• Nenhum resultado encontrado

Neste capítulo far-se-á uma abordagem ao alto rendimento na sua generalidade, o seu conceito, impacto na sociedade, suas características e respetivo enquadramento normativo.

3.1 Conceito de Desporto Competição/Alto Rendimento

Pataco (1997) diz que a alta competição, devido ao inusitado impacto que tem no plano social, é um fator importante no desenvolvimento desportivo.

Para Lima (1997, cit. por Castro, p.10) os significados sociais do desporto de alta competição pressupõem necessariamente que:

 O desporto, em geral, esteja inserido na matriz cultural constituída pelos valores que uma sociedade concreta foi elaborando, integrando, transmitindo e consagrando nas interações sociais ao longo da sua própria historia e nos quais reconhece parâmetros que a individualizam no relacionamento com as demais comunidades.

 As atividades físicas e desportivas sejam aceites como factos sociais que devem ser incluídos nos projetos de desenvolvimento social, numa perspetiva de valorização individual que respeita os direitos do ser humano, no quadro definido pelas comunidades internacionais.

Para Lima (1990), à alta competição pertencem os atletas mais distintos de diferentes modalidades incluídas no sistema desportivo.

Será atleta de alta competição aquele que, na sua modalidade, seja um efetivo e regular competidor e um dos mais distintos entre os que a essa modalidade se dedicam (Lima, 1990).

Já Carvalho (2002, p.76) defende “que para integrar este conceito poderá não bastar ser campeão nacional, integrar a seleção nacional, ou ser um profissional do desporto prestigiado local ou nacionalmente, caso estes factos não se repercutam na obtenção de resultados internacionais suficientemente meritórios face aos padrões internacionais.”

O conceito de desporto de alta competição está relacionado com um elevado cariz de seleção, rigor e exigência, e, por isso, apenas alguns dos melhores praticantes se encontram abrangidos por este nível de prática desportiva (Marques, Cardoso, Alves & Sobral, 2002).

Segundo Carvalho (2002, p.72), a prática desportiva inserida no âmbito do desporto de alto rendimento “corresponde à evidência de talentos e de vocações de mérito desportivo excecional, aferindo-se os resultados por padrões internacionais, sendo a respetiva carreira orientada para o êxito na ordem desportiva internacional.”

Carvalho (2004, p.325) considera que “os atletas que alcançam distinção à escala internacional através dos seus feitos desportivos, ultrapassando os mais elevados níveis de exigência técnica e social na sua carreira desportiva, conquistam um novo estatuto, passam a ser figuras públicas, um referencial e um modelo para os mais jovens e um orgulho para os adultos, aos quais o Estado confere determinados direitos e deveres”.

De acordo com Lima (1987, p.4), “os condicionalismos sociais que impulsionam o homem a afirmar-se como um ser individualizado e único, levam tanto no desporto como noutras atividades a tentativas de superação dos resultados obtidos através do aperfeiçoamento e do desenvolvimento das suas capacidades que desencadeiam um processo criador de novas experiências, novos conhecimentos e novas etapas”.

Para Zenha, Resende & Gomes (2009), o desporto de alta competição está diretamente ligado a um nível de rigor e exigência máximo, que seleciona os melhores, por conseguinte, só os que realmente são melhores praticantes estão abrangidos por este regime.

Constantino (1991) refere-se à alta competição como “anormalidade”, o “extremo” do desporto, onde para se atingir o objetivo final tudo é permitido. Há ainda autores que destacam o facto da parte educativa de representar um país, a identificação com os desportistas geram nas pessoas um sentimento de patriotismo e de consciência nacional.

Durting (1994, cit. por Carvalho, 2000, p.27) refere que há duas relações a considerar no “desporto de elite e cultura: o atleta de alto nível herói e vítima”, afirmando sem qualquer hesitação que seja qual seja a sua forma, o fenómeno desportivo é cultura.

Já Sérgio (2014) faz uma interligação entre o desporto de alto rendimento e a saúde, referindo que “no desporto de alta competição, não se faz desporto para ter saúde, mas porque se tem saúde. E que a sua prática pode não dar mais vida aos anos.”

