• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – ENFOQUE JURÍDICO NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

2.7 Algumas reflexões sobre a intervenção do Poder Público na questão ambiental

Segundo Bursztyn (1993), os Estados Unidos foi o primeiro País a adotar a intervenção do setor público sobre a gestão ambiental, isso ocorreu na década de 60. Na época, encontraram sérias dificuldades para legitimar a questão, até que a sociedade adquirisse consciência da importância da preservação ambiental.

No Brasil, após a Conferência de Estocolmo na década de 70, criou-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA. A Lei n°. 6.938/81 teve grande importância na década de 80, por tratar de questões de desenvolvimento econômico, visando a preservação do meio ambiente. A lei citada criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, que passou

a ser integrado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, órgão consultivo e deliberativo, composto pelos seguintes órgãos, a saber, “representantes de ministérios e entidades setoriais da administração Federal diretamente envolvidos com a questão ambiental, bem como de órgãos ambientais estaduais e municipais, de entidades de classe e de organizações não-governamentais.” (op. cit. p, 87)

A gestão do CONAMA, por se tratar de um órgão que abarca uma diversidade de representantes de várias facetas, como, por exemplo, os representantes da sociedade civil, passam a ter uma grande responsabilidade, já que delibera, juntamente com outros seguimentos de política ambiental sobre a proteção ao meio ambiente. Mas, por outro lado, embora tenha grande relevância devido a sua representatividade, este órgão não está ajudando a sociedade civil, por se tratar de um órgão muito fechado. Nas palavras de Bursztyn (loc. cit): “O CONAMA surge, portanto, como um fenômeno atípico dentro de uma estrutura de setor público centralizadora e pouco aberta à participação da sociedade civil.” Ele expõe que isso ocorre devido à prática do licenciamento ambiental que por um lado decentralizou a prática da fiscalização do meio ambiente no Estado, e por outro centralizou ainda mais o poder público federal.

A Resolução n°. 001/86 do CONAMA tem grande relevância para a política do meio ambiente devido à criação da execução obrigatória de estudos de impacto ambiental para as atividades que possam danificar o meio ambiente (op. cit.).

Outro órgão também muito importante para a defesa do meio ambiente, que é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, um órgão executor, federal que atua na preservação, conservação e no uso sustentável dos recursos naturais. Foi criado em 1989 com a fusão de quatro órgãos: pela Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, pela Superintendência de Desenvolvimento da Borracha – SUDHEVEA, e pela Superintendência de Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE, tendo como objetivo atender a demanda política e social sobre questões ambientais (op. cit.). Sobre isso é necessário concordar que, para haver desenvolvimento econômico dentro desta perspectiva, faz-se necessário que a gestão ambiental esteja sempre em harmonia com as questões do desenvolvimento da economia e, ainda, que ambos precisam completar-se para realmente haver o desenvolvimento e a proteção das questões ambientais.

Além disso, segundo Milaré (2000, p. 274) “o Poder Público assume as funções de gestor qualificado: legisla, executa, julga, vigia, defende, impõe sanções; enfim, pratica todos os atos que são necessários para atingir os objetivos sociais, no escopo e nos limites de

um Estado de Direito”. É o órgão de maior responsabilidade na defesa do meio ambiente, justamente por tratar-se de um bem público.

Mas, por outro lado, pode-se observar que, devido à política das empresas públicas atualmente não estarem fortalecidas, a defesa do meio ambiente, em muitos casos, pode não estar ao alcance destas. São instituições limitadas, devido às suas ações muitas vezes não serem compatíveis com a questão do mandato político do país, pois este é de curto prazo, enquanto que as questões ambientais geralmente são de longo prazo. Pelo fato de o Estado e seus órgãos estarem em crise, existem muitos problemas na questão da administração da problemática ambiental.

