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Para falar sobre o erro e fracasso chamo a atenção para uma pesquisa desenvolvida por Carvalho (apud Aquino, 1997, p.110) onde ele expõe:

...que o erro e o fracasso apresentam-se a nossa mente quase como um substantivo composto ou um binômio, que frequentemente culmina na reprovação do aluno. Ela está entre aqueles pares que podem vir separadamente, mas tantas são às vezes em que aparecem juntos quando pensamos em educação, ensino-aprendizagem, que dão à impressão de serem companheiros necessários, ou quase indispensáveis. Da mesma forma que arroz com feijão ou goiabada com queijo nos parecem pares quase inseparáveis quando falamos de comida.

O autor faz uma comparação significativa entre os pares erro e fracasso, indagando se o erro seria um indicio do fracasso no conhecimento e na aprendizagem, como se eles tivessem uma sintonia. Destaca ainda outros pares como erro e conhecimento, erro e êxito, e eu diria a ainda mais, erro e meio social. Será que estas comparações teriam mesmo uma correlação?

Pois, o erro quando relacionado à aprendizagem pode levar o sujeito ao fracasso, dependendo é claro de como o professor trabalha esse erro. Em outras palavras, Além de ser um fracasso na escola, estará fadado ao fracasso na sua vida. O fracasso pressupõe a renuncia a tudo, a renúncia ao gozo, diz ainda Cordié (1996) o fracasso é uma das interpretações do erro. E que esse erro frente a uma mesma prova, corrigida por professores diferentes, receberiam avaliações e interpretações diferenciadas.

O conceito de erro é questionável, pois ele tanto pode ser interpretado por alguns professores como um mero descuido, enquanto para outros, o erro pode ser visto como um fracasso perante a aprendizagem. Uma questão que se coloca é se o professor de

matemática ao corrigir o exercício de um aluno que tenha um histórico de bom desempenho na disciplina, o erro pode ser encarado como, por exemplo, uma pequena confusão de sinais que irão alterar o resultado do problema exposto, poderá ser interpretado como sendo uma possível confusão na hora da leitura do enunciado do problema? Porém talvez esse mesmo erro quando feito por um aluno que apresenta um desempenho considerado abaixo da média escolar contribuirá para que ele seja taxado de fracassado? Terá este aluno a oportunidade de rever o problema e uma possível discussão do seu erro? Ou, então, passa-se para o próximo tema, pois a disciplina deve acompanhar o currículo e não há tempo para voltar e explicar tudo de novo?

Carvalho (apud Aquino, 1997, p.13) elucida ainda que: “uma resposta errada a um problema ou questão pode explicitar dois fatos totalmente distintos: a ignorância, a confusão ou o esquecimento de um lado, ou então a ignorância ou o malogro de uma operação, por meio de uma tentativa frustrada de aplicação de uma regra, na resolução de um problema.” Podemos nos deparar ainda com o aluno que lê e interpreta o enunciado do problema com dificuldades, podendo assim cometer um erro na resolução matemática do problema. Este aluno pode estabelecer relações entre dados, e apontar a informação que ele acredita estar recebendo do contexto do enunciado, mas ao fazer a resolução do problema, pode cometer um erro, e em vez de soma a sua resposta estará mais evidenciada na subtração.

Portanto fazer uma interpretação de texto também é uma premissa muito importante para ter uma resolução assertiva de problemas. E isso também dependerá do conteúdo do problema, se este está sendo significativo para o aluno. Muitas vezes o aluno não vê dentro do problema uma razão para pensar, pois para ele o conteúdo do problema proposto não faz nenhuma concordância com a sua vida cotidiana.

O autor estabelece uma correlação entre desempenho e capacidade, para explicar melhor uma situação onde o aluno precisa saber sobre, por exemplo, a aplicação de regras ou procedimentos cuja utilidade poderia lhe parecer abstrata, mas que neste caso se revela útil a sua resolução. Então o aluno precisa de certa capacidade de entendimento sobre o que não faz parte da sua vida cotidiana e o que ele precisa saber na vida escolar.

Aliás, há uma série de exigências no desempenho de uma habilidade que nem sequer é passível de formulação explícita em regras, como por exemplo, saber diferenciar o uso de letras com sons diferenciados, para isso o aluno precisa de certa capacidade de entendimento e de obediência a certas regras pelo simples fato da

existência das regras, sem maiores explicações. E mesmo na matemática saber reconhecer um número elevado a potência, sem precisar escrevê-lo tantas vezes se for preciso (p.ex. 2³ = 2x2x2). Estas são situações que incluem a capacidade de desempenhar situações de aprendizagem assimiladas e memorizadas.

Portanto capacidades diferentes exigem formas diferenciadas de ensino aprendizagem, e vou mais além, quero ressaltar também a questão do limite na aprendizagem. Cada sujeito tem o seu limite e o seu ritmo de aprendizagem, os alunos não são iguais, não aprendem igualmente, alguns exigem trabalhos mais focados em coisas significativas, formas diferenciadas de ensino-aprendizagem. E para estes alunos há a necessidade de um trabalho reforçado diferenciado dos demais.

Carvalho (apud Aquino, op.cit., p.20), coloca também que no contexto escolar o professor não deve existir para decretar fracassos, mas para promover aprendizagens. Será então que os erros são frutos das tentativas de operar com novos conceitos e procedimentos? Apontar um erro segundo o autor, não significa “podar a criatividade”, nem “decretar o fracasso”, significa instrumentalizar os alunos para que adquiram capacidade, o que não podemos é pressupor que eles as tenham.

Ao professor cabe mostrar ao seu aluno o caminho para resolver os problemas que lhes são colocados, e cabe também, mostrar várias estratégias de se chegar a resultados satisfatórios e significativos, evitando que os seus alunos se limitem a copiar os resultados dos problemas apresentados. Só assim o professor terá condições de criar em seus alunos, o discernimento como prática efetiva da capacidade de resolução de uma dificuldade encontrada.

Carvalho (apud Aquino, 1997, p.22) ressalta que:

É verdade que não há aprendizado se aquele a quem ensina não deseja aprender ou é relapso por qualquer motivo. Mas também não deixa de ser verdadeiro que o problema pode residir fundamentalmente naquele que ensina ou ainda naquilo que é ensinado, bem como numa combinação entre diferentes proporções de tais elementos.

O excerto acima não reforça a questão de procurar um culpado para a questão do fracasso, mas sim reconhecer que é preciso levantar os olhos e enfrentar a situação dentro do contexto escolar, pois deixar que os erros passem, e nem sequer buscar a correção e o entendimento por parte do aluno, acredito que este não aprenderá durante o seu percurso de aprendizagem, há a necessidade de se fazer correções.

Voltar e reconstruir um problema se faz necessário, não só na vida escolar como também, em toda a sua prática fora do contexto escolar, para que não se sinta um fracassado diante da adversidade da sua vida cotidiana. Lembrando que a vida não é uma cópia, mas infelizmente percebo na fala dos meus alunos da Ong que, o que mais eles fazem no seu caderno é “copiar e copiar”, relatos estes que serão abordados mais a frente.

No próximo subtítulo trarei alguns pontos importantes com relação ao papel indispensável que a linguagem tem em relação a esses alunos com histórico de fracasso escolar.