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Os alunos segundo o Conselho de Classe

No documento margarethconceicaopereira (páginas 84-87)

2 OS RESULTADOS DA PESQUISA

2.5 Um olhar do canto esquerdo da sala: elementos vistos na pesquisa

2.5.3 Os alunos segundo o Conselho de Classe

A reunião de Conselho de Classe teve por finalidade avaliar o resultado do 1º bimestre do turno da tarde. Assistir a essa reunião possibilitou conhecer parte do contexto em que o trabalho da professora Luísa aconteceu. Retornou ainda informações a respeito dos alunos da 6ª série e de problemas enfrentados pela turma. Foi uma oportunidade de observar os posicionamentos da professora Luísa com outros professores das outras disciplinas, percebendo como ela coloca o planejamento de matemática frente a outras matérias. Emergiram colocações sobre o sistema de aprovação e avaliação da escola no ano anterior que evidenciaram posturas de alguns professores em relação ao processo de ensino-aprendizagem.

A reunião não se restringiu à leitura das notas dos alunos, essas foram consideradas dentro de um contexto mais amplo, trazendo a situação familiar de alguns alunos para a discussão. Foram perpassados os problemas individuais e coletivos dos alunos da 6ªB e pontuados alguns com dificuldades, outros com desinteresse e os que progrediram a partir do trabalho desenvolvido ao longo de 2007. Os professores consideraram nesse levantamento as situações familiares dos alunos. Um dos apontamentos feitos é de que os pais nem sempre participam da vida escolar dos filhos, por mais que a escola promova oportunidades para isso. Os professores entendem ser esse um fator que influencia o desempenho de alguns alunos.

A professora “MR” manifestou-se contrária às aprovações do ano anterior na escola. Ela questionou a aprovação de alunos em outras disciplinas tendo sido estes, reprovados em português ou matemática. Acredita que nesses casos os alunos não têm condições de dar prosseguimento aos estudos da série seguinte. Esse questionamento tornou-se aqui relevante

com o fim de abordar, de maneira superficial, a importância que é dada à matemática no contexto escolar. Sob o ponto de vista da professora “MR”, parece que só essas duas disciplinas são capazes de prover e diagnosticar as habilidades necessárias aos alunos para que sejam promovidos à série seguinte. Essa relevância é dada também a elas nas avaliações externas à escola, o que pode ter influenciado a opinião dessa professora. A justificativa para que as disciplinas português e matemática figurem prioritariamente em avaliações como a “Prova Brasil”, segundo os documentos oficiais, fundamentam-se no fato das questões serem “elaboradas com base nas habilidades de leitura e interpretação e de raciocínio diante de problemas lógicos”, tendo por finalidade conseguir com os resultados “fazer um diagnóstico da situação nacional e regional da educação no país” (BRASIL, 2007). Pensamentos como o da professora “MR” são comuns nas escolas. São em geral resultado de vários fatores, sendo alguns deles históricos e sociais. Por décadas, a matemática mantém um status de superioridade em relação às outras disciplinas. Há, entretanto, todo um movimento na educação matemática com o fim de desmistificar essa visão (LINS, 2004; D'AMBRÓSIO, 2004; CLARETO; SÁ, 2006).

As discussões que se seguem sobre a aprovação trazem para o debate a existência de dois alunos na 6ªB que não sabem ler corretamente. É colocada em destaque a situação do aluno “P”, o qual, segundo o relato dos professores de inglês, geografia e matemática, não sabe juntar sílabas. A professora de português “MA” a esse respeito manifesta-se da seguinte maneira: “Eu não posso parar minha disciplina para cuidar disso”. Além de acreditar que não seja responsabilidade dela, essa professora desconhecia o problema do seu aluno. Nunca havia pedido a ele para fazer leitura oral em sala. Essa professora parece não trabalhar a partir de uma avaliação diagnóstica dos seus alunos para então desenvolver um trabalho direcionado.

Foi evidenciado um problema latente: alunos que não estavam completamente alfabetizados cursando uma 6ª série. Segundo a professora Luísa, existia um projeto com o fim de desenvolver essas habilidades de leitura e interpretação nesses alunos. Trabalho assumido por todos os professores, mas nem todos o realizavam.

As discussões seguiram sobre avaliação e Luísa destacou que a mesma deveria ser reavaliada na escola. “Sair por aí dando ponto de conceito! É justo dar zero de conceito para o “P”? Ele é indisciplinado, mas não entende uma linha do que a gente fala! Aí, dá conceito para outro que sabe, mas é indisciplinado também.”. Na opinião de “MA”, o aluno é apenas “malandro”, não admitindo que possa ter falhado por não ter identificado a dificuldade dele.

O professor de inglês, em defesa de que seja dado um apoio para solucionar o problema de “P”, ressalta que “a alfabetização deve ser feita de 1ª a 4ª série, mas se o aluno chega à 5ª série assim, sem saber, como ele vai prosseguir? O que fazer com 'P'?” A professora “MA”manifesta-se: “Você não faz nada! Eu não faço nada! A mãe já foi avisada e tentou apoio na escola anterior em vão. Dê a ele o que ele merece! Errou, dê nota baixa.”. A reflexão de “MA” evidenciou riscos de “desinvestimento em relação ao aluno” em que “o professor, em certo sentido, desiste de ensinar para aqueles sujeitos considerados por eles e pela escola como incapazes” (SOUZA JUNIOR, CUNHA, 2005, p.20).

A reunião serviu para evidenciar os problemas de aprendizagem da 6ª série B, destacando os dois alunos com mais dificuldades. Evidenciou-se a postura dos professores diante do projeto coletivo de recuperação desses alunos, o que poderia interferir nas escolhas para o trabalho da professora Luísa com a referida série.

Apesar de muito culpabilizado nos documentos, o professor é visto, no projeto ER, não só como um mero reprodutor de informações aos alunos. Considera-se importante identificar e analisar “especificidades” nas práticas destes, bem como a relação da escola com

os alunos e suas famílias no cotidiano. Segundo a Secretária de Educação de Minas Gerais, Vanessa Guimarães Pinto, as mudanças na educação dependem do pensamento e atitude de todos os envolvidos no processo. Acreditando que seja necessário ao professor trabalhar as motivações e desenvolver suas capacidades, passando do “papel de ator para o de autor, enquanto pessoa que cria, define seu próprio papel e traça caminhos” (MINAS GERAIS, 2004a, p.8-9).

No documento margarethconceicaopereira (páginas 84-87)