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A conciliação entre o desporto de alto rendimento e o sucesso escolar: estudo centrado na Região Autónoma dos Açores

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Academic year: 2021

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(1)

A Conciliação entre o Desporto de Alto Rendimento e o

Sucesso Escolar

Estudo Centrado na Região Autónoma dos Açores

Dissertação de Mestrado em

Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário

JOÃO TIAGO FERREIRA SANTOS

Orientador: Prof. Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

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A Conciliação entre o Desporto de Alto Rendimento e o

Sucesso Escolar

Estudo Centrado na Região Autónoma dos Açores

Dissertação de Mestrado em

Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário

João Tiago Ferreira Santos

Orientador: Prof. Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

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A Conciliação entre o Desporto de Alto Rendimento e o

Sucesso Escolar

Estudo Centrado na Região Autónoma dos Açores

Dissertação de Mestrado em

Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário

JOÃO TIAGO FERREIRA SANTOS

Orientador: Prof. Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

Composição do Júri:

Drª. Maria Dolores

Dr. Hugo Sarmento

Dr. Antonino Pereira

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Dissertação apresentada à UTAD, no DEP- ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2º Ciclos de Estudos de Estudo em Ensino da UTAD, sob orientação do Prof. Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira.

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(6)

Agradecimentos

Para a realização deste trabalho de investigação foi determinante o

apoio de um conjunto de pessoas, às quais gostaria de expressar o meu

sincero agradecimento.

Agradeço de forma especial ao Professor Doutor Antonino Pereira

pela preciosa orientação desta investigação. O seu entusiasmo

contagiante, a sua dedicação, interesse, paciência e total disponibilidade

foram a chave para a realização deste estudo.

Agradeço aos meus pais uma vez mais pelo apoio constante.

À Catarina que, além da magnífica mãe que é, muitas vezes durante

este processo teve de fazer o papel de

“pai” de forma a libertar-me para a

efetuar este trabalho. Para além disso, foi também preciosa a sua ajuda no

que concerne a aspetos de correção gramatical e ortográfica.

À minha filha Lara, que teve muitas vezes que lidar com a minha

ausência.

Ao meu amigo Ricardo Santos pelo apoio que me deu.

Aos vários colegas que, de uma forma ou de outra, deram o seu

contributo.

À Direção Regional do Desporto dos Açores e aos clubes pela

colaboração.

Aos atletas e treinadores que partilharam as suas experiências,

conhecimentos e objetivos.

(7)
(8)

Índice Geral

Agradecimentos………...

III

Índice Geral………..

V

Índice de Quadros………

VII

Índice de Figuras……….

IX

Índice de Anexos……….

XI

Abreviaturas………..

XIII

Resumo………...

XV

Abstract……….

XVII

1 Introdução………..

1

Revisão de Literaura……….

7

2 Desporto………

9

2.1 Conceitos……….

11

2.2 O Desporto na Sociedade Atual………...

15

2.3 Dimensão Social de Desporto………..

18

3 Alto Rendimento Desportivo………

21

3.1 Conceito de Alto Rendimento………...

23

3.2 Enquadramento Normativo………

25

3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto Rendimento…………

31

3.4 Medidas de Apoio à Prática Desportiva de Alto Rendimento…………

37

4 Alto Rendimento e Sucesso Escolar………

41

4.1 Articulação entre o Alto Rendimento e o Sucesso Escolar………

43

5 Estudos Desenvolvidos nesta Temática………

49

(9)

6.1 Campo de Estudo………

60

6.2 Instrumento de Pesquisa………

63

6.3 Procedimentos……….

65

6.4 Técnica de Tratamento de Dados………

66

7 Apresentação e Discussão dos Resultados………

69

7.1 Domínio I – Experiência Pessoal………

75

7.1.1 Experiência Desportiva………

75

7.1.2 Experiência Académica………

79

7.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho………

82

7.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades………

83

7.2.1 Usufruto de Medidas de Apoio………

83

7.2.2 Principais Dificuldades………

86

7.2.3 Alteração de Comportamento na Escola………..

88

7.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades……….

89

7.3.1 Apoios………...

89

7.3.2 Perceção da Articulação………..

95

7.3.3 Condicionamento do Alto Rendimento………..

100

8 Conclusões………

105

8.1 Sugestões para Futuras Investigações………...

1112

9 Bibliografia……….

115

10 Anexos………..

XIX

Anexo 1

– Ofício Dirigido aos pais/encarregados de educação a

solicitar autorização para a realização da entrevista……….

XXI

Anexo 2 – Guião de Entrevista………

XXV

(10)

Índice de Quadros

Quadro 1 – Caracterização Geral dos Atletas………...

60

Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva dos Atletas………..

61

Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva dos Atletas…………..

62

Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica dos Atletas………

62

Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes………

74

Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do Estudo…….

74

(11)
(12)

Índice de Figuras

Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal………..

71

Figura 2 – Domínio 2 – Apoios e Dificuldades………..

72

Figura 3 – Domínio 3 – Conceção dos Apoios e Dificuldades………

73

(13)
(14)

Índice de Anexos

Anexo 1

– Ofício Dirigido aos pais/encarregados de educação a solicitar

autorização para a realização da entrevista………

XXI

Anexo 2 – Guião de Entrevista ……….

XXV

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Abreviaturas

Atl – Atleta

IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude

LBD – Lei de Bases do Desporto

(17)
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Resumo

A formação académica e a prática de desporto de alto rendimento são duas atividades com um enorme grau de exigência para quem nelas está envolvido. Quando as duas são praticadas em simultâneo provocam dificuldades no dia-a-dia dos alunos-desportistas.

Para se obter resultados de excelência no alto rendimento, é necessário um longo processo de treino, muita dedicação e enormes sacrifícios. Sendo que para um jovem em idade de formação académica, implica uma rotina muito desgastante, que pode provocar o abandono de uma das atividades.

Esta investigação teve como principal objetivo apurar quais as dificuldades que alunos-desportistas enfrentam no dia-a-dia para conseguir conciliar com sucesso os estudos e o desporto de alto rendimento, bem como identificar as estratégias que utilizam, quais as medidas de apoio de usufruem e quais as soluções que indicam para uma boa articulação entre as duas vertentes.

O presente estudo centrou-se em doze atletas que frequentam o 3º ciclo, ensino secundário e ensino universitário, em percurso de alto rendimento, de ambos os géneros, com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos, com presença assíduas nas seleções nacionais das respetivas modalidades, residentes na Região Autónoma dos Açores. Os referidos atletas são praticantes das seguintes modalidades: Ginástica, Judo, Surf e Basquetebol. A fonte de recolha de dados utilizada foi a entrevista semiestruturada e a técnica de análise de dados aplicada foi a análise de conteúdo.

