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ALGUNS DESAFIOS PARA A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

5. AS PRÁTICAS DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

5.3 ALGUNS DESAFIOS PARA A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

Tomar a Pedagogia da Alternância como uma prática educativa para a educação do campo carece de mais estudos. No decorrer da história, a Pedagogia da Alternância vem se tornando uma proposta interessante e inovadora para a escolarização das populações do campo, o que demanda mais reflexões ao ser implementada em determinados contextos que este trabalho identificou durante seu processo de pesquisa. Como o próprio histórico demonstrou, a Pedagogia da Alternância surgiu num contexto de entre guerras em continente europeu, se disseminou por quase todos os continentes. Com isto, procuro apontar com esse trabalho para a necessidade de continuidade de pesquisas que este tema carece. Durante a pesquisa, verifiquei alguns pontos que podem ser mais aprofundados à medida que novos estudos e pesquisadores tomam interesse pela temática. Diante de alguns pontos verificados destaco:

1. A história da Pedagogia da Alternância mostrou que na França ela surgiu muito mais por uma articulação da associação de alguns agricultores, enquanto que na Itália foi consolidada muito mais por uma articulação do poder público e com isso toma dimensões diferentes. Na França, as CFRs priorizam os conteúdos agrícolas em detrimento aos conteúdos escolares, enquanto que as EFAs italianas enfatizam mais os conteúdos escolares em relações aos conteúdos agrícolas. Outro ponto distinto entre ambas, acarretado por essas diferenças da sua própria constituição está relacionada ao espaço físico das escolas que procura conjugar as atividades teóricas com as atividades práticas, verifica-se que as CFRs não priorizam um espaço físico para as práticas agrícolas enfatizadas durante as aulas, preferindo utilizar as propriedades dos jovens para as práticas. Já as EFAs procuram realizar as atividades práticas no espaço da própria escola não tendo que o jovem se deslocar para uma unidade produtiva. Em relação à distinção metodológicas de ambas, estudos de Silva (2000) e Queiroz (2004) apontam que em território brasileiro, as CFRs de inspiração francesas estão mais concentradas na região sul do país, enquanto que as EFAs de inspiração italiana se concentram na região sudoeste e centro-

oeste em maior escala, ambas regiões de grande expressividade na produção agrícola brasileira.

2. A formação de professores para a Pedagogia da Alternância também necessita de maior atenção, dado a pouca oferta de cursos com vistas à formação de monitores para atuarem juntos as propostas de Pedagogia da Alternância. A pesquisa de Nozella (1977) identifica que inicialmente, logo que a Pedagogia da Alternância chegou ao Brasil, havia a preocupação de capacitar profissionais para atuarem nas instituições que adotavam a alternância de estudos. Porém, isto não se estendeu e tão logo começa haver uma alta rotatividade de profissionais, principalmente pelos profissionais das áreas agrícolas que normalmente deixam de ser monitores à medida que recebem propostas de trabalho com maior remuneração.

3. A necessidade de pensar um currículo capaz de contemplar as mais diversas disciplinas a cada contexto que a Pedagogia da Alternância for implementada. Pois como vimos no primeiro tópico, desde sua consolidação, a Pedagogia da Alternância tem vieses diferentes, se na França estava mais voltada às práticas agrícolas, na Itália teve uma preocupação maior com a conscientização política. Também, verificamos que atualmente no Brasil, ela vem alçando vôo como proposta pedagógica em cursos de graduação, além de outros como cursos profissionalizantes, de ensino médio e fundamental. No entanto, cada um desses contextos exige uma especificidade própria para pensar o currículo levando em conta os conteúdos escolares, bem como os espaços físicos e temporais, específicos de cada contexto.

4. A partir das leituras sobre as técnicas de Freinet, percebe-se que dentre outros instrumentos pedagógicos da Pedagogia da Alternância, a utilização do Caderno da Realidade parte da mesma ênfase do Livro da Vida68 de Freinet, no qual os alunos também têm total liberdade de realizar seus

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Espécie de diário da classe, no qual os alunos podem registrar textos, desenhos, pinturas do qual o professor também deve participar, acompanhando os registros realizados pelos alunos.

registros escolares a fim de que possam melhor sistematizar a compreensão dos conteúdos. Logo, é possível verificar que a Escola Nova e principalmente as técnicas de Freinet se manifestam intensamente na elaboração dos instrumentos pedagógicos que visam a real implantação da alternância de estudos. Desta forma, procuro enfatizar que para haver uma melhor dimensionalidade da aplicação dos instrumentos pedagógicos da Pedagogia da Alternância é preciso melhor compreender a participação da Escola Nova e principalmente as técnicas de Freinet, para verificar possíveis contribuições de Freinet no aprimoramento dos instrumentos pedagógicos.

