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A desumanização no sistema penitenciário brasileiro: problemas e possíveis soluções

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Academic year: 2021

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JACO RAFAEL FANK

A DESUMANIZAÇÃO NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO: PROBLEMAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DECJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: Mcs. Lurdes Aparecida Grossmann

Santa Rosa (RS) 2012

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Dedico este trabalho a todas as pessoas, que diariamente tem sua dignidade e seus direitos violados nas penitenciárias brasileiras.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem.

A minha orientadora Lurdes Aparecida Grossmann, pela sua dedicação e disponibilidade.

À minha família que sempre me apoiou nesta caminhada, tanto nas horas difíceis quanto nos momentos de felicidade. Especialmente a minha mãe, que acreditou na minha capacidade, ao meu falecido pai que foi um exemplo de superação, aos meus irmãos, que mesmo distantes sempre me apoiaram e ao minha noiva e colega de curso, pelo companheirismo e pelos finais de semana de estudos que passamos juntos.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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“Violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfico, faz uma breve conceituação de dignidade da pessoa humana e também serão elencados os direitos dos presos presentes na Constituição Federal e na LEP. Ainda serão abordados os principais problemas enfrentados nas prisões, principalmente o da superlotação e a falta de higiene. Para tentar resolver esses problemas surgem algumas propostas que são as parcerias com organizações não governamentais, terceirização de “serviços meio” e a mais radical que é a privatização total dos presídios.

Palavras-Chave: Dignidade da Pessoa Humana. Direitos dos Presos. Problemas das Prisões. Possíveis soluções.

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ABSTRACT

The present research monograph, a brief conceptualization of human dignity and are also listed the rights of prisoners present in the Federal Constitution and LEP.Although we discuss the main problems faced in prisons, particularly the overcrowding and lack of hygiene. To tackle these problems arise that some proposals are partnerships with non-governmental organizations, outsourcing "services through" and that more radical is the outright privatization of prisons.

Keywords: Human Dignity. Rights of Prisoners. Problems of Prisons. Possible Solutions.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...09

1 OS DIREITOS DOS APENADOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL ...11

1.1 Principio da dignidade da pessoa humana e o apenado ...11

1.2 Direitos Constitucionais dos presos ... 13

1.3 Os direitos dos apenados previstos na LEP ... 21

2 REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE DE SEUS PRINCIPAIS PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DE SOLUÇÕES ... 26

2.1 Os principais problemas do sistema prisional brasileiro ...26

2.2 Algumas possíveis soluções ... 34

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

Este trabalho foi elaborado com o intuito de analisar o conceito de dignidade da pessoa humana, elencar os direitos dos presos constantes na Contituição Federal e na Lei de Execução Penal. Com o conceito de dignidade e os direitos definidos, serão aboradados os principais problemas dos presídios, e posteriormente algumas possíveis soluções.

Para melhor compreender a temática, o assunto foi dividido em dois capítulos.

No primeiro será trabalhado o conceito da dignidade da pessoa humana, onde será abordada a origem histórica da expressão, sua inserção nos diplomas legais e sua falta no sistema prisional. Na sequência serão elencados os direitos dos apenados que estão na CF e na LEP, os quais tratam de direitos básicos, que na maioria das vezes não são respeitados.

Adentrando na parte central do trabalho, trataremos dos principais problemas enfrentados no dia-a-dia dos presídios, sabemos que eles são muitos, mas por hora serão aboradados a superlotação e a falta de higiene. Posteriormente apresentaremos algumas possíveis soluções, dentre as estudadas estão as

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parcerias, a terceirização e a privatização dos presídios.

A metodologia usada na monografia, foi o método de pesquisa bibliográfica em meios físicos e internet.

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1 OS DIREITOS DOS APENADOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL

Toda pessoa humana tem o direito a ter dignidade, neste capítulo, será abordado o conceito de dignidade da pessoa humana e os direitos do presos elencados na Constituição Federal e na LEP – Lei de Execução Penal.

1.1 Princípio da dignidade da pessoa humana e o apenado

A palavra dignidade vem do latim dignitas que significa honra, virtude ou consideração, ou ainda, tudo aquilo que merece respeito, razão porque se entender que dignidade é uma qualidade moral inata e é à base do respeito que lhe é devido. “Então, a dignidade nasce com a pessoa. É-lhe inata. Inerente à sua essência” (NUNES, 2002, p. 49).

Por ser considerada uma qualidade inata, a dignidade humana é também considerada indisponível. Ingo Wolfgang Sarlet, conceitua esse principio:

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos. (SARLET, 2001, p. 60).

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concepção atual de direitos humanos e, pela primeira vez, ocorre a acolhida da dignidade da pessoa humana como centro orientativo dos direitos e fonte de inspiração de textos constitucionais posteriores: “Art. 3º - Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. (Declaração Uiversal dos Direitos Humanos)

Pode se definir, dignidade da pessoa humana, como um conjunto de direitos fundamentais, que visam assegurar aos cidadãos um mínimo para sua subsistência. Pode se elencar, por exemplo, o acesso amplo e irrestrito aos serviços de saúde, educação, habitação entre tantos que poderiam ser citados.