As principais conclusões indicam o seguinte: i) as medidas de apoio mais utilizadas foram as justificações de faltas e alteração de momentos de avaliação; ii) as principais dificuldades de conciliação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento foram a falta de tempo e o desgaste provocado pelas inúmeras deslocações; iii) os inquiridos consideram que seriam melhores atletas se não estudassem e vice-versa; iv) as principais medidas de apoio solicitadas foram a alteração de horários e mudança a nível organizativo por parte das escolas que permitam uma melhor conciliação entre as duas vertentes; v) a principal estratégia utilizada para conciliar as duas atividades é a boa gestão do tempo e algum sacrifício da vertente social e pessoal; vi) os atletas continentais recebem mais apoios e têm melhores condições que os atletas dos Açores; vii) avaliam a conciliação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento como possível.

Palavras-chave: Alto rendimento, formação académica, articulação, medidas de apoio,

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Abstract

Academic studies and the practice of an high performance sport are two activities with a huge level of demand for those involved in both of them. When the two are practiced simultaneously, it causes difficulties in the daily routine of student-athletes.

To obtain excellent results in high performance sports, it’s necessary a long process of training, dedication and enormous sacrifice. In fact, for a young athlete attending school, it implies a very exhausting routine, which may cause the abandonment of one of the activities.

This research aimed to determine what difficulties student-athletes face in their daily routine to successfully combine studies and sports high performance and to identify the strategies they use, what measures of support they enjoy and what solutions they indicate to a smooth the relationship between the two.

This study focused on twelve athletes attending junior school, high school and college education, practicing high performance sports, of both genders, aged between 15 and 30 years, with assiduous presence in national teams of the respective modalities and living in the Azores. These athletes practice the following sports: Gymnastics, Judo, Surf and Basketball. The collection of data source used was the semi-structured interview and the data analysis technique applied was the content analysis.

The main findings indicate the following: i) the most used support measures were absence justifications and changing evaluation moments; ii) the main difficulties of reconciling academic studies and high performance sports were lack of time and tiredness caused by the large numbers of travels; iii) respondents think that they would be better students if they didn’t practice an high performance sport and vice versa; iv) the main support measures required were changing schedules and change some school organizational aspects that would allow a better conciliation between academic studies and the practice on an high performance sport; v) the main strategy used to combine the two activities is good time management and some personal and social sacrifice; vi) Athletes that live in the main land receive more support and have better conditions than Azorean athletes; vii) the student-athletes evaluate the balance between academic training and the practice of an high performance sport as possible.

Keywords: high performance, academic education, juggling, institutional support

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1. Introdução

Vários autores, entre os quais se destaca Brettschneider (1999), defendem que as exigências da escola, do treino e da competição afetam a estrutura do dia-a-dia da vida dos jovens.

Maia (2010, p.2) refere que “a excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades”.

Também Coelho (2007) afirma que, para se conseguir corresponder às exigências do desporto de alto rendimento e obter-se resultados de excelência, é necessário uma dedicação exclusiva ao treino. No mesmo sentido, Vasconcelos (2003, p.108) atesta que “para se fazer desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”.

No entanto, Zenha, Resende & Gomes (2009, cit. Dias, 2012, p.2) referem que “os estudos e o desporto são duas atividades que se complementam e potenciam reciprocamente “.

Também constatam o mesmo Vilanova & Puig (2013, p.65) ao afirmarem “que a compaginação da carreira desportiva com a carreira académica é uma questão de estratégia. Se se desenvolve uma estratégia é possível compaginar os estudos com o desporto; se não, a conciliação não é possível.”

De facto, “O estudo e o desporto complementam-se e potencializam-se reciprocamente na formação do indivíduo. A prática desportiva de alto rendimento constitui um importante fator de desenvolvimento desportivo. Com efeito, é incontroverso que o alto rendimento desportivo, como paradigma da excelência da prática desportiva, fomenta a sua generalização, mesmo enquanto atividade de recreação, e particularmente entre a juventude. Por outro lado, o desenvolvimento da sociedade não pode ignorar a atividade desportiva que é cada vez mais um fator cultural indispensável na formação integral da pessoa humana. Daí que a prática desportiva de alto rendimento deva ser objeto de medidas de apoio específicas, em virtude das particulares exigências de preparação dos respetivos praticantes” (Universidade do Minho, 2005).

Portanto, a prática desportiva e o percurso escolar caminham na mesma “estrada”, uma vez que a prática da modalidade normalmente inicia-se em idades

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jovens, estando os atletas por norma em idade escolar obrigatória. Ao chegarem ao desporto de alto rendimento, é imaginável que os atletas em causa despendam muitodo seu tempo com os treinos e respetivas competições, podendo estas elevadas exigências afetar o percurso escolar, já que terão de faltar às aulas e o tempo para estudar é reduzido.

Também Zenha, Resende & Gomes (2009, p.1) aludem que “as exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criam-lhes diversas dificuldades, sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades educativas e a prática desportiva”

A prática desportiva é de certa forma dificultada pelo processo formativo, uma vez que há incompatibilidade entre os estudos e o desporto de rendimento (Ruiz et al., 2008).

Os atletas de alto rendimento estão submetidos a grandes exigências tanto a nível do processo de treino como a nível das suas prestações desportivas. Tornando-se difícil muitas vezes, conciliar o alto rendimento e as atividades escolares (Zenha, Resende & Gomes, 2009).

Campbell (1998) considera que com as várias mudanças que ocorreram no desporto, para que se consiga competir a nível internacional com os outros países, é necessário ocorrerem várias alterações, desde a alteração dos horários escolares, seja com o aparecimento de escolas especializadas em desporto, passando por criar formas de beneficiar os adolescentes que estão na alta competição na entrada em universidades, e ainda, a criação e desenvolvimento de academias de treino a nível regional e nacional. Estas alterações visam encontrar mais tempo para os nossos jovens treinarem.

Este autor afirma ainda, que os praticantes necessitam de uma orientação para as suas carreiras, de programas de formação escolar e de apoio financeiro.

“Compatibilizar estas duas atividades, contudo, não é uma tarefa fácil devido ao alto grau de exigência que para estes estudantes implica competir ao mais alto nível e, ainda, cumprir com as exigências do ensino…” (Pérez & Aguilar, 2012, p.202).

Os mesmos autores (2012, p.203) afirmam que “ao esforço que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade desportiva, o que compromete as possibilidades de

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obterem um rendimento académico excelente.” Asseveram ainda que “a melhoria dos processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por todos” (2012, p.211).

O ponto fulcral deste estudo visa investigar o percurso escolar e desportivo de jovens atletas açorianos, identificar as dificuldades e constrangimentos encontrados, as oportunidades que lhes são presenteadas e as estratégias que são utilizadas ao longo do percurso académico/desportivo.

Para Viacelli (2002, cit. Castro, 2012, p.3) “são escassos os trabalhos que tratam especificamente da influência da prática desportiva na vida escolar dos alunos, verificando se há melhorias, prejuízos no rendimento escolar ou se este não sofre alterações devido às atividades desportivas dos alunos”.

