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2 REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE DE SEUS PRINCIPAIS

2.2 Algumas possíveis soluções

Antes de mais nada é necessário lembrar que o assunto é grave e para que se consiga encontrar uma solução, é necessário o envolvimento de todos, setor público, setor privado, ONG's, associações e toda sociedade em geral.

A primeira proposta a ser apresentada, é a da parceria entre a administração das penitenciárias e organismos organizados da sociedade. Ferreira (2000, p. 515) define parceria como “reunião de pessoas que visam a interesse comum”.

Ao lermos o artigo 4º da LEP que determina que o Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade, logo vem a idéia de implantação de parcerias. A cooperação citada pelo artigo acima mencionado, é entendida no sentido de parceria onde os usuários de tais serviços buscam benefícios sem finalidade lucrativa. No Brasil as parcerias são geralmente feitas com organizações não governamentais, entidades filantrópicas e por líderes religiosos, porém são vários os obstáculos encontrados, dentre eles, a falta de repasse financeiro para custeio das necessidades mínimas necessárias para que haja efetivamente a parceria.

São poucos os estabelecimentos que contam com parceiros da própria comunidade para o auxilio da execução penal. Porém vale citar a iniciativa da administração do presídio de Santa Rosa que em parceria com o Conselho da

Comunidade, vem prestando suporte a esta instituição. Dentre as principais ações, podemos destacar a criação de hortas, reformas no prédio e, mais recentemente, a entrega de um veículo que foi reformado, conforme pode-se verificar na notícia que segue:

Nesta semana o Conselho da Comunidade na Execução Penal, através do Poder Judiciário, efetuou a entrega à Susepe e ao presídio estadual de Santa Rosa, do prédio a ser destinado ao Setor de Trabalho e Qualificação Profissional dos apenados.

Construido com a mão de obra prisional, o espaço foi edificado com recursos do próprio Conselho, que aplicou cerca de R$ 85 mil. No local, provisoriamente funcionará também o ambulatório de saúde, resultado de recente parceria com a Fundação Municipal da Saúde.

Na oportunidade, a direção do Conselho efetuou a entrega da viatura usada pelo presídio, que foi totalmente reformada. Os recursos aplicados, também do caixa do Conselho, foram de R$ 8.300,00.(Jornal Noroeste, 2012, p.01)

Uma das grandes vantagens da parceria é que ela está longe da radical proposta de privatização total dos estabelecimentos penitenciários. Não se trata de uma proposta de retirar do Estado a administração penitenciária, mas sim reforçar a presença de parceiros aptos para cooperar na busca de resultados positivos seja durante a execução da pena, seja na reinserção do recluso depois do cumprimento de sua pena.

Outra proposta que surge, é a de terceirização dos serviços meio, quais sejam, construção a e a manutenção dos estabelecimentos prisionais, fornecimento de alimentação, assistência social, jurídica, médica, psicológica, educação e ensino técnico-profissionalizante, atividades de recreação, esportivas e trabalho, já é realidade em algumas unidades prisionais e Estados do Brasil.

Inicialmente, a terceirização consiste em delegar parcialmente a empresas privadas alguns serviços, já que é do Poder Público o monopólio da execução penal. A iniciativa privada seria responsável pelas atividades acessórias ou atividades meio, ou seja, estas empresas seriam executoras dos serviços necessários, como os acima citados.

Sendo assim, a gestão material seria delegada a empresas privadas e a gestão operacional continuaria com o Estado, constituindo uma gestão mista. Esta gestão é firmada através de contrato administrativo, seguindo certos parâmetros, tanto que nas propostas de terceirização as contratações das empresas são feitas através de licitações públicas e há claúsulas que prevêem tanto a anulação como a rescisão dos contratos de prestação de serviços.

Porém, há questões controvertidas neste modelo, como o alto custo de investimento no empreendimento e quanto à fiscalização dos serviços e dos funcionários.

É notório que existe no sistema prisional brasileiro um conjunto de fatores que propiciam as propostas de privatização do sistema, e também, existe um consenso quando se diz que o sistema atual não recupera o condenado e a administração gasta muito e não atinge seus objetivos.

O interesse da iniciativa privada para obter, por meio de licitações públicas ou processo de privatização, a gestão das unidades prisionais brasileiras

tem como principal aliada a ineficiência do Estado na gestão dos serviços que devem ser oferecidos aos presos dentro do estabelecimento onde estes cumprem suas sentenças.

Surge assim a proposta de privatização dos presídios no Brasil que se mostra recente e radical, visto que a privatização, diferentemente da parceria e da terceirização de alguns serviços, é uma entrega total dos serviços e da administração dos estabelecimentos à iniciativa privada, esbarrando em uma questão de ordem constitucional.

Para entender tal afirmação, é oportuno a análise dos seguintes artigos da Constituição Federal:

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Diante da análise dos dispositivos acima elencados, é importante reforçar que a repressão da criminalidade e da violência, a administração da justiça e a manutenção das forças de segurança são deveres do Estado. O jus puniendi, leia-se direito de punir, é do Estado.

