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123 uma forma de minimizar estes efeitos, visto que os produtos diferenciados, apesar de acompanharem os preços do café commodity, sempre têm um prêmio no preço de venda.

Com relação aos pressupostos comportamentais, fontes de incerteza, percebe-se que ambas as partes reconhecem comportamento oportunista umas nas outras. Ou seja, a empresa idealizadora afirma que os consorciados agem oportunisticamente quando querem vender um café de baixa qualidade como rastreado. Já os consorciados ressaltam que a empresa idealizadora ao não pagar o preço de mercado no café está agindo de forma oportunística.

Estes elementos, além dos problemas mencionados anteriormente no compartilhamento de informação, são as principais fontes de incerteza e custos de transação no Consórcio. Por isso há necessidade de se implementar mecanismos para reduzir esses custos ex-post, mesmo sabendo que tais mecanismos aumentam os custos ex-ante. Assim, espera-se que tais mecanismos tornem a estrutura de governança mais eficiente, ou seja, com mínimos custos de transação.

5.8 O AMBIENTE INSTITUCIONAL NO C.A.F.E.

O ambiente institucional constitui o que alguns autores definem como as “regras do jogo", que condicionam o aparecimento e seleção de formas organizacionais que comporão a estrutura de governança. As instituições podem ser tanto formais (constituições, leis, direitos de propriedade, entre outros), quanto informais (crenças, tradições códigos de condutas e costumes). Segundo North (1990), as instituições com as restrições econômicas definem o conjunto de alternativas e oportunidades a que os agentes econômicos se sujeitam na sociedade, favorecendo, ou não, a elevação dos custos de transação, transformação e lucratividade existentes no sistema econômico. Assim serão buscados elementos do ambiente institucional que possam estar causando custos de transação bem como elementos relacionados à capacidade de adequação das empresas participantes do Consórcio ao ambiente institucional como uma forma de se reduzir os custos de transação e tornar a estrutura de governança mais eficiente.

Os consorciados quando questionados sobre a legislação existente, ou seja, se esta facilita a sua atividade empresarial, 3 se mostraram indiferentes e 14 afirmaram que a legislação não facilita a atividade, como pode ser visto na Tabela 64. Portanto, seria uma fonte de custos de transação.

124 TABELA 64: A legislação Facilita a Atividade dos Consorciados

Respondentes Indiferente Sim Não

Legislação facilita

a atividade 100% 17,65% 0% 82,35%

Fonte: Dados da pesquisa

Dos consorciados que vêem a legislação existente como um entrave para o desempenho empresarial, 10 apontaram a legislação trabalhista como a principal fonte de problemas, a legislação tributária não foi mencionada de forma isolada, mas 4 dos consorciados afirmaram que ambas as legislações são elementos que dificultam a atividade empresarial, conforme a Tabela 65. O destaque dado à legislação trabalhista pode ser explicado devido à cafeicultura ser uma atividade com uma grande demanda por mão-de-obra, principalmente no período da safra. Como já mencionado, os consorciados empregam, em média, 99 funcionários safristas, variando de 20 a 300 por propriedade. A empresa idealizadora reconhece que a legislação trabalhista é a que mais dificulta a atividade do produtor de café, enquanto que, para ela, não dificulta em nada. Com relação à legislação tributária a empresa idealizadora não tem problemas pois as atividades de exportação não são tributadas. Assim, tem-se que dentro da legislação que envolve o Consórcio, a trabalhista seria a principal causadora de custos de transação.

TABELA 65: Legislação que Mais Dificulta a Atividade dos Consorciados

Respondentes Trabalhista Tributária Ambas Legislação que

mais dificulta a atividade

82,35% 58,82% 0% 23,53%

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 66 tem-se a preocupação dos consorciados com a adequação à legislação existente e ao comportamento do consumidor. Em se tratando de legislação, percebe-se uma maior preocupação na adequação à trabalhista, visto que foi assinalada por 16 dos consorciados, e destes, 13 procuram se adequar totalmente, enquanto que, 3 não se adequam totalmente às alterações na legislação trabalhista. A legislação tributária foi assinalada por 13 dos consorciados, dos quais, 9 procuram se adequar e 4 não se adequam integralmente. A adequação às mudanças de hábitos dos consumidores foi assinalada por 14 dos consorciados como sendo uma preocupação corrente, enquanto, 3 consorciados não se mostraram

125 preocupados. A empresa idealizadora ressalta a importância de se adequar às alterações nos hábitos dos consumidores, e afirma que a criação do Consórcio é um passo nesse sentido.

Isto, é reforçado na Tabela 67, onde os consorciados reafirmam a importância de se adequar ao comportamento do consumidor, pois 16 consorciados afirmam que, em média, esta adequação é muito ou extremamente importante para o sucesso do Consórcio. Percebe-se aqui, uma convergência na opinião dos consorciados, no sentido de buscarem se adequar ao comportamento do consumidor como um fator significativo para a sua continuação no Consórcio e na produção de especialidades. Já com relação à adequação à legislação, 16 consorciados a avaliam, em média, como muito importante. Ficando claro a superioridade, na opinião dos consorciados, da importância de se adequar às mudanças de hábitos dos consumidores sobre a adequação à legislação. A empresa idealizadora afirma que não está atuando para auxiliar o produtor a se adequar às legislações existentes, mas busca incentivar de toda forma a obtenção de um produto de qualidade superior, o que é um atendimento às mudanças de hábitos dos consumidores.

TABELA 66: Adequação dos Consorciados à Legislação Trabalhista, Tributária e ao Comportamento do Consumidor

Adequação Respondentes Sim Não

Legislação Trabalhista 94,12% 76,47% 17,65%

Legislação Tributária 76,47% 52,94% 23,53%

Comportamento do

Consumidor 100,00% 82,35% 17,65%

Fonte: Dados da pesquisa

TABELA 67: Importância de Ações de Adequação à Legislação e ao Comportamento do Consumidor Para que os Consorciados Continuem no Consórcio e

Produzindo Especialidades (1 para insignificante e 5 para muito importante)

Adequação Respondentes Mínimo Máximo Média Moda Coef. Var.

Comportamento

do Consumidor 94,12% 4 5 4,75 5 9%

Legislação 94,12% 1 5 3,69 5 47%

Fonte: Dados da pesquisa

Dessa forma, percebe-se que os elementos do ambiente institucional são fontes de custos de transação e que a adequação a esses elementos é um fator redutor destes. Nota-se

126 que existem problemas institucionais, principalmente no que se refere às alterações nas regras do jogo, no caso, as alterações na legislação trabalhista, que é obrigatória. As mudanças de hábitos dos consumidores não são enfrentadas como problemas do ambiente institucional e sim como oportunidades de mercado e, conseqüentemente, de ganhos. A estrutura de governança do Consórcio apresenta falhas no incentivo à adequação à legislação e aos hábitos dos consumidores, este último se manifesta pelo fato de o Consórcio estar, segundo a empresa idealizadora, com cafés de baixa qualidade, e isto é comprovado quando os consorciados, de forma recorrente, afirmam que não venderam café com valor agregado. Portando, é preciso esclarecer as regras do jogo, tanto internas quanto externas ao Consórcio.