A pertinência do presente estudo é também reforçada por vários autores, entre os quais estão Vilanova & Puig, (2013, p.66), que “creem ser necessário continuar a investigar as transições que enfrentam os desportistas incorporando a análise das estratégias já que são um aporte para aprofundar a compreensão multidimensional destas. Assim, contribuir-se-á para a melhoria do bem-estar global do desportista”

Também se pretende com este estudo identificar as medidas em vigor de apoio ao desporto de alto rendimento, quer na área do desporto, quer na área escolar, e verificar se essas medidas são do conhecimento dos atletas e das instituições envolvidas e se são devidamente aplicadas e/ou reivindicadas. Para isso, selecionou-se um grupo de estudantes em percurso de alto rendimento, sendo os objetivos específicos da nossa investigação os seguintes:

i) identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento e que influências exercem no seu rendimento académico e desportivo;

ii) identificar as dificuldades sentidas pelos estudantes e praticantes de desporto de alto rendimento na adaptação e integração na escola;

iii) identificar que apoios e recursos, que os alunos consideram fulcrais para a conciliação da formação académica e o desporto de alto rendimento;

iv) perceber quais as estratégias desenvolvidas para a conciliação entre a vida académica e o desporto de alto rendimento.

Os dados que advenham deste estudo poderão ser um auxílio para uma melhor compreensão das dificuldades sentidas pelos estudantes atletas no dia-a-dia, particularmente os que vivem na Região Autónoma dos Açores.

(27)

Na primeira parte desta investigação, que é de natureza concetual e teórico, realiza-se uma revisão de literatura sobre o desporto, o alto rendimento, enquadramento normativo, medidas de apoio existentes e a conciliação do desporto de alto rendimento com o sucesso escolar.

Encontra-se na parte experimental deste estudo a metodologia desenvolvida, a apresentação e discussão de resultados alcançados e as conclusões a reter desta investigação.

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2. Desporto

De forma a aprofundar melhor este estudo, neste capítulo irá ser abordado o conceito desporto, o desporto na sociedade atual e a dimensão social.

Através do desporto, o ser humano pode transcender-se e superar limites, no entanto, para que isso ocorra, é necessário haver muitos sacrifícios, muito rigor e muita disciplina, para se conseguir potenciar as capacidades físicas e intelectuais, num espaço curto de tempo (Zenha, 2010).

2.1 Conceitos

O desporto, tal como o conhecemos hoje em dia, mesmo sendo um fenómeno próprio e distinto da nossa sociedade, oculta na aparente genuinidade uma grande complexidade social e cultural, tal como Marivoet (2002, p. 23) afere: “Por vezes a forma de conceções ideológicas, que argumentam a validade de uns critérios em detrimento de outros.” Refere ainda que (p.23) “as opiniões que se encontram nesta matéria advêm em muitos casos de interesses específicos que se afirmam no seio do sistema desportivo, e que, em última análise, remetem para a legitimação e afirmação hegemónica dos interesses e valores de uns sobre os outros. “

Segundo Soares e Ferreira (s.d.), é na cultura grega que ocorre o nascimento do desporto, que, para além de ser um espetáculo, era ao mesmo tempo um culto à beleza corporal, sendo que muitos dos exercícios desportivos realizados acabaram por ser uma fonte de inspiração para algumas esculturas gregas. Já no Império Romano, o desporto era definido como uma forma de preparar os guerreiros e como um meio de reforçar o caracter.

O conceito de desporto, ao longo dos tempos, foi sofrendo alterações, tal como a sociedade em geral e a sua estrutura. Hoje em dia, o desporto é considerado um fenómeno sociocultural, uma vez que está inserido nas diversas sociedades mundiais. Tal como refere Carvalho (2000, p.7), “o desporto transformou-se no fenómeno cultural”.

Para melhor entendermos o conceito de desporto, é fundamental fazer a leitura do seu desenvolvimento.

Elias & Dunning (1992) referem que se tem como um dos possíveis entendimento da génese do desporto moderno a racionalização dos jogos tradicionais em Inglaterra, no final do século XVIII, princípio do século XIX, fundamentada pela procura da sociedade em limitar a utilização da violência e transmitir alguns valores morais em atividades de lazer, com principal incidências nas escolas aristocráticas.

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É durante o séc. XVIII que se dá o processo de “desportização” (Elias & Dunning, 1992) das atividades de tempos livres, aquando da passagem da sociedade agrícola à sociedade industrial.

As várias transformações ocorridas na forma como as pessoas trabalhavam no processo de industrialização, foi acompanhada por uma transformação de como os indivíduos utilizavam o seu tempo livre.

O desporto contemporâneo detém assim características distintivas que foram originadas pelo desenvolvimento da civilização industrial, e consequentemente nas suas implicações sociais e culturais. Como descreve Elias & Dunning (1992, pág.194), o desporto não pode ser entendido como “alguma coisa que existiu na Antiguidade, pereceu na Idade Média e, por razões desconhecidas, renasceu, simplesmente, no nosso tempo”.

O facto que diferenciou as formas de ocupação dos tempos livres com o desporto foi de o desporto passar a ser regulamentado a nível local e posteriormente em jogos e torneios fora do nível local, de forma a garantir uma uniformidade do jogo e das suas regras.

Após a Revolução Industrial ocorrida em Inglaterra, além das fábricas, o desporto também foi estendido por quase todo o mundo. As competições formais e os encontros denominados por “sport” apesar de em número reduzido foram conquistando os vários países. A palavra “sport”, foi adotada por quase todas as línguas do mundo, palavra essa que parece derivar do velho termo francês desport, que significa divertir-se. Foram os ingleses, apesar da etimologia da palavra não ser inglesa, que deram cunho à era do desporto moderno.

Desde o século XVIII que a sociedade inglesa introduziu as várias alterações que levaram à generalização das práticas desportivas, introduzindo regras e normas, “desportivizando” determinados jogos.

Pela mão do Barão francês Pierre de Coubertin, nos finais do séc. XIX, dá-se o restabelecimento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, tendo assim dado início ao processo de institucionalização das práticas desportivas, o que leva o desporto a identificar-se com práticas desportivas, isto é, organização, regras que contemplam a competição, permitindo desta forma a comparação de práticas desportivas.

Pierre de Coubertin (1934, cit. por Silva, 2014, p.8) descreve o desporto como “um culto voluntário e habitual do exercício muscular intenso suscitado pelo desejo do progresso e não hesitando em ir até ao risco”.

Já Herbert (1946, p.7) define desporto como sendo “todo o género de exercícios ou de atividades físicas tendo como meta a realização de uma performance e cuja

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execução repousa essencialmente sobre um elemento definido: uma distância, um tempo, um obstáculo, uma dificuldade material, um perigo, um animal, um adversário e, por extensão, o próprio desportista”.

Mais tarde, o gaulês Gillet (1949, cit. por Pires, 2007, p.115) afirma que o desporto trata-se de uma “atividade física intensa, submetida a regras precisas e preparada por um treino físico metódico”.

Huizinga (1951, p.24), em Homo Ludens, Essai sur la Fonction Sociale du Jeu, descreve o desporto como “uma atividade ou ocupação voluntária executada dentro de determinados limites de tempo e de lugar de acordo com regras livremente aceites, mas absolutamente obrigatórias tendo o seu objetivo em si próprio, e sendo acompanhado por um sentimento de tensão, alegria e consciência de que isso é diferente da vida normal”

Volvidos alguns anos, Magname (1964, p.81) define desporto como sendo “uma atividade de lazer cuja dominante é o esforço físico, praticada por alternativa ao jogo e ao trabalho, de uma forma competitiva, comportando regras e instituições específicas, e suscetível de se transformar em atividades profissionais".

