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Em um cenário de proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento, surgem como alternativas o uso de aditivos que permitam manipular a flora intestinal das aves, em especial trazendo equilíbrio a este complexo ecossistema. Práticas de manejo, de medidas higiênico-sanitárias, instalações mais apropriadas, densidades menores de criações, seleção de ingredientes com melhor qualidade, manipulação precisa dos níveis nutricionais das dietas, inclusão nos programas de melhoramentos genéticos de características ligadas à resistência a doenças, etc. devem ser consideradas com seriedade como alternativas para reduzir a queda de produtividade com a retirada dos antibióticos promotores de crescimento.

Segundo MARTINS (2015), “aprender a manipular a microbiota intestinal, e mesmo recupera-la, após episódios de desequilíbrio (disbiose), frequentemente nos sistemas de criação atuais, reveste-se de importância fundamental se desejamos melhorar o desempenho e qualidade sanitária das aves.”

GENÉTICA

A seleção para redução dos níveis de mortalidade (ou morbidade) é um processo difícil e não gratificante para o produtor comercial (ALBERS, 1994). Os programas de reprodução com muita ênfase neste aspecto irão produzir rapidamente poedeiras ou frangos de corte que estarão bem atrasados em características primárias de produção, tais como número de ovos ou taxa de conversão alimentar. A ênfase na seleção para viabilidade, entretanto, geralmente é mais forte do que a justificada em termos puramente econômicos (ALBERS, 1994).

Uma vez que tenha sido decidido quanto se quer aplicar de seleção para a viabilidade ou resistência às doenças, então a questão passa a ser como atingir esse objetivo. O progresso será máximo quando a herdabilidade da característica de seleção é máxima, e quando é alta a correlação entre característica de seleção e o seu objetivo final (mortalidade e morbidade baixas). A herdabilidade da mortalidade de frangos é menor do que 0.10, a resistência às doenças específicas geralmente é mais herdável (0.5), os mecanismos imunológicos, tais como produção de anticorpos podem mostrar herdabilidades em torno de 0.3 a 0.4, mas refletem apenas uma parte do total de mecanismos de resistência. Mais extremo é o caso de um gene de resistência única o qual, uma vez identificado, pode ser

selecionado para uma herdabilidade próxima a 1, mas o efeito deste gene na viabilidade total é muito limitado (ALBERS, 1994).

Nas doenças infecciosas, a quantidade da exposição ao patógeno pode ser muito variável. A resistência dos animais expostos é determinada em grande parte pela sua situação imune, que é o resultado de exposição prévia a uma infecção natural ou vacinação, ou, em pintos jovens, passados pela mãe através dos anticorpos da gema do ovo. Por esta razão, o nível de resistência genética às doenças infecciosas, na prática, é de menor importância. As herdabilidades geralmente são baixas e a seleção genética de qualquer modo seria frequentemente improdutiva, porque o patógeno, sendo uma grande população com um intervalo de geração muito curto, é capaz de se adaptar muito mais rapidamente do que seria possível alterar a composição genética das aves. Até mesmo produtores de vacinas têm dificuldades de se manter atualizados com o desenvolvimento de novas vacinas de alguns patógenos (ALBERS, 1994).

BIOTECNOLOGIA

A maximização da performance animal poderia ser viabilizada com o uso da biotecnologia. As duas últimas décadas apresentaram desenvolvimentos revolucionários na biotecnologia. As novas tecnologias de DNA são de importância especial para a reprodução de plantéis avícolas.

Estão disponíveis, de acordo com ALBERS (1994), uma variedade de técnicas novas que permitem duas áreas básicas de aplicação: a manipulação do gene, que é a modificação artificial da informação genética contida no DNA de um animal vivo; a varredura do gene, que é a leitura da informação genética de um animal em particular para determinar exatamente o seu potencial genético.

A manipulação genética e a transferência de genes tiveram sucesso limitado, uma vez que é uma técnica complicada e cara e os resultados da transferência de genes geralmente são imprevisíveis (ALBERS, 1994). A transferência de genes em aves é muito mais complicada do que em mamíferos e existem menos genes adequados disponíveis (ALBERS, 1994). Além disso, existe uma grande dose de oposição entre o público em geral, em última análise os clientes potenciais, à manipulação genética de animais domésticos.

Entretanto, a varredura dos genes, isto é, a determinação direta ao nível de DNA das diferenças individuais entre aves em locais específicos do genoma, está se tornando uma ferramenta de utilidade crescente na reprodução animal (ALBERS, 1994).

