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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4. O envelhecimento, a demência e as alterações do equilíbrio

2.4.1. Alterações do sistema sensorial

As informações sensoriais provenientes do sistema visual, vestibular e somatossensorial são essenciais para o controlo postural. Estes sistemas são fundamentais para monitorizar a relação entre a posição e o movimento do corpo no espaço e para controlar as forças que atuam no corpo e que podem causar perturbações (Kleiner et al., 2011; Lord & Sturnieks, 2005). Cada um destes sistemas contribui de uma forma única, através de recetores específicos (Kleiner et al., 2011).

As informações procedentes da visão são utilizadas pelo SNC para criar um mapa espacial do ambiente. A informação do movimento do corpo em relação ao meio que o rodeia é dado pelo movimento do campo visual que, por sua vez, ajuda a manter o controlo postural na posição de pé. Em pé, o corpo desliza ao longo da base de suporte e, como consequência, o campo visual adapta-se (Sturnieks et al., 2008).

A partir dos 50 anos de idade, a função visual deteriora-se progressivamente (Gittings & Fozard, 1986) devido às alterações fisiológicas associadas ao declínio de vários processos visuais, tais como: a acuidade visual (Jack et al., 1995), a sensibilidade de contraste (Lord et al., 1992), a adaptação à escuridão, a acomodação e a perceção da profundidade (Nevitt et al., 1989). Com o envelhecimento, a adaptação à escuridão após uma exposição à claridade aumenta em cerca de 8 segundos por cada década, devido à lentificação do reflexo pupilar (Owsley et al., 2001). Verifica-se, igualmente, uma diminuição do campo visual central e uma distorção das formas e das cores. Do ponto de vista funcional, este conjunto de alterações aumentam o risco do idoso cair na presença de degraus, ora por não os verem ora por pensarem que os degraus são mais altos ou mais baixos. O bordo de uma cadeira ou o bordo de uma cama podem não ser vistas por um idoso, caso não sejam utilizadas cores contrastantes (Carter et al., 1997). Estas alterações na informação visual, que ocorrem com o envelhecimento, tornam o controlo do equilíbrio e a capacidade de contornar obstáculos mais ineficazes, devido

sobretudo ao incorreto julgamento das distâncias e à má interpretação da informação espacial (Lord, 2006).

Os idosos são, de igual modo, suscetíveis de desenvolverem défices visuais devido a patologias comuns como as cataratas, a degeneração da mácula e/ou devido a glaucoma (Kahn et al., 1977).

O sistema vestibular é o sistema responsável pela deteção da informação acerca da posição e do movimento da cabeça e contribui para a manutenção do equilíbrio corporal. É constituído pelo utrículo, o sáculo e os três canais semicirculares. Os três canais semicirculares traduzem a informação acerca da aceleração angular e da inclinação da cabeça em relação à gravidade e enviam essa informação ao sistema otolítico através dos órgãos utrículo e do sáculo. Uma função vestibular íntegra é fundamental para que a cabeça se mantenha estável durante os movimentos e para a integração da informação visual e propriocetiva aquando da interação com o meio que nos rodeia (Di Fabio & Emasithi, 1997). O controlo do equilíbrio corporal é conseguido através de movimentos corretivos induzidos pelas vias vestíbulo- ocular e vestíbulo-espinal (Sturnieks et al., 2008). O reflexo vestíbulo-ocular ajuda a manter a fixação visual durante o movimento da cabeça. O reflexo vestíbulo- espinal estabiliza a cabeça e ajuda a manter a posição vertical através da ativação dos músculos do pescoço, do tronco e das extremidades (Lord & Sturnieks, 2005).

As evidências sugerem que com o envelhecimento ocorre uma diminuição da função vestibular (Fife & Baloh, 1993), devido em grande parte ao desgaste das células sensoriais e neurais dos labirintos periféricos (Herdman et al., 2000). Por volta dos 70 anos de idade, observa-se uma redução em 40% no número de folículos vestibulares e células nervosas (Rosenhall & Rubin, 1975). Um estudo longitudinal com idosos demonstrou um encurtamento significativo do tempo de ativação do reflexo vestíbulo-ocular e um aumento do tempo de resposta sinusoidal (Richter, 1980). O envelhecimento dos componentes do sistema vestibular e a consequente

redução na informação sensorial vestibular faz com que os idosos confiem mais na informação visual e menos na informação propriocetiva, enquanto se movem e interagem com o meio.

O declínio estrutural e funcional do sistema somatossensorial ocorre com o avançar da idade e, grande parte destas alterações estão associadas à instabilidade postural. A informação sensorial proveniente dos recetores localizados nos músculos, nos tendões e nas articulações enviam um feedback em relação à sensação de posição articular e movimento do corpo. Durante a marcha, os mecanorecetores articulares e musculares enviam informação que ajuda a coordenar o movimento de cada passo e a correta colocação do pé no solo. O fuso neuromuscular é responsável pela informação acerca do comprimento muscular e da velocidade de contração e, por isso, contribui para a sensação de posição articular. Enquanto que os órgãos tendinoso de Golgi são sensíveis às alterações da tensão muscular resultante das contrações musculares ativas ou dos alongamentos passivos, os mecanorecetores articulares são sensíveis a distorções da cápsula articular e ligamentos (Sturnieks et al., 2008).

A informação propriocetiva proveniente dos membros inferiores e tronco é o principal responsável pela manutenção do controlo postural (Fitzpatrick & McCloskey, 1994). As alterações morfológicas resultantes do envelhecimento, como por exemplo, o aumento da espessura capsular e a diminuição do número de fibras intrafusais contribuem para a diminuição da sensibilidade dos fusos neuromusculares (Swash & Fox, 1972). Verificam-se, igualmente alterações na perceção da vibração, do toque e da sensação de posição articular (Perry, 2006; Verrillo et al., 2002). A sensibilidade tátil proveniente do toque do pé no solo durante as atividades em que o corpo está sujeito a cargas está igualmente diminuída o que, por sua vez, está correlacionada com uma diminuição do equilíbrio e da funcionalidade dos idosos (Menz et al., 2005).

Com o envelhecimento, a capacidade de utilizar a informação propriocetiva para a manutenção do equilíbrio está, assim, diminuída

(Kristinsdottir et al., 2001). Enquanto que, os jovens adultos saudáveis são capazes de rapidamente restabelecer o equilíbrio utilizando a informação sensorial disponível (Hay et al., 1996; Quoniam et al., 1995; Teasdale & Simoneau, 2001), os idosos interpretam e reintegraram as informações propriocetivas com menor rapidez e menor precisão e, por isso, poderão experienciar instabilidade postural (Camicioli et al., 1997; Teasdale & Simoneau, 2001). Uma vez que, as informações sensoriais relacionadas com o ambiente estão sempre em constante mudança (Peterka, 2002), a capacidade de ajustar instantaneamente a uma mudança na informação sensorial é fundamental para diminuir o risco de queda entre a população idosa (Peterka & Loughlin, 2004).