Passados três anos, Callois (1967) classifica os jogos desportivos de competição (agon), de sorte (alea), de simulação (pantomina) e de vertigem (ilinix).

No mesmo ano, Volpicelli (1967, cit. por Pires, 2007, p.115) diz que “não se pode falar de desporto onde falta a cientificidade das suas regras e as suas táticas, do seu treino, das suas medidas, em suma, da organização racional do rendimento da máquina humana”.

Posteriormente, Bouet (1968, cit. por Dias, 2013, pág.7) coloca o desporto como uma procura competitiva, na qual associa à competição e à performance, a necessidade de competir intencionalmente, enfrentando as dificuldades. O autor diz-nos ainda que é necessário investir energia para alcançar o melhor desempenho.

No início da década 70, Macintosh (1970, cit. por Nóbrega, 2010, pág.9) define desporto como sendo “todas as atividades físicas que não são necessariamente para a sobrevivência do indivíduo ou da raça e que são dominadas por um elemento compulsório”.

No mesmo ano, Laguillaumie (1970, cit. por Pires, 2007, p.115) diz que o “desporto é sobretudo uma organização mundial dominada por um governo internacional desportivo, o Comité Olímpico Internacional, pelas Federações Internacionais e por todos os organismos desportivos privados ou públicos que gerem, administram, dirigem e controlam o desporto”.

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acompanhar alterações ocorridas na sociedade, isto é, a principal característica da passagem da sociedade industrial, é a substituição do homem pela máquina, que levam à sedentarização e urbanização em massa, que afastam o homem da natureza, havendo também uma redução no horário de trabalho e consequentemente um aumento do tempo livre (Almeida, 2001).

Brohm (1976, cit. por Nóbrega, 2010, pág.9) define desporto como “um sistema institucionalizado de práticas competitivas de dominante física, delimitadas, codificadas, regulamentadas”.

Já em 1979, Feio & Sérgio (pág.7,8), no seu livro Homo Ludicus: Antologia de textos desportivos da cultura portuguesa, vêm o desporto como um fenómeno que “realiza cultura, quer refletindo-a, quer produzindo-a”.

No decorrer da década 80, para Parlebas (1981), independentemente da localização onde se realizam as atividades desportivas, define desporto como sendo formado por diferentes atividades que estão subjugadas à rigidez das regras, a regulamentos definidos por organizações de forma universal.

Claeys (1984) diz que são quatro os elementos fundamentais para definir o conceito de desporto: o movimento, a competição, a institucionalização e o lazer. Sendo que o movimento engloba a atividade física e intelectual humana, a competição incorpora a rivalidade no sentido desporto/performance, a institucionalização que regula as competições e o lazer que abrange a atividade de carácter lúdico e recreativo. Destaca ainda que as características apresentadas anteriormente estão presentes nas diversas modalidades de uma forma variável.

No início da década 90 (1992), o Conselho da Europa na Carta Europeia do Desporto (p.3) define desporto como sendo: “todas as formas de atividade física, formais ou informais, que visam a melhoria das capacidades físicas e mentais, fomentam as relações sociais, ou visam obter resultados na competição a todos os níveis”.

Esta missiva não diferenciava o desporto profissional do desporto amador, isto é, todas as formas de atividade física são consideradas desporto.

O desporto é considerada uma atividade que deverá não só englobar a competição entre os seus intervenientes, mas também promover os valores humanos, os princípios de solidariedade e a cooperação social e cultural (Neto, 1994).

Garcia (2000 cit. por Calvo, p.21) fala do desporto como sendo uma forma de o cidadão ocupar os seus tempos livres, visto que, com a redução do seu tempo de trabalho, houve o aumento do seu tempo livre, e, desta forma, uma maior apetência para a prática do desporto.

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No seu estudo realizado, Calvo (2001, p.21) refere-se ao desporto “como uma forma de ocupar o tempo livre, proporcionando a quem o pratica uma fuga à pressão da vida quotidiana, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida”.

Para Vasconcelos Raposo (2012, p.3), “o Desporto é um complemento do processo promotor de hábitos de saúde e de civismo desde que oferecido e supervisionado por profissionais devidamente treinados nesta área de intervenção”.

Manuel Sérgio (2013) refere que o desporto “não é mera educação física, entendida como educação de físicos, mas motricidade humana, ou seja, movimento intencional da pessoa visando, em grupo (em equipa) a transcendência (ou a superação) ”. Ainda no mesmo artigo “O Desporto em que eu acredito”, o conceituado Professor diz que: “Desporto em que eu acredito: pretende ser educação, lazer, saúde, reabilitação, alto rendimento. Mas acredito firmemente que tem uma função social e política (…)”. Ao terminar o seu artigo, o também Provedor da Ética do Desporto faz uma pequena síntese dando enfâse ao que se deve fazer do desporto: “ (…) fazermos do desporto, seja ele educação, saúde, lazer ou espetáculo, uma expressão do que mais digno existe na comunidade humana.”

O mesmo autor, num artigo em 18 de outubro (2013) no mesmo jornal online, faz referência ao sentido de praticar desporto como “ procurar a transcendência, através da motricidade humana. Por isso, as competições e os treinos exalam significação, aquela que resulta de um ser humano que deseja superar e superar-se, em equipa (em grupo, em comunidade) e jogando com e não contra”.

Em suma, e depois de ter sido apresentado e analisado diversas definições de desporto, conclui-se que há uma grande variedade de conceitos, no entanto fica na retina as várias palavras associadas ao desporto: competição, atividade física, performance, esforço físico, regras, tempo livre, jogo, rendimento, exercício muscular e realização pessoal.

2.2 O Desporto na Sociedade Atual

O desporto atualmente está assente na regulamentação e regulação das ações desportivas que estão inseridas num processo mais geral de normalização das sociedades, que é gerido pelas várias instituições de diferentes práticas desportivas (Marivoet, 1998, cit. por Sousa, 2012, p.4), não devendo este ser julgado como um produto da industrialização, mas como uma mera adaptação à realidade económica, política e social.

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Carneiro (1997, cit. por Castro 2012, p.5) assevera que “o desporto transformou-se num fenómeno cultural à escala planetária. Porventura o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo”.

Já Sousa (2012, p.3) refere-se ao desporto como “um fenómeno social marcante na sociedade, assumindo diferentes contornos dependendo do contexto social, politico, económico e cultural em que se encontra inserido (….)”.

Pode-se compreender o desporto como sendo um fenómeno social que gera diferentes efeitos em vários grupos e que é influenciado por várias culturas (Sousa, 2012).

Para Calvo (2001), o desporto é um direito que assiste a todo e qualquer o cidadão, e o Estado tem obrigação de proporcionar as melhores condições para a sua prática, criando infraestruturas para todos, sendo elas de livre acesso.