Pode-se considerar o desporto de alto rendimento como uma forma de educação e de formação dos cidadãos, devido aos seus importantes e imprescindíveis auxílios numa melhor qualidade de vida, na ocupação dos tempos livres ou ainda como forma de desenvolvimento sociocultural e turístico (Alves, 2002).

Por conseguinte, a alta competição integra a derradeira etapa do processo social que dá resposta às carências de desenvolvimento da pessoa e da sociedade (Lima, 1981).

Lima (1997, cit. por Silva, 2014, p.18) refere que “grande parte das críticas que têm sido feitas ao desporto de alto rendimento devem-se ao facto de ele aparecer demasiadas vezes associado à política, à economia, à medicina e à farmacologia.” Observa que “o rendimento desportivo não está na origem deste sentimento negativo.” Alude ainda que o “incentivo à obtenção de um rendimento desportivo excecional é condição necessária à reabilitação da dimensão cultural do desporto”.

De acordo com Coelho (2007, p. 243), para se obterem os referidos resultados de exceção é impreterível os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento”.

3.2 Enquadramento Normativo

Efetivamente, o artigo 2º do Decreto-Lei n.º 272/2009 define alto rendimento como “a prática desportiva em que os praticantes obtêm classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função dos padrões desportivos internacionais”.

Estando o desporto presente na sociedade, ele também carece de ser regulado por normas e regras de organização, que orientam toda a sua atividade. Tal como explanou Carvalho (2004, p. 318) “foi com a Constituição da República Portuguesa, que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua magnitude enquanto direito individual”, com o artigo 79º intitulado “Direito à cultura física e ao desporto”. No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler:

1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.

Carvalho (2004, p.318) refere que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi assumida como matéria de interesse público” após 25 de abril de 1974, a designada revolução dos cravos.

O primeiro normativo destinado à regulamentação da alta competição e do posicionamento dos agentes desportivo surge em 1976 com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de junho.

É desde “1976, com o I Governo Constitucional, que se inicia a produção normativa respeitante ao subsistema da alta competição”, onde foi elaborado o Decreto- Lei n.º559/76, de 16 de julho o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas internacionais” (Carvalho, 2000, p.98).

A mesma autora (2002, p.73) refere que no desporto de alto rendimento “as suas tremendas exigências de rendimento físico-desportivo” articulado com “os crescentes interesses políticos e económicos e com o elevado nível de atração que adquiriu junto do grande público” estabeleceu-se, assim como, “um espaço social a necessitar de um conjunto de normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento”.

O reconhecimento da alta competição surge então em 1980, através da Portaria n.º730/80, de 26 de setembro, tendo um papel fundamental no desenvolvimento desportivo. Sendo assim, e após a sua aprovação, foi adotada a regulamentação onde são referidos os apoios à prática desportiva de alta competição e é onde é feita referência ao estatuto de atleta de alta competição (Carvalho, 2002).

Pode ler-se no artigo 10.º deste regulamento e, ainda que de forma experimental, a criação de centros de formação para alta competição (Carvalho, 2000).

Passado um ano, isto é, em 1981, o Governo aprova uma nova Portaria (n.º1015/81, de 25 de novembro). Esta, ao ser adotada, anula a Portaria n.º730/80, de 26 de setembro, entrando assim em vigor uma nova regulamentação de apoio ao Desporto de Alta competição e do Estatuto do Atleta de Alta Competição em representação Nacional. Esta nova Portaria consigna a cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de instalações.

Em 1984, é aprovada e publicada a Portaria n.º809/84, de 15 de outubro, que adota um novo regulamento de apoio ao desporto de alta competição e ainda o estatuto de atleta de alta competição, alterando desta forma a Portaria anterior (n.º1015/81).

