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16 a alimentação deverá caraterizar-se pelo conceito de racionalidade, com especial enfoque nas

necessidades de cada sujeito, nas caraterísticas benéficas dos alimentos e na consequente melhoria do estilo de vida em distintas faixas etárias e em casos de patologias agudas e/ou crónicas. O processo de tomada de decisão e de escolha no que diz respeito à alimentação saudável está interligada, para além do conhecimento e do fornecimento e apreensão de informação correta sobre a temática, com as preferências já estabelecidas com base no prazer sentido na ingestão de certos alimentos, com as condutas apreendidas no seio familiar desde os primeiros anos e com diversos determinantes psicológicos e do contexto social (Viana, 2002).

3.1.O comportamento alimentar na Infância e Adolescência

O funcionamento em relação ao comportamento alimentar e a perceção que se possui dos alimentos que se ingere e das escolhas que se fazem com base nessa perceção é diferenciada consoante as diversas fases de desenvolvimento em que o indivíduo se encontra. Viana (2002) distingue as mudanças na compreensão face à alimentação, sendo que na idade do pré-escolar já é visível uma perceção da significância dada ao consumo de alimentos, por exemplo, as frutas relativamente à ingestão de vitaminas ou o leite relativamente ao seu valor a nível de cálcio e os seus benefícios para o esqueleto humano, isto é, já nesta idade, a criança é capaz de retirar conclusões sobre o porquê da ingestão de certos alimentos e dos consumos benéficos. A idade escolar é o período onde se verifica uma propensão maior ao consumo de alimentos não restritos, como é o caso de bebidas ricas em açúcar, como os refrigerantes, os hambúrgueres e os doces e salgados, entre outros. As dietas restritivas, em que existe uma determinada seleção do que constitui parte da dieta alimentar e dos alimentos excluídos deste são maioritariamente frequentes numa idade associada à adolescência, onde a preocupação com o corpo e os comportamentos de risco se tornam muito mais evidentes. É, igualmente na idade da juventude, que os comportamentos menos saudáveis se manifestam e se mantêm ao longo dos anos, sendo importante este período para a educação a nível de aquisição de hábitos saudáveis.

Assim, a maturação do individuo, as caraterísticas constitucionais, os agentes de socialização, as caraterísticas afetivas e a interação da tríade constituída por mãe, criança e família aparecem como principais preponderantes do comportamento alimentar. Torna-se importante sublinhar a conceção de que é desde os primeiros dias de vida que se inicia o processo de decisão e seleção de quais os alimentos a serem incluídos na alimentação, sendo este um processo de aprendizagem e de evolução, o que vem sublinhar a relevância que os primeiros anos de vida mantém a nível das aquisições de hábitos alimentares futuros e da

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própria modelação do comportamento (Viana, Santos & Guimarães, 2008; Viana, Candeias, Rego & Silva, 2009).

A alimentação da criança durante o primeiro ano de vida é determinada completamente pela díade mãe e criança, sendo a própria alimentação um dos principais focos interrelacionais entre ambas. O constructo alimentar é um processo fundamental no contexto ambiental implicando-se na perceção da própria saúde da criança e de outros elementos da família, na relação mãe e criança e na relação entre a linha conjugal e familiar, entre outros, sendo que a forma como a mãe se vê como sendo eficaz ou não relativamente à alimentação da criança, conceito que faz igualmente parte da sua autoestima, influencia a forma como este processo alimentar se dá, atentando-se que, por vezes, as mães se concentram nas suas próprias necessidades, descurando as verdadeiras necessidades do filho (Viana, Guerra, Coelho, Almeida, Guardiano, Vaz & Guimarães, 2009).

De sublinhar que, apesar de se encontrar na maior parte da literatura a referência do papel da mãe como principal cuidadora e responsável pelas escolhas alimentares dos bebés, este papel também poderá ser desempenhado por outros familiares próximos, em decisão conjunta com o pai ou outros, sendo uma função dos cuidadores e um conceito influenciado pelas escolhas e crenças destes.

A existência de um momento na vida de cada indivíduo em que se dá a alteração e a aprendizagem a nível alimentar é um dos marcos mais importantes na vida de cada um. Este marco ocorre no período de desenvolvimento da criança em que se passa de uma alimentação exclusiva com leite infantil para uma dieta omnívora, ainda referente à infância inicial. As predisposições genéticas são um dos grandes influenciadores desta aprendizagem inicial referente aos alimentos e às decisões alimentares, incluindo-se nesta fase, a recusa na experimentação de novos alimentos, a necessidade de provar assente na proposição da criação de novas associações, associações estas relativas aos sabores ingeridos e aos próprios processos após a ingestão e a preferência inata para os sabores mais doces ou salgados e a rejeição de sabores mais amargos e/ou azedos (Birch & Fisher,1998).

Segundo Viana, Santos e Guimarães (2008), a alimentação no período da infância advém das predileções da própria criança, sendo que nesta fase as preferências dirigem-se, principalmente, ao consumo de lípidos e de doces, fato que é apoiado pela propensão dos bebés pequenos ao paladar de doce e salgado. Considerando-se que esta apetência seja uma caraterística já presente no indivíduo desde o momento do nascimento, é possível que o contacto com estes géneros de alimentos seja o condicionante para que estas preferências ocorram, isto é, mesmo podendo ser algo já presente na criança, a apetência poderá sofrer uma diminuição caso este se encontre afastado do consumo de alimentos doces e/ou salgados, mas caso se verifique o contrário, esta experiência poderá ser a causa de dietas futuras ricas neste tipo de alimentos, visto que seja possível esta preferência continuar e aumentar nos anos seguintes devido à proximidade com estes produtos.

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