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O ALINHAMENTO DOS PLANOS DE EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DO SNE EM BUSCA DA MELHORIA DA QUALIDADE DO ENSINO

2 OS PLANOS DE EDUCAÇÃO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DO ENSINO

2.1 O ALINHAMENTO DOS PLANOS DE EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DO SNE EM BUSCA DA MELHORIA DA QUALIDADE DO ENSINO

Os planos de educação podem ser considerados elementos centrais para que tenhamos uma democracia consolidada, uma verdadeira inclusão social e a garantia de que todas as pessoas terão direito a uma educação de qualidade.

Se as metas estiverem alinhadas, podemos dizer que os planos estarão cumprindo o papel de articuladores para a construção do SNE, e serão considerados instrumentos de grande valia na efetivação do direito à educação de qualidade.

Conforme apontam Grinkraut, Carreira e Cintra (2015, p. 2), um dos primeiros desafios dos planos é

[...] atuarem contra a descontinuidade das políticas, uma vez que têm a possibilidade de abranger o conjunto do território, promovendo um diálogo entre as diferentes redes atuantes, sejam elas municipais, estaduais, federais ou privadas.

Ainda para as autoras, ao se construírem os planos educacionais, é necessário que sejam implementados processos participativos, no momento de elaboração dessas políticas. Ou seja, deve-se considerar, juntamente com os gestores e especialistas envolvidos, a participação de toda a comunidade escolar, como pais ou responsáveis, estudantes, coordenadores e outros atores sociais. “[...] Essa é uma maneira de trazer legitimidade ao plano, de fazer com que ele reflita as

demandas locais e, assim, ganhe o reconhecimento da comunidade educacional” (GRINKRAUT, 2015, s.p.)18.

Se a garantia da qualidade do ensino implica em uma articulação entre os entes federativos na busca de um regime de colaboração entre os sistemas e as escolas, torna-se necessário rever os processos de organização desses sistemas e da gestão do trabalho escolar, além das condições de trabalho, questões de valorização, e um projeto de formação para os profissionais. É importante, também, definir e implementar dinâmicas curriculares que favoreçam aprendizagens significativas.

Nos documentos de orientação para a construção dos planos, a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE) afirma que:

[...] Os planos municipais de educação devem ser coerentes com o PNE, e também devem estar alinhados ao PEE do estado a que pertencem. Para o cidadão, o PNE e os planos de educação do estado e do município onde ele mora devem formar um conjunto coerente, integrado e articulado para que seus direitos sejam garantidos e o Brasil tenha educação com qualidade e para todos (BRASIL, 2014d, p. 7).

Podemos dizer, então, que os municípios, ao elaborarem seus planos, precisam ter conhecimento das proposições contidas nos planos nacional e estadual de educação.

Bordignon (2009, p.98) afirma que “[...] os objetivos municipais se situam no contexto da nacionalidade e realizam, no âmbito do poder local, as aspirações dos cidadãos”. O autor afirma, ainda, que:

[...] para desempenhar as responsabilidades próprias para o alcance dos objetivos e metas do plano, o município precisa estar articulado às ações estaduais e nacionais. Nem todas as aspirações educacionais dos munícipios estão na esfera das atribuições do município. O plano deve apontar essas aspirações, trazidas em objetivos e metas, e articular-se com as instâncias próprias (Estado e União) para alcançá-las. Essa articulação é dada pelo regime de colaboração entre os entes federados (BORDIGNON, 2009, p. 98).

No município de Itamarati, para que se tivesse um PME articulado com o PNE, foram realizadas algumas ações, tais como: (i) a elaboração de um PME

18 Palestra por Ananda Grinkraut, realizada em um evento do Movimento Todos pela Educação, em 28 de abril de 2015.

construído através de um trabalho ágil e organizado; (ii) o alinhamento entre os planos nacional, estadual e municipal; (iii) o estabelecimento de que o plano deve ser do município, e não da rede ou do sistema (ITAMARATI, 2015). A necessidade de envolvimento dos variados setores e um diagnóstico atualizado também são considerados de muita importância na elaboração dos planos, sem esquecer a articulação que se faz necessária com os demais instrumentos de planejamento.

Considerando que os planos municipais de educação podem ser limitados ou potencializados pelos planos estaduais, o PNE recomendou que todos os segmentos da sociedade e das três esferas de governo se envolvessem em sua construção, da mesma forma que se envolveram na construção do PNE e do PEE, em seu respectivo estado ou município (BRASIL, 2014d).

