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5. Complexo Carbonatítico de Bailundo

5.1. Amostras superficiais

Neste subcapítulo apresentam-se as sínteses relativas aos dados de petrografia e química mineral reportados por Beleque et al., (2009b, c), Beleque, (2010) e Santos, (2010) para um conjunto de 81 amostras com referência BL-P-01 a BL-P-81.

5.1.1.

Sinopse da análise petrográfica

As amostras sujeitas a análise foram divididas em três subconjuntos principais, de forma a caracterizar o zonamento existente: (1) núcleo carbonatítico enriquecido em óxidos de ferro, barite e apatite; (2) anel carbonatítico interno de natureza calcítica (sovítica); e (3) anel externo de fenitização.

O núcleo carbonatítico encontra-se enriquecido em óxidos de Fe, barite e apatite (28 amostras). A fracção matricial é essencialmente constituída por agregados finos de quartzo ± carbonato e, quando as espinelas dominam (bolsadas ferríferas), a proporção de matriz pode ser diminuta. As espinelas (magnetite s.l.), apresentam frequentemente orlas de hematite/maghemite que, por sua vez, se encontram alteradas/substituídas por hidróxidos de Fe e Mn(-Ba). Os processos metassomáticos intensificados posteriormente por meteorização química são fundamentais para o desenvolvimento de associações mineralógicas singulares que, com frequência, constituem disseminações matriciais tardias e preenchimentos de redes anastamosadas de veios, filonetes e venulações. Estas associações mineralógicas são constituídas por flúor-carbonatos, fosfatos tardios de ETR, barite e parte do pirocloro existente (Beleque et al., 2009a; Beleque, 2010).

O anel cálcio-carbonatítico (21 amostras) apresenta uma proporção matricial relativamente elevada, sendo essencialmente quartzosa ou calcítica e, raramente, anquerítica. Observam-se evidências de efeitos claros de alteração em silicatos (piroxenas e clorites), fosfatos (apatite) e sulfatos (barite). A magnetite e o pirocloro são minerais comuns, estando o primeiro raramente oxidado (Beleque et al., 2009a; Beleque, 2010).

Nos fenitos (32 amostras) ocorrem abundantes fases secundárias ricas em ETR (pirocloro e apatite). De destacar a variabilidade das características mineralógico-texturais, algumas imputáveis a possíveis processos de carbonatação e silicificação, outras a fenómenos tardi-magmáticos síncronos da consolidação do corpo ígneo e da fenitização (Santos, 2010). Adicionalmente, coloca-se a possibilidade de alguns fenitos hospedarem diques cálcio-carbonatíticos, justificando-se assim a presença de exemplares com matriz carbonatada (Beleque, 2010). Destaca-se ainda a existência de associações minerais potássico-sódicas, caracterizadas pela presença de feldspatos potássicos

22 por vezes no preenchimento de veios acompanhados por anfíbolas. Ocasionalmente, o carácter subsaturado é denunciado pelo desenvolvimento local de feldspatóides (Santos, 2010).

5.1.2.

Síntese dos resultados de química mineral

Os resultados analíticos corroboram a forte heterogeneidade apresentada pelas litologias identificadas no decorrer da análise petrográfica sendo aqui expressa pelos óxidos (espinelas, anátase/brookite, titano-niobatos), silicatos (piroxenas, anfíbolas, micas, clorites), carbonatos, sulfuretos (pirite e pirrotite), hidróxidos e fosfatos (apatite e fosfatos de ETR) presentes nas amostras de superfície do complexo de Bailundo.

As espinelas (magnetites) manifestam relativa homogeneidade composicional, desviando-se pouco da composição ideal Fe3O4, não obstante a ocorrência de quantidades traço de manganês e

titânio. A meteorização intensa registada por muitos dos exemplares estudados pode conduzir à formação de maghemite (± hematite), ou à alteração/substituição por (hidr)óxidos de ferro e manganês (dominando a goethite).

Os óxidos de titânio (anátase ou brookite) associam-se às fases silicatadas principais tendo sido identificados em amostras de fenitos. A sua composição química não se desvia da ideal (TiO2),

revelando quantidades traço de ferro e cálcio.

No que se refere aos minerais do grupo do pirocloro, os mesmos são quimicamente muito distintos, sendo possível subdividi-los em três grupos fundamentais: (1) titano-niobatos de Ca ou de Ba presentes no núcleo ferro-carbonatítico e anel sovítico, respectivamente, ou na periferia interna do anel sovítico, em que o Ca e o Ba podem aparecer isolada ou conjuntamente, acompanhados por [Fe e Sr] ou [K, Zr e Fe]; (2) titano-niobatos tardios com composição química complexa que, para além dos elementos referidos, incluem ainda Mn, Ce, U, Th, P, Ta, Si e Al (núcleo carbonatítico e periferia interna do anel sovítico); e (3) titano-niobatos de Pb, por vezes com Ca e Ba, presentes no núcleo ferro-carbonatítico e anel sovítico.

Os silicatos constituem uma componente acessória (localmente significativa) do anel sovítico, revelando-se, pelo contrário, essenciais nos fenitos. No primeiro caso são fundamentalmente piroxenas e feldspatos s.l. que apresentam granularidade grosseira e revelam frequentemente efeitos claros de alteração, sendo parcialmente substituídos por quartzo; esporadicamente observam-se clorites. Nos fenitos, os agregados grosseiros matriciais de feldspato s.l. representam a fase silicatada preponderante, localmente acompanhada por piroxenas do tipo aegirina-augite; regista-se ainda a presença de albite, bem como de micas (teniolite).

23 A apatite é especialmente abundante em algumas amostras de fenitos, ocorrendo também nos sovitos. Os grãos observados apresentam composição química intermédia entre a esperada para uma flúor-apatite e uma hidróxi-apatite, com predominância desta última, englobando quantidades traço de ETR (La, Ce e Nd) que, geralmente, não excedem 1,13 wt% ETR2O3.

Os fosfatos de ETR possuem composições químicas muito complexas, tendo-se obtido análises qualitativas (Ca, La, Ce, Nd, P e F) e quantitativas que documentam a presença de fases secundárias ricas em ETR pertencentes ao grupo da rabdofanite [(Ce,La)PO4.H2O]. As análises quantitativas

denunciam conteúdos em ETR variáveis entre 21,2 e 61,2 wt%.

Os flúor-carbonatos de ETR (Figura 5) são muito diversos. No anel sovítico, o flúor-carbonato predominante tem composição próxima da parisite [Ca(Ce,La)2(CO3)F2], revelando conteúdos médios

em ETR2O3de 45 wt%. O Ce é o elemento preponderante, seguido do La, Nd e Pr, denotando-se

ainda concentrações em F, Th, Sr, Y e Fe dignas de referência. Foram também identificadas composições globais de intercrescimentos finos envolvendo flúor-carbonatos de ETR (parisite, synchisite, bastnasite) e (hidr)óxidos de Fe ou óxidos de Mn e Ba, podendo as concentrações em ETR2O3 atingir ± 25 wt%.

Figura 5: Imagens de electrões retro-difundidos obtidas em microssonda electrónica, documentando os modos de

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