No campo do Direito Civil, a dignidade da pessoa humana também é tutelada, no qual se resguardam os direitos da personalidade, a valoração jurídica da pessoa e sua proteção jurídica, propriedade, direitos autorais entre os demais. A personalidade é tutelada pelo direito no sentido de reconhecer-lhe a autonomia plena e de proteger-lhe a integridade pessoal em suas amplas dimensões.

A Constituição Federal é a base norteadora do ordenamento jurídico e do estado brasileiro, é nela que todas as regras e normas devem se pautar. A interpretação constitucional e de toda a ordem infraconstitucional deve observar os princípios e regras constitucionais, para que haja efetividade na aplicação das normas jurídicas vigentes, ainda mais, para a prevalência da própria constituição, atendendo-se assim ao princípio da supremacia da constituição.

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O princípio da dignidade da pessoa humana está inserido no texto constitucional como um dos fundamentos basilares da República Federativa do Brasil:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III – A dignidade da pessoa humana.

Mas o que vem a ser dignidade da pessoa humana?, esse é um questionamento que muitos tentam responder, mas devido a sua complexidade, é muito difícil ter um conceito desse princípio.

Sabemos que a realidade dos presídios e delegacias no Brasil está longe do aceitável, não alcançando assim a finalidade que a esses órgãos é atribuída. Diariamente aparecem na mídia situações que retratam as condições de miséria dos apenados.

Aos presos é aplicado o Direito Penal do inimigo, pois eles são tratados pela sociedade como um incômodo, não se enquadrando nos padrões de conduta estipulados e responsáveis por situações de conflitos, assim os apenados são tratados como os indesejáveis.

1.2 Direitos Constitucionais dos presos

A Constituição Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de Outubro de 1988, traz em seu bojo, garantias fundamentais que asseguram os

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direitos dos condenados e também àqueles que aguardam detidos, por sua sentença. No artigo 24 da Magna Carta em seu inciso I dá à União, aos Estados e aos municípios a competência de legislar sobre Direito Penitenciário.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico. [...]

§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á

a estabelecer normas gerais.

§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

No artigo acima, em seu parágrafo primeiro está a competência da União de produzir normas gerais, já no parágrafo segundo, é dada aos Estados, a incumbência de produzir legislação suplementar.

Garcia (2004) explica a importância de alguns institutos penais estarem resguardados na órbita constitucional.

A contemplação de certas instituições jurídicas processuais penais na Constituição Federal é justificada face à necessidade de que tais princípios restem imunes às leis infra-constitucionais e, assim, sejam insuscetíveis de "eventuais artimanhas legislativas e a possibilidade de se macular ou por em risco a segurança do processo penal contra direitos e garantias pessoais". Pretende-se, destarte, preservar conquistas relativas ao pleno exercício da defesa da pessoa alvo da persecução penal, sem a preocupação de, por questões políticas do País, ter-se alterada, com certa facilidade, a segurança processual, possibilitando o surgimento de desvios, excessos ou qualquer tipo de abuso que venha a prejudicar o devido processo legal.

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legislação sobre o sistema prisional, mas aos Estados e distrito federal, é dada a prerrogativa de suplementar a mesma, porém dentro dos parâmetros legais.

Logo no primeiro artigo da CF, com o título “Dos direitos e das garantias fundamentais” em seu inciso III, aparece uma garantia dada aos que cumprem sanção penal, nele o ordenamento pátrio garante a dignidade da pessoa humana.

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Nesse artigo, verifica-se que a dignidade da pessoa humana é carro-chefe para os demais princípios e que deve ter caráter de valor constitucional supremo, com aplicação indistinta, pois além de garantia, é direito de todos. Ele também serve para a interpretação e aplicação de todos os outros direitos e garantias pois todos os cidadãos são sujeitos da dignidade humana, mesmo que seu comportamento não seja digno perante seus semelhantes.

O artigo 5º, que trata dos direitos e garantias individuais, é o dispositivo que mais contempla garantias aos apenados registrando preceitos quanto à execução das sanções que lhes são impostas.

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

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propriedade, nos termos seguintes: [...]

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados; d) de banimento;

e) cruéis;

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; [...]

O Princípio da Legalidade que limita o poder arbitrário do Poder Público, é consagrado no inciso II, do artigo supra mencionado, ele determina que somente através de textos normativos o Estado criará obrigações. Tem-se neste inciso uma garantia que impede a intervenção estatal, podendo esta ser feita tão somente por meio de legislação que a regulamente.

Na sequência vem o inciso III onde taxativamente se bane a tortura e o tratamento degradante ou desumano a qualquer pessoa. De acordo com este

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dispositivo, tanto os que foram condenados quanto os outros membros da sociedade são alvos do mesmo, pois seu principal objetivo é evitar a prática de atos cruéis e desumanos, ao amparar o indivíduo contra possíveis agressões, tanto de caráter físico, moral ou psicológico.