Decorridos seis anos, é publicada, a 13 de janeiro de 1990, a Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei n.º1/90. Esta regulamentação, que constituiu uma mais- valia para os atletas, é revista em 25 de junho de 1996, através da Lei n.º19/96, e determina as principais linhas político-jurídicas do sistema desportivo português relativas

a três sectores: atividade desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. Sendo que a alta competição é referenciada no artigo 15.º do Capítulo II, no que concerne à “Atividade desportiva”, indicando os vários apoios para a alta competição, destacando-se o apoio financeiro como uma das formas de estímulo ao desenvolvimento da alta competição.

Ainda no mesmo ano, é aprovado e publicado o Decreto-Lei n.º257/90 de 7 de agosto, que instituiu novas medidas de apoio ao recente subsistema de alta competição, mas desta vez, além dos atletas, também são incluídos os agentes desportivos que estão envolvidos na preparação dos atletas, para que estes não sejam prejudicados na sua vida profissional e/ou académica (Dias, 2013).

Em 1995, há um aperfeiçoamento das medidas publicadas em 1990, através do Decreto-Lei, de 31 de maio, sendo esta normativa exclusivamente direcionado para os apoios concedidos à alta competição. A 10 de agosto de 1996 é publicado e adotado o Decreto-Lei n.º123/96, que altera o Decreto-lei 125/95, de 31 de maio (Carvalho, 2002).

O surgimento deste último Decreto-Lei (nº123/96, de 10 de agosto) é devido a necessidade de se efetuar alguns ajustes no Decreto-Lei antecedente, mais concretamente no que concerne ao acesso ao ensino superior dos atletas com estatuto de alta competição, à hipótese de ser concedida mais de uma licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público, à deliberação de dar a respetiva dispensa, à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A - N.º 185, 10 de agosto de 1996).

Apesar da existência da LBSD, outros normativos foram sendo difundidas, de forma a regulamentar outras questões intimamente ligadas à alta competição, tais como: medidas de apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013). Assim sendo, aqui ficam patenteados os principais diplomas publicados:

- Portaria n.º 737/91, de 1 de Agosto – Concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição, para que estes consigam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva.

- Portaria n.º 738/91, de 1 de Agosto - Estabelece formas específicas de apoio aos que desempenham funções no âmbito do subsistema de alta competição.

- Portaria n.º 739/91, de 1 de Agosto – É definido o regime de requisição de técnicos e dirigentes que se dedicam especificamente ao subsistema de alta competição.

- Portaria n.º 740/91, de 1 de Agosto – Criado e fixado o montante dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos.

- Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de Abril – O seguro desportivo para os praticantes de alta competição não profissionais, é regulado.

- Portaria n.º 947/95, de 1 de Agosto – São definidos os critérios técnicos para a qualificação como praticante desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta competição.

- Portaria n.º 953/95, de 4 de Agosto – São definidos os critérios para a concessão de prémios em reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de Agosto.

- Portaria n.º 317-B/96, de 29 de Julho – É adotado o regulamento dos regimes especiais de acesso ao Ensino Superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta competição.

- Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de Março – Criação do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas (CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro de Alto Rendimento (CAR).

- Portaria n.º 393/97, de 17 de Junho – Concessão de prémios aos cidadãos com deficiência que se classifiquem num dos três primeiros lugares, em provas dos Jogos Paraolímpicos, campeonatos do Mundo, campeonatos da Europa e da Taça do Mundo de Boccia.

- Portaria n.º 205/98, de 28 de Março – São criadas normas relativas à concessão de bolsas académicas aos atletas de alta competição.

- Portaria n.º 211/98, de 3 de Abril – É definido e fixado o valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria n.º 953/95, de 4 de Agosto, uma vez que, a referida portaria não abrangia os

resultados de excelência obtidos pelos cidadãos deficientes na prática desportiva em competições internacionais.

- Portaria n.º 392/98, de 11 de Julho – O seguro desportivo especial dos praticantes em regime de alta competição, é regulamento.

- Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro – São aprovados e regulamentados os regimes especiais de acesso e ingresso no ensino superior, permitindo aos atletas com estatuto e integrados no percurso de alta competição beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de satisfazer as condições (estatutos) há menos de dois anos contados a partir da data de apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º).