O desporto, independentemente da raça, cor, sexo e idade, é considerado um fenómeno social, já que aglutina todos os humanos na sua prática (Bento, 2001, cit. por Oliveira et al., 2010). Há várias razões para a prática desportiva, seja pela realização pessoal, seja pela saúde, seja pelo lazer, seja pela sociabilização. Cada vez mais, o desporto é associado a pessoas que têm um estilo de vida saudável.

No entanto, o desporto não está apenas associado a um estilo de vida saudável, também é uma forma do ser humano valorizar-se e afirmar-se na sociedade, através da sua personalidade e do seu corpo, elevando e valorizando de certa forma o seu ego (Lima, 1998).

Segundo Garcia (2000, cit. por Calvo, 2001, p.22), há uma divergência entre o que é a realidade e o que é imposto pela sociedade. Temos o exemplo no que concerne à «perfeição do corpo» e à sua imagem, que em pessoas com alguma deficiência ainda há alguma renitência em ser aceite pela sociedade.

Calvo (2001, p.22) refere-se ao desporto como sendo “ um espaço de socialização e integração social, onde a partilha de interesses comuns e a sua consequente mediatização, conferem-lhe um símbolo de distinção social. Fala-se de desigualdades sociais e de discriminação numa sociedade que tenta a todo custo não admitir a sua existência, embora na prática também não os consiga eliminar”.

Para Marivoet (1998, cit. por Calvo, 2001, p.22), as classes sociais altas procuram as modalidades de mais difícil acesso (e.g. golfe, hipismo, vela, mergulho, etc.) ou mesmo um personal trainer (que só tem acesso quem tem um bom poder económico), de forma a ganharem um certo status social na sociedade. Já as restantes

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classes sociais procuram as modalidades que sejam de mais fácil acesso económico (Marques, 1999). Em suma, o poder económico influência o acesso a certas modalidades, ficando algumas modalidades ligadas à classe social.

O desporto é também utilizado na sociedade como forma de resolver alguns problemas sociais, sendo este utilizado como forma de reabilitação e de integração (Calvo, 2001, p.24).

O mesmo autor (p.24) afirma ainda que o desporto tornou-se um “fenómeno cuja dimensão adquirida é por vezes impercetível aos nossos olhos” e que “a prática generalizada, os diferentes contextos e as intencionalidades elegem-no como uma manifestação social e cultural profundamente humana”.

O médico especialista em medicina desportiva Carlos Vinagre (2006, p.1) refere-se ao desporto como refere-sendo uma “atividade física competitiva organizada, que tem também um papel relevante quer pelas suas implicações na vida social” uma vez que está provado cientificamente que contribui para o bem-estar, e para a saúde do ser humano, afirmando mesmo “que as grávidas, as crianças, os adolescentes, os idosos as mulheres têm hoje a ganhar com a atividade física regular, intensa e duradoura”.

Mais tarde, Meyer (2007) menciona a importância do desporto na sociedade, uma vez que o mesmo tem a capacidade de integrar todo e qualquer ser humano, independentemente da sua classe social, raça ou religião. Alude ainda que o desporto desenvolve a capacidade de trabalhar em grupo, a pontualidade, o saber respeitar os outros, a consciência dos seus limites e do próprio corpo, o saber respeitar e aceitar as diferenças e evitar ainda o sedentarismo, que hoje em dia é tão comum.

Já Costa (s.d., p.101) refere-se ao desporto como “um fenómeno humano tão ligado à origem, às estruturas e ao funcionamento da sociedade, que se poderá afirmar que é possível analisar qualquer sociedade através do desporto que pratica”. O mesmo autor refere ainda que o desporto é uma brilhante forma para analisar a sociedade.

Mais recentemente, Vasconcelos Raposo (2012) refere que os profissionais das várias áreas do desporto devem ter em conta, aquando da criação e oferta das várias atividades desportivas, os seguintes valores: “entusiasmo, cooperação, lealdade, amizade, autocontrolo, alerto, autoiniciativa, intencionalidade, condicionamento, habilidade, espírito de equipa, firmeza/atitude, autoconfiança e nobreza competitiva”, de forma a ir de encontro a sociedade atual e contribuir para a sua construção.

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Em 2014, Brito e Pinheiro fazem referência à atividade física e desportiva como sendo um dos principais eixos estruturantes da Educação Integral nas Sociedades Modernas. Por essa razão é que a disciplina de Educação Física faz parte dos currículos escolares desde o pré-escolar até ao ensino secundário, apesar de nem sempre serem aplicados na sua totalidade por diversas razões. Ao semear e potenciar na infância o gosto pela atividade desportiva, poderá permitir chegar à idade adulta com estilos de vida ativos.

No entanto, apesar do desporto estar mais presente na vida das pessoas e ocupar cada vez mais o seu tempo, com maior incidência nas crianças e jovens, segundo Costa, Serôdio & Maia (2009, p.47) não se tem verificado a “aquisição de hábitos desportivos nos homens e mulheres portuguesas”, apesar de praticarem desportos quando crianças e jovens acabam mais tarde por abandonar.

Pode-se concluir que o desporto hoje em dia está inserido na sociedade e em todas as classes sociais de diversas formas, e que é utilizado pelo ser humano com vários objetivos. No dia-a-dia do ser humano o desporto tem um grande impacto, uma vez que é através dele que o individuo procura o seu bem-estar, uma saúde melhor, realização pessoal/social e corporal, recreação e/ou espetáculo.

2.3 A Dimensão Social do Desporto

“O desporto atualmente é considerado um dos maiores fenómenos sociais do século” (Maia, 2010, p.1).

Marivoet (1997, p.101) afirma que “o interesse pelo desporto tem vindo ao longo deste século a ganhar um importante significado social, sobretudo nas sociedades ocidentais mais industrializadas, assim como, se tem assistido a uma diversificação nas formas de estar e participar neste espaço social”.

Já Araújo (1998, p.182) diz que “é através da análise da evolução da sua modalidade, no seio das estruturas sociais, que a forma de estar do treinador vai sendo alterada no sentido de acompanhar as mudanças que contribuem para consolidar o desenvolvimento desportivo como reflexo do desenvolvimento social”. O mesmo autor, alude que a dimensão social do desporto expressa-se de diversas formas tais como: aspetos culturais, científicos, pedagógicos, estéticos, e também pelos seus diferentes níveis de prática, de base, de pequena, média e alta competição, de lazer e recreação, de preparação e manutenção profissional. Menciona ainda que o desporto na vertente

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sociocultural baseia-se nos valores morais, sociais, estéticos que direcionam a sua conduta e a sua riqueza de saberes, que com a passagem dos anos são passados de geração em geração, tendo como objetivo a superação por parte daqueles que a ele se dedicam. No entanto, só será considerado positivo como meio sociocultural, quando diligencie a evolução do ser humano nas suas capacidades globais e seja conduzido através de perspetivas formativas e educativas, que estejam a acima dos interesses do ser humano analogamente a outros cidadãos que casualmente queiram prejudicar.

O mesmo professor refere como a Educação Física e o Desporto são importantes nas sociedades modernas, considerando-as “imprescindíveis meios de cultura e de desenvolvimento social, tendo como um dos seus objetivos fundamentais aperfeiçoar as formas básicas do movimento humano”. Em suma, “é através do movimento corporal que se estabelecem as necessárias relações entre os cidadãos bem como a respetiva integração social e a expressão do seu nível cultural e de humanização.” (Araújo, 1998, p.138).