O direito de resposta e de indenização, seja por dano material, moral ou à imagem é garantido no inciso V. Tem sido rotineiro nos meios de comunicação a divulgação a veiculação de matérias ofensivas e equivocadas e este dispositivo tem o intuito de alertar e coibir essas práticas pois muitas vezes algumas pessoas são acusadas pela imprensa falada e escrita imputando-lhes a autoria de um crime que, muitas vezes, ainda não foi provado.

APELAÇÃO CÍVEL. AGRAVOS RETIDOS. PRELIMINARES. RESPONSABILIDADE CIVIL. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DIREITO À INFORMAÇÃO CONTRAPOSTOS AO DIREITO À IMAGEM. PROPORCIONALIDADE. FATO CRIMINOSO DE GRANDE REPERCUSSÃO SOCIAL. IMPUTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE AO AUTOR. ABSOLVIÇÃO CRIMINAL. DANO MORAL. EXCESSO DA IMPRENSA. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. QUANTUM.

[...]

2. O presente caso contrapõe a liberdade de manifestação e o direito de informação ao direito à imagem, todos constitucionalmente assegurados. Trata-se, pois, de colisão de direitos fundamentais, cuja solução não impõe o afastamento integral de um ou de outro, mas sim a adequação proporcional de ambos, com eventuais preponderâncias.

3. A ilicitude da conduta dos requeridos restou evidenciada, porque excederam o exercício regular de direito. Deveriam ter obrado com cuidado ao publicar matérias a respeito da suposta descoberta da autoria de crime tão grave e de forte repercussão social. Ao anunciarem enfaticamente o nome do demandante como sendo o responsável pela fraude, via rádio e televisão, quando a situação ainda não estava definida (tanto que autor, mesmo denunciado criminalmente, restou absolvido), assumiram o risco de que tal não poderia ser verdadeiro.

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4. O nexo de causalidade também está evidenciado, pois o prejuízo sofrido pelo autor decorre, em grande parte, da conduta ilícita da parte ré. Em outras palavras, entre a publicação das notícias contendo a imputação de fato criminoso não praticado e a lesão moral existe uma relação de causa e efeito. A referência a “em grande parte” se justifica porque a atuação da imprensa certamente não foi a causa única do dano. A situação em si, envolvendo fato criminoso de grande monta, já é hábil a gerar abalo que, no caso, certamente foi incrementado, e muito, pela repercussão dada aos fatos pela imprensa. Tal concorrência de causas não afasta o dever de indenizar, influenciando apelas na quantificação da indenização.

5. Evidente se mostra a ocorrência de dano moral diante da falsa imputação de crime em notícias jornalísticas. Trata-se de dano in re ipsa, que resta evidenciado pelas circunstâncias do fato.

6. Manutenção do valor da indenização em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), quantia que se mostra justa para a recomposição dos danos, não caracterizando enriquecimento ilícito por parte do autor nem ônus demasiado à parte ré.(Apelação Cível nº 70028719250, Comarca de Porto Alegre: "AGRAVOS RETIDOS E APELOS DESPROVIDOS. UNÂNIME." )

O inciso em questão dá o direito de a vítima de apresentar sua versão sobre os fatos a ela imputados, como instrumento contra abusos por parte da imprensa ou ainda a possibilidade da indenização material, moral ou à imagem. O que se tem aqui é uma indenização em valor pecuniário, valor este que tenta suprir os incômodos, a dor, o aborrecimento e outros prejuízos causados pela veiculação de determinada informação inverídica.

Mais adiante, o inciso XL abre exceção ao réu beneficiando-o quanto a irretroatividade da lei penal. Assim, a irretroatividade continua sendo instituto constitucional, porém ela cessa quando é para beneficiar o réu, podendo-se voltar no tempo e obter benefícios outrora não considerados.

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será imposta somente ao sujeito ativo do crime. A garantia dada aqui é a vedação da herança criminal, impedindo que de alguma forma a penalidade imposta ao agente do crime atingisse seus descendentes.

O inciso XLVI reforça o inciso anterior disciplinando a individualização da pena, que deve ser moldada de acordo com as características do réu e do crime por ele praticado.

Segundo Bulos (2000, p. 217), “O constituinte levou em conta a dignidade da pessoa humana, considerada como valor supremo de uma sociedade fraterna, pluralista, preocupada com o desenvolvimento, a igualdade, o bem-estar e a justiça.”

A pena de morte, a de caráter perpétuo, a pena de trabalho forçado, a de banimento do país e as penas cruéis são totalmente inadmissíveis pelo constituinte no inciso XLVII. Este inciso consagra o princípio da Humanização da Pena. Se estas modalidades de punição elencadas fossem aplicadas o legislador contradiria a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade e à dignidade da pessoa humana.

Todavia, mesmo que o legislador não tivesse inserido este inciso a proibição continuaria existindo em face do artigo 1º, III que versa sobre a dignidade da pessoa humana. Sabendo que a pena não pode contradizer o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, não é lícito que o condenado se submeta a tratamentos cruéis.