- Portaria n.º 854-B/99, de 4 de Outubro – É aprovado e instituido o regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior (referido no artigo 25º do Decreto- Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro).

Volvidos catorze anos, há revogação da LBSD (Lei n.º1/90), com a publicação da Lei n.º30/2004, de 21 de julho, denominada Lei de Bases do Desporto (LBD). É nesta nova regulamentação que são introduzidas algumas alterações, mais concretamente na classificação da atividade desportiva, em profissional e não profissional. Classifica ainda, consoante os resultados obtidos por praticantes desportivos e seleções nacionais, como “Alta Competição” e “Seleções Nacionais” (capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º).

Esta nova legislação (Lei n.º30/2004) (LBD) é semelhante à Lei n.º1/90 (LBSD), ao considerar que “o desenvolvimento da alta competição é objeto de medidas de apoio específicas, atentas as especiais exigências de preparação dos respetivos praticantes”. As referidas medidas, destinam-se “ao praticante desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem como os técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua preparação desportiva”. As medidas de apoio praticadas são as que são expostas na LBSD, uma vez que não sofreu alterações.

No ano de 2007, é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º5/2007, de 16 de janeiro), onde na secção IV faz alusão ao alto rendimento. Esta secção é formada por dois artigos, mais concretamente o artigo 44º que refere as medidas de apoio, e o artigo 45º que faz referência à participação em seleções nacionais ou em outras representações de âmbito nacional, como sendo de interesse público, e por conseguinte, objeto de apoio e de garantia especial por parte do Estado.

Decorridos praticamente dois anos, foi criado, a 12 de janeiro de 2009, o Decreto-Lei n.º10/2009, que estabelece um novo sistema de seguro para os atletas de alto rendimento, que cobre os especiais risco a que os atletas estão sujeitos.

Ainda em 2009, é aprovado e publicado o Decreto-Lei 272/2009, de 1 de outubro. Este Decreto-Lei teve como objetivo aperfeiçoar algumas falhas detetadas na legislação em vigor (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei n.º123/96), uma vez que esta nova regulamentação considerou a definição de desporto de alto rendimento vigente no normativo anterior muito permissivo, já que permitia que os apoios concedidos pelo Estado beneficiassem atletas cujos seus resultados não justificavam tal apoio.

Este regimento faz a distinção entre as modalidades Olímpicas e não Olímpicas, isto é, as que integram ou não o Programa Olímpico, para que os melhores apoios públicos sejam direcionados para as modalidades Olímpicas (artigo 6.º e artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 272/2009). Esta publicação fez ainda a divisão entre modalidades individuais e modalidades coletivas e, em ambos os casos, os atletas de alto rendimento passaram a ser diferenciados em três níveis: nível A, nível B e nível C. Estando inseridos os atletas com melhores resultados no nível A, ou seja, “praticantes desportivos que tenham obtido resultados efetivos em competições desportivas de grande seletividade” (in Diário da República, 1.ª série - N.º 191,1 de Outubro de 2009), permitindo assim a estes auferir dos apoios mais significativos do Governo (artigo 6.º e 7.º).

Esta diferenciação de níveis está também consagrada para pessoas com deficiência ou incapacidade, para que os mesmos também beneficiem dos apoios previstos (artigo 8º).

Ainda neste Decreto-Lei (n.º272/2009), mais concretamente do artigo 13º ao artigo 34º, foram determinadas para os atletas de alto rendimento, novos apoios. Ficaram também definidas, medidas de apoio para atletas que terminam as suas carreiras (capítulo IX, artigo n.º39, 40º,41º, 42º e artigo 43º).

A 16 de junho, é publicada a portaria n.325/2010, com o intuito de determinar os critérios gerais de classificação de determinadas competições desportivas como sendo de alto nível, para efeitos da integração dos respetivos praticantes no regime de apoio ao alto rendimento.

