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CAPÍTULO II – ENFOQUE JURÍDICO NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

2.4 Criação do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

2.4.4 Proprietários no Parque: Ocupação das terras e desejos de desapropriação

A seguir, a ocupação das terras na região de Vargem do Braço, segundo consta, na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, as amostras fornecidas pela Diretoria de Assuntos Fundiários – DASF:

Tabela 1 - A ocupação das terras na região de Vargem do Braço

DISCRIMINAÇÃO FREQÜÊNCIA ÁREA (ha) PERCENTUAL

Terras com escritura 48 10.127 77,90%

Terras sem escritura 08 2.873 22,10%

TOTAL 56 13.000 100%

Fonte: SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. DASF - Diretoria de Assuntos Fundiários, Comissão especial de discriminação de terras devolutas do Estado de Santa Catarina, CE / SC –2, Florianópolis, 1993, (adaptado do documento original).

Por ser uma área estratégica, pois além da riqueza da fauna e da flora, o manancial de água que atualmente serve para abastecer a Grande Florianópolis fica localizado na região, denotam-se motivos para muita preocupação quanto a sua preservação. Isto pode ser constatado no documento de discriminação de terras:

A ocupação do solo do Rio Vargem do Braço e a ocupação humana de suas margens e encostas são altamente indesejáveis para o bem estar da coletividade, uma vez que a atividade que os mesmos desenvolvem resultam em ação altamente poluidora nos mananciais de água para consumo da população. (SANTA CATARINA, 1993, p. 5)

Frente às entrevistas realizadas na FATMA, por Amaral, a maioria dos entrevistados concorda com a “incompatibilidade” de moradores dentro de uma Unidade de Conservação, mas essa afirmação resulta da determinação da legislação e não da falta de condições de manterem as pessoas que sempre residiram na comunidade, pois “(...) até defendem a manutenção de algumas comunidades na área.” Parece que o único impedimento para que as pessoas possam viver no Parque de forma organizada, em harmonia com a natureza, está no fato de ainda não ter sido efetivada a definição de categoria de cada área na implantação do Parque (AMARAL, 1998, p. 148).

Quando o assunto é a comunidade de Vargem do Braço, segundo Amaral (op. cit.), grande parte dos entrevistados da FATMA não concorda com pessoas morando e trabalhando naquela comunidade, pois há um manancial de água que precisa ser preservado. O motivo pelo qual não há como compatibilizar os moradores residindo no local também se deve à construção de uma barragem naquela localidade. O manancial é prioridade. Neste caso, é reforçada ainda mais a necessidade da desapropriação das terras dos moradores do local. As pessoas “tomadoras de decisão” da FATMA relatam o seguinte:

Você sabe que o parque foi criado em 1975 e isso faz 25 anos. Acredito que, mesmo mantendo a Vargem do Braço anexada ao parque e se não houver uma outra forma de gestão, uma diferente do que é feita hoje, o problema do manancial não só vai permanecer no mesmo como acredito que vai se agravar (op. cit., p. 152).

A argumentação é a de que a comunidade pode ser mantida na área, mas que esta não pertença mais àquela Unidade de Conservação, argumentam os “tomadores de decisão” (loc. cit.).

Na tentativa de solucionar o problema, o que vem se tentando agilizar por parte dos interessados é a desanexação da comunidade Vargem do Braço da Unidade de Conservação, “(...) é uma proposta defendida tanto por moradores quanto por servidores da FATMA,” (op. cit., p. 170) Isto se deve, segundo o autor, à legislação que não permite moradores na parte interna do Parque e também a outro motivo que seria a indenização para a retirada dos moradores de suas terras, já que o Estado alega não ter recursos para a efetivação de tal ação.

Segundo Amaral (op. cit., p. 93) a Companhia de Águas e Saneamento – CASAN, intenciona, para 2010, construir uma barragem nas proximidades da foz do rio Vargem do Braço para o abastecimento de água para a Grande Florianópolis. A realização de tal obra “(...) acarretaria a inundação de toda a área cultivada e a efetiva necessidade de retirada dos moradores.” Visando proteger o manancial de água, em 1993, a FATMA, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento e a Procuradoria Geral do Estado deram início às “ações discriminatórias9 do parque” para, em seguida, iniciarem as desapropriações. Conforme consta no documento, “A nosso ver, a discriminatória administrativa efetuada sobre o imóvel em pauta, visa, objetivamente, a desocupação do imóvel, mediante o pagamento

9 “Ação Discriminatória: Ação de discriminação de terras da União e do Estado. É a movida pela União ou pelo

Estado contra aqueles que, por qualquer razão, discordaram com que se procedesse à descrição, à medição e à separação de suas terras das públicas, para que, judicialmente, tais atos possam ser realizados, discriminando as de domínio da União e as de propriedade do Estado.” (DINIZ, 1998, p. 47).

indenizatório.” Mas nem sempre é a medida mais plausível para as famílias tradicionais, como pode ser observado:

A simples desapropriação das propriedades nem sempre resolve o problema da remoção de famílias já instaladas na área há longo tempo e que, devido à precariedade do nível de educação, poderão encontrar grandes dificuldades ou impossibilidade de adaptação à outras condições de vida num local diverso do que estão habituados. Torna-se, então, patente a necessidade de um programa social por parte das autoridades governamentais no sentido de minorizar esses problemas. (MAGNANINI & NEHAB, 1976, p. 30)

Com isso, representantes da comunidade de Vargem do Braço apresentaram a intenção de criar um projeto em parceria com os órgãos “FATMA, CASAN e Secretaria da Agricultura/EPAGRI”, visando buscarem meios adequados para a gestão de um desenvolvimento sustentável na região que evitasse a poluição da bacia e, assim, a retirada dos moradores de suas terras.

Mas, na FATMA, conforme consta, no Plano Diretor do Parque, a área da comunidade é considerada “zona de recuperação”, portanto, fica inviável manejá-la. É importante perceber que, na época da criação do parque, os problemas com relação aos moradores, agricultores, já havia sido detectado, e a preocupação em solucioná-los também já havia surgido.

Segundo Amaral (1998, p. 120) já aconteceu algumas desapropriações na região de Vargem do Braço, isto ocorreu após a criação do Parque, quando alguns moradores levados pela informação de que haveria impedimentos, pela Lei, de usarem suas terras da forma que lhes convinham. Os moradores, agricultores, são contrários à desapropriação de suas terras. “Ressaltam que essa medida tira o homem de uma relação equilibrada com o meio em que vivem e ainda cria um problema social.” Por outro lado, para alguns moradores não seria problema se fossem retirados daquela localidade se fossem colocados em outra com a mesma quantidade de terras para continuarem plantando.