Por exemplo, já era conhecida a relação entre o locus B do grupo sanguíneo e a resistência das poedeiras brancas a doença de Marek. Através da análise de DNA de galinhas de vários grupos sanguíneos descobriu-se que galinhas que carregavam um grupo sanguíneo favorável (B21) estavam na realidade carregando genes diferentes no locus funcional (BF), o qual está estreitamente ligado ao locus do grupo sanguíneo. A exposição de animais com genes BF diferentes à doença de Marek mostrou que é o gene BF, mais do que o gene do grupo sanguíneo, que determina a resistência (Quadro 6) e, apenas a seleção para o verdadeiro gene de resistência revelada pela análise do DNA permite que a seleção correta seja feita (ALBERS, 1994).

QUADRO 6. Mortalidade após exposição à doença de marek em galinhas com haplótipos normais ou recombinantes para o locus b

Grupo sanguíneo Gene BF Mortalidade por Marek

B19 F-I 71%

B21 F-II, III 24%

B21 F-I 65%

B234 F-II, III 27%

ALBERS (1994)

Uma Segunda aplicação dos genes marcadores é a busca por genes valiosos nos programas de seleção comerciais (ALBERS, 1994). Quando o número de genes marcadores estiver suficientemente grande, deve ser possível descobrir aqueles que estão ligados a genes comercialmente importantes. Uma vez estabelecida tal ligação, é possível estender os programas de seleção tradicionais com uma seleção direta para esses genes marcadores.

Especialmente no que diz respeito à seleção para viabilidade ou resistência a uma doença específica, a seleção auxiliada por marcador oferece oportunidades inteiramente novas, já estas são características muito difíceis de manipular com os programas tradicionais de reprodução. Os investimentos nas tecnologias exigidas do DNA e nas pesquisas específicas de várias doenças aviárias são essenciais, segundo ALBERS (1994), para fornecer uma base sólida para um progresso significativo neste campo.

VACINAS

Novas técnicas de vacinação são necessárias para prevenir a expansão de enfermidades. A demanda de antibióticos se reduziria com o aumento da eficácia das vacinas.

Uma das principais mudanças na saúde de frangos de corte tem sido a rápida aceitação, principalmente na América do Norte, do equipamento de vacinação de ovo Embrex (NEWCOMBE, 1994). Os ensaios em muitas integrações indicaram um sucesso muito bom na redução de reprovações e também na morbidade dos frangos de corte, em virtude da doença de Marek e de Gumboro (NEWCOMBE, 1994). Os fabricantes de vacinas estão trabalhando para produzir vacinas específicas para este sistema e, no processo, estão produzindo vacinas que podem ser mais eficientes se utilizadas com 1 dia de idade na incubadora (NEWCOMBE, 1994).

BIOSSEGURANÇA

Quanto maior o desafio sanitário, maior é o ganho observado com o uso de antibióticos promotores de crescimento. Portanto é importante o investimento na melhoria do meio ambiente para alcançar a produtividade esperada mesmo com a retirada do antibiótico.

No setor incubatório, a qualidade de pintos de 1 dia depende da interação de múltiplos fatores, os quais precisam ser conhecidos e equacionados dentro de um Sistema de Controle de Qualidade, que permita a avaliação rotineira do processo e a obtenção da qualidade do produto final, que é o pinto de 1 dia produzido.

A contaminação em qualquer área da planta de incubação também afetará a qualidade dos pintos. Além de reduzir a percentagem de nascimento e aumentar o descarte de pintos, a viabilidade dos primeiros dias é seriamente afetada. Onfalites e contaminação do saco vitelino são as manifestações mais freqüentes de um problema de contaminação no incubatório (MAULDIN e BUHR, 1996). A aspergilose é um problema que está sempre presente devido ao fato de que o agente causante, o Aspergillus spp, é um habitante normal do meio ambiente (ALOISI, 1996). Os programas de prevenção devem contemplar o monitoramento constante de todos os pontos críticos do ciclo de produção. Alguns tipos de

Salmonella se adaptam bem as condições presentes em uma planta de incubação e se tornam

particularmente difíceis de erradicar (BAXTER-JONES, 1996).

Quanto aos desinfetantes e sistemas de desinfecção, podem ser relacionadas algumas características de um agente químico ideal: matar amplo espectro de microrganismos em baixas concentrações; solubilidade em água ou em outros solventes como o álcool; estabilidade, o armazenamento não deve resultar em perda de atividade microbiana (estabilidade); os componentes ativos devem estar presentes de maneira uniforme em cada aplicação, sem agregação ou precipitação (homogeneidade); inativação mínima por material estranho, já que a combinação com proteínas ou gorduras no material tratado diminuem a eficiência antimicrobiana; atividade em temperatura ambiente; ausência de corrosão; poder desodorizante; capacidade detergente; disponibilidade e baixo custo.

Antes da desinfecção, deve ser feito um programa consciente de limpeza. Todos os desinfetantes são mais efetivos em um ambiente previamente limpo (MAULDIN e WILSON, 1991). Os resíduos da incubadora e o material orgânico neutralizam os desinfetantes, em maior ou maior intensidade dependendo de suas características.

Antes de planejar um programa de limpeza é essencial saber que tipos de sujeira estão presentes nas áreas a serem limpas (Quadro 7).