5. As pesquisas também apontaram que a grande maioria do público atendido pelas instituições que adotam a Pedagogia da Alternância são trabalhadores, ou seja, pessoas que trabalham e algumas dependem de seu trabalho para sobreviver. Desta forma, verifica-se dois pontos, se de um lado está pedagogia possibilita aos trabalhadores remanejar sua carga horária de trabalho com a de estudos, possibilitando assim estudar e trabalhar, por outro lado ainda há dificuldade de equilibrar ambas as cargas horárias, onde o jovem fica muito tempo longe da propriedade, levando muitos vezes a optar por uma em detrimento de outra, e que em muitos casos leva a altos índices de evasão.

6. Apesar de que, desde a primeira experiência de alternância de estudos, a Pedagogia da Alternância ser consolidada por uma associação, pesquisas apontam que ainda há dificuldades de ser mantida por associações. Pois, as famílias dos jovens que freqüentam as instituições ainda manifestam dificuldade de interagir principalmente com os monitores. A pesquisa de Queiroz (2004), apontou que a maioria dos familiares dos jovens ingressantes nas CEFFAs tem baixo nível de escolarização, o que se coaduna com a pesquisa de Silva (2000) que aponta que as famílias do meio rural em sua maioria têm dificuldade de efetivar sua participação na formação dos jovens das CEFFAs. Isso porque acreditam que o monitor,

por ter uma formação profissional, está mais capacitado para a disseminação do conhecimento e os saberes que trazem das suas vivências práticas não é tão importante. O que remete à prática resultante da baixa- estima dos povos do campo que devido a pouca escolarização perdem o interesse pela socialização dos saberes. Com isso, busco enfatizar que, em não havendo pouca participação da família, o cotejamento teoria e prática pode se tornar defasado.

São pontos que merecem ser considerados à medida que novos estudos procuram refletir sobre a temática da Pedagogia da Alternância que vem sendo desenvolvidas nas mais diversas instituições sob as mais diversas perspectivas. Este estudo que procurou verificar as aproximações da Escola Nova com a Pedagogia da Alternância procura trazer contribuições para pensar as práticas pedagógicas da educação do campo que começam a ser delineadas a partir da década de 90 no Brasil. Ainda que o “Movimento por uma Educação do Campo” seja recente, a Pedagogia da Alternância tem uma trajetória maior também no Brasil e quero reforçar que por suas experiências pode trazer elementos importantes para pensar as práticas pedagógicas de educação do campo. Este trabalho procurou evidenciar as referências teórico- pedagógicas a partir de três categorias levantadas pela Escola Nova. Foram categorias que permitiram identificar a aproximação da Escola Nova com a Pedagogia da Alternância e assim pode-se verificar a participação do escolanovismo nas práticas pedagógicas da Pedagogia da Alternância. No entanto, este estudo não se esgota, mas carece de maiores aprofundamentos à medida que haja interesse em aprofundar a participação dos referenciais da Escola Nova na consolidação da Pedagogia da Alternância, isto é, a real implementação da experiência como elemento fundante para a coleta dos conteúdos a serem trabalhados com os jovens. A coletividade como fator determinante da organização dos períodos de alternância e que carece de estudos à medida que se manifesta como elemento fundamental à Pedagogia da Alternância na visão dos pais como Silva (2000) destacou. E por ultimo, é preciso levar em consideração o trabalho como elemento que carece de mais estudos, já que está bastante presente no cotidiano dos jovens e ao mesmo tempo em que é bastante determinante em relação à opção dos jovens do campo em estudar ou não. Pois ao mesmo tempo, que o

trabalho aparece nos conteúdos escolares à medida que se leva em conta a experiência que os jovens trazem de casa, também serve como termômetro aos jovens da Pedagogia da Alternância que optam pela escolarização ao trabalho na unidade produtiva ou o contrário.