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Plano de Desenvolvimento da Escola

No documento Marcos Ruben de Oliveira Tese de doutorado (páginas 34-39)

O Brasil vive uma realidade de grandes desigualdades sociais, econômicas e culturais. Naturalmente essas divergências têm seus reflexos na questão educacional, manifestando-se em todos os âmbitos que compõem o cenário escolar: nas estruturas físicas, na qualificação do corpo docente, no desenvolvimento e aplicação de políticas educacionais e também naquilo que é mais importante e é o objetivo principal da escola: no nível de aprendizado dos alunos. Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, por exemplo, têm comprovado a existência de desigualdades regionais em todas as suas aplicações.

É esta desigualdade que estimula a criação de programas cujo objetivo principal é fomentar o desenvolvimento nas regiões mais prejudicadas e mais carentes de recursos, que no Brasil, em geral, são as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Neste universo de medidas e programas, temos o Fundo de Fortalecimento da Escola – Fundescola, programa vinculado ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), “uma autarquia do Ministério da Educação que tem como missão prover recursos e

executar ações para o desenvolvimento da Educação, visando garantir educação de qualidade a todos os brasileiros” (FNDE, 2005). Segundo o próprio FNDE,

“O Fundescola é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação, executado em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) e desenvolvido com as secretarias estaduais e municipais de educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Tem por objetivo promover um conjunto de ações para a melhoria da qualidade das escolas do ensino fundamental, ampliando a permanência das crianças nas

escolas públicas, assim como a escolaridade nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Sua missão é promover, em regime de parceria e responsabilidade social, a eficácia, eficiência e eqüidade no ensino fundamental público das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por meio da oferta de serviços, produtos e assistência técnico-financeira inovadores e de qualidade, que focalizam o ensino- aprendizagem e as práticas gerenciais das escolas e secretarias de educação. O programa tem como estratégias aperfeiçoar o trabalho, elevar o grau de conhecimento e o compromisso de diretores, professores e outros funcionários da escola com os resultados educacionais, melhorar as condições de ensino e estimular o acompanhamento dos pais na aprendizagem de seus filhos” (FNDE,

2005).

Dentre as várias ações desenvolvidas pelo Fundescola, existe o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), “um processo gerencial de planejamento estratégico,

coordenado pela liderança da escola e desenvolvido de maneira participativa pela comunidade escolar. Seu objetivo é aprimorar a gestão da escola para que possa melhorar a qualidade do ensino que oferece e garantir maior eficiência e eficácia nos processos que desenvolve” (Sobrinho, 2001, p.15).

Implementado a partir de 1998, o PDE atendeu inicialmente 400 escolas das regiões Norte e Centro-Oeste, ampliando gradualmente sua esfera de atendimento para mais escolas destas regiões e também para a região Nordeste, chegando em 2000 à cobertura de 3.516 escolas. Dentre seus objetivos estão: aprimorar a gestão da escola; melhorar a qualidade do ensino; garantir maior eficiência e eficácia nos processos; permitir a autonomia da escola em seus projetos futuros e definições de ações; e garantir o melhor desempenho de seus alunos.

Cumpre destacar que nesse trabalho procura-se avaliar o programa por meio do desempenho acadêmico dos alunos, entendendo o desempenho acadêmico como reflexo dos conhecimentos adquiridos pelos alunos. Conhecimento, nesse contexto, representa a extensão e profundidade das informações adquiridas, via escolarização, usadas na resolução de problemas semelhantes aos aprendidos no passado (Primi & cols, 2002).

Na execução do programa, procura-se envolver a liderança formal da escola no direcionamento e na coordenação do planejamento estratégico, com o intuito de permitir a participação efetiva de todos os segmentos da escola e da comunidade escolar. Os idealizadores do programa destacam dois grandes componentes envolvidos no PDE:

- a visão estratégica, na qual a escola identifica os valores defendidos pela comunidade escolar, a sua visão de futuro, e os objetivos estratégicos a serem alcançados num período de dois a cinco anos;

- o plano de suporte estratégico, no qual a escola define, a partir de seus objetivos estratégicos, metas e planos de ação.

