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3. Material e métodos

3.9. Alimentação dos ninhegos

A dieta dos ninhegos de F. ery(hronotos foi estudada a partir da análise de amostras de restos alimentares e do monitoramento dos ninhos. Os itens das refeições dos filhotes normalmente não puderam ser identificados com precisão durante o acompanhamento dos ninhos. Lagartas e ortópteros foram exceções, e, portanto, foram os únicos itens que puderam ser tratados quantitativamente.

3. 9 . 1 . Coleta e preservação das amostras

O estudo da dieta dos ninhegos de F. erythronotos foi realizado a partir da análise de 26 amostras de fezes e uma amostra de vômito espontâneo, pertencentes a 1 1 ninhos distintos. As 20 amostras do vale do Mambucaba são provenientes da Fazenda Fortaleza - Mambucaba ( 1 8) e sítio do "Seu Zé" - Chapéu-do-sol (2). O material restante foi coletado na Fazenda Ariró. As amostras foram coligidas durante a manipulação dos filhotes ou monitoramento dos ninhos. No último caso, os sacos fecais eram coletados nas proximidades do ninho logo após a sua liberação pelos adultos. Todo o material foi armazenado em pequenos vidros com álcool 70% devidamente etiquetados.

3.9.2. Identificação dos fragmentos

Os fragmentos alimentares foram identificados em nível de ordem (muito raramente em categorias superiores ou inferiores), com o auxílio de um microscópio estereoscópio. As ordens Ensifera e Caelifera são sempre consideradas em conjunto (Ensifera/Caelifera) pela dificuldade em individualizá-las. Por vezes, essas ordens e as ordens Blattodea, Mantodea e Phasmatodea são tratadas como um único grupo - Orthoptera. As formigas foram separadas dos outros himenópteros. Uma coleção de referência de artrópodes da região, coletados para o estudo de disponibilidade de alimento (v. item abaixo), foi a principal fonte de consulta na identificação dos fragmentos. Algumas estruturas internas de insetos, principalmente mandíbulas, foram sistematicamente dissecadas para comparações. O auxílio de membros do Laboratório de Entomologia da UFRJ e a consulta a livros entomológicos, como Ross ( 1 965) e Borror & Delong ( 1 969), e publicações sobre dieta de aves com fotos

de fragmentos de artrópodes, como Ralph et ai. ( 1985) e Moreby (1988), também foram de grande valia na identificação do material. O número mínimo de determinado item alimentar em uma amostra foi estimado pela contagem de estruturas individuais únicas (exemplo: cabeças, pedicelos cie himenópteros, etc.) e/ou cujo número é previamente conhecido (exemplo: duas mandíbulas, duas quelíceras, dois élitros, etc.).

3.9.3. Descrição da dieta

A maioria dos pesquisadores reconhece a necessidade de apresentar os dados de dieta em mais de uma forma a fim de minimizar interpretações tendenciosas (Rosenberg & Cooper 1990). No presente estudo, a dieta dos ninhegos é apresentada como ocorrência (valor percentual do número de amostras em que determinado item alimentar foi encontrado dividido pelo número total de amostras estudadas) e freqüência (valor percentual do número total de determinado item alimentar dividido pelo número total de itens alimentares de todas as amostras estudadas). Os ovos de insetos não foram incluídos no cálculo da freqüência porque a sua ingestão indireta a partir do consumo de íemeas adultas ovadas parece ser razoavelmente comum (J. L. Nessimian com. pess.), o que impossibilita a distinção entre o consumo voluntário e o acidental. Dessa forma, evitou-se também que as freqüências de outros itens fossem alteradas indevidamente. No cálculo da ocorrência foram consideradas apenas amostras equivalentes (no caso amostras de fezes, por serem o maior número), enquanto no cálculo da freqüência as amostras de fezes e vômito foram tratadas indistintamente.

3. 9. 4. '°Preferência" alimentar

Nenhum método de coleta de artrópodes irá representar de maneira fidedigna a disponibilidade de alimento no ambiente para uma determinada espécie. O tamanho, estágio de vida, palatabilidade, coloração, padrões de atividade e outras características dos artrópodes influenciam o grau com que eles são localizados, capturados e comidos pela ave (Cooper & Whitmore 1990). Entretanto, por uma questão de comodidade, serão empregados os termos "preferência" e "abstenção" para designar a relação entre os artrópodes disponíveis no ambiente e a proporção na dieta do adulto. Da mesma forma,

esses termos serão estendidos aos ninhegos, cuja dieta, na verdade, é selecionada pelo adulto.

O grau de "preferência" alimentar de filhotes de F. erythronotos foi avaliado pelo índice de Jacobs ( 197 4 ), que é calculado da seguinte maneira: IP = ( r - p) / ( r + p - 2rp ),

onde "r" é proporção do item na dieta e "p" é a proporção do item disponivel no ambiente. No caso, usaram-se os dados da dieta dos nínhegos na estação reprodutiva de 1998, na Fazenda Fortaleza, e as freqüências dos artrópodes nos mesmos período e localidade, obtidas a partir do estudo de disponibilidade de alimento.

Utilizaram-se as categorias estabelecidas por Morrison ( 1982) para esse índice, que varia de - 1 a + 1 , da seguinte forma: IP de zero a +/- O, 15 = sem "preferência", +/- O, 1 6 a 0,40 = leve "preferência"/"abstenção", +/- 0,4 1 a 0,80 = moderada "preferência"/ "abstenção", +/- 0,8 1 a 1 ,00 = forte "preferência"/"abstenção".

3.9.5. Comparação com a dieta de jovens e adultos

Os restos alimentares de jovens e adultos estudados se constituíram de 32 amostras de fezes ( 1 3 de machos adultos, 10 de remeas adultas, 5 de adultos com sexo indefinido e 4 de jovens) e 2 amostras de conteúdo estomacal e intestínal de machos adultos, todas elas pertencentes a indivíduos diferentes. As amostras de jovens são de indivíduos com moderada a alta dependência dos pais para se alimentar. O material foi coletado durante a manipulação dos indivíduos e acompanhamento das atividades de forrageio. Esse último permitiu ainda a identificação in loco, ou posteriormente no laboratório, após a coleta do material, de itens alimentares não registrados na análise das amostras acima. O armazenamento do material, identificação de fragmentos e descrição das dietas seguem os procedimentos previamente mencionados para os ninhegos. Os itens da dieta de adultos também foram avaliados quanto à "preferência" alimentar no período de fevereiro a maio de

1999, seguindo os métodos previamente citados.

Uma vez que um número pequeno de amostras foi coletado no mesmo período e localidade para as diferentes classes etárias, optou-se por não fazer comparações quantitativas entre as suas dietas. Entretanto, as dietas de ninhegos e adultos puderam ser comparadas quanto a suas "preferências" alimentares.

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