A Constituição, no inciso XLVIII também propicia ao condenado o direito de cumprir sua sanção em estabelecimento compatível com o crime praticado, com

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a sua idade e com o seu sexo. A importância deste dispositivo se dá na contribuição para reabilitação do condenado, evitando que os inexperientes tenham contato com réus experientes de maior periculosidade.

Enquanto a Constituição preceitua vários dispositivos que beneficiam os apenados, constata-se, também, dispositivos que não têm sido cumpridos. É o caso do inciso XLIX que assegura integridade física e moral dos presos, fato que, como se sabe, diante da crise do sistema carcerário nacional não atinge sua finalidade.

Por outro lado, o constituinte inovou com o inciso L, assegurando o direito constitucional às presidiárias de permanecerem com seus filhos no período de amamentação. Este inciso é considerado um desdobramento do Princípio da Pessoalidade, pois o filho não tem relação alguma com a atitude delituosa de sua genitora.

No âmbito penal, o Princípio do Devido Processo Legal é um dos mais conhecidos. Na Constituição ele vem no inciso LVI, assegurando a liberdade e a propriedade dos bens do indivíduo, até a tramitação do processo, na forma estabelecida em lei. Bulos (2000, p. 233) ensina que este inciso “trata-se de cláusula protetiva das liberdades públicas, contra o arbítrio das autoridades legislativas, judiciárias e administrativas”.

Outro princípio protecionista em benefício do réu é o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa estampado no inciso LV. Por este princípio, o réu passa a ter o direito de conhecer a acusação que lhe é imputada podendo contrariá-la. Este inciso

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evita que o réu seja condenado sem, ao menos, ter sido ouvido e apresentado versão para sua defesa.

O réu também pode se valer do Princípio da Presunção de Inocência disposto no inciso LVII. Bulos (2000, p. 249) explica que “todos são inocentes até existir prova em contrário, porque até o trânsito em julgado da sentença condenatória o réu terá o direito público subjetivo de não ostentar o status de condenado”. É por esta razão que, enquanto o réu não for condenado, este é inocente e assim deverá ser tratado.

Finalizando a análise dos incisos do artigo 5º que trazem garantias ao réu, segue comentários ao inciso LXIII. Este inciso permite que o réu fique calado e pode se valer do direito ao silêncio. O réu não está obrigado a falar, atitude esta, que muitas vezes, pode prejudicar sua defesa.

É dado a ele também, o direito de continuar tendo assistência familiar mesmo dentro do estabelecimento prisional, recebendo visitas, mantimentos e peças de vestuário, além de poder ter direito a um profissional atuando em sua defesa.

1.3 Os direitos dos apenados previstos na LEP

A Lei de Execução Penal, número 7.210/84, em se artigo 1º, traz o objetivo para qual ela se destina.

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

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A proposta dada pela Lei de Execução Penal é punir e humanizar. Mirabete (2004, p.28) assim escreve sobre o tema:

Ao determinar que a execução penal “tem por objetivo efetivar as disposições da sentença ou da decisão criminal”, o dispositivo registra formalmente o objetivo de realização penal concreta do título executivo constituído por tais decisões. A segunda é a de “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”, instrumentalizada por meio da oferta de meios pelos quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança possam participar construtivamente da comunhão social.

Sabendo que a lei tem o objetivo de punir e humanizar, com a preocupação de proporcionar condições para a reintegração do condenado, ela regulamenta como as penas devem ser cumpridas. Neste item serão apresentados os direitos dos apenados.

No artigo 10, o legislador dá ao Estado o dever de prestar assistência ao preso. Já no artigo 11, define quais as assistências que os detentos tem direito:

Art. 11. A assistência será: I – material; II – à saúde; III – jurídica; IV – educacional; V- social; VI - religiosa.

A assistência material compreende o fornecimento de alimentação suficiente, vestuário e instalações higiênicas. Quanto as questões de saúde deve-se propiciar atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

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A assistência jurídica é destinada aos presos sem recursos financeiros para constituir advogado particular. A assistência educacional compreende a instrução escolar, sendo o ensino de primeiro grau obrigatório, e a formação profissional do preso, lembrando que o estudo é uma forma de remição da pena. Já a assistência social visa ampará-lo no contato com seus familiares,bem como prepará-lo para o retorno à liberdade.

E, finalmente a assistência religiosa, com liberdade de culto, de caráter facultativo, considerada de suma importância dada a influência benéfica no comportamento humano, a reflexão sobre os atos praticados e a pacificação dentro das Unidades Prisionais.

O artigo 40 assegura a aplicação do artigo 5º III e XLIX que proíbem o tratamento desumano e degradante e asseguram o respeito, a integridade física e moral ao preso.

