Muda

De maneira geral, a seqüência de substituição das penas de vôo em adultos de F. erythronotos seguiu o padrão básico observado em outros passeriformes (Mallet-Rodrigues et ai. 1995, Mallet-Rodrigues 1998). As primárias mudaram no sentido proximal (PI) -

distal (PI O) de forma fortemente regular e simétrica, tendo sido, pelo menos em alguns casos, as primeiras penas de vôo a começarem a muda. A substituição das secundárias apresentou-se menos regular e simétrica que as primárias, ora com início na pena mais externa (S 1 ), ora na mais interna (S8), porém sempre de forma centrípeta (indo das extremidades para o centro). Salvo raras exceções, a cauda não apresentou regularidade e simetria na substituição de suas penas.

A muda estaciona! das penas de vôo em adultos de F. erythronotos ocorreu basicamente entre janeiro e maio, podendo ou não ter incluído o mês de junho (Tabela II, Figura 9). O pico desse processo foi em março-abril. A progressão individual da muda (medida pelo índice de muda) mostra um quadro similar, com os indivíduos iniciando a muda em janeiro/fevereiro e concluindo-a em abril/maio. Constam registros de indivíduos com muda exclusiva de cauda em novembro e dezembro. A facilidade de perda acidental dessas penas (fato facilmente constatado durante o manuseio dos indivíduos) sugere que, pelo menos em alguns casos, esses registros tratavam-se unicamente de muda de reposição.

TABELA II. Número de adultos em muda e índice de muda em Formicívora erythronotos de

acordo com o mês, em Angra dos Reis e Paraty (RJ), no período de 1 996 a 1999. O índice de muda individual foi calculado de acordo com o sistema de escores utilizado por Miller

( 1 961 ), baseado na substituição das primárias.

Total

1 996ª 1 997 1 998 1 999 _Muda

n Mudab _{n Muda}b _{n Muda}b _{n Muda}b _{n (%)}

Janeiro 6 3(1) 6 67 Fevereiro 6 4 6 67 Março 1 1 1 1 00 Abril 3 3 4 3 7 86 Maio 8 1 (2) 8 1 3 Junho

o

Julho 1

o

1

o

Agosto 7

o

6

o

_{1 3}

o

Setembro 4

o

1

o

5

o

Outubro 2

o

2

o

4

o

Novembro 9 0(2) 9 22 Dezembro 4

o

5 O (2) 9 22

n = número de indivíduos inspecionados.

ª - Indivíduos inspecionados por Luiz P. Gonzaga e Francisco Mallet-Rodrigues;

b -Nº de indivíduos em muda nas rêmiges (nº de indivíduos em muda exclusiva de cauda);

º - Não foram considerados os indivíduos com muda exclusiva de retrizes.

100 10 t:=] Muda - Reprodução 8 "O o .N 111 ₆ Q. "O 60 _� E 1/1 E "ni CD _r3 1/1 _{40 4} .s CD s "O � o 20 2 ,::, o o

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Meses Índice médioc 0,29 0,24 0,83 0,92 1 ,00

FIGURA 9. Períodos reprodutivo e de muda em Formicívora erythronotos, em Angra dos

Reis e Paraty (RJ). Um total de 69 adultos foram inspecionados quanto à muda entre 1996 e 1999, nenhum deles no mês de junho. Indivíduos com muda exclusiva na cauda foram excluídos da análise. O número de casais reproduzindo é referente aos anos de 1998 e 1999.

Foi registrada uma ligeira sobreposição ao nível populacional, basicamente o mês de janeiro, entre atividades reprodutivas e muda estacionai (Figura 9). Não existem, entretanto, registros precisos de sobreposições dessa natureza ao nível individual. Os indivíduos parecem ter iniciado a substituição das penas somente depois que os filhotes haviam deixado o ninho (Tabela III). De onze adultos capturados com placa de incubação ativa, dez não apresentavam qualquer registro de muda e um estava com as duas retrizes centrais no final de crescimento. Nesse último, bem como em dois outros indivíduos (não capturados e, portanto, não inspecionados na pterila alar) que tinham suas caudas em muda enquanto cuidavam de seus ovos e ninhegos, não foi possível verificar se a substituição das penas era resultado de muda estaciona} ou de reposição de penas perdidas. Um desses indivíduos não­ capturados podia tratar-se de um macho jovem, uma vez que ele era recém-pareado.

O registro de muda estacional durante a fase de cuidado dos jovens foi bastante variável (Tabela III). No início de fevereiro, duas fêmeas iniciaram a substituição de suas penas de vôo 1 O e 28 dias após os filhotes terem deixado o ninho, período em que os jovens ainda são bastante dependentes dos adultos. Uma outra fêmea, com placa de incubação em regressão, apresentava metade de suas rêmiges já substituídas no final de fevereiro. O macho jovem que a acompanhava provavelmente era seu filhote e aparentemente ainda dependia dos cuidados da mãe. Por outro lado, não se registrou substituição de penas em quatro indivíduos com placas em regressão. Três deles estavam cuidando de jovens de 16, 22 e 23 dias de vida, nos meses de dezembro e janeiro. Um macho com placa de choco completamente regredida também não exibia troca de plumagem enquanto cuidava do filhote com cerca de 55 dias de vida, no final de janeiro.

TABELA

m.

Registros de sobreposição de muda e atividades de nidificação/cuidados com

jovens em Formicívora erythronotos, em Angra dos Reis e Paraty (RJ), no período de 1998 a 1999.

Data Sexo Placa Estágio reprodutivo M uda

Final de set/98 M Ativa Incubação Cauda*

2 1 /01/98 M Inativa Jovem bastante ativo Muda da cauda no meio

21 /01/98 F Inativa Jovem bastante ativo Muda de primárias e cauda no início

Início de jan/99 M Ativa Ninhego Cauda*

09/02/99 F Regredindo Jovem c/ 38 dias de vida Muda de primárias e cauda no início

1 8/02/99 F Ativa Jovem c/ 20 dias de vida Muda de primárias no inicio

22/02/99 F Regredindo Jovem bastante ativo Muda geral no meio

20/12/99 M Ativa Jovem c/23 dias de vida Muda inicial na cauda

27 /1 2/99 M Ativa Ninhego Muda final das duas retrizes centrais

Registros de muda estacionai de machos e fêmeas no início Gan/fev) e no final (abr/mai) do periodo de muda da espécie parecem indicar que não há diferença na época desse processo de acordo com o sexo. Infelizmente, não há número amostral suficiente para que isso seja testado.

No documento Biologia reprodutiva de Formicivora erythronotos (Aves: Thamnophilidae) (páginas 57-60)