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TEMA II: DOENÇAS CARDIOVASCULARES

3.2. Fatores de risco e medidas preventivas

3.2.4. Alimentação desequilibrada

Uma alimentação desequilibrada constitui um fator de risco para o desenvolvimento de DCV, pelo que, a adoção de medidas para a prática de uma alimentação adequada constitui um dos passos fundamentais para a prevenção destas doenças [25].

A primeira medida preventiva consiste na redução do consumo de sal, não excedendo a dose diária recomendada, estipulada pela Organização Mundial de Saúde, de 5 g. A adoção desta medida deve-se ao facto do elevado consumo de sal estar fortemente relacionado a

um aumento da PA, que constitui um fator de risco para o desenvolvimento de DCV [41]. A utilização de ervas aromáticas, como os coentros, aipo, alecrim, cebolinho, estragão e louro, pode auxiliar na redução da quantidade de sal ingerido na dieta e consequente prevenção das DCV [42].

Ainda em relação à alimentação, uma redução na ingestão de alimentos ricos em ácidos gordos saturados e colesterol parece ter um papel importante na prevenção de DCV. Esta relação deve-se ao fato destas moléculas aumentarem os níveis de colesterol total e colesterol LDL, responsáveis pelo aumento do risco de desenvolver aterosclerose, um fator desencadeante da maior parte das DCV. Os ácidos gordos saturados são consumidos principalmente nas carnes gordas, lacticínios gordos, óleos de coco e de palma e o seu consumo diário não deve exceder os 7% [41].

Deve ser dada a preferência ao consumo de ácidos gordos insaturados nomeadamente os ácidos gordos ómega 3. A nível preventivo, uma ingestão diária de pelo menos 500 mg de ácidos gordos ómega 3, em indivíduos saudáveis, e 800 mg, em indivíduos com história de doença coronária, apresenta efeitos cardioprotetores. Estas quantidades poderão ser atingidas através do consumo de frutos secos e peixes gordos pelo menos duas vezes por semana [41].

O consumo de alimentos de origem vegetal ricos em fitoesteróis, como os óleos vegetais, produtos hortícolas, frutos secos, leguminosas e cereais, diminui a absorção intestinal de colesterol animal e promove a sua eliminação a nível biliar. Para que haja uma redução de 10% do colesterol LDL devem ser consumidos 2,0 g/dia destes compostos [41].

Em relação ao consumo de proteínas, este deve ser moderado, dando preferência às proteínas de origem vegetal, como as proteínas da soja, pois apresentam maiores benefícios a nível cardiovascular. A ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, como a fruta e os produtos hortícolas, está associada a uma redução do risco de desenvolver DCV [41].

A última medida passa pela moderação do consumo crónico de bebidas alcoólicas, associado a um aumento do risco de desenvolvimento de DCV através de mecanismos como dano no musculo cardíaco, aumento da PA, indução de um estado de hipocoagulação e disfunção endotelial. Este fator de risco está normalmente associado a outros fatores, como o tabagismo ou a má nutrição, tendo a sua associação um efeito sinérgico negativo nas DCV [43]. Assim, o álcool deve ser bebido com moderação, sendo a dose diária recomendada de 60 g para o homem e 40g para a mulher [43].

3.2.5. Inatividade física

A inatividade física é reconhecida como um importante fator de risco para o desenvolvimento de DCV [44]. Está comprovado que a prática regular e adequada de exercício físico reduz o risco de HTA, hipercolesterolemia, obesidade e diabetes mellitus tipo 2. Embora, os mecanismos envolvidos neste efeito protetor ainda tenham sido totalmente

elucidados, sabe-se que a ausência de atividade física exerce efeitos contrários aos descritos [25, 45].

Como medida preventiva, a Organização Mundial de Saúde recomenda às crianças e adolescentes entre os 5 e os 17 anos a prática de exercício físico intenso a moderado pelo menos 60 minutos por dia. Para a faixa etária entre os 18 e os 64 anos é aconselhada a prática de pelo menos 150 minutos de atividade física moderada e/ou 75 minutos de atividade física intensa durante a semana, podendo intercalar entre as duas. Os indivíduos acima dos 65 anos devem praticar pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física intensa durante a semana. Aqueles que apresentam mobilidade reduzida, devem realizar atividades que melhorem o equilíbrio e previnam quedas 2 ou mais vezes por semana [44].

3.2.6. Obesidade

A obesidade é uma doença metabólica caracterizada por um aumento das reservas de gordura corporal [46].

Na prática clínica, o diagnóstico de obesidade é habitualmente realizado através do cálculo do IMC, que corresponde à razão entre o peso, em quilogramas, e o quadrado da altura, em metros (Kg/m2). Segundo a Organização Mundial de Saúde, num indivíduo com

idade igual ou superior a 18 anos um valor de IMC ≥ 25 Kg/m2 é classificado como excesso

de peso e ≥ 30 Kg/m2 como obesidade [47, 48].