Posteriormente, o mesmo autor (2002) diz que no desporto de alto rendimento a sua dimensão social é exteriorizada sob a forma de aspetos culturais, pedagógicos, científicos e estéticos. Devido à sua popularidade, o desporto de alto rendimento transformou-se num grande espetáculo, num fenómeno de multidões, em que a expressão máxima é expressa através de acontecimentos desportivos de grande dimensão, tais como: Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e da Europa das diversas modalidades.

Mais recentemente, Marivoet (2011, p.24) diz que o desporto é cada vez mais uma ferramenta na inclusão social, uma vez que “o desporto apresenta bastantes potencialidades nas estratégias de inclusão social. A interação desportiva fomenta a igualdade dos participantes, jogadores ou atletas no espaço de jogo ou da atividade física, esbatendo assim as barreiras ou preconceitos”. Refere ainda que (p.24) “naturalmente,…a relevância do desporto como ferramenta de inclusão social na estratégia das políticas europeias se encontra relacionada com a realidade social e económica, nomeadamente a exclusão social e étnica, o racismo e a intolerância e xenofobia face às populações imigrantes.”

Assim sendo, pode-se concluir que cada vez mais o desporto tem um grande impacto social na sociedade, uma vez que permite contacto entre povos de diversos países, várias etnias, permitiu e permite também a afirmação da mulher na sociedade. Através do desporto muitas causas humanitárias são conhecidas e apoiadas.

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3. Alto Rendimento Desportivo

Neste capítulo far-se-á uma abordagem ao alto rendimento na sua generalidade, o seu conceito, impacto na sociedade, suas características e respetivo enquadramento normativo.

3.1 Conceito de Desporto Competição/Alto Rendimento

Pataco (1997) diz que a alta competição, devido ao inusitado impacto que tem no plano social, é um fator importante no desenvolvimento desportivo.

Para Lima (1997, cit. por Castro, p.10) os significados sociais do desporto de alta competição pressupõem necessariamente que:

 O desporto, em geral, esteja inserido na matriz cultural constituída pelos valores que uma sociedade concreta foi elaborando, integrando, transmitindo e consagrando nas interações sociais ao longo da sua própria historia e nos quais reconhece parâmetros que a individualizam no relacionamento com as demais comunidades.

 As atividades físicas e desportivas sejam aceites como factos sociais que devem ser incluídos nos projetos de desenvolvimento social, numa perspetiva de valorização individual que respeita os direitos do ser humano, no quadro definido pelas comunidades internacionais.

Para Lima (1990), à alta competição pertencem os atletas mais distintos de diferentes modalidades incluídas no sistema desportivo.

Será atleta de alta competição aquele que, na sua modalidade, seja um efetivo e regular competidor e um dos mais distintos entre os que a essa modalidade se dedicam (Lima, 1990).

Já Carvalho (2002, p.76) defende “que para integrar este conceito poderá não bastar ser campeão nacional, integrar a seleção nacional, ou ser um profissional do desporto prestigiado local ou nacionalmente, caso estes factos não se repercutam na obtenção de resultados internacionais suficientemente meritórios face aos padrões internacionais.”

O conceito de desporto de alta competição está relacionado com um elevado cariz de seleção, rigor e exigência, e, por isso, apenas alguns dos melhores praticantes se encontram abrangidos por este nível de prática desportiva (Marques, Cardoso, Alves & Sobral, 2002).

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Segundo Carvalho (2002, p.72), a prática desportiva inserida no âmbito do desporto de alto rendimento “corresponde à evidência de talentos e de vocações de mérito desportivo excecional, aferindo-se os resultados por padrões internacionais, sendo a respetiva carreira orientada para o êxito na ordem desportiva internacional.”

Carvalho (2004, p.325) considera que “os atletas que alcançam distinção à escala internacional através dos seus feitos desportivos, ultrapassando os mais elevados níveis de exigência técnica e social na sua carreira desportiva, conquistam um novo estatuto, passam a ser figuras públicas, um referencial e um modelo para os mais jovens e um orgulho para os adultos, aos quais o Estado confere determinados direitos e deveres”.

De acordo com Lima (1987, p.4), “os condicionalismos sociais que impulsionam o homem a afirmar-se como um ser individualizado e único, levam tanto no desporto como noutras atividades a tentativas de superação dos resultados obtidos através do aperfeiçoamento e do desenvolvimento das suas capacidades que desencadeiam um processo criador de novas experiências, novos conhecimentos e novas etapas”.

Para Zenha, Resende & Gomes (2009), o desporto de alta competição está diretamente ligado a um nível de rigor e exigência máximo, que seleciona os melhores, por conseguinte, só os que realmente são melhores praticantes estão abrangidos por este regime.

Constantino (1991) refere-se à alta competição como “anormalidade”, o “extremo” do desporto, onde para se atingir o objetivo final tudo é permitido. Há ainda autores que destacam o facto da parte educativa de representar um país, a identificação com os desportistas geram nas pessoas um sentimento de patriotismo e de consciência nacional.

Durting (1994, cit. por Carvalho, 2000, p.27) refere que há duas relações a considerar no “desporto de elite e cultura: o atleta de alto nível herói e vítima”, afirmando sem qualquer hesitação que seja qual seja a sua forma, o fenómeno desportivo é cultura.

Já Sérgio (2014) faz uma interligação entre o desporto de alto rendimento e a saúde, referindo que “no desporto de alta competição, não se faz desporto para ter saúde, mas porque se tem saúde. E que a sua prática pode não dar mais vida aos anos.”

Pode-se considerar o desporto de alto rendimento como uma forma de educação e de formação dos cidadãos, devido aos seus importantes e imprescindíveis auxílios numa melhor qualidade de vida, na ocupação dos tempos livres ou ainda como forma de desenvolvimento sociocultural e turístico (Alves, 2002).

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Por conseguinte, a alta competição integra a derradeira etapa do processo social que dá resposta às carências de desenvolvimento da pessoa e da sociedade (Lima, 1981).

Lima (1997, cit. por Silva, 2014, p.18) refere que “grande parte das críticas que têm sido feitas ao desporto de alto rendimento devem-se ao facto de ele aparecer demasiadas vezes associado à política, à economia, à medicina e à farmacologia.” Observa que “o rendimento desportivo não está na origem deste sentimento negativo.” Alude ainda que o “incentivo à obtenção de um rendimento desportivo excecional é condição necessária à reabilitação da dimensão cultural do desporto”.

De acordo com Coelho (2007, p. 243), para se obterem os referidos resultados de exceção é impreterível os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento”.

3.2 Enquadramento Normativo

Efetivamente, o artigo 2º do Decreto-Lei n.º 272/2009 define alto rendimento como “a prática desportiva em que os praticantes obtêm classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função dos padrões desportivos internacionais”.

