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Algumas recomendações para a integração da perspetiva CTS nos manuais escolares

CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA

2.3. Manuais escolares e a perspetiva CTS

2.3.1. Algumas recomendações para a integração da perspetiva CTS nos manuais escolares

Apesar da sociedade de informação e de desenvolvimento tecnológico atual afetar a educação das novas gerações, os manuais escolares de ciências impressos continuam a ser considerados, pelos principais intervenientes nos processos de ensino e de aprendizagem, como o material didático mais

importante (Maravilha & Pires, 2016). O manual escolar constitui um elo de ligação entre a escola e a família, apoia o aluno na aprendizagem e facilita o trabalho do professor (Morgado, 2004; Wellington & Osborne, 2001). Tal deve-se ao facto de os manuais escolares, pelo menos teoricamente, serem elaborados tendo presente as finalidades do sistema educativo e os objetivos da educação em ciências e apresentarem propostas capazes de contribuir para o perfil do aluno a desenvolver (Gérard & Roegiers, 1998). Tal significa que os manuais de ciências deveriam contribuir para desenvolver a literacia científica dos alunos, facilitando a aprendizagem das ciências (centrada na compreensão e uso de ideias cientificamente aceites), a aprendizagem acerca das ciências (focada na compreensão da natureza das ciências e nas inter-relações C-T-S) e a aprendizagem sobre as ciências (ênfase nos processos das ciências e que incluem a resolução de problemas e a construção e avaliação de argumentos) (Hodson, 1994). Assim, seria desejável que os manuais escolares de ciências fossem consistentes com a perspetiva construtivista e estruturassem os conteúdos dos programas, tendo em conta a perspetiva CTS. Atendendo a que o manual escolar é visto pelos professores como um dos principais recursos para a organização das suas aulas (Gérard & Rogiers, 1998), se estes forem consistentes com a perspetiva CTS então potenciariam a abordagem das ciências segundo esta perspetiva. Tal contribuiria para uma educação dos alunos que lhes permitia desenvolver o pensamento crítico e a tomada de decisões sobre assuntos da sua vida pessoal e social nas quais as ciências e a tecnologia se encontram presentes (Fernandes, Costa, & Mol, 2016).

Várias recomendações têm vindo a ser apresentadas sobre o modo como se devem integrar elementos CTS nos manuais escolares de ciências (Membiela, 2001; Santos, 2001b; Vieira, Tenreiro- Vieira & Martins, 2011). Assim, e de um modo geral, os manuais escolares de ciências que tenham subjacente a perspetiva CTS devem: i) apresentar temas sociais e tecnológicos, que permitam tornar as ideias científicas inteligíveis, plausíveis e úteis para os alunos; ii) abordar as inter-relações C-T-S de forma explícita, evidenciando as ciências e a tecnologia como atividades humanas interdependentes, com vantagens e com implicações sociais e reconhecendo as limitações das ciências e as responsabilidades dos cientistas e dos tecnólogos; iii) encorajar a procura de soluções ou a tomada de decisões para problemas reais, de modo informado, mediante a exploração de aspetos económicos, políticos, culturais, éticos e sociais das ciências e da tecnologia e da evolução das mesmas; iv) estimular o aluno a aprofundar o seu conhecimento para além do tema científico específico, considerando os valores pessoais, culturais e sociais associados às ciências; v) promover a escolha informada de profissões futuras ligadas às ciências e/ou à tecnologia (Membiela, 2001; Vieira, Tenreiro-Vieira & Martins, 2011).

Alguns autores dão exemplos de tipos de atividades a incluir no manual escolar de modo a contribuir para a abordagem CTS no ensino das ciências. Yager e Chiang-Soong (1996) sugerem que os manuais escolares devem incentivar os alunos a fazer uso de outras fontes de informações nas quais sejam mencionadas situações do dia a dia com um impacto positivo e negativo das ciências e da tecnologia. Alves (2005), Oliveira et al. (2018) e Souza, Pires e Souza (2018), concordam com Yager e Chiang-Soong (1996) e acrescentam que o manual escolar deve incluir sugestões de como se podem usar outras fontes de informações, nas quais se estabelecem relações entre as várias componentes da perspetiva CTS. No caso de fontes de informação provenientes dos media, Aikenhead (1992), Bettencourt, Albergaria-Almeida e Velha (2014) sugerem que estas devem ser inseridas nos manuais escolares, devendo estes permitir aos alunos olhar os conteúdos apresentados de forma crítica. Vieira, Tenreiro-Vieira e Martins (2011) sugerem que os manuais escolares, adequados à abordagem CTS, devem permitir aos alunos a realização de jogos de papéis nos quais os alunos possam desenvolver o pensamento crítico, atitudes de reflexão e valores pessoais e sociais. Yager e Chiang-Soong (1996) sugerem que o manual escolar apresente interpretações dos fenómenos da Natureza feitas no passado e na atualidade, apresentar episódios exemplares que enfatizem a importância da comunicação e da cooperação entre os cientistas e os cidadãos, incluir informações e exemplos de como as ciências e a tecnologia têm sido usadas para evitar, resolver ou gerir problemas. Alguns autores (Amaral, Xavier & Maciel, 2009; Fernandes & Pires, 2013) sugerem que os manuais escolares devem incluir atividades laboratoriais orientadas para estabelecer debates e discussões de questões CTS. Também a realização de visitas de estudo ou de saídas de campo são consideradas importantes quando se pretende implementar abordagens CTS (Solomon, 1993). Contudo, para que tal seja possível, é importante que o professor seja capaz de organizar e preparar adequadamente essas saídas (Paixão, 2004).

No que se refere ao guia do professor, Aikenhead (1992) sugere que este deve ajudar o professor a adequar as propostas apresentadas ao seu contexto de ensino, tornando-as relevantes para os seus alunos. A mesma opinião é partilhada por Alves (2005), Fernandes e Pires (2013) e Oliveira et al. (2018) os quais acrescentam que a criação e adaptação dos recursos presentes no manual escolar pelo professor não é tarefa fácil, mesmo quando são apresentadas sugestões ao professor. Para estes autores, é importante que os programas de formação contínua de professores contemplem a exploração e interpretação de inter-relações C-T-S presentes nos manuais escolares.

2.3.2. Alguns estudos sobre a consistência dos manuais escolares com a perspetiva CTS