Os critérios determinados são avaliados consoante o número mínimo de participantes de países, equipas ou praticantes desportivos, com uma determinada classificação no ranking de cada modalidade (in Diário da República, 1.ª série - N.º 115, 16 de Junho de 2010). Sendo que o presente estudo é realizado na Região Autónoma dos Açores, há que referir que para além dos apoios concedidos do Governo Central, os atletas de Alto Rendimento formados exclusivamente nos Açores podem receber apoios completares do Governo Regional, tal como está definido no capítulo VII do Decreto Legislativo Regional n.º 21/2009/A, de 2 de dezembro.

3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto

Rendimento

“Dá o teu melhor sempre que o teu melhor é exigido.

E o teu melhor é exigido todos os dias.” John Woden

(Treinador americano de Basquetebol 1910 -2010)

Vasconcelos Raposo (2015) destaca que “as elevadas exigências colocadas atualmente aos atletas de alto rendimento tornam necessária uma preparação em que todos os detalhes sejam cuidadosamente considerados e treinados”

“A excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades” (Maia, 2010, p.2).

Cunha (1997, citado por Bastos, 2009, p. 15) refere que um “ elemento fundamental para o desenvolvimento da carreira de um atleta reside na relação estabelecida com o seu treinador e na forma como este atua. O desempenho ótimo do atleta é determinado pelo complexo das suas capacidades, inatas e adquiridas, cabendo ao treinador descobri-las, aproveitá-las e desenvolvê-las…”.

Fernandez, Filho, Maldonado, Medeiros e Oliveira (2010, p.1) afirmam “que os alunos-atletas encontram dificuldades em conciliar a prática desportiva com os estudos” aconselharam a “uma melhor organização de tempo para que a carga horária de treino não interfira com os momentos de estudo”.

Bento (1991, cit. por Silva, 2014, p.24) afirma que “para que o desporto de alto rendimento possa constituir um modelo válido de referência e de inspiração para crianças e jovens, não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito. É preciso torná-lo mais humano!”. Destaca ainda “ que o atleta apenas merece interesse ao desporto de alto rendimento na qualidade de produtor de resultados, perdendo todo o interesse quando esta qualidade desaparece.”

Para que se “respeite aquilo que tem de ser a preparação de um atleta de alto…”, a organização do desporto de alto rendimento deve ser feita de uma forma realista e concisa (Zenha, 2010, p.15).

Na sua investigação, Vasconcelos (2003) concluiu que a formação universitária e o desporto de alto rendimento são incompatíveis quanto à sua entrega, afirmando ainda que o atleta de alta competição deverá deixar tudo para trás e dedicar-se exclusivamente à alta competição.

Zenha (2010, p.17) refere que “a dedicação exclusiva e a tempo inteiro constitui condição e exigência feita atualmente a atletas que praticam desporto de alto rendimento, e obriga as instituições desportivas, clubes e federações, a encontrar soluções adequadas à satisfação plena daquelas necessidades”.

Refere ainda que as atividades sociais e profissionais são incompatíveis, para qualquer atleta que queira estar inserido no alto rendimento e no seu processo de treino. Será necessário o atleta de alto rendimento dedicar-se de forma exclusiva à causa (Zenha, 2010).

Os atletas de alto rendimento estão sujeitos a grandes exigências, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das suas prestações desportivas, provocando-lhes inúmeras dificuldades, sendo bastante complicado, a maioria das vezes, conciliar o Alto Rendimento e as atividades escolares (Zenha, Resende & Gomes, 2009).

Essas inúmeras dificuldades referidas têm um reflexo “de uma forma global ou cumulativa naquilo que se podia denominar como ordenação da vida pessoal, familiar, escolar, profissional e social (Lima, 2002, p.11).

Ainda o mesmo autor (2002, p.12) alude que, para se conseguir ser um atleta de alto rendimento, é indispensável “consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional,

suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela subsistência económica, assim como na sua vida familiar”.

O supracitado autor (2002, p.14) expressa que a criação de forma rigorosa de um “plano a longo prazo, concebido por especialistas, de dificuldades evolutivas, dinâmico e flexível” é chave fundamental para o sucesso. Alude que existe uma grande

Documentos relacionados