Estando o desporto presente na sociedade, ele também carece de ser regulado por normas e regras de organização, que orientam toda a sua atividade. Tal como explanou Carvalho (2004, p. 318) “foi com a Constituição da República Portuguesa, que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua magnitude enquanto direito individual”, com o artigo 79º intitulado “Direito à cultura física e ao desporto”. No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler:

1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.

Carvalho (2004, p.318) refere que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi assumida como matéria de interesse público” após 25 de abril de 1974, a designada revolução dos cravos.

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O primeiro normativo destinado à regulamentação da alta competição e do posicionamento dos agentes desportivo surge em 1976 com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de junho.

É desde “1976, com o I Governo Constitucional, que se inicia a produção normativa respeitante ao subsistema da alta competição”, onde foi elaborado o Decreto-Lei n.º559/76, de 16 de julho o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas internacionais” (Carvalho, 2000, p.98).

A mesma autora (2002, p.73) refere que no desporto de alto rendimento “as suas tremendas exigências de rendimento físico-desportivo” articulado com “os crescentes interesses políticos e económicos e com o elevado nível de atração que adquiriu junto do grande público” estabeleceu-se, assim como, “um espaço social a necessitar de um conjunto de normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento”.

O reconhecimento da alta competição surge então em 1980, através da Portaria n.º730/80, de 26 de setembro, tendo um papel fundamental no desenvolvimento desportivo. Sendo assim, e após a sua aprovação, foi adotada a regulamentação onde são referidos os apoios à prática desportiva de alta competição e é onde é feita referência ao estatuto de atleta de alta competição (Carvalho, 2002).

Pode ler-se no artigo 10.º deste regulamento e, ainda que de forma experimental, a criação de centros de formação para alta competição (Carvalho, 2000).

Passado um ano, isto é, em 1981, o Governo aprova uma nova Portaria (n.º1015/81, de 25 de novembro). Esta, ao ser adotada, anula a Portaria n.º730/80, de 26 de setembro, entrando assim em vigor uma nova regulamentação de apoio ao Desporto de Alta competição e do Estatuto do Atleta de Alta Competição em representação Nacional. Esta nova Portaria consigna a cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de instalações.

Em 1984, é aprovada e publicada a Portaria n.º809/84, de 15 de outubro, que adota um novo regulamento de apoio ao desporto de alta competição e ainda o estatuto de atleta de alta competição, alterando desta forma a Portaria anterior (n.º1015/81).

Decorridos seis anos, é publicada, a 13 de janeiro de 1990, a Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei n.º1/90. Esta regulamentação, que constituiu uma mais-valia para os atletas, é revista em 25 de junho de 1996, através da Lei n.º19/96, e determina as principais linhas político-jurídicas do sistema desportivo português relativas

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a três sectores: atividade desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. Sendo que a alta competição é referenciada no artigo 15.º do Capítulo II, no que concerne à “Atividade desportiva”, indicando os vários apoios para a alta competição, destacando-se o apoio financeiro como uma das formas de estímulo ao desenvolvimento da alta competição.

Ainda no mesmo ano, é aprovado e publicado o Decreto-Lei n.º257/90 de 7 de agosto, que instituiu novas medidas de apoio ao recente subsistema de alta competição, mas desta vez, além dos atletas, também são incluídos os agentes desportivos que estão envolvidos na preparação dos atletas, para que estes não sejam prejudicados na sua vida profissional e/ou académica (Dias, 2013).

Em 1995, há um aperfeiçoamento das medidas publicadas em 1990, através do Decreto-Lei, de 31 de maio, sendo esta normativa exclusivamente direcionado para os apoios concedidos à alta competição. A 10 de agosto de 1996 é publicado e adotado o Decreto-Lei n.º123/96, que altera o Decreto-lei 125/95, de 31 de maio (Carvalho, 2002).

O surgimento deste último Decreto-Lei (nº123/96, de 10 de agosto) é devido a necessidade de se efetuar alguns ajustes no Decreto-Lei antecedente, mais concretamente no que concerne ao acesso ao ensino superior dos atletas com estatuto de alta competição, à hipótese de ser concedida mais de uma licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público, à deliberação de dar a respetiva dispensa, à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A - N.º 185, 10 de agosto de 1996).

Apesar da existência da LBSD, outros normativos foram sendo difundidas, de forma a regulamentar outras questões intimamente ligadas à alta competição, tais como: medidas de apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013). Assim sendo, aqui ficam patenteados os principais diplomas publicados:

- Portaria n.º 737/91, de 1 de Agosto – Concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição, para que estes consigam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva.

- Portaria n.º 738/91, de 1 de Agosto - Estabelece formas específicas de apoio aos que desempenham funções no âmbito do subsistema de alta competição.

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- Portaria n.º 739/91, de 1 de Agosto – É definido o regime de requisição de técnicos e dirigentes que se dedicam especificamente ao subsistema de alta competição.

- Portaria n.º 740/91, de 1 de Agosto – Criado e fixado o montante dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos.

- Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de Abril – O seguro desportivo para os praticantes de alta competição não profissionais, é regulado.

- Portaria n.º 947/95, de 1 de Agosto – São definidos os critérios técnicos para a qualificação como praticante desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta competição.

- Portaria n.º 953/95, de 4 de Agosto – São definidos os critérios para a concessão de prémios em reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de Agosto.

- Portaria n.º 317-B/96, de 29 de Julho – É adotado o regulamento dos regimes especiais de acesso ao Ensino Superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta competição.

- Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de Março – Criação do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas (CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro de Alto Rendimento (CAR).

- Portaria n.º 393/97, de 17 de Junho – Concessão de prémios aos cidadãos com deficiência que se classifiquem num dos três primeiros lugares, em provas dos Jogos Paraolímpicos, campeonatos do Mundo, campeonatos da Europa e da Taça do Mundo de Boccia.

- Portaria n.º 205/98, de 28 de Março – São criadas normas relativas à concessão de bolsas académicas aos atletas de alta competição.

- Portaria n.º 211/98, de 3 de Abril – É definido e fixado o valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria n.º 953/95, de 4 de Agosto, uma vez que, a referida portaria não abrangia os

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resultados de excelência obtidos pelos cidadãos deficientes na prática desportiva em competições internacionais.

- Portaria n.º 392/98, de 11 de Julho – O seguro desportivo especial dos praticantes em regime de alta competição, é regulamento.

- Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro – São aprovados e regulamentados os regimes especiais de acesso e ingresso no ensino superior, permitindo aos atletas com estatuto e integrados no percurso de alta competição beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de satisfazer as condições (estatutos) há menos de dois anos contados a partir da data de apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º).

- Portaria n.º 854-B/99, de 4 de Outubro – É aprovado e instituido o regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior (referido no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro).

Volvidos catorze anos, há revogação da LBSD (Lei n.º1/90), com a publicação da Lei n.º30/2004, de 21 de julho, denominada Lei de Bases do Desporto (LBD). É nesta nova regulamentação que são introduzidas algumas alterações, mais concretamente na classificação da atividade desportiva, em profissional e não profissional. Classifica ainda, consoante os resultados obtidos por praticantes desportivos e seleções nacionais, como “Alta Competição” e “Seleções Nacionais” (capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º).

