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O trabalho como princípio da educação em Pistrak

2. UM PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO

2.3 AS REIVINDICAÇÕES DE UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS

2.3.1 O trabalho como princípio da educação em Pistrak

Pistrak (1988-1940), também conhecido como propagador da “Escola do Trabalho” relaciona a educação e compreende os termos trabalho e trabalhador como palavras de conotação positiva repletas de vida e valor. O autor vê no trabalho o elemento integrador entre a escola e a sociedade. A educação atrelada ao trabalho é para ele, fundamental para a formação de um novo homem, estando o desafio em consolidar o principio da coletividade e organização do trabalho sob novas relações. Também defende uma educação integrada que não se restrinja a instrução, mas também englobe a formação para a produção e formação político-ideológica12:

1) A escola deve dar aos alunos uma formação básica social e técnica suficiente para permitir uma boa orientação prática na vida; 2) Ela deve assumir antes de tudo um caráter prático a fim de facilitar ao aluno a transição entre a escola e a realidade integral da existência, a fim de capacitá- lo a compreender seu meio e a se dirigir autonomamente; 3) Ela deve acostumá-lo a analisar e a explicar seu trabalho de forma científica, ensinando-lhe a se elevar do problema prático à concepção geral teórica, a demonstrar iniciativa na busca de soluções (PISTRAK, 2000, p. 90).

O autor percebe que entre os professores, estes costumam preconizar a prática e negam a teoria. No entanto, salienta que não é possível fazer uma prática revolucionária sem uma teoria consistente. O educador precisa se reeducar a si mesmo, deixando de lado a prática individualizada, para envolver-se numa análise coletiva dos problemas que encontra na escola. Rossi, ao focar as idéias de Pistrak, destaca que:

A educação era uma tarefa coletiva a ser desenvolvida por professores, os quais, entendendo seu papel político na construção de uma nova sociedade, deveriam ser participantes ativos e conscientes dessa criação social, não na qualidade de instrumentos de uma administração à qual todas as decisões seriam atribuídas com exclusividade, mas na verdade na qualidade de analistas críticos do que se estava processando, mediante a incorporação e desenvolvimento de um referencial teórico, pedagógico e social, que daria sentido às suas ações (ROSSI,1982, p. 25).

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Pistrak acredita que para fazer as transformações necessárias à nova escola que se forma a partir do novo modelo de sociedade que surge na Rússia pós revolução de outubro de 1917, era necessário acontecer uma mudança radical não só no objeto de estudo e nos programas da escola, mas em toda a estrutura de organização de gestão e de participação.

O autor da pedagogia do trabalho ainda sugere como características a serem desenvolvidas pelas escolas como modelo humano: 1- Capacidade de realizar trabalhos coletivos, bem como encontrar sua própria posição num grupo; 2- Capacidade de abordar os novos problemas como um organizador; 3- Criar novas formas de organização. Pistrak propôs um método ativo de ensino ou uma didática: o “sistema do complexo13” que iria garantir a compreensão da realidade, de acordo com o método dialético do marxismo. O autor cita ainda que todo o “complexo” proposto aos alunos precisa ser significante, “de grande importância e de alto valor, enquanto meio de desenvolvimento da compreensão das crianças sobre a realidade atual” (PISTRAK, 2000, p. 135-136).

Atualmente o termo “complexo” é bastante utilizado pelos meios pedagógicos, e entre os soviéticos foi bastante discutido posteriormente a Revolução. Krupskaia, o estudou bastante e observou que o termo foi metamorfoseado em uma espécie de fetichismo, pois o que parecia claro no início, no decorrer foi se tornando uma acrobacia intelectual (ROSSI, 1982, p. 58). Para Pistrak (2000), ele pode ser a análise de um ponto de vista compreendido por uma disciplina ou por um conjunto de disciplinas que se aproximam. Mais tarde, foi desenvolvida a idéia de que o complexo correspondia ao desenvolvimento de uma idéia surgida a partir de um objeto, e a concentração de todo o programa de ensino era voltada sobre um objeto durante um tempo determinado. Vale destacar ainda que para o autor, o método do complexo era bastante útil para compreender a realidade de um ponto de vista marxista. Este estudo possibilitava mostrar as relações entre os aspectos diferentes das coisas, esclarecendo a transformação de certos fenômenos em outros.

