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3 Revisão Bibliográfica

3.2 Revisão do Estado da Arte

3.2.3 Alunos com dificuldades de comunicação

Concretamente, acerca das dificuldades de comunicação, estas podem ser de dois tipos: dificuldades no discurso ou dificuldades na linguagem. As primeiras ocorrem quando a articulação, a qualidade da voz ou a fluência dificultam a compreensão por parte do receptor. As dificuldades na linguagem ocorrem quando o emissor ou o receptor são incapazes de utilizar

sons, sinais ou regras da linguagem de comunicação. As ferramentas de comunicação aumentativa apoiam e potenciam a capacidade de comunicar de uma pessoa e as ferramentas alternativas permitem substituir o discurso como forma de comunicação [HG00]. O uso de computadores para comunicar, através da Internet, pode expandir o ambiente de ensino para além da sala de aula, permitindo aos alunos com dificuldades o acesso a informação de todo o mundo. Ao dar aos estudantes a oportunidade de comunicar de diversas maneiras, através das novas tecnologias, ajuda-se os alunos a interessarem-se por actividades cognitivas mais complexas, resultando numa instrução eficaz, e satisfazendo, ao mesmo tempo, as necessidades sociais dos alunos com dificuldades de aprendizagem ligeiras [HG00].

As tecnologias de comunicação facilitam o estabelecimento de relações pessoais e permitem o treino de competências de escrita num contexto apreciado pelos alunos, sem o medo de serem excluídos por causa da sua deficiência [HG00].

A Internet, as comunicações e apresentações multimédia dão oportunidade a todos os estudantes de aplicarem as suas capacidades em projectos que incluam problemas reais [HG00]. Os investigadores reportam também que a motivação dos estudantes em risco ou com dificuldades de aprendizagem melhora muito, quando estes trabalham em projectos que se destinam à exposição em fóruns ou sítios web para os pais, pessoas sem deficiências e membros da comunidade, permitindo que aqueles se sintam alunos tão capazes como os demais. [HG00].

Um outro estudo, que examina o impacto dos computadores na aquisição de vocabulário em crianças com autismo, analisa as variáveis: atenção, motivação e aprendizagem de palavras, fazendo a comparação entre um programa comportamental e um software educacional. O software foi criado paralelamente ao programa comportamental, mas acrescenta qualidades como som e animação, o que fez com que as crianças com autismo estivessem mais atentas, motivadas e aprendessem mais vocabulário no computador do que no programa comportamental. [MC00].

Os resultados deste estudo revelaram que as crianças estavam mais atentas e lembravam-se de mais vocabulário nas sessões do computador do que nas sessões do professor. Um número significativamente maior de crianças estava disposta a prolongar a aprendizagem no computador (57%), quando comparado com o número de crianças que estava disposta a estender o seu treino com o professor (0%). Assim, as crianças que estudaram no computador estavam mais atentas (97%) do que as que aprenderam com o professor (62%), aprendendo 74% das palavras pretendidas, contra apenas 41% do grupo ensinado pelo professor. [MC00].

Em outro estudo, abaixo explanado, foi utilizado o software Programs for Early Acquisition of Language, escolhido por permitir uma instrução interactiva apropriada, com vocabulário controlado, aplicado num grupo de 8 crianças de idade mental de pelo menos 15 meses, com poucas capacidades comunicativas, usando apenas palavras soltas. As crianças premiam grandes teclas com imagens e ouviam a palavra acompanhada de uma animação no ecrã. [SO97].

O vocabulário escolhido dizia respeito a brinquedos, estando disponíveis os objectos reais correspondentes, que eram entregues aos alunos, para brincarem durante um período curto de tempo. Os adultos encorajavam as crianças verbalmente, comentando as acções com linguagem simples e não havia qualquer pressão para o desempenho de cada criança. Também foi levada a cabo terapia tradicional, realizada por terapeutas da fala, utilizando um conjunto de brinquedos e objectos, à semelhança do que acontecia no computador. As capacidades comunicativas das crianças foram medidas no início, a meio (quando os grupos trocavam da terapia computacional para a tradicional e vice-versa) e no fim do tratamento. Não foram encontradas grandes

diferenças entre as duas intervenções, tendo ambas obtido idênticas melhorias, podendo concluir- se que o computador permitiu uma compreensão de linguagem tão eficazmente como o procedimento habitual de terapia [SO97].

Outro estudo descrito foi feito com o objectivo de saber qual o efeito do treino do computador em crianças em idade escolar com dificuldades na aprendizagem de linguagem. As crianças tinham sido diagnosticadas com dificuldades, múltiplas deficiências, desordens como autismo e paralisia cerebral. O principal objectivo era o desenvolvimento da linguagem, sendo ensinados por um professor. Os alunos foram sujeitos a 16 sessões de computador com a duração de 30 minutos, realizadas numa sala aparte da sala de aula. As crianças foram divididas em dois grupos, sendo que às 10 semanas o grupo1, que tinha recebido terapia do computador deixava de a receber e o grupo 2 passava a recebê-la. A análise dos testes de vocabulário mostrou um efeito positivo evidente do treino no computador. Às 10 semanas, a meio do estudo, o grupo 1 tinha melhores resultados do que o grupo 2. No período de tempo em que um grupo só estava inserido no programa de linguagem de sala de aula, não houve um progresso comparável ao do grupo que recebia terapia adicional do computador. Um teste feito seis semanas mais tarde, mostrou ainda que as crianças haviam retido o conhecimento. Neste estudo, o uso do computador, para treinar o desenvolvimento da linguagem, teve um efeito positivo geral no crescimento de vocabulário [SO97].

Algumas das conclusões tiradas foram que:

i. os computadores podem ser utilizados por crianças muito novas, com 2 anos de idade; ii. a motivação e a atenção podem ser mantidas por muitos meses. Esta última conclusão torna útil a abordagem ao ensino por computador em programas de remediação junto de crianças com dificuldades de linguagem. Não deve, no entanto, ser descurado o contexto em que se desenrola o treino, o qual deve permitir:

i. a troca de impressões entre os participantes;

ii. no caso das sociedades multiculturais, deve-se atender à correspondência cultural entre os acompanhantes do treino, que podem não ser necessariamente profissionais, e a origem das crianças, para harmonizar as referências culturais. [SO97].

O software utilizado nestes estudos deve ser adequado ao nível das crianças a quem se dirige em termos de conteúdos de vocabulário, e deve ser apropriado em termos de estímulos e recompensas [SO97].