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2 OS ESTUDOS DO CÍRCULO DE MIKHAIL M BAKHTIN 2.1 Algumas considerações sobre os estudos bakhtinianos

2.4 Alguns procedimentos teórico-metodológicos

Tendo em vista o objetivo desta pesquisa que, conforme já dito anteriormente, é analisar a maneira pela qual os valores, principalmente (mas não somente) os relacionados à comunicação e à informação são retratados em gêneros do discurso distintos, destinamos, agora, um momento de reflexão em torno do procedimento metodológico e das categorias de análise que são utilizados ao longo do trabalho.

Podemos inferir que o método proposto, ainda que indiretamente, por Bakhtin e seu Círculo, para a análise do enunciado, sugere um percurso que parte das condições sócio- históricas, passa pelos gêneros discursivos e, por fim, chega ao estudo das formas linguísticas. Lançando mão desse percurso, nos capítulos anteriores cumprimos os caminhos de contextualização sócio-histórica e de fundamentação teórica; nesta etapa da pesquisa, passaremos, então, para o estudo das formas linguísticas dos enunciados do córpus.

Consoante alerta Rodrigues (2004, p.430), a noção de enunciado, tal qual pensada pelo Círculo, não é a “de proposição, frase enunciada, que se constituiria em trechos textuais enunciados, mas de uma unidade mais complexa que “ultrapassa” os limites do próprio texto, quando se considera este apenas do ponto de vista da língua e da sua organização”.

Ou seja, não se pode pensar em enunciado, na perspectiva bakhtiniana, de maneira imanente, apartado do contexto social (histórico, político, econômico, ideológico, cultural), considerado somente no ponto de vista da língua, da gramática e da sua organização textual. Logo, as formas linguísticas têm que ser analisadas sempre articuladas a determinada situação comunicativa.

Ainda que o estudo das formas linguísticas manifestadas no texto seja relevante e, por isso mesmo, componha o quadro teórico-metodológico desta dissertação, uma abordagem

metodológica que se restringe unicamente a análises textuais não dá conta da análise dos gêneros e dos enunciados, tal como pensada por Bakhtin. Portanto, nos preocupamos em não fazer um trabalho descritivo, calcado na análise de conteúdo, e sim um estudo de caráter interpretativo, o qual leva em consideração categorias de análise para, através delas, cotejar enunciados de gêneros diferentes e, dessa forma, chegar a um resultado mais amplo, que, no caso do presente trabalho, é a questão do conceito de informação.

Em relação aos estudos sobre gêneros do discurso, na perspectiva teórico- metodológica de Bakhtin, uma análise sobre determinado(s) gênero(s) discursivo(s) tem de atentar para não se transformar em apenas uma “descrição” desse(s) gênero(s). As análises do(s) gênero(s) não podem se limitar à aplicação “submissa” de categorias de análise preestabelecidas, tampouco se resumir à verificação da presença - ou da ausência - de dados substanciais que justifiquem alguma tese ou argumentem em prol de uma ideia.

Buscamos compreender o processo de constituição e de funcionamento dos gêneros do discurso baseados nas relações sociais (históricas, culturais e etc) e articulado com a noção de enunciado e signo linguístico (RODRIGUES, 2004). Ou seja, partimos da ideia da relação dialética – e dialógica – de linguagem e ideologia e, portanto, de gênero como o lugar de manifestações ideológicas e visões de mundo, relativamente estável, porém com enorme plasticidade e capacidade de ressignificação; pois entendemos que o gênero é uma das forças (centrífugas) de estratificação da língua.

Segundo Rodrigues (2004), os gêneros do discurso são compostos por duas partes indissociáveis: a dimensão linguístico-textual e a dimensão social. Social, porque cada gênero, dentro de uma esfera de atividade humana, remete a uma situação social de interação típica. Linguístico-textual, porque possui finalidade discursiva, concepção de autor, de interlocutor, estilo e estrutura composicional “próprios”.

Uma vez que se tem a constituição do gênero, este exerce, em retorno, um efeito normativo sobre as interações verbais (ou não verbais). Por isso que se pode dizer que para Bakhtin os gêneros também são formas de ação: na interação, eles funcionam como índices de referência para a construção dos enunciados, pois balizam o autor no processo discursivo, e como horizonte de expectativas para o interlocutor, no processo de compreensão e interpretação do enunciado (a construção da reação-resposta ativa) (RODRIGUES, 2004, p.423).

Assim sendo, notamos que se faz imprescindível tanto o domínio das formas da língua, quanto o das formas do discurso, ou seja, dos gêneros.

No que concerne aos aspectos que englobam a dimensão social do gênero, devemos pensar, por exemplo, em questões como: quem é o “eu que fala” nesses discursos? Qual(is) seria(m) o(s) interlocutor(es) previsto(s)? Qual ou quais são as orientações ideológicas dos discursos? Qual o acento de valor, no caso desta pesquisa, dispensado à palavra informação?

Já em relação aos aspectos que englobam a dimensão linguístico-textual, é preciso olhar para o modo de funcionamento do gênero, para as suas categorias verbais. Aquilo que é regular no gênero e que, de certa forma, delimita sua estrutura composicional e é responsável por constituir seu estilo. Quais são as marcas “estáveis” desses enunciados? Que construções verbais justificam possíveis aspectos da dimensão social do gênero? Que escolhas, do ponto de vista linguístico, são feitas para evidenciar determinado posicionamento axiológico?

A investigação dos gêneros a partir da teoria bakhtiniana toma o caminho metodológico proposto por Bakhtin como princípio norteador da pesquisa. Por exemplo, na descrição interpretativa do gênero resenha científica, o primeiro passo de pesquisa é analisar o papel da esfera da comunicação científica no conjunto da vida social. O segundo é analisar a situação de

interação desse gênero: qual o autor previsto, qual a concepção de interlocutor, qual a sua finalidade ideológico-discursiva, como se dá a sua orientação para o seu objeto do discurso; qual o seu acento de valor? Esses aspectos englobam a análise da dimensão social do gênero. O

terceiro passo, articulado aos anteriores, é buscar ver o modo de funcionamento do gênero na sua dimensão verbal. Aquilo que é a regularidade do gênero nessa dimensão, que pode ser mais menos estável e “visível”, vai se construindo durante a análise (RODRIGUES, 2004, p.436, grifo nosso).

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