No artigo 41, a LEP traz um rol de direitos dos presos:

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

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X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;

XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.(Incluído pela Lei nº 10.713, de 2003)

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

Respeitando o que trazem os artigos anteriomente citados(atr. 40 e 41), lembrando que os direitos neles elencados são irrenunciáveis e imprescritíveis, teremos as condições para a existência digna e o perfeito desenvolvimento da pessoa do condenado devem ser asseguradas, viabilizando assim, seu harmônico reingresso no convívio social, objetivo esse da LEP.

A respeito do assunto Mirabete (2004, p. 118) expõe que:

[...] o preso, mesmo após a condenação, continua titular de todos os direitos que não foram atingidos pelo internamento prisional decorrente da sentença condenatória em que impôs uma pena privativa de liberdade. [...] Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação dos direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana e a titularidade dos direitos não atingidos pela condenação.

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diariamente, em todo país, ocorrem as mais diversas formas de violações dos presos. São situações que chegam a ser desumanas e degradantes, no próximo capitulo serão abordados os problemas e as possíveis soluções para esse grave problema.

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2 REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL: ANÁLISE DE SEUS PRINCIPAIS PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DE SOLUÇÕES

O sistema prisional brasileiro encontra-se com sérios problemas, sabe-se que a situação vem se agravando a cada dia que passa. Neste capítulo, serão abordados os principais problemas e suas possíveis soluções.

2.1 Os principais problemas do sistema prisional brasileiro

O atual sistema prisional brasileiro tem se desviado de suas funções e inegavelmente a superlotação é um dos principais problemas, existem mais presos do que de vagas e praticamente todos os estabelecimentos prisionais estão superlotados.

O problema em análise, não é de hoje, já no ano de 1998, um relatório “O Brasil atrás das grades” elaborado por uma organização em defesa dos direitos humanos, a Human Rights Watch, apontava o seguinte:

Embora as condições variem significativamente de um Estado para outro, e de uma instituição para outra, as condições carcerárias no Brasil são normalmente assustadoras. Vários estabelecimentos prisionais mantêm entre duas e cinco vezes mais presos do que suas capacidades comportam. Em alguns estabelecimentos, a superlotação atingiu níveis desumanos com detentos amontoados em pequenas multidões. As celas lotadas e os dormitórios desses lugares mostram como os presos se amarram pelas grades para atenuar a demanda por espaço no chão ou são forçados a dormir em cima de buracos de esgoto.

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continua presente em nosso sistema prisional, vejamos algumas notícias atuais.

O jornal Zero Hora veiculou, no dia 31/08/2012 a seguinte notícia:

Incursão de equipe de Zero Hora ao interior de uma das principais penitenciárias do Estado revela as condições alarmantes de um espaço concebido não apenas para privar criminosos da liberdade, mas também para recuperar condenados pela Justiça. Nesta quinta-feira, um juiz responsável por fiscalizar cadeias gaúchas decidiu interditar a prisão que abriga uma massa carcerária quase 160% superior a sua capacidade. (ZH, 2012, p. 1)

Na mesma oportunidade foi constatada a seguinte situação:

Em cada cela, onde deveriam ficar oito presos, 30 detentos se espremem. Ficam deitados pé com cabeça, lado a lado, respirando odores e se molhando com infiltrações da chuva que teima em penetrar pelas paredes esverdeadas pelo musgo e pelas grades mal vedadas. Essa é a realidade da Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC), a primeira cadeia de segurança máxima construída no Rio Grande do Sul. (ZH, 2012, p.1)

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Em entrevista ao jornal Correio do Povo no dia 15/10/2012, o secretário da segurnaça publica do RS, Airton Michels afirmou que os presídios são “depósitos de pessoas”:

O secretário destacou que um dos objetivos é diminuir a superlotação nos presídios e melhorar as condições nesses locais, para facilitar a reintegração no momento da liberdade. "Os presídios superlotados são administrados, mais do que pelo Estado, pelas facções. O preso quando sai tem que pagar a proteção que teve lá e tende a voltar ao crime", comentou. A Susepe também deverá buscar que os egressos conseguim(Sic) trabalhar após cumprir a pena, para evitar que voltem a cometer crimes. "Enquanto não resolvermos o problema de superlotação, os presídios continuarão sendo depósitos de pessoas", ressaltou.

Conforme estatísticas do InfoPen – Sistema Nacional de Informação Penitenciária, a situação está muito longe de ser resolvida, os dados consolidados de junho de 2012 mostram uma população carcerária de 549.577 para somente 309.074 vagas, apresentando dessa maneira um déficit de 240.503 vagas.

Notícias mais recentes, revelam que o problema só tem se agravado nos últimos anos:

Com cerca de 500 mil presos, o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado. O deficit de vagas (quase 200 mil) é um dos principais focos das críticas da ONU sobre desrespeito a direitos humanos no país. (BBC Brasil, 2012, p. 1)

Aliada à superlotação, a falta de estrutura predial é outro problema que que afeta o sistema. No Pará, muitos presos são colocados em container's, que são feitos de metal e sua função principal é de acondicionar mercadorias, e nesse caso

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usados como depósito de pessoas em condições subumanas.

