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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.6 Estudo da contaminação de ambientes aquáticos por pesticidas

2.6.1 Amostragem de água para análise de resíduos

Barcelona (1988) apresenta uma discussão dos principais aspectos a serem considerados, quando da elaboração de um protocolo de amostragem ambiental, que deve constar das seguintes etapas:

definição dos objetivos do estudo; seleção dos analitos de interesse;

seleção dos pontos de amostragem – local, profundidade, freqüência, dentre outro, que devem ser determinados em função dos objetivos do estudo;

coleta da amostra – material e método de coleta;

manuseio da amostra – adição de preservantes, filtração;

determinações de campo – variáveis que devem ser medidas no campo;

conservação e transporte das amostras – objetivando a manutenção da integridade da amostra.

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Após os objetivos do estudo serem claramente definidos e dos analitos serem selecionados, a escolha dos pontos de amostragem pode ser feita obedecendo a critérios de aleatoriedade ou baseada em critérios geoestatísticos (BORGMAN; QUIMBY, 1988).

Na amostragem aleatória, todos os pontos têm igual probabilidade de serem incluídos na amostra. A principal vantagem deste critério é que ele está livre do viés de julgamento pessoal do pesquisador. Entretanto, na amostra aleatória geralmente os pontos de coleta se concentram em determinados locais, deixando outros com poucas ou nenhuma observação. Uma alternativa para esta situação é dividir a região em células retangulares, que não precisam ter necessariamente o mesmo tamanho, e selecionar aleatoriamente um número determinado de amostras em cada estrato. Outra desvantagem da amostragem aleatória seria a probabilidade de que alguns pontos selecionados estejam em áreas de difícil acesso.

Na amostragem geoestatística, os locais de coleta são selecionados por julgamento pessoal do pesquisador de modo a cobrir a área de forma a ter o menor custo, representatividade e exeqüibilidade. As razões da seleção devem ser avaliadas e documentadas de modo a resistirem a críticas quanto a possíveis vieses. Uma desvantagem deste critério, é que estas razões baseiam-se geralmente em pressupostos que são de difícil avaliação quanto à sua aplicabilidade ou não a uma situação em particular.

A obtenção de amostras de água realmente representativas é difícil uma vez que, no ambiente, as águas podem ser muito heterogêneas, tanto espacial como temporalmente (KEITH, 1991).

A composição química de lagos e lagoas pode variar significativamente com a estação, e a de águas correntes, depende da vazão e pode variar com a profundidade. A estratificação em corpos d’água é comum, entretanto, em lagos, com profundidade menor do que 5 m, a ação do vento geralmente causa a mistura da água de modo que não existe

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estratificação térmica ou química por longo tempo. Rios rasos, com alta vazão, também não mostram estratificação.

A vulnerabilidade à contaminação de águas subterrâneas é afetada pela profundidade da água, taxa de recarga, composição do solo, topografia do terreno além das características físico-químicas do contaminante. Para planejar as estratégias de amostragem de águas subterrâneas é necessário conhecer as características físicas e químicas do aqüífero (que, no entanto, são geralmente desconhecidas). Devem-se considerar também, aspectos temporais, tais como a época do ano (em relação ao período de chuvas mais intensas) e a época de uso mais intensivo de um agroquímico.

No caso da construção de poços para monitoramento de águas subterrâneas, os aspectos a serem considerados foram descritos por Kirkland, Jones e Norris (1991).

Com relação à coleta das amostras, é necessário extremo cuidado com o material e método de coleta. Parr et al. (1988) apresentam uma tabela com os frascos, volume de amostra, forma e tempo de conservação recomendados, para diversas classes de analitos, em análise de águas subterrâneas. A limpeza dos frascos de coleta e a forma de coleta, evitando a contaminação das amostras, são fundamentais para a obtenção de resultados confiáveis nas análises de laboratório. Barceló e Hennion (1997), mencionam que, com relação à estabilidade dos pesticidas em água, os organofosforados e carbamatos são bastante instáveis enquanto as cloroanilidas, triazinas e fenoxiácidos são bastante estáveis. Observa-se, então, a necessidade de definição de procedimentos de conservação diferenciados dependendo do analito em estudo.

Não existe um procedimento ou dispositivo único para coleta de amostras de diferentes tipos de águas superficiais: águas de escorrimento superficial, diques, córregos, rios, lagos, estuários, mares, efluentes, água encanada, dentre outros.

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Para a coleta de uma amostra única em rios, Barceló e Hennion (1997) citam que, normalmente, ela é feita no meio do canal a uma profundidade de 50 a 100 cm. É recomendável enxaguar o frasco 2 a 3 vezes com a água a ser amostrada antes de coletar a amostra. Este procedimento, no entanto, não é adequado para as amostras nas quais se usa agente preservante ou que contenha material em suspensão, óleos ou graxas que podem ser adsorvidos às paredes do recipiente.

Para a coleta de amostras de águas subterrâneas recomenda-se que seja feita a purga do poço, de modo a eliminar a água parada no buraco do poço que possa ter passado por mudanças químicas. Deste modo a amostra é representativa do aqüífero do qual o poço faz a captação de água. Autores como Kirkland, Jones e Norris (1991) e Kent e Payne (1988) mencionam dois critérios usados para determinar a quantidade de água a ser purgada antes da coleta. No primeiro, bombeia-se água até que a temperatura, pH e condutividade permaneçam constantes. Outro sugere a retirada de um volume de água equivalente a três vezes o volume do poço.

Outro cuidado com relação à coleta de amostras de água de poço diz respeito à forma de retirada da amostra. As águas subterrâneas devido à falta de contato com a atmosfera apresentam pequena quantidade de oxigênio dissolvido e o bombeamento da água deve evitar a aeração ou desgaseificação da amostra, o que alteraria seu potencial de oxidação causando mudanças em suas características químicas (SMITH et al., 1988).

O plano de amostragem de água para análise de resíduos de pesticidas deve considerar também outros constituintes que deveríamos analisar também, pois permitem uma melhor avaliação da contaminação dos pesticidas em água. Variáveis como pH, condutividade, temperatura e concentração de nitrato são geralmente determinadas em programas de monitoramento.

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O transporte das amostras ao laboratório deve ser feito sob refrigeração, pois a velocidade das reações de decomposição é maior quanto maior a temperatura. Conservar as amostras com gelo em câmaras de isopor, a temperatura próxima a 4 ºC é o procedimento recomendado. O tempo de conservação das amostras é função do analito, e as análises devem ser feitas sempre no menor prazo possível, respeitando o prazo máximo de conservação recomendado pelo método ou determinado através de amostras controle (PARR et al., 1988). Após a extração, o extrato pode geralmente ser conservado por um prazo mais longo do que a amostra, uma vez que, com o processo de extração, o analito encontra-se dissolvido em solventes orgânicos nos quais não há atividade microbiana e do qual foram eliminados, ao máximo, os possíveis interferentes.