Sobre os espaços coletivos, Pistrak vê que quantidade pode virar qualidade, pois as crianças, assim como os homens, formam coleção em torno de interesses que estão próximos delas. E se quiser criar o espírito coletivo é necessário que a escola estimule esses interesses e criar novos. Isto demanda de uma organização que enfatize a escola como o centro de vida da criança, deixando de ser apenas local de instrução. O autor cita que, “a escola revolucionária não deve preparar caudilhos, mas todo o povo

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Para o autor, o “auxilio do complexo” ou “centro de interesses” é erradamente chamado de método do complexo, porque podemos usar diversos métodos utilizando o método do complexo, como trabalho de laboratório, excursão. O autor sugere que seria melhor falar de método experimental ou organização de programas de ensino segundo os complexos (PISTRAK, 2000, p 131).

para dirigir e construir coletivamente uma organização social baseada no rateio comum do governo participatório (ROSSI,1982, p.56-57).

Segundo Rossi (1982), em relação ao campo, Pistrak propõe uma escola com um pedaço de terra para as crianças poderem desenvolver suas atividades para desenvolver a organização racional do trabalho. Os camponeses deveriam incorporar seus interesses na escola, que era um meio de transformação da sociedade, já que para aquela época, a participação das pessoas que moravam no campo era um problema para a União Soviética.

As escolas politécnicas e de formação básica também enfrentam a ausência da discussão do trabalho agrícola, Pistrak (2000) justifica que, isto pode ter acontecido porque esta forma de trabalho não é estritamente profissional, mas ligada à vida e à atividade humana em condições genuinamente naturais. Também salienta que toda a escola de 1º grau situada no campo deve ter uma área entre meio e um hectare para os trabalhos manuais, justificando que:

Se quisermos elevar seriamente o nível de nossa agricultura, se quisermos divulgar amplamente os novos métodos aperfeiçoados de trabalho agrícola e de economia rural, a escola deverá ser colocada na vanguarda deste trabalho, porque ela é o centro cultural que influencia diretamente a criança desde uma tenra idade e indiretamente toda a população camponesa. Não se trata, portanto, de especialização agronômica, mas simplesmente de uma escola que ensine as crianças a trabalhar racionalmente, fornecendo-lhes uma bagagem cientifica geral suficiente para trabalhar racionalmente uma pequena área escolar, consideradas sua idade e forças (PISTRAK, 2000, p. 69-70).

O autor compreende que à medida que a escola se aproximar das necessidades da vida do agricultor e este perceber que ela é útil, vai diminuir o absenteísmo escolar durante a primavera e o verão, períodos de maior trabalho agrícola e maior evasão escolar. Porém, há que se fazer uma variação do caráter de trabalho e da vida escolar em ligação com as estações do ano, que pode priorizar na escola o trabalho agrícola durante o verão levando ao aparecimento de novas formas de trabalho. O educador ainda atenta que a escola da cidade também precisa estar em contato com a agricultura, seja para divulgar no campo a influencia cultural da cidade, seja para conhecer a produção desta, quanto para compreender o trabalho social entre os camponeses.

O autor vê nas escolas situadas no campo a possibilidade de propagação da pedagogia social pela preparação daqueles que serão os organizadores da sociedade do

amanhã. E indica a juventude comunista como a precursora do êxito na educação iniciada a partir da “escola de fábrica14” pontuando que, “a construção de qualquer tipo de escola soviética contemporânea é irrealizável sem a participação da Juventude Comunista” (PISTRAK, 2000, p. 221).