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Muitos autores como Aquino (1997), Soares (1986), Carvalho (1997), Abramowiez (1997) dentre outros abordam conceitos sobre o fracasso escolar e a relação com o “não aprender”, contudo a maioria deles vai delinear essa questão do fracasso escolar sob o ponto de vista sociológico.

A teoria da psicanalista Cordié (1996), também escolhida para fazer parte deste trabalho de pesquisa, vai conceituar o aluno do ponto de vista individual. Fator este também considerado de suma importância, pois ao longo deste trabalho de pesquisa também foram constadas questões de valores pessoais, ou seja, como o aluno internaliza essa questão de ser considerado pela escola um aluno que “não aprende”, ou seja, estigmatizado pela sociedade escolar.

Segundo a definição de Cordié (1996, p.11): “a criança que está em situação de fracasso escolar é aquela que não “acompanha”, pois na escola, é preciso acompanhar, primeiro o programa que diz o que é necessário aprender, em que ordem, em quanto tempo, depois acompanhar sua turma, não se distanciar do rebanho”. O fracasso escolar é uma questão complexa e transformadora na vida do sujeito em formação, a autora relata que o aluno com história de fracassoescolar sofre, ao mesmo tempo, da desestima na qual está preso por não estar à altura de suas aspirações, ele está a mercê da depreciação.

Para Cordié nunca há uma causa única para o fracasso escolar, o que somos obrigados a concordar, pois há sempre a conjunção de várias causas que, agindo umas sobre as outras interferem na aprendizagem do aluno, que levado pelas dificuldades encontradas ao longo do período escolar vão se tornando um processo de fracasso ao findar o ano letivo.

Encontrar um culpado, mas quem? ...é culpa do governo, da sociedade, da Educação Nacional, dos pais? O que é preciso fazer, rever a pedagogia, aumentar as verbas, refazer o plano de ensino, habilitar os professores? São perguntas difíceis de serem respondidas, porque todas as perguntas tem respostas com parcelas na questão do fracasso, talvez fazer estudos mais complexos buscando uma relação entre todos as

questões, e movimentar todos os casos de fracasso escolar, estudando caso a caso, dentro da sua individualidade, garimpando as dificuldades e reconstruindo as teorias para posteriores resultados satisfatórios.

Segundo Cordié (1996, p. 17), “o fracasso escolar é uma patologia recente”, surgindo no fim do séc. XIX, com a escolaridade obrigatória, tomando um lugar considerável nas preocupações da sociedade, levando as mudanças radicais na educação, onde os sujeitos que expressam este “distúrbio” expressam também seu mal- estar em uma época onde o dinheiro e o sucesso social são valores predominantes, vamos provocar a sociedade para que pesquisas sejam feitas, para direcionar o ensino e capacitar professores para desmistificar e estudar mais os seus alunos com dificuldade escolar, para que o fracasso escolar não os tornem falidos diante de uma sociedade.

Atualmente, essa mudança da sociedade dentro de um espaço e um tempo, de uma ou duas gerações, transformou profundamente a visão do escolarizado e do futuro trabalhador. O agricultor de hoje, se quiser sobreviver, deve tornar rentável sua produção com métodos modernos. Até os artesãos são obrigados a entender de administração para melhorar os seus negócios. E por que não falar dos subempregos que necessitam de no mínimo uma leitura e conhecimento matemático para ingresso em pequenas empresas. Como ficam os estigmatizados nesse curso de vida? Terão oportunidades?

Segundo Cordié (ibid), este sujeito guardará vestígios desse insucesso durante sua vida, desgostos e vergonha, questionamentos sobre a sua identidade. Além de ser um fracasso na escola, estará fadado ao fracasso na sua vida. O fracasso pressupõe a renuncia a tudo, a renúncia ao gozo, diz ainda a autora. E neste caso falo dos sujeitos que a presente pesquisa envolveu, não só os escolhidos para a análise, mas também todos os atendidos pela parte pedagógica da Ong., que na verdade são os meus exemplos de trajetória dentro da instituição.

Observei neste trabalho de pesquisa um caso de uma mãe, que preocupada com seu filho, que no ano anterior, em uma outra escola, teve que freqüentar uma sala de recuperação de ciclo, e agora devido a questões de mudança de domicílio foi transferido para uma outra escola, sendo quase que rejeitado por ter freqüentado uma sala de reforço. Este mesmo aluno, mesmo tendo conseguido na alfabetização vencer suas dificuldades e agora, que consegue acompanhar a turma na qual foi matriculado, carrega consigo o estigma de fracassado perante a outra escola.

... Por que o sucesso escolar ocupa um lugar tão importante na vida de nossos contemporâneos, crianças, pais, ensinantes e governantes? Que projetos, que fantasmas estão por trás dessa aspiração ao sucesso? Ser bem sucedido na escola é ter a perspectiva do ter, mais tarde, uma bela situação, de ter acesso, portanto ao consumo de bens. Significa também “ser alguém”, isto é, possuir o falo imaginário, ser considerado respeitado. O dinheiro e o poder não são eles a felicidade? O próprio Estado alimenta essa aspiração. Para ser grande, uma nação não deve sempre aumentar suas riquezas e suas competências.

Por estas razões é que devemos chegar mais perto da grande demanda de alunos com histórias de fracasso escolar, e tentar verificar na sua individualidade o que dificulta a sua competência, e como este aluno deve ser visto pela sociedade, tanto escolar como na sociedade como um todo, administrando assim pesquisas que nos levem à respostas mais próximas dessa difícil caminhada sobre o entendimento de sujeitos fadados a ter “insucessos”.