Ao entregar o poder de gestão e administração a empresas privadas a soberania do Estado ficaria vulnerável. Meirelles apud Minhoto (2000, p. 32) ensina o seguinte:

Os serviços públicos, propriamente ditos, são os que a Administração presta diretamente à comunidade, por reconhecer a sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido de que só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros, compulsórias em relação aos administradores. Exemplos desses serviços são os de defesa nacional, os de polícia, os de preservação da saúde pública.

Outros aspectos interessantes a serem abordados são o fato da possibilidade da execução penal ser objeto de contrato administrativo, já que esta é um serviço público, que é indelegável. E a fiscalização da execução da pena também é função da justiça, porém com a privatização total dos estabelecimentos penais ela passaria a ser feita por particulares, correndo-se o risco de se ensejar corrupção por parte destes na execução penal.

Além do mais, vale a pena lembrar que o particular é privado e visa lucro e a pessoa humana não pode ser tratada como mercadoria. Minhoto (2000, p. 13) ressalva o seguinte:

[...] a privatização das prisões mostra muito bem como a reestruturação econômica por meio das forças de mercado aniquila os mais elementares direitos fundamentais e corrói tanto os padrões éticos quanto as próprias estruturas jurídico-políticas do Estado de Direito.

Diante do exposto, conclui-se que a privatização dos presídios é inconstitucional, pois tira do Estado, por ser ele o titular do serviço, e o fiscalizador do cumprimento das penas.

Nesse sentido, se entende que a parceria que o Estado deve firmar é com a comunidade e não com a iniciativa privada, que visa lucrar com o preso. A parceria propicia a aproximação da comunidade e assim, estando a sociedade em contato com o recluso durante o cumprimento de sua pena, certamente mudará seu olhar sobre o mesmo, deixando ele de ser “invisível” a ela e facilitando, assim, sua reinserção na sociedade.

Com a participação da comunidade na execução da pena torna-se, ela fiscalizadora do sistema ao monitorar o trabalho dos agentes públicos que nele trabalham, evitando maus tratos e violência contra os presos, bem como verificar quais as necessidades dos mesmos. A presença da comunidade, pode dessa maneira, inibir ações que não só dificultam como podem impedir a ressocialização daquele que é a razão de ser do próprio sistema.

Dessa forma conclui-se que, a melhor saída para a crise do atual sistema penitenciário, é a parceria com organismos da sociedade, um maior investimento do estado, tanto no setor de pessoas, quanto na estrutura física, e o engajamento de todos os cidadãos.

Conclusão

Tendo como base a dignidade da pessoa humana, partimos do pressuposto que todos somos titulares da mesma, porém o que se tem observado nos instituições onde ficam os apenados, é o total desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. A maioria da sociedade vê o apenado como inimigo e a ele se refere como tal, é uma concepção que a todos nós é imposta pelo sistema.

No primeiro capítulo do presente trabalho, foi abordado o tema da dignidade humana e a sua falta no sistema carcerário brasileiro, e infelizmente, parece que tal afronta aos direitos inerentes a pessoa humana consegue sensibilizar uma parcela mínima da sociedade. Na sequência foram elencados os direitos concedidos aos presos, constantes na Constituição Federal e na LEP – Lei de Execução Penal, é quase incompreensível que o Estado crie as leis, defina quais são os direitos de cada um, nesse caso dos apenados, e ele próprio desrespeite tudo isso.

No segundo capítulo encontra-se o tema central do trabalho, onde são trazidos alguns problemas, e posteriormente possíveis soluções.

a falta de higiene entre outros. A primeira problemática abordada está presente em quase todas as casas prisionais, senão em todas. Em algumas situações encontram-se no espaço destinado o triplo ou até mais ocupantes, em alguns casos as pessoas são tratadas como animais ou mercadorias.

Em decorrência da superlotação e da falta de estrutura, aparecem os problemas da falta de higiene. Os presos vivem no meio de ratos e baratas, o esgoto corre a céu aberto nos pátios, e eles não tem lugar apropriado para realizar a higiene pessoal.

Com a constatação dos problemas, nota-se a necessidade buscar saídas para resolver o problema das prisões no Brasil. Sendo assim vêm surgindo varias propostas para solucionar ou amenizar a crise, neste trabalho forma apresentadas três possíveis saídas, quais são: parcerias com setores da sociedade organizada, terceirização de “serviços meio” e a mais radical, a terceirização total das penitenciárias.

As parcerias são ações realizadas entre a administração dos presídios e organismos da sociedade, tais como instituições religiosas ou Ong's, e tem um fim não lucrativo. A terceirização de serviços, seria a delegação a empresas privadas para execução dos mesmos, no casos essas empresas fariam a gestão material. Já a privatização total é a proposta mais radical, com ela o governo entregaria para a iniciativa privada a total administração dos presídios, inclusive o controle no cumprimento das penas, o que seria inconstitucional.

Pelo exposto, conclui-se que a melhor alternativa para a resolução do problema, seria um maior investimento do governo nessa área e criação de parcerias, pois as mesmas propiciam a aproximação da comunidade e assim, estando a sociedade em contato com o recluso durante o cumprimento de sua pena, certamente mudará seu olhar sobre o mesmo.

REFERÊNCIAS

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