O processo de planejamento para elaboração e implementação do PDE desdobra-se em cinco etapas:

- Etapa de Preparação: a escola organiza-se para a elaboração do PDE, define os passos a serem seguidos, identifica responsabilidades, promove o estudo do manual do PDE e divulga o processo a toda a comunidade escolar;

- Etapa da Análise Situacional ou Diagnóstico da Escola: a equipe escolar promove levantamento de dados e informações gerais sobre a qualidade da escola em seus diferentes aspectos, refletindo-se sobre o que está sendo feito pela escola e sobre o que deve ser feito para melhorar o desempenho da escola e o sucesso dos alunos. Esse diagnóstico subsidia a equipe escolar na elaboração da Visão Estratégica e do Plano de Suporte Estratégico da escola;

- Etapa da Definição da Visão Estratégica e do Plano de Suporte Estratégico: a equipe escolar reúne-se para a elaboração da Visão Estratégica (valores, visão de futuro, missão e objetivos estratégicos da escola) e do Plano de Suporte Estratégico (estratégias, metas e planos de ação);

- Etapa da Execução: os planos de ação estabelecidos pela equipe escolar são colocados em prática;

- Etapa de Acompanhamento e Controle: a equipe escolar promove o gerenciamento e a verificação da execução dos planos de ação, bem como a adoção das medidas necessárias para a solução de problemas, quando necessário.

As ações diretas do PDE atingem principalmente a escola e sua forma de gestão e organização; porém o efeito indireto mais importante está na melhoria do desempenho de seus alunos, foco do processo educacional. Desta forma, avaliar os efeitos do PDE é uma tarefa que pode ser feita acompanhando o desempenho dos alunos das escolas que fazem parte do programa. Neste intuito o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em parceria com o Fundescola, fez de 1999 a 2003 um acompanhamento longitudinal de escolas que participam do programa. Nesse levantamento foram acompanhados cerca de 38 mil alunos desde a 4ª série até a 8ª série do ensino fundamental, por meio de avaliações de português e matemática baseadas inicialmente em 36 itens pré- testados tanto para a avaliação de português, como para a avaliação de matemática, e retirados do Banco Nacional de Itens do SAEB. A partir das avaliações seguintes, os coordenadores da pesquisa adotaram o seguinte procedimento: aplicou-se pré-testes em escolas não pertencentes à amostra original, com itens elaborados por equipes especializadas; em seguida os resultados foram analisados sob a ótica da Teoria Clássica de Medidas e da Teoria de Resposta ao Item, selecionando-se 30 itens de cada uma das avaliações de português e matemática, além de dez itens das avaliações anteriores, para compor as novas avaliações.

Além de acompanhar o desempenho dos alunos, foram coletadas as seguintes informações adicionais com o objetivo de avaliar possíveis fatores associados ao desempenho: 1. Do aluno: dados demográficos; dados socioeconômico; hábitos de estudo; rendimento

escolar.

2. Do professor: dados demográficos; dados socioeconômico; qualificação profissional; recursos pedagógicos que utiliza.

3. Do diretor: dados demográficos; dados socioeconômico; qualificação profissional; características da gestão da escola.

4. Da escola: condições físicas de funcionamento da escola.

A coleta de dados envolveu dois grupos de escolas: participantes e não participantes do PDE, possibilitando assim a avaliação do efeito do programa. A seleção das escolas foi feita por meio de amostragem, selecionando-se 158 escolas, das quais inicialmente 55 participavam do PDE.

De posse destas informações, pretendemos avaliar os efeitos do PDE utilizando análise multinível. O objetivo do trabalho está não só em avaliar o efeito PDE, mas também em detectar fatores associados ao desempenho dos alunos em português e matemática. A contribuição da análise multinível será determinante, uma vez que o delineamento da pesquisa tem claramente uma estrutura com quatro níveis: em um primeiro nível temos as 5 avaliações ao longo do tempo, no segundo nível temos os alunos que realizaram as avaliações (note que cada aluno pode ter feito várias avaliações, uma a cada ano, assumindo assim uma hierarquia acima da própria avaliação), no terceiro nível as turmas e no quarto a escola.

Embora se trate de uma estrutura com quatro níveis, nossas análises serão desenvolvidas limitando-se a três níveis, para permitir melhor interpretação dos resultados obtidos.

2 Objetivos

No documento Marcos Ruben de Oliveira Tese de doutorado (páginas 34-39)

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