Quadro 7. Tipo de sujeira, solubilidade e remoção

Tipo Solubilidade Ação Física por Água Quente +

Detergente Carboidratos Solúvel em água Fácil de remover

Gordura Insolúvel em água, solúvel em solução alcalina

Dificuldade para remover, usar água entre 50 e 55 graus mais detergente Proteína animal Insolúvel em água, muito

difícil de remover, solúvel em alcalis, levemente solúvel em solução ácida

Água acima de 600C por longo tempo pode coagular a proteína e dificultar a remoção; usar água quente (50-550C) por pouco tempo, em alta pressão e detergente alcalino

Sais monovalentes Solúveis em água, ácidos e alcalis

Variável, de muito fácil a difícil remoção dependendo do sal

Sais polivalentes Insolúveis em água, solúveis em ácidos

Variável Sujeira mista (gordura

+ proteína)

Insolúvel em água Água quente de 45 a 55oC + detergente alcalino

A água sozinha não é muito eficiente por causa da sua alta tensão superficial e requer maior força e tempo. A adição de detergente facilita o contato entre a água e a superfície da sujeira por diminuição da tensão superficial. Com a utilização de água fria, as quantidades de detergente, tempo e trabalho físico têm que ser aumentadas, em comparação à água quente.

O tempo de ação depende do tipo de microrganismo, forma de ação do produto, temperatura e umidade ambiental e do tipo de superfície a ser desinfetada. O Quadro 8 ilustra as propriedades de ação dos desinfetantes e a Figura 6, mostra os mecanismos de ação e sítios onde atuam os desinfetantes (Di FABIO, 1997).

Quadro 8. Ação de diferentes desinfetantes

Cloro Iodo Fenol Amônia Aldeídos

Bactericida + + + + + Bacteriostático - - + + + Gram + ++ ++ ++ ++ ++ Gram - ++ ++ ++ + ++ Fungicida + + + + + Viricida +/- + + +/- + Vírus livre + + - - + Vírus envelopado + + + + + Tóxico + + + + +

Inativado por mat. orgânica ++++ ++ + +++ +

Pessoas + + - + -

Piso - - + + +

arede +/- + +/- + +

Di FABIO (1997)

Os princípios da Análise de Risco e Controle de Pontos Críticos (HACCP) devem ser aplicados, de acordo com a WHO (1997), em todos os estágios da cadeia produtiva, para garantir a maior segurança possível no produção e no processamento dos alimentos. O HACCP quando adequadamente aplicado, pode ser usado, segundo TERZICH (1997), para controlar qualquer área ou ponto no sistema de alimentos que pode produzir uma condição de risco, como a presença por exemplo, de microrganismos patogênicos e contaminantes físicos ou químicos.

MANEJO

Os avanços nas técnicas de manejo dos animais poderiam reduzir substancialmente a quantidade de medicamentos necessários aos animais destinados ao consumo humano. As medidas necessárias para aumentar a biossegurança nos aviários devem ser adotadas com rigor e ser constantemente monitoradas.

A maior mudança que está ocorrendo atualmente no mundo é um movimento que se afasta do frango tipo conversão alimentar para uma ave do tipo rendimento (NEWCOMBE, 1994). O valor do rendimento de peito adicionado, tem sido calculado por muitas das principais companhias integradoras mundiais como superior às desvantagens potenciais que surgem das reduções no desempenho dos pais. Estas mudanças incluem uma tendência para fertilidade reduzida do macho e menor produção de ovos pela fêmea e, desta forma, um número menor de pintos de corte (NEWCOMBE, 1994).

Uma vez que seja introduzido em uma companhia um frango de corte de alto rendimento, então torna-se mais atraente criar os sexos separadamente para utilizar melhor o potencial de rendimento e o crescimento superior do frango de corte macho (NEWCOMBE, 1994).

O custo de produção tem sido o determinante principal a forçar as alterações nas práticas de manejo, tendência que certamente irá se manter.

NUTRIÇÃO

Os avanços nas estratégias de nutrição das aves, como o aperfeiçoamento e adoção do conceito de proteína ideal e consequente utilização de níveis de aminoácidos digestíveis, a suplementação adequada de vitaminas e minerais e o uso de uma correta relação energia/nutrientes nobres, podem resultar em máxima expressão do potencial genético das aves, sendo assim anuladas as possíveis perdas no desempenho devido a retirada do antibiótico promotor de crescimento.

Faz-se necessário investigar mais a respeito do impacto da nutrição e de tratamentos específicos com medicamentos para aumentar a função imunológica e a resistência a enfermidades pelos animais. Por exemplo é promissor o uso de vitaminas antioxidantes e

elementos minerais em níveis tais que mantenham a resposta imune dos animais. É grande o potencial do uso de enzimas, prebióticos, ácidos e probióticos em rações avícolas.

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