturar-se enquanto entidade representativa de uma categoria de trabalhadores, a dos professores do 3º grau e, ao mesmo tempo, reorganizar o conjunto dos professores para fazer do movimento docente um movimento forte. Para tanto, era necessário unificar todas as reivindicações das bases, que consistiam em um novo plano de carreira, reajuste salarial semestral,

revogação do Decreto Lei nº 6733/79 que interferia na autonomia das universidades quando impedia a escolha dos dirigentes universitários pela comunidade acadêmica, dentre outros, ao mesmo tempo em que deveria traçar suas diretrizes no sentido de fazer avançar o movimento docente como um todo. Além dessa tarefa, estava implícito que fazer avançar o movimento docente significava, primeiramente, unificá-lo e fortalecê-lo, e, para fortalecê-lo, havia a necessidade de se propor novas formas de mobilização, no sentido de sensibilizar outros professores para a importância da criação de novas ADs, em outras Universidades espalhadas pelo País.

Portanto, ainda estavam latentes as reivindicações dos professores das ADs que deveriam, naquele momento, ser unificadas em uma associação nacional.

3. Primeiros encontros nacionais da ANDES