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PARTE III CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJECTO

3.4 O aluno

Toda a informação sobre o “Hugo” foi obtida através de dados fornecidos pelo tio à técnica de serviço social (ficha de serviço social anexo nº3 ), de entrevista à mãe (anexo nº 7) , da avaliação psicológica feita pela psicóloga (anexo nº 4) e do PEI do aluno (anexo nº5).

38 3.4.1 História do desenvolvimento

O “Hugo” é natural de São Tomé e Príncipe, nasceu em Julho de 1998 de parto normal, no hospital e assistido por médico e parteira. Segundo a mãe, enquanto bebé chorava bastante e mexia-se muito. Era uma criança tranquila e que reagia mal quando contrariado. Sofreu um acidente de carro aos 5 anos (atropelamento).

Por volta dos 2 anos a médica não confirmou a surdez, sendo a data de detecção indeterminada, após várias consultas. A criança foi encaminhada para consulta de otorrinolaringologia em Lisboa, mas que no entanto, foi sendo protelada pelos serviços, durante anos.

O “Hugo”, com 11 anos de idade, chegou a Lisboa em Setembro de 2009 e foi-lhe diagnosticada uma surdez neurosensorial bilateral profunda sem qualquer tipo de estimulação, na consulta de otorrinolaringologia e audiometria em Novembro de 2009 (anexo nº2), tendo sido aparelhado nessa altura. De acordo com o relatório da terapeuta da fala (anexo nº 9) o aluno é portador de uma surdez pré-locutória bilateral grave. Está aparelhado bilateralmente mas os ganhos protésicos não são evidentes.

3.4.2 Contexto familiar

De acordo com a entrevista feita à mãe, o “Hugo” tem mais 3 irmãos, com 4, 7 e 16 anos respectivamente, a viverem em S. Tomé e Príncipe com o pai.

Relativamente à interacção comunicativa na família, até à vinda para Lisboa, o “Hugo” evitava fazer pedidos, tentando resolver autonomamente as situações e quando pedia alguma coisa, recorria a gestos ou usava objectos. A mãe recorria a mímica e a gestos para lhe dar ordens. O aluno recorria ao acto de apontar para dar informações. A mãe refere dificuldades nos processos de disciplinação e compreensão, por ausência de uma língua partilhada. Segundo conversas informais com o tio, o Hugo não tinha regras em São Tomé e estava habituado a fazer tudo o que queria. Actualmente, o aluno vive com a mãe, em casa do tio e juntamente com a tia e um primo de 3 anos. O tio criou regras em termos de higiene e tarefas dentro de casa (pôr a mesa, lavar a loiça, não ver todo o tipo de programas na televisão) que o “Hugo” já interiorizou e cumpre.

3.4.3 Percurso Escolar

O “Hugo” entrou para o jardim-de-infância aos 3 anos e mostrava agressividade com as outras crianças e comportamentos inadequados. Ao entrar aos 7 anos para o 1ºCEB em São Tomé, mostrava gosto por ir à escola, uma boa relação tanto com os colegas como

39 com a professora. Frequentou a escola sem ter apoio da Educação Especial. Segundo a mãe, o “Hugo” fazia as aprendizagens por cópia, sem saber o que estava a fazer e transitava de ano porque a professora queria ficar com ele na sua sala.

O “Hugo” chegou a Portugal no fim do mês de Setembro de 2009, tendo sido matriculado no 1ºano de escolaridade, numa Escola de Referência para o Ensino Bilingue de Alunos Surdos da zona de Lisboa. Nos primeiros meses, no percurso casa- escola o aluno foi acompanhado pelo tio, tendo depois o transporte ficado assegurado por uma empresa.

A mãe indica que actualmente o filho, na interacção com ela, lhe ensina LGP. Em conversa informal com a mãe, ficámos ainda a saber que esta começou a aprender LGP, numa associação que presta apoio a famílias com filhos surdos.

A mãe refere que, desde que o filho começou a frequentar a escola do 1º CEB em Lisboa, já consegue identificar palavras e perceber o que elas dizem, relacionar assuntos, já sabe o nome de muitas coisas em LGP e explicar coisas em LGP.