Dado isso, a ação dos órgãos responsáveis pela política ambiental acaba mascarando-se pela institucionalidade e prevalecendo a burocracia e, muitas vezes, a não resolução de questões ambientais, devido à vulnerabilidade dos organismos administradores. São destacados alguns dos problemas analisados por Bursztyn (1993, p. 93), a saber:

1) “Problemas relativos à degeneração das instituições públicas”. Muitas instituições, por não possuírem uma política forte, são incapazes de promover a defesa do meio ambiente com sucesso, ou seja, atualmente não há credibilidade, por parte da sociedade civil, com relação ao bom desempenho do setor público, pois este está desacreditado pela sociedade brasileira. O não investimento das instituições públicas em pessoal também acarreta mais dificuldades, como por exemplo, a execução de uma boa política de fiscalização, com acompanhamentos e avaliações dos processos, inclusive levando o Estado a contratar pessoas ou empresas terceirizadas ou externas, gerando para os cofres públicos “maiores custos; capacitação de pessoal exterior aos órgãos públicos; dependência crescente de consultorias externas; burocratização dos quadros remanescentes, que tendem a se converter em gestores da operacionalização de trabalhos externos; e inevitavelmente, realimentação de teses e argumentos desestatizantes”.

2) a questão dos “Problemas relativos à cultura burocrática do aparelho de Estado” dá-se quando os órgãos ambientais acabam adentrando as questões que dizem respeito à gestão de determinados setores. Outra questão também abordada pelo autor trata-se dos “Problemas relativos à fragilidade dos instrumentos e à carência de meios.” Há conflitos no que diz respeito à tentativa de as instituições promoverem a sustentabilidade, pois em muitos casos vão contra os setores econômicos que querem somente o crescimento da economia (op. cit. pp. 94-95).

Ainda, no que se refere aos órgãos estaduais na defesa do meio ambiente, pode ser citado a FATMA – Fundação do Meio Ambiente, órgão de atuação estadual, constituído na

forma da lei e por ela incumbido “de preservar o meio ambiente, assegurar e melhorar a qualidade ambiental, controlar e fiscalizar ações potenciais ou efetivamente lesivas aos recursos naturais e à qualidade do meio ambiente.” Quanto à administração e preservação do meio ambiente em cada município, fica a cargo das prefeituras e de seus órgãos que administram as questões ambientais (MILARÉ, 2000, p. 274)

Entre os instrumentos para a execução da Política Nacional do Meio Ambiente, o Estudo de Impacto Ambiental – EIA, e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, têm, entre outras atribuições, um relevante papel na preservação da qualidade do meio ambiente, pois através do estudo, é possível prevenir e monitorar o impacto que uma edificação ou qualquer alteração a ser feita possa causar sobre o meio ambiente (op. cit.).

Outra questão que não pode deixar de ser mencionada é o “abuso do poder” por parte de executores de atividades públicas. Segundo Milaré (1997, p. 44), “(...) o Meio Ambiente é uma das vítimas mais insuspeitas e, ao mesmo tempo, menos percebidas dessa desvirtuação.” Pode-se perceber esta realidade quando se faz referência aos veículos informativos que, por sua vez, enfatizam os desvios de dinheiro público nas áreas da educação e da saúde, enquanto o mesmo impacto sofre o meio ambiente, mas sem o recebimento da devida e importante atenção por tais veículos e pela própria sociedade.

Sobre esta questão, eis a frase citada por Milaré (loc. cit): “O preço dos erros desses pecados públicos, o pesado tributo social da degradação do Meio Ambiente será pago pelos mais fracos e pela própria Natureza, até que um dia as gerações de hoje e de amanhã sejam cobradas pela história.”

Mas, por outro lado, com o surgimento de novos valores caminhando para a sua garantia jurídica, embasada em conteúdos éticos sobre a questão ambiental, o ser humano poderá começar a praticar a verdadeira cidadania para o bem-estar da diversidade ecológica que também é o seu próprio bem-estar, propondo medidas que garantam a preservação ambiental, conforme poderá ser observado no próximo capítulo.