As pequenas celas chegam a ser compostas de dois beliches e cinco homens, ou até dez mulheres. Na parte de cima delas (em cima dos presos) há grades, por onde os agentes caminham e observam os detentos. O telhado que os protege da chuva é feito de zinco, tornando o ambiente ainda mais quente e insalubre. (GOMES, 2012, p.01)

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Outro grave problema no sistema prisional, são as condições de higiene, e para ter um parâmetro mínimo, o Brasil adotou a convenção da ONU – Organização das Nações Unidas, acerca do assunto.

As Regras Mínimas de Tratamento do Prisioneiro possui itens específicos sobre a higiene pessoal do preso e do local onde ele se encontra:

10. Todos os locais destinados aos presos, especialmente àqueles que se destinam ao alojamento dos presos durante a noite, deverão satisfazer as exigências da higiene, levando-se em conta o clima, especialmente no que concerne ao volume de ar, espaço mínimo, iluminação, aquecimento e ventilação.

15. Será exigido que todos os presos mantenham-se limpos; para este fim, serlhes-ão fornecidos água e os artigos de higiene necessários à sua saúde e limpeza.

16. Serão postos à disposição dos presos meios para cuidarem do cabelo e da barba, a fim de que possam se apresentar corretamente e conservem o respeito por si mesmos; os homens deverão poder barbear-se com regularidade.

19. Cada preso disporá, de acordo com os costumes locais ou nacionais, de uma cama individual e de roupa de cama suficiente e própria, mantida em bom estado de conservação e trocada com uma freqüência capaz de garantir sua limpeza.

Este é também um problema a ser superado em estabelecimentos prisionais, já que na maioria das vezes a própria estrutura física destes espaços contribuem para tanto. Muitas construções são escuras e sombrias, não há ventilação adequada propiciando um ambiente úmido, adequado para a proliferação de insetos.

Além de tudo, muitos presos dependem da ajuda de entidades ou de seus familiares para conseguir roupas de cama e vestuário, além de colchões e produtos

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de higiene pessoal. Os sanitários, de uso coletivo, sempre se encontram em péssimas condições de uso, se tornando transmissor de diversas doenças e infecções.

As situações relatadas acima foram extraídas de um trecho do artigo Como funcionam as prisões – Assim são as cadeias brasileiras, de Fátima Souza (2012, p. 1):

Num canto da cela, num quadrado de no máximo um metro quadrado fica o banheiro, (chamado de “boi” na gíria dos presos) a ser compartilhado por todos os ocupantes do “x” (é assim que os presos se referem a suas celas). A pequena privada não tem descarga e o cheiro no ambiente é forte. Um cano de água que sai da parede é o “chuveiro”, sempre frio. Não há água quente nas celas nem mesmo no inverno. O sabonete e a pasta dental que utilizam são trazidos pela família porque o Estado não fornece este tipo de regalia.

Como pode-se observar nas imagens a seguir, os problemas são gravíssimos e se encontram em quase todas as instituições prisionais.

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http://4.bp.blogspot.com/

A figura abaixo demonstra a situção em diversos lugares:

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Estas condições aumentam os riscos de doenças em estabelecimentos destinados internação coletiva, e podem ter diversos desdobramentos devido à falta de higiene e cuidados adequados.

Além da superlotação e da falta de higiene, podemos citar muitos outras violações dos direitos dos apenados, como por exemplo: a precariedade ou total falta de assistência médica, a escassez de trabalho, pouca oportunidade de escolarização ou capacitação profissional, entre tantos outros.

Em entrevista a Jorge Vasconcellos da agência CNJ de notícias, Luciano Losekan, juiz auxiliar da Presidência do CNJ e coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Sócio-educativas (DMF/CNJ), afirmou, “o que verificamos até agora é que o sistema penitenciário brasileiro está relegado ao segundo ou ao terceiro plano. As unidades prisionais são verdadeiros depósitos de gente e em nada contribuem para a recuperação dos apenados”.

Portanto, o que se percebe, é que do jeito que está não dá mais. A cada nova estatística, aumenta a quantidade de detentos, mas o número de vagas não acompanha na mesma proporção, aumentando o problema da superlotação, e atrelado a ele surgem muitos outros que tornam degradante a “vida” dentro da prisão.

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apresentadas algumas possíveis saídas para a crise que está implantada.

2.2 Algumas possíveis soluções

Antes de mais nada é necessário lembrar que o assunto é grave e para que se consiga encontrar uma solução, é necessário o envolvimento de todos, setor público, setor privado, ONG's, associações e toda sociedade em geral.

A primeira proposta a ser apresentada, é a da parceria entre a administração das penitenciárias e organismos organizados da sociedade. Ferreira (2000, p. 515) define parceria como “reunião de pessoas que visam a interesse comum”.