3.4.4 Nível de competências no início da intervenção

Apresentamos em seguida a síntese dos resultados da avaliação inicial ao aluno, realizada através de observação directa, no início do ano lectivo.

 Comunicação

- Comunicação não verbal

De acordo com o que observámos em situação de sala de aula e recreio, o aluno apenas utilizava gestos mímicos que criou com a sua família.

Mostrava um olhar fixo na pessoa que com ele tentavam comunicar, apontava e recorria a movimentos físicos com os braços e a sons vocais para procurar a atenção do adulto, para fazer algo ou pedir alguma coisa. Apresentamos em formato digital um breve registo vídeo da forma de comunicação do aluno, nesta altura (apêndice 1a)

- Linguagem oral

Não possuía um sistema linguístico estruturado. Não utilizava a fala para comunicar.

40 Quando chegou à escola, a nível da compreensão da linguagem, parecia não compreender as mensagens transmitidas pois acenava com a cabeça que sim, a toda e qualquer tentativa de diálogo.

- Língua gestual

De acordo com a formadora de LGP, o “Hugo” quando chegou à escola não tinha nem o vocabulário nem a estrutura da língua gestual portuguesa. A nível da produção da língua, expressava-se com gestos mímicos sem ligação à LGP e com pouca expressão facial. Segundo a avaliação da formadora de LGP no final do 1º período o “Hugo” mostrava empenho na aprendizagem da língua gestual, sendo um aluno bastante observador e com uma excelente memória visual, necessitando de trabalhar as expressões faciais e corporais.

 Desenvolvimento cognitivo

De acordo com a avaliação psicológica (anexo nº 4) o “Hugo” apresentava valores baixos na capacidade de estruturação espacial e representação mental comparativamente com o nível etário.”

Era um aluno que despendia uma atenção sistemática nas aprendizagens, esforçando-se por estar atento às aulas e aos professores, podendo na opinião da psicóloga, sentir que o sucesso escolar está associado a reforços positivos.

 Desenvolvimento psicomotor

É um aluno esquerdino, que demonstrava boa agilidade motora e que se deslocava sem problemas no espaço da escola. Revelava autonomia em termos de alimentação, higiene e vestuário.

 Desenvolvimento socio-emocional

De acordo com os testes projectivos – Casa, Árvore e Figura Humana – aplicados pela psicóloga, o aluno revelava um sentimento de auto-defesa contra o mundo que se associa a uma excessiva dependência dos outros. Esta postura explica-se pelo facto de o aluno estar em Portugal há pouco tempo, num ambiente totalmente desconhecido que o levava a demonstrar um desejo de protecção.

41 No domínio das emoções revelava-se retraído, cauteloso, tímido perante a autoridade e dependência materna.

É um aluno cujas funções mentais permitem manter relacionamentos satisfatórios, interagindo com os colegas e grupo de pares adequadamente. Segundo informações recolhidas a partir da entrevista feita à mãe, o “Hugo” durante na idade de jardim de infância era uma criança que mordia e batia nos colegas. Quando entrou para a escola o seu comportamento modificou-se, tendo um bom relacionamento com os colegas, de quem era amigo. É uma criança que gosta de jogar à bola e de ver televisão com o primo de três anos. No entanto a mãe referia que o filho fica muito agressivo e agitado quando contrariado. A ausência de uma língua partilhada por ambos, tornava difícil o entendimento e compreensão entre ambos.

 Aprendizagens escolares básicas - Linguagem escrita

Na escrita, o aluno mostra uma caligrafia cuidada embora se limite a copiar palavras e frases sem entender o seu significado. De acordo com a avaliação do 1º período, o aluno identifica as palavras seleccionadas, mas por vezes fá-lo de forma pouco consistente.

- Matemática

Ao nível da matemática o aluno no final do 1º período, demonstra progressos na aquisição de conceitos matemáticos, nomeadamente na associação dos números à quantidade e na noção de “maior que”, “menor que”. Já consegue realizar pequenas operações matemáticas do algoritmo da adição com apoio de material manipulável. Não consegue dizer e pôr por ordem os dias da semana.

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