Um aspeto importante na avaliação da obesidade é a distribuição da gordura corporal. O tecido adiposo pode acumular-se na região abdominal, sendo designada de obesidade abdominal ou visceral, ou na região glútea e coxas, denominada de obesidade ginóide. A distinção entre estes dois tipos de obesidade adquire grande importância uma vez que a obesidade visceral está associada a complicações metabólicas como a HTA, insulinorresistência, diabetes mellitus e dislipidemia. A avaliação da obesidade abdominal faz-se através da medição do perímetro abdominal. No caso dos homens o ideal é ter um perímetro abdominal inferior a 94 cm e nas mulheres inferior a 80 cm [47].

Os mecanismos através do qual a obesidade pode aumentar o risco de desenvolver DCV são variados. Diversos estudos revelam que na obesidade há um aumento dos níveis plasmáticos de mediadores inflamatórios, como a citocina pro-inflamatória, o fator de necrose tumoral α, interleucina-6, e ácidos gordos de cadeia livre. Este aumento traz como consequência um aumento da resistência à insulina e diminuição dos níveis de adiponectina. Todos estes mecanismos podem conduzir à disfunção endotelial e consequente aumento do risco cardiovascular [46].

3.2.7. Tabagismo

O tabagismo é considerado um dos principais fatores de risco evitáveis do desenvolvimento de DCV [49].

O mecanismo exato através do qual o tabaco promove um aumento do risco de DCV ainda não está totalmente esclarecido, no entanto, sabe-se que algumas substâncias tóxicas presentes no fumo do tabaco, como a nicotina e o monóxido de carbono, são responsáveis por conduzir ao desenvolvimento e progressão da aterosclerose através de vários mecanismos como um aumento da resistência à insulina, disfunção endotelial, dislipidemia, inflamação e alterações hemodinâmicas e indução de um estado de hipercoagulação [49].

Os fumadores passivos apresentam um risco de desenvolver DCV semelhante aos fumadores ativos. Estudos revelam que a disfunção endotelial induzida pelo fumo do tabaco em indivíduos não fumadores é indistinguível à induzida em fumadores ativos, este fato sugere que o tabaco desempenha igualmente um papel importante no aumento da probabilidade de desenvolver DCV em fumadores passivos [49].

Diversos estudos comprovaram que a cessação tabágica reduz consideravelmente o risco cardiovascular, este fato reforça a importância da implementação de medidas de prevenção do tabagismo e da exposição ao fumo ambiental do tabaco [49].

3.2.8. Stress psicossocial

O stress desencadeia uma série de reações que induzem alterações fisiológicas, que contribuem para o aumento do risco de desenvolvimento de DCV, como o aumento da PA, aumento da resistência à insulina e disfunção endotelial [50].

4. Resultados e conclusões

O rastreio foi realizado no dia 17 de maio das 10h às 13h em frente às instalações da FFS onde foi montada uma área reservada para o efeito, equipada com todo o material necessário, nomeadamente luvas, algodão, álcool, contentor para lixo contaminado, o Reflotron Plus® para medir o colesterol total, e o Tensoval Duo® para medir a pressão arterial.

Neste rastreio participaram 30 utentes, na sua maioria do sexo feminino e com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos. Após o tratamento dos dados, pela análise do gráfico correspondente à pressão arterial (Anexo XVI) verificou-se que 67% dos indivíduos analisados não apresentavam registo de HTA, embora alguns mostrassem valores compatíveis com PA normal alta. Da totalidade dos indivíduos analisados, 23% apresentava HTA, dos quais 20% possuíam HTA grau 1 e 3% grau 3, não tendo sido analisado nenhum indivíduo com valores compatíveis com HTA grau 2. A Pressão Sistólica Isolada (PSI) esteve presente em 10% dos casos.

No que respeita aos resultados obtidos para o CT, pela análise do gráfico (Anexo XVI) verificou-se que 70% dos indivíduos avaliados apresentavam valores inferiores aos de referência e 30% encontrava-se com valores compreendidos entre 200 e 239 mg/dl, para o qual é recomendada a adoção de medidas não farmacológicas. Não foram observados valores acima dos 239 mg/dl.

No final de cada avaliação entreguei aos utentes o panfleto elaborado e um cartão onde tinha registado os valores obtidos para cada um dos parâmetros avaliados, com o objetivo

do utente registar as próximas medições para continuar a fazer um controlo dos diferentes parâmetros.

A realização deste rastreio no exterior da farmácia constituiu uma iniciativa inovadora, que ainda não tinha sido realizada na FFS. Este facto permitiu um melhor acesso e visibilidade aos utentes, assim como, a divulgação que a farmácia é um espaço de promoção de saúde e não apenas de venda. O retorno deste rastreio foi bastante positivo, os participantes colaboraram, mostraram interesse e sugeriram que se realizassem atividades deste género mais vezes.

No âmbito pessoal, como profissional de saúde, a participação neste rastreio foi uma mais valia uma vez que me permitiu contactar mais de perto com os utentes, perceber o papel fundamental que o farmacêutico pode desempenhar na promoção da saúde e prevenção da doença e ganhar a perceção de que ainda há um longo caminho a percorrer na identificação precoce de possíveis fatores de risco modificáveis, na monitorização da adesão à terapêutica e no incentivo à adoção de um estilo de vida saudável.

TEMA III: INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA NAS OSTOMIAS

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