Esta nova legislação (Lei n.º30/2004) (LBD) é semelhante à Lei n.º1/90 (LBSD), ao considerar que “o desenvolvimento da alta competição é objeto de medidas de apoio específicas, atentas as especiais exigências de preparação dos respetivos praticantes”. As referidas medidas, destinam-se “ao praticante desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem como os técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua preparação desportiva”. As medidas de apoio praticadas são as que são expostas na LBSD, uma vez que não sofreu alterações.

No ano de 2007, é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º5/2007, de 16 de janeiro), onde na secção IV faz alusão ao alto rendimento. Esta secção é formada por dois artigos, mais concretamente o artigo 44º que refere as medidas de apoio, e o artigo 45º que faz referência à participação em seleções nacionais ou em outras representações de âmbito nacional, como sendo de interesse público, e por conseguinte, objeto de apoio e de garantia especial por parte do Estado.

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Decorridos praticamente dois anos, foi criado, a 12 de janeiro de 2009, o Decreto-Lei n.º10/2009, que estabelece um novo sistema de seguro para os atletas de alto rendimento, que cobre os especiais risco a que os atletas estão sujeitos.

Ainda em 2009, é aprovado e publicado o Decreto-Lei 272/2009, de 1 de outubro. Este Decreto-Lei teve como objetivo aperfeiçoar algumas falhas detetadas na legislação em vigor (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei n.º123/96), uma vez que esta nova regulamentação considerou a definição de desporto de alto rendimento vigente no normativo anterior muito permissivo, já que permitia que os apoios concedidos pelo Estado beneficiassem atletas cujos seus resultados não justificavam tal apoio.

Este regimento faz a distinção entre as modalidades Olímpicas e não Olímpicas, isto é, as que integram ou não o Programa Olímpico, para que os melhores apoios públicos sejam direcionados para as modalidades Olímpicas (artigo 6.º e artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 272/2009). Esta publicação fez ainda a divisão entre modalidades individuais e modalidades coletivas e, em ambos os casos, os atletas de alto rendimento passaram a ser diferenciados em três níveis: nível A, nível B e nível C. Estando inseridos os atletas com melhores resultados no nível A, ou seja, “praticantes desportivos que tenham obtido resultados efetivos em competições desportivas de grande seletividade” (in Diário da República, 1.ª série - N.º 191,1 de Outubro de 2009), permitindo assim a estes auferir dos apoios mais significativos do Governo (artigo 6.º e 7.º).

Esta diferenciação de níveis está também consagrada para pessoas com deficiência ou incapacidade, para que os mesmos também beneficiem dos apoios previstos (artigo 8º).

Ainda neste Decreto-Lei (n.º272/2009), mais concretamente do artigo 13º ao artigo 34º, foram determinadas para os atletas de alto rendimento, novos apoios. Ficaram também definidas, medidas de apoio para atletas que terminam as suas carreiras (capítulo IX, artigo n.º39, 40º,41º, 42º e artigo 43º).

A 16 de junho, é publicada a portaria n.325/2010, com o intuito de determinar os critérios gerais de classificação de determinadas competições desportivas como sendo de alto nível, para efeitos da integração dos respetivos praticantes no regime de apoio ao alto rendimento.

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Os critérios determinados são avaliados consoante o número mínimo de participantes de países, equipas ou praticantes desportivos, com uma determinada classificação no ranking de cada modalidade (in Diário da República, 1.ª série - N.º 115, 16 de Junho de 2010). Sendo que o presente estudo é realizado na Região Autónoma dos Açores, há que referir que para além dos apoios concedidos do Governo Central, os atletas de Alto Rendimento formados exclusivamente nos Açores podem receber apoios completares do Governo Regional, tal como está definido no capítulo VII do Decreto Legislativo Regional n.º 21/2009/A, de 2 de dezembro.

3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto

Rendimento

“Dá o teu melhor sempre que o teu melhor é exigido.

E o teu melhor é exigido todos os dias.” John Woden

(Treinador americano de Basquetebol 1910 -2010)

Vasconcelos Raposo (2015) destaca que “as elevadas exigências colocadas atualmente aos atletas de alto rendimento tornam necessária uma preparação em que todos os detalhes sejam cuidadosamente considerados e treinados”

“A excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades” (Maia, 2010, p.2).

Cunha (1997, citado por Bastos, 2009, p. 15) refere que um “ elemento fundamental para o desenvolvimento da carreira de um atleta reside na relação estabelecida com o seu treinador e na forma como este atua. O desempenho ótimo do atleta é determinado pelo complexo das suas capacidades, inatas e adquiridas, cabendo ao treinador descobri-las, aproveitá-las e desenvolvê-las…”.

Fernandez, Filho, Maldonado, Medeiros e Oliveira (2010, p.1) afirmam “que os alunos-atletas encontram dificuldades em conciliar a prática desportiva com os estudos” aconselharam a “uma melhor organização de tempo para que a carga horária de treino não interfira com os momentos de estudo”.

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Bento (1991, cit. por Silva, 2014, p.24) afirma que “para que o desporto de alto rendimento possa constituir um modelo válido de referência e de inspiração para crianças e jovens, não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito. É preciso torná-lo mais humano!”. Destaca ainda “ que o atleta apenas merece interesse ao desporto de alto rendimento na qualidade de produtor de resultados, perdendo todo o interesse quando esta qualidade desaparece.”

Para que se “respeite aquilo que tem de ser a preparação de um atleta de alto…”, a organização do desporto de alto rendimento deve ser feita de uma forma realista e concisa (Zenha, 2010, p.15).

Na sua investigação, Vasconcelos (2003) concluiu que a formação universitária e o desporto de alto rendimento são incompatíveis quanto à sua entrega, afirmando ainda que o atleta de alta competição deverá deixar tudo para trás e dedicar-se exclusivamente à alta competição.

Zenha (2010, p.17) refere que “a dedicação exclusiva e a tempo inteiro constitui condição e exigência feita atualmente a atletas que praticam desporto de alto rendimento, e obriga as instituições desportivas, clubes e federações, a encontrar soluções adequadas à satisfação plena daquelas necessidades”.

Refere ainda que as atividades sociais e profissionais são incompatíveis, para qualquer atleta que queira estar inserido no alto rendimento e no seu processo de treino. Será necessário o atleta de alto rendimento dedicar-se de forma exclusiva à causa (Zenha, 2010).

Os atletas de alto rendimento estão sujeitos a grandes exigências, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das suas prestações desportivas, provocando-lhes inúmeras dificuldades, sendo bastante complicado, a maioria das vezes, conciliar o Alto Rendimento e as atividades escolares (Zenha, Resende & Gomes, 2009).

Essas inúmeras dificuldades referidas têm um reflexo “de uma forma global ou cumulativa naquilo que se podia denominar como ordenação da vida pessoal, familiar, escolar, profissional e social (Lima, 2002, p.11).

Ainda o mesmo autor (2002, p.12) alude que, para se conseguir ser um atleta de alto rendimento, é indispensável “consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional,

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Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal
Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades
Figura 3 – Domínio III – Conceção de Apoios e Dificuld

Referências

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