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3 ESTUDO 1: DESENVOLVIMENTO DE UMA CHECKLIST

3.4 DISCUSSÃO

4.1.2 Amostra

A amostra do presente estudo foi composta por 79 crianças ou adolescentes de três grupos distintos: 29 participantes com paralisia cerebral, 16 participantes que sofreram acidente vascular cerebral e 34 controles. Foram determinados critérios de inclusão para cada grupo. Os critérios de inclusão para participação no estudo para todos os grupos foram: apresentar idade entre cinco e dezenove anos e aceitar e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O critério de exclusão foi apresentar idade inferior a cinco anos ou superior a 19 anos. Não foi realizado o cálculo de tamanho amostral, por ser tratar de um estudo exploratório. Os critérios de inclusão para o grupo controle foram não apresentar problemas neurológicos e freqüentar o sistema regular de ensino. Todos os casos de AVC e PC tiveram o

diagnóstico clínico estabelecido por um médico neurologista. Os diagnósticos foram confirmados através do estudo dos prontuários médicos de todos os pacientes nas instituições em que foram identificados.

Os casos de PC foram identificados pelo serviço de diagnóstico da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de Pará de Minas, cidade a 89 km de distância de Belo Horizonte. A APAE de Pará de Minas foi escolhida após a indicação da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), que afirmou ser esta instituição uma referência no Estado na prestação de serviços para crianças e adolescentes com deficiências. Foram identificados 34 casos de PC na APAE de Pará de Minas e todos os casos identificados, bem como seus pais ou responsáveis, foram convidados a participar do estudo. Dos 34 casos convidados, 29 (85,2%) aceitaram participar do estudo e compareceram no dia agendado para a avaliação, sendo 14 do sexo masculino e 15 do sexo feminino. A idade dos participantes com PC variou entre cinco e dezenove anos (média = 11,4 anos; desvio padrão = 4,2 anos). A avaliação foi realizada na própria instituição, por dois pesquisadores.

Considerando que a ocorrência de AVC na infância e adolescência é um episódio relativamente raro, foi utilizada uma estratégia de recrutamento, através de pesquisa em prontuários de hospitais de referência no atendimento de crianças e de casos de neurologia e cardiologia, além de contato com profissionais de saúde.

Os casos de AVC foram identificados no serviço de Hematologia do Hospital Borges da Costa - UFMG e no banco de dados do Centro Geral de Pediatria (CGP) de Belo Horizonte. Foi realizada a consulta dos prontuários dos casos identificados nos hospitais, dos anos de 2001 a julho de 2007. Foram observados muitos dados incompletos no cadastro dos pacientes, o que dificultou a localização dos casos, como por exemplo, a ausência do número de telefone ou endereço. Além disso, alguns pacientes não possuíam telefone ou o número estava desatualizado. Com isso, dos primeiros 18 casos identificados no Hospital Borges da Costa, apenas 12 foram efetivamente localizados e convidados a participar do estudo. Todavia, dos 12 localizados e contatados, apenas oito aceitaram participar e estiveram presentes no dia da avaliação. Uma das dificuldades para a participação no estudo relatada pelos

pais foi a dificuldade de deslocamento de alguns casos, uma vez que muitos deles são do interior de Minas Gerais.

A média de idade das crianças ou adolescentes identificados no Hospital Borges da Costa, no ano de 2007, para 16 dos casos identificados (porque não havia a informação da data do nascimento em dois casos), foi de 10,56 anos (mínimo 5 anos e máximo 18 anos) e a média da idade do primeiro AVC para 14 casos foi de 7,5 anos (mínimo de 3 anos e máximo de 16 anos). Não havia a informação da idade de ocorrência do AVC para quatro casos.

Foi realizado contato com neuropediatras, cardiopediatras, hematologistas e neurologistas de Belo Horizonte, solicitando encaminhamento de casos de AVC na infância e adolescência para participação no estudo. Contudo, somente uma neuropediatra e um neurologista encaminharam um total de cinco casos para participar do estudo.

No CGP, foram localizados, em um primeiro momento, 20 casos. A consulta ocorreu através na busca no banco de dados do hospital. Entretanto, a consulta dos prontuários identificou que a maioria dos dados para contato, como telefone e endereço, estavam incompletos. Em outros casos, foi identificado o telefone e endereço, porém os dados estavam desatualizados. Em alguns casos o telefone e endereço estavam corretos, porém os pais não tinham disponibilidade para participar do estudo. Em duas situações os pais aceitaram participar por telefone, porém não compareceram no dia da avaliação. Por isso, o resultado final de casos identificados nos prontuários do CGP, localizados e que efetivamente participaram do estudo foram de três casos. A avaliação dos casos de AVC foi realizada na Clínica-Escola de Fisioterapia Pediátrica do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.