Sendo assim, é necessário haver no PEE uma pactuação entre o governo estadual e os governos municipais, uma vez que as metas estaduais só serão alcançadas se estiverem em consonância com as metas municipais. Por sua vez, as metas estaduais estarão suficientemente contribuindo para o alcance das metas nacionais. Por esse motivo, é necessário o encadeamento das metas, entre o PNE, o PEE e PME. Os planos de educação são planejamentos que cada estado e município precisam elaborar, com a participação do governo e da sociedade civil. Nesse sentido, apresentam seus objetivos, suas metas e ações propostas a serem implementadas, a curto, médio e longo prazo, para a educação no estado e no município, em um período de dez anos, a contar da data de sua aprovação, objetivando a melhoria da qualidade da educação para todos os cidadãos. Trata-se de um processo participativo, em que todos vão definir as políticas públicas para a educação, com o propósito de reduzir as desigualdades sociais e regionais, e eliminar a descontinuidade do trabalho na educação.

Para se pensar na qualidade na educação, é preciso também pensar em meios a serem utilizados para referenciar a eficiência, a eficácia, a efetividade e a relevância do setor educacional, uma vez que a educação é considerada uma prática social que está presente nos mais variados espaços e na produção da vida social de qualquer indivíduo.

Neste contexto, a educação escolar, como objeto de políticas públicas, cumpre um papel de destaque nos processos de formação, em todos os níveis e modalidades de ensino, buscando a melhoria da qualidade da aprendizagem, que tem sido avaliada por meio do Ideb. Para isso, as metas para cada rede e escola

são traçadas, como um caminho para se chegar ao objetivo planejado, por meio de estratégias planejadas.

Nesta discussão sobre qualidade na educação e avaliações em larga escala, Cury (2014) destaca que:

[...] A qualidade em educação sempre foi uma dimensão esperada da parte de todos os envolvidos em sistemas educacionais. Entretanto, nos anos noventa, a chamada “cultura de avaliação” impôs avaliações de larga escala com testes padronizados a fim de medir o desempenho dos estudantes. No Brasil, país de democratização educacional tardia, o acesso e a permanência ao ensino obrigatório foram vistos como básicos para a qualidade do desempenho. Ora, a qualidade depende de insumos pedagógicos, da formação inicial e continuada dos docentes, de planos de carreira e de salários atrativos. Tais exigências, dentro de um país federativo, estão contempladas no novo plano nacional de educação em que se avançou no encaminhamento no regime de colaboração (p. 1053).

Para a melhoria da qualidade na educação, é importante a mobilização e o envolvimento de todos os atores escolares na política pública, prioritariamente a equipe pedagógica, os professores e os estudantes, o que caracteriza o comprometimento e a integração para a sua realização. Para isso, faz-se necessária uma discussão sobre como melhorar os índices educacionais do município, que pode envolver temas que vão desde a formação dos profissionais da educação, até a gestão democrática, a valorização, os recursos pedagógicos, a infraestrutura das escolas, etc. Partindo da ideia de melhoria na qualidade da educação, realizaremos uma análise da Meta 7 do PME, do município pesquisado, e suas estratégias, especialmente daquelas que chegam de fato à escola.

Um currículo muito diferenciado, no qual os sistemas não dialogam, é considerado um complicador para os resultados da Prova Brasil, cujas médias de proficiência são utilizadas para medir o Ideb. Considerando que é preciso pensar em um currículo único, segundo Alarcão (2001, p. 121), são importantes a “[...] organização da turma, dos tempos e dos espaços da escola”. Para a autora, “todas as oscilações pendulares do currículo decorrem “intramuros” de uma mesma estrutura curricular concebida de forma idêntica na orgânica da escola [...]”.

Para Alarcão (2001), esse seria um critério que contemplaria as políticas públicas desenhadas nas últimas décadas. Ainda sobre o currículo, é necessário perceber as vantagens que nasceram do estabelecimento de um currículo oficial.

Dessa forma, a autora diz que, “[...] possivelmente, o argumento mais forte de que dispomos a favor dos currículos oficiais é que, quando falamos de educação de qualidade para todos, estamos falando de aprendizagem para todos” (ALARCÃO, 2001, p. 27).

Partindo do princípio de que o Brasil ainda não dispõe de um SNE e, conforme o artigo 214 da CF de 2008, que foi alterado pela EC 059/2009, os planos deverão ser articuladores para construção desse Sistema (BRASIL, 2009). Nesse sentido, faz-se necessária uma unidade entre os planos de educação, nacional, estaduais e municipais, o que poderá acontecer com o alinhamento entre eles.

Assim, além das questões do currículo diferenciado e da falta de diálogo entre os sistemas, também podemos dizer que a gestão escolar constitui uma dimensão e um enfoque de atuação na educação que envolve toda a organização pedagógica e administrativa da escola. Dessa forma, pode ser estruturada uma gestão democrática, participativa e atuante, que venha a se mostrar preocupada com o desenrolar do processo educacional, visando a um resultado de aprendizagem mais satisfatório. Esse processo pode estar atrelado a um quadro de profissionais, com formação adequada, sendo esse reconhecidamente um dos fatores que determinam o baixo índice no Ideb.

