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Alguns resultados do SAEB

No documento Marcos Ruben de Oliveira Tese de doutorado (páginas 30-34)

O esforço de melhoria da qualidade fomentou a criação de vários programas governamentais, acompanhados de processos de avaliação da aprendizagem. Citando alguns exemplos temos a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Educação Básica (SAEB) em 1990, a intensificação do Censo Escolar a partir de 1996 (Diniz, 1999), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 1998, o Prova Brasil a partir de 2005, a criação do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) em 1996, entre outros.

O SAEB trouxe grandes contribuições para o entendimento dos fatores associados ao desempenho escolar. Avaliando a qualidade, a eqüidade e a eficiência do ensino e da aprendizagem nos níveis fundamental e médio, o SAEB utiliza testes e questionários para avaliar o desempenho dos alunos e identificar os fatores associados. Realizado de 2 em 2 anos, sua última versão foi em 2005, e contou com a participação de cerca de 300 mil alunos, 17 mil professores e 6 mil diretores de 6.270 escolas das 27 unidades da federação.

Alguns estudos baseados nos dados do SAEB identificam que condições de infra-estrutura, ambiente da escola, recursos educacionais disponíveis, formação docente e comprometimento do professor são fatores relevantes para a compreensão da qualidade das escolas e de seus sistemas educacionais (Espósito, Davis e Nunes, 2000; Barbosa e Fernandes, 2001; Franco, Mandarino e Ortigão, 2002; Albernaz, Ferreira e Franco, 2002).

Na pesquisa conduzida por Barbosa e Fernandes (2001) com base nos dados do SAEB 97, os autores concluem que boas condições físicas das escolas assim como bom ambiente escolar têm impacto positivo sobre a proficiência dos estudantes, em qualquer das cinco grandes regiões do Brasil. Eles alertam para o fato de que, no Brasil, diferentemente do que se observa nos países desenvolvidos, as condições de infra-estrutura e ambiente das escolas constituem fatores relevantes para elevar os resultados escolares dos alunos. Chegando a resultados análogos, e fazendo uso de modelos hierárquicos de dois níveis nos dados do SAEB 99, o estudo de Albernaz, Ferreira e Franco (2002) mostra que a qualidade de infra-estrutura física das escolas é relevante para explicar o desempenho dos estudantes. Nesse sentido, nas escolas que possuem salas de aula arejadas e níveis de ruídos adequados, os alunos têm, em média, resultados melhores.

Resultado interessante foi reportado por Espósito, Davis e Nunes (2000) a partir dos dados do SARESP. Em sua pesquisa, as autoras constatam que o uso freqüente do laboratório de ciências tem impacto positivo sobre o desempenho escolar em Língua Portuguesa.

Provavelmente, a utilização deste recurso pode estar associada a indicadores que capturem a qualidade do ensino ofertada pela escola.

Também fazendo uso de modelos multiníveis nos dados do SAEB 99, Franco, Mandarino e Ortigão (2002) investigaram o efeito da existência de projeto pedagógico da escola na promoção de eficácia e eqüidade nas escolas brasileiras. Neste estudo, constatou-se o efeito nulo do projeto pedagógico sobre a eficácia da escola. Entretanto, a variável existência de projeto pedagógico na escola provoca um efeito negativo sobre a equidade, significando que alunos que apresentam nível socioeconômico médio acima da média da escola são os que mais se beneficiam do projeto.

Os fatores formação docente e comprometimento do professor foram reportados tanto por Espósito, Davis e Nunes (2000) quanto por Albernaz, Ferreira e Franco (2002). No primeiro, as autoras concluíram que quando os professores afirmam estarem comprometidos com a aprendizagem, os alunos apresentam, em média, resultados melhores. Já Albernaz, Ferreira e Franco (2002) afirmam que embora a variável formação docente forneça um impacto positivo sobre a eficácia das escolas, o mesmo não ocorre com relação à eqüidade. Assim, em escolas onde os professores apresentam bom nível de formação, os alunos que possuem nível socioeconômico médio mais elevado tiram maior proveito desta característica.

Bonamino e Franco (2004) exploraram o efeito de características escolares sobre os resultados dos alunos de 4ª série do ensino fundamental que fizeram o teste de matemática do SAEB 2001 e encontraram que o estímulo que os professores dão aos alunos para lidar com problemas diferentes e relacionados ao cotidiano faz com que esses obtenham resultados melhores na avaliação. Outros resultados obtidos pelos autores foram os seguintes: em escolas onde há bom clima disciplinar, existe uma sala para livros, há demanda por dever de casa, os alunos apresentam melhores resultados em matemática; a existência de recursos físicos, como televisão, aparelho de som, etc. está associada a melhores resultados acadêmicos; quando há

carência de pessoal administrativo, insuficiência de recursos financeiros, alto índice de faltas dos professores, o rendimento dos alunos é mais baixo. Finalmente os autores apontam que quando a escola tem uma direção que atua em colaboração com os professores, implementando um estilo de gestão participativa, os alunos apresentam melhores resultados, em consonância com os resultados da literatura internacional.

Alguns exemplos dos resultados obtidos no SAEB: A proficiência média na 4ª série, em Leitura, é 7% maior nas escolas onde mais de 75% dos alunos usam a biblioteca, se comparado com escolas onde apenas 25% ou menos fazem uso dela. Comparando com o desempenho em escolas onde não há bibliotecas, a diferença sobe para 18%.

Os resultados do SAEB evidenciam ainda que alunos que fazem a pré-escola têm melhor desempenho. Na 4ª série, em Leitura, eles obtiveram médias 13% acima daqueles que não tiveram a mesma oportunidade. Os dados do SAEB 2003 indicam também que a reprovação e o abandono devem estar entre as principais preocupações dos gestores educacionais: os alunos que nunca reprovaram apresentaram desempenho 23% superior aos que reprovaram apenas uma vez; e os alunos que nunca abandonaram a escola apresentaram desempenho 15% maior do que aqueles que o fizeram uma única vez.

A escolaridade do professor é outro fator que está relacionado com o desempenho dos estudantes. Quando o profissional que está em sala de aula possui formação de nível superior, a média dos seus estudantes é 10% superior nos casos em que a formação do professor é de nível médio.

No documento Marcos Ruben de Oliveira Tese de doutorado (páginas 30-34)

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