Ao lermos o artigo 4º da LEP que determina que o Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade, logo vem a idéia de implantação de parcerias. A cooperação citada pelo artigo acima mencionado, é entendida no sentido de parceria onde os usuários de tais serviços buscam benefícios sem finalidade lucrativa. No Brasil as parcerias são geralmente feitas com organizações não governamentais, entidades filantrópicas e por líderes religiosos, porém são vários os obstáculos encontrados, dentre eles, a falta de repasse financeiro para custeio das necessidades mínimas necessárias para que haja efetivamente a parceria.

São poucos os estabelecimentos que contam com parceiros da própria comunidade para o auxilio da execução penal. Porém vale citar a iniciativa da administração do presídio de Santa Rosa que em parceria com o Conselho da

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Comunidade, vem prestando suporte a esta instituição. Dentre as principais ações, podemos destacar a criação de hortas, reformas no prédio e, mais recentemente, a entrega de um veículo que foi reformado, conforme pode-se verificar na notícia que segue:

Nesta semana o Conselho da Comunidade na Execução Penal, através do Poder Judiciário, efetuou a entrega à Susepe e ao presídio estadual de Santa Rosa, do prédio a ser destinado ao Setor de Trabalho e Qualificação Profissional dos apenados.

Construido com a mão de obra prisional, o espaço foi edificado com recursos do próprio Conselho, que aplicou cerca de R$ 85 mil. No local, provisoriamente funcionará também o ambulatório de saúde, resultado de recente parceria com a Fundação Municipal da Saúde.

Na oportunidade, a direção do Conselho efetuou a entrega da viatura usada pelo presídio, que foi totalmente reformada. Os recursos aplicados, também do caixa do Conselho, foram de R$ 8.300,00.(Jornal Noroeste, 2012, p.01)

Uma das grandes vantagens da parceria é que ela está longe da radical proposta de privatização total dos estabelecimentos penitenciários. Não se trata de uma proposta de retirar do Estado a administração penitenciária, mas sim reforçar a presença de parceiros aptos para cooperar na busca de resultados positivos seja durante a execução da pena, seja na reinserção do recluso depois do cumprimento de sua pena.

Outra proposta que surge, é a de terceirização dos serviços meio, quais sejam, construção a e a manutenção dos estabelecimentos prisionais, fornecimento de alimentação, assistência social, jurídica, médica, psicológica, educação e ensino técnico-profissionalizante, atividades de recreação, esportivas e trabalho, já é realidade em algumas unidades prisionais e Estados do Brasil.

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Inicialmente, a terceirização consiste em delegar parcialmente a empresas privadas alguns serviços, já que é do Poder Público o monopólio da execução penal. A iniciativa privada seria responsável pelas atividades acessórias ou atividades meio, ou seja, estas empresas seriam executoras dos serviços necessários, como os acima citados.

Sendo assim, a gestão material seria delegada a empresas privadas e a gestão operacional continuaria com o Estado, constituindo uma gestão mista. Esta gestão é firmada através de contrato administrativo, seguindo certos parâmetros, tanto que nas propostas de terceirização as contratações das empresas são feitas através de licitações públicas e há claúsulas que prevêem tanto a anulação como a rescisão dos contratos de prestação de serviços.

Porém, há questões controvertidas neste modelo, como o alto custo de investimento no empreendimento e quanto à fiscalização dos serviços e dos funcionários.

É notório que existe no sistema prisional brasileiro um conjunto de fatores que propiciam as propostas de privatização do sistema, e também, existe um consenso quando se diz que o sistema atual não recupera o condenado e a administração gasta muito e não atinge seus objetivos.

O interesse da iniciativa privada para obter, por meio de licitações públicas ou processo de privatização, a gestão das unidades prisionais brasileiras

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tem como principal aliada a ineficiência do Estado na gestão dos serviços que devem ser oferecidos aos presos dentro do estabelecimento onde estes cumprem suas sentenças.

Surge assim a proposta de privatização dos presídios no Brasil que se mostra recente e radical, visto que a privatização, diferentemente da parceria e da terceirização de alguns serviços, é uma entrega total dos serviços e da administração dos estabelecimentos à iniciativa privada, esbarrando em uma questão de ordem constitucional.

Para entender tal afirmação, é oportuno a análise dos seguintes artigos da Constituição Federal:

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Diante da análise dos dispositivos acima elencados, é importante reforçar que a repressão da criminalidade e da violência, a administração da justiça e a manutenção das forças de segurança são deveres do Estado. O jus puniendi, leia-se direito de punir, é do Estado.

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Ao entregar o poder de gestão e administração a empresas privadas a soberania do Estado ficaria vulnerável. Meirelles apud Minhoto (2000, p. 32) ensina o seguinte:

Os serviços públicos, propriamente ditos, são os que a Administração presta diretamente à comunidade, por reconhecer a sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido de que só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros, compulsórias em relação aos administradores. Exemplos desses serviços são os de defesa nacional, os de polícia, os de preservação da saúde pública.

Outros aspectos interessantes a serem abordados são o fato da possibilidade da execução penal ser objeto de contrato administrativo, já que esta é um serviço público, que é indelegável. E a fiscalização da execução da pena também é função da justiça, porém com a privatização total dos estabelecimentos penais ela passaria a ser feita por particulares, correndo-se o risco de se ensejar corrupção por parte destes na execução penal.

