• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO VI – MICROFINANÇAS: UMA VISÃO GERAL E AS EXPERIÊNCIAS NA AMÉRICA

6.2. M ICROFINANÇAS NA A MÉRICA L ATINA

6.2.2. Ambiente para a concessão de microcrédito na América Latina e Caribe

Bolívia, Peru, México, Colômbia e Equador são países que se destacam quando o tema é microfinanças na América Latina e Caribe e, independente do indicador adotado – número de clientes, número de IMFs, penetração de mercado (número de empréstimos a microempresas/população pobre), entre outros –, esses países sempre aparecem no topo do ranking. Chile e Brasil, objetos dessa Tese, não são muito pesquisados.

Para compreender esse fenômeno, além do desenho e da execução dos programas propriamente ditos, as condições de mercado, ou seja, o ambiente onde se desenvolvem no país, constitui um importante fator que afeta o resultado dos programas de microfinanças. Considerando treze informações sobre o clima de investimento, o marco regulatório e o desenvolvimento institucional em cada um deles28, a Economist

Intelligence Unit (EIU) analisa 20 países da região criando um índice para avaliar o

ambiente para o desenvolvimento das microfinanças na LAC.

Peru, Bolívia, Equador, El Salvador, Colômbia e Nicarágua foram os cinco países mais bem colocados na classificação geral apresentada pelo estudo, com índices acima de 55 pontos, ao passo que os países com os piores desempenhos foram o Haiti, Argentina, Uruguai, Venezuela e Jamaica, como resume a tabela 13.

Na pontuação geral, Chile (43,2) e Brasil (41,6) tiveram resultados relativamente ruins e muito próximos, ficando na 13a e na 14a posição, respectivamente. O Chile se destacou como o país de melhor clima de investimento na região, mas nos demais critérios não ficou bem colocado. Com uma pontuação de 37,5 (15o lugar), ficou abaixo do Brasil (43,8, 13º lugar) no que diz respeito ao marco regulatório e empatou na 11a posição (33,3 pontos) no critério desenvolvimento institucional, em níveis iguais ao da Argentina, Costa Rica, México e Panamá. Sua principal fortaleza para o

28 O estudo da EIU é elaborado anualmente para o Banco Interamericano de Desenvolvimento e para a Corporação Andina de Fomento. “Marco regulatório” compreende informações sobre a regulação das operações microcrédito, sobre a criação e o funcionamento de IMFs especializadas reguladas/supervisionadas, sobre a criação e o funcionamento de IMFs não reguladas, e sobre a capacidade regulatória e de supervisão. Para a categoria “clima de investimento”, considerou-se a estabilidade política, a estabilidade do mercado de capitais, o sistema judicial, as normas de contabilidade, as normas de governabilidade, assim como a transparência das IMFs. Quanto ao “desenvolvimento institucional”, foram consideradas a variedade de serviços oferecidos pelas IMFs, o acesso a informações eficazes e confiáveis sobre os clientes para concessão de créditos e, por fim, o nível de competitividade do setor de microfinanças. A metodologia está descrita em EIU (2008).

desenvolvimento das microfinanças é o mercado de capitais bem desenvolvido e o sistema judicial mais sólido da região, porém o estudo da EIU aponta a baixa transparência, especialmente a falta de concorrência e sua baixa capacidade regulatória e de supervisão das microfinanças, como o principal obstáculo a ser superado pelo Chile.