Assim, o grupo de participantes de AVC que atendeu aos critérios de inclusão do estudo foi composto por 16 crianças ou adolescentes, sendo nove do sexo masculino e sete do sexo feminino. A idade dos participantes desse grupo variou entre cinco e quatorze anos (média=9,6 anos; desvio padrão=3,0 anos). Com relação aos fatores etiológicos dos casos de AVC, verificou-se que dois casos estavam relacionados à doença de moyamoya, dois casos relacionados a

cardiopatias, três casos causados por anemia falciforme e nove casos de causa idiopática.

Com relação ao grupo controle, optou-se por avaliar crianças que freqüentavam uma escola pública, para tornar esse grupo mais comparável às crianças do grupo clínico, uma vez que a maioria das crianças do grupo clínico apresentavam nível sócio econômico baixo. Foram avaliadas 34 crianças que apresentavam desenvolvimento normal (nenhum episódio neurológico ao longo da vida), as quais freqüentavam a Escola Estadual Sarah Kubitschek, do município de Belo Horizonte. A idade das crianças deste grupo variou entre oito e 14 anos (média=8,3 anos; desvio padrão=1,9 anos). Neste grupo, a distribuição de gêneros foi equivalente, sendo 50% dos participantes de cada sexo (n=17).

A tabela 4 apresenta o número de casos avaliados, discriminados por grupo clínico (controle, AVC e PC) e sexo.

TABELA 4

Distribuição da amostra por diagnóstico clínico e sexo

Sexo Controle AVC PC TOTAL

Masculino 17 (50%) 9 (56,7%) 14 (48,3%) 40

Feminino 17 (50%) 7 (43,7%) 15 (51,7%) 39

TOTAL 34 (100%) 16 (100%) 29 (100%) 79

A média de idade, o desvio padrão, a idade mínima e máxima para cada grupo clínico (controles, AVC e PC) podem ser observadas na tabela 5.

TABELA 5

Medidas de Tendência Central da Idade por diagnóstico clínico

Controle (N=34) AVC (N=16) PC (N=29)

Média de Idade 8,3 9,6 11,4

Desvio Padrão 1,9 3,0 4,2

Mínimo 8 5 5

A tabela 6 apresenta a distribuição do comprometimento motor da amostra do estudo. A deficiência predominante dos casos de AVC foi a hemiparesia (93,8%) e para os casos de PC foi a quadriparesia (72,4%).

TABELA 6

Freqüência de casos por diagnóstico clínico e comprometimento motor

Deficiências Controle AVC PC TOTAL

Nenhuma 34 1 0 35

Hemiparesia esquerda 0 5 5 10

Hemiparesia direita 0 10 3 13

Quadriparesia espástica 0 0 21 21

TOTAL 34 16 29 79

Realizou-se o levantamento da condição sócio-econômica de todas as famílias participantes, por meio de questionário, tendo como base os responsáveis pelas crianças ou adolescentes do estudo. Utilizou-se o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2002). Nesta escala, a escolaridade do chefe da família vale de 0 a 5 pontos; os demais pontos são fornecidos pela quantidade de bens de consumo duráveis que a família possui (automóvel, televisão em cores, rádio, geladeira, freezer, máquina de lavar roupa etc.), pela quantidade de cômodos da casa, com ênfase nos banheiros, e pela quantidade de empregadas domésticas mensalistas que trabalham na casa. A soma desses indicadores classifica as populações em classes, sendo a "Classe A1 (de 30 a 34 pontos)" a mais favorecida e a "Classe E (de 0 a 5 pontos)" a menos favorecida (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA, 2006). A tabela 7 apresenta as freqüências do nível sócio-econômico dos três grupos estudados.

TABELA 7

Freqüência Relativa dos participantes separados pelo Nível Sócio-Econômico de acordo com o Critério Brasil

Controle AVC PC Total Brasil

A1 0% 0 % 0 % 0 % 1 % A2 0% 5,6 % 0 % 1,3 % 5 % B1 6,5 % 22,2 % 0 % 7,7 % 9 % B2 19,4 % 0 % 0 % 7,7 % 14 % C 48,4 % 33,3 % 31 % 38,5 % 36 % D 25,8 % 38,9 % 65,5 % 43,6 % 31 % E 0 % 0 % 3,4 % 1,3 % 4%

A Classe C apresentou a maior freqüência no grupo controle (48,4%), enquanto a Classe D apresentou a maior prevalência para os casos de AVC (38,9%) e PC (65,5%).