A performance inadequada dos profissionais, que atuam em áreas sem a devida formação, repercute em critérios de desvalorização dos profissionais da educação, como um dos pilares que influencia na qualidade do processo de ensino- aprendizagem. Outros fatores que contribuem para a desvalorização são: o piso salarial, carga horária de trabalho exagerada e prestação de serviços, por parte do professor, em vários estabelecimentos de ensino.

O Artigo 23 da Constituição Federal de 1988, por meio de Lei Complementar, estabeleceu as competências comuns à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, estando, entre elas, a tarefa de proporcionar os meios de acesso à educação (BRASIL, 2014a).

Vale ressaltar que, para a CONAE 2010, a pactuação entre os entes federativos, a ser expressa e concretizada em Lei Complementar, que regulamenta tal artigo, não significava que tínhamos um sistema. Foram apresentados, portanto, através de seu documento referência, cinco grandes desafios para o Estado e para a sociedade brasileira, entre eles, a saber: “[...] promover a construção de um Sistema Nacional de Educação, responsável pela institucionalização de orientação política

comum e de trabalho permanente do Estado e da sociedade na garantia do direito à educação” (BRASIL, 2010c, p.6).

Por isso, o documento referência lembrava:

[...] O Brasil ainda não efetivou o seu Sistema Nacional de Educação, o que tem contribuído para as altas taxas de analfabetismo e para a frágil escolarização formal de sua população [...]. Vários foram os obstáculos que impediram [...] sobretudo aqueles que, reiteradamente, negaram um mesmo sistema público de educação de qualidade para todos os cidadãos, ao contrário do que aconteceu nos países que viabilizaram um sistema nacional próprio (BRASIL, 2010c, p. 10-11).

Para Abicalil (2014, p. 64), a CONAE 2010 foi considerada um espaço privilegiado para que se pudesse avaliar e articular as definições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, do PNE e do próprio PDE, propondo alterações e mudanças nesses instrumentos de políticas públicas. Entre as mudanças necessárias, está a realização plena de um regime de cooperação entre as diversas instâncias da gestão educacional. A regulação da cooperação federativa e das formas de colaboração específicas, entre os entes federados, seus respectivos sistemas autônomos e a organização de um Sistema Nacional de Educação, tornam-se indispensáveis.

A construção do Sistema Nacional de Educação será resultado de um acordo, baseado nos princípios constitucionais, entre os entes federativos. Além disso, a pactuação deve acontecer, inicialmente, por meio de linhas estratégicas que unam os atores envolvidos. Nesse sentido, o regime de colaboração é fundamental para a base do sistema a ser organizado. São necessários princípios que dirijam não apenas os processos de responsabilização – entendida como “quem faz o quê”, mas principalmente quem deve fazer, com quem e em que condições, com quais mediações de complementariedades, com quais regramentos e com quais definições de responsáveis pelas deliberações (ABICALIL, 2014).

O PNE é um instrumento que, por meio das vinte metas propostas, busca elevar, para um nível satisfatório, a educação em todo país, além de traçar as diretrizes, as metas e as estratégias para a educação nacional até 2024, bem como determinar o alinhamento entre os planos nacional, estadual, distrital e municipal, construídos numa perspectiva de diálogo entre todos os envolvidos.

Neste contexto, considera-se importante a relação entre os planos de educação, o Sistema Nacional de Educação e o Regime de Colaboração. O SNE será concretizado, por intermédio deste pacto federativo, com leis complementares que regulamentarão o Art. 23 da Constituição Federal19.

A Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014, que aprova o PNE, traz em seu Art. 11 que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, coordenado pela União, em colaboração com os estados, o Distrito federal e os municípios, constituirá fonte de informação para a avaliação da qualidade da educação básica e para a orientação das políticas públicas desse nível de ensino (BRASIL, 2014a).

Como mencionamos anteriormente, o alinhamento entre os planos tem um importante papel na construção do SNE, e deve ser coerente com a possibilidade e a realidade de cada estado ou município. É preciso que o regime de colaboração aconteça de forma articulada, pois os planos não podem ser isolados, uma vez que a melhoria da educação no município contribuirá para a melhoria da educação no estado e, consequentemente, no país.

É preciso que as ações traçadas para a melhoria da qualidade da educação sejam sustentadas por um SNE, tornando, assim, as ações mais efetivas. Esse Sistema necessita de uma interação, entre os diversos sistemas brasileiros, e colaboração entre os mantenedores da educação pública. Ademais, a ausência dele dificulta a elaboração de parâmetros para que todos estejam juntos, buscando os mesmos objetivos.

2.2 CONTEXTO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A