Tabela 13 – Índice de desenvolvimento das Microfinanças na América Latina e Caribe (2008) CRITÉRIOS

PAÍS PONTUAÇÃO GERAL Marco

Regulatório Investimento Clima de Desenvolvimento Institucional

1 Peru 76,6 87,5 58,8 75,0 2 Bolívia 74,4 87,5 46,9 75,0 3 Equador 69,7 75,0 31,7 83,3 4 El Salvador 59,0 56,3 49,2 66,7 5 Colômbia 58,6 62,5 51,4 58,3 6 Nicarágua 58,0 56,3 44,2 66,7 7 Guatemala 54,0 56,3 40,8 58,3 8 Paraguai 49,6 62,5 39,7 41,7 9 Rep. Dominicana 48,0 50,0 40,0 50,0 10 México 47,5 56,3 58,3 33,3 11 Panamá 47,5 56,3 58,3 33,3 12 Honduras 47,1 50,0 35,5 50,0 13 Chile 43,2 37,5 74,2 33,3 14 Brasil 41,6 43,8 53,6 33,3 15 Costa Rica 40,3 37,5 59,7 33,3 16 Haiti 30,2 43,8 30,0 16,7 17 Argentina 28,5 18,8 38,3 33,3 18 Uruguai 28,3 31,3 45,8 16,7 19 Venezuela 24,9 25,0 41,4 16,7 20 Jamaica 21,2 25,0 55,8 0,0

Fonte: Microscopio 2008 sobre el Entorno de Negocios para las Microfinanzas en América Latina y el Caribe, Economist Intelligence Unit (2008).

A baixa avaliação do Brasil também está fortemente relacionada com a falta de transparência da IMFs, tendo o estudo apontado normas de contabilidade e de governabilidade pouco satisfatórias. Assim, o principal obstáculo para o desenvolvimento das microfinanças no país é a baixa capacidade de regulação e de supervisão específica para a área, sendo insuficientes os conhecimentos especializados, ainda que isso não seja verdadeiro para o setor financeiro em geral.

Por outro lado, o contexto político estável do Brasil é o principal ponto favorável para as microfinanças no país, ainda que seu desenvolvimento seja mediano,

havendo um enorme mercado para ser explorado, o que faz com que internamente a oferta desses serviços ainda seja modesta.

De modo geral, os resultados do índice mostram a existência de variações importantes, revelando a desigualdade no que diz respeito ao desenvolvimento das microfinanças na região. Destacam, também, a importância de ter autoridades reguladoras informadas e autoridades políticas comprometidas com a promoção das microfinanças. Porém, observa-se a vulnerabilidade do ambiente de negócios e de regulação diante de mudanças políticas, fazendo, frequentemente, com que os reguladores percam autonomia e respaldo para atuarem.

Outra observação importante é a ausência de relação entre o ambiente para o microcrédito e as condições econômicas dos países: a dissociação entre o tamanho e a riqueza do país com a qualidade de seu ambiente de microfinanças. Cinco dos sete primeiros classificados são países pequenos e pouco desenvolvidos, de economia frágil.

Alguns países maiores ou mais prósperos que mais atraem investimentos internacionais como a Argentina, o Brasil, o Chile e, de certa forma, o México, apresentaram condições menos favoráveis para as microfinanças. A EIU mostra que isso se deve ao fato de que o ambiente específico requerido para as microfinanças é, em muitos sentidos, distinto do requerido para os negócios em geral.

Assim, os dados revelam que as microfinanças podem prosperar em países cujo contexto comercial em geral é mais difícil, posto que a avaliação do ambiente é efetuada a partir das citadas três categorias básicas: marco regulatório para microfinanças, clima de investimento – que inclui o contexto comercial mais geral –, e desenvolvimento institucional da indústria de microfinanças.

Em consequência, países como a Bolívia têm alta pontuação na categoria marco regulatório e em desenvolvimento institucional, ainda que seu clima de investimento esteja em décimo lugar. O Chile, como já referido, tem alto clima de investimento, mas um ambiente para as microfinanças inferiores à média. Portanto, a EIU mostra que a existência de bons contextos macroeconômicos e políticos não é suficiente, sendo necessário que existam condições próprias para a regulação das operações de microfinanças.

Outra indicação dos dados é que a melhora da estabilidade política, o desenvolvimento do mercado de capitais, dos sistemas judiciais e de outros elementos do clima de investimento beneficiam os países com sólidos ambientes de microfinanças.

Documentos relacionados