Além do mais, vale a pena lembrar que o particular é privado e visa lucro e a pessoa humana não pode ser tratada como mercadoria. Minhoto (2000, p. 13) ressalva o seguinte:

[...] a privatização das prisões mostra muito bem como a reestruturação econômica por meio das forças de mercado aniquila os mais elementares direitos fundamentais e corrói tanto os padrões éticos quanto as próprias estruturas jurídico-políticas do Estado de Direito.

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Diante do exposto, conclui-se que a privatização dos presídios é inconstitucional, pois tira do Estado, por ser ele o titular do serviço, e o fiscalizador do cumprimento das penas.

Nesse sentido, se entende que a parceria que o Estado deve firmar é com a comunidade e não com a iniciativa privada, que visa lucrar com o preso. A parceria propicia a aproximação da comunidade e assim, estando a sociedade em contato com o recluso durante o cumprimento de sua pena, certamente mudará seu olhar sobre o mesmo, deixando ele de ser “invisível” a ela e facilitando, assim, sua reinserção na sociedade.

Com a participação da comunidade na execução da pena torna-se, ela fiscalizadora do sistema ao monitorar o trabalho dos agentes públicos que nele trabalham, evitando maus tratos e violência contra os presos, bem como verificar quais as necessidades dos mesmos. A presença da comunidade, pode dessa maneira, inibir ações que não só dificultam como podem impedir a ressocialização daquele que é a razão de ser do próprio sistema.

Dessa forma conclui-se que, a melhor saída para a crise do atual sistema penitenciário, é a parceria com organismos da sociedade, um maior investimento do estado, tanto no setor de pessoas, quanto na estrutura física, e o engajamento de todos os cidadãos.

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Conclusão

Tendo como base a dignidade da pessoa humana, partimos do pressuposto que todos somos titulares da mesma, porém o que se tem observado nos instituições onde ficam os apenados, é o total desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. A maioria da sociedade vê o apenado como inimigo e a ele se refere como tal, é uma concepção que a todos nós é imposta pelo sistema.

No primeiro capítulo do presente trabalho, foi abordado o tema da dignidade humana e a sua falta no sistema carcerário brasileiro, e infelizmente, parece que tal afronta aos direitos inerentes a pessoa humana consegue sensibilizar uma parcela mínima da sociedade. Na sequência foram elencados os direitos concedidos aos presos, constantes na Constituição Federal e na LEP – Lei de Execução Penal, é quase incompreensível que o Estado crie as leis, defina quais são os direitos de cada um, nesse caso dos apenados, e ele próprio desrespeite tudo isso.

No segundo capítulo encontra-se o tema central do trabalho, onde são trazidos alguns problemas, e posteriormente possíveis soluções.

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a falta de higiene entre outros. A primeira problemática abordada está presente em quase todas as casas prisionais, senão em todas. Em algumas situações encontram-se no espaço destinado o triplo ou até mais ocupantes, em alguns casos as pessoas são tratadas como animais ou mercadorias.

Em decorrência da superlotação e da falta de estrutura, aparecem os problemas da falta de higiene. Os presos vivem no meio de ratos e baratas, o esgoto corre a céu aberto nos pátios, e eles não tem lugar apropriado para realizar a higiene pessoal.

Com a constatação dos problemas, nota-se a necessidade buscar saídas para resolver o problema das prisões no Brasil. Sendo assim vêm surgindo varias propostas para solucionar ou amenizar a crise, neste trabalho forma apresentadas três possíveis saídas, quais são: parcerias com setores da sociedade organizada, terceirização de “serviços meio” e a mais radical, a terceirização total das penitenciárias.

As parcerias são ações realizadas entre a administração dos presídios e organismos da sociedade, tais como instituições religiosas ou Ong's, e tem um fim não lucrativo. A terceirização de serviços, seria a delegação a empresas privadas para execução dos mesmos, no casos essas empresas fariam a gestão material. Já a privatização total é a proposta mais radical, com ela o governo entregaria para a iniciativa privada a total administração dos presídios, inclusive o controle no cumprimento das penas, o que seria inconstitucional.

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Pelo exposto, conclui-se que a melhor alternativa para a resolução do problema, seria um maior investimento do governo nessa área e criação de parcerias, pois as mesmas propiciam a aproximação da comunidade e assim, estando a sociedade em contato com o recluso durante o cumprimento de sua pena, certamente mudará seu olhar sobre o mesmo.

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REFERÊNCIAS

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______, Código Penal, Decreto Lei nº 2.848/1940.

______, Lei de Execução Penal, Lei nº 7210/1984.

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SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos

Fundamentais: na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Editora livraria do

advogado, 2010.

SOUZA, Fatima. Como funcionam as prisões – Assim são as cadeias brasileiras. Disponível em <http://pessoas.hsw.uol.com.br/prisoes5.htm>. Acessado em: 19 nov 2012.

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