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A ampla defesa e a prova psicografada

2 A AMPLA DEFESA E A PROVA PSICOGRAFADA

2.3 A ampla defesa e a prova psicografada

O princípio da ampla defesa é resguardado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LV, e atua em conformidade com o princípio do contraditório, e é, em síntese, um garantidor de que toda pessoa terá direito de, como a própria terminologia do princípio refere, usar amplamente os meios de defesa contra a imputação que lhe foi feita.

O Dicionário Jurídico (1996, p. 49) define “ampla defesa” como: “Princípio em que assenta o processo contraditório, seja cível, penal ou administrativo, segundo o qual ninguém pode ser considerado culpado se não ouvido (inauditus).”

Entende-se por ampla defesa a

[...] defesa técnica, relativa aos aspectos jurídicos, sendo: o direito de trazer ao processo todos os elementos necessários a esclarecer a verdade, o direito de omitir- se, calar-se, produzir provas, recorrer de decisões, contraditar testemunhas, conhecer de todos atos e documentos do processo etc. (Christófaro, 2009, p. 1)

Ainda, De Almeida (2002, p. 05), elucida perfeitamente que

Apesar desse princípio vir expresso pela fórmula "ampla defesa", seu raio de aplicação não se limita exclusivamente a beneficiar o réu, posto que visa também favorecer outros sujeitos da relação processual. Sendo assim, não é errôneo dizer que a ampla defesa constitui direito que protege tanto o réu quanto o autor, bem como terceiros juridicamente interessados. Diante disso, é forçoso reconhecer que somente haverá ampla defesa processual quando todas as partes envolvidas no litígio puderem exercer, sem limitações, os direitos que a legislação vigente lhes assegura, dentre os quais se pode enumerar o relativo à dedução de suas alegações e à produção de prova.

Possível, a partir disso, fazer um comparativo com a presunção de inocência que opera no sistema penal pelo que também consagra o artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal (BRASIL, 2012), onde a parte acusada não poderá ser tratada como culpada até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Lopes Jr. (2012), além de falar da presunção de inocência aponta a mesma como um dever de tratamento e a assinala como princípio reitor do processo penal. Carvalho (2001), citado por Lopes Jr. (2012, p. 236), alega que “o Princípio da Presunção de Inocência não precisa estar positivado em lugar nenhum: é „pressuposto‟ [...] da condição humana.”

Além disso, o inciso XXXVIII do artigo 5º, da Constituição Federal (BRASIL, 2012), garante a “plenitude de defesa”, essa, no entanto, atuante nos procedimentos decididos em plenário e é garantidora da utilização dos mais variados meios de prova. No ensinamento de Christófaro (2009, p. 1): “A plenitude de defesa é exercida no Tribunal do Júri, onde poderão ser usados todos os meios de defesa possíveis para convencer os jurados, inclusive argumentos não jurídicos, tais como: sociológicos, políticos, religiosos, morais etc.”

No processo, seja qual for a natureza, o que se busca é a verdade dos fatos, e para tanto, há que se admitirem diferentes meios de provas, hábeis a formar o convencimento do julgador. Ainda, o elenco das provas admissíveis em Direito é apenas exemplificativo, pois, se não o fosse, seria um obstáculo para o exercício da ampla defesa.

Há, entretanto, um meio de prova que gera polêmica quando da sua utilização, e sobre ela existem diferentes correntes em razão de sua admissibilidade ou não. É a prova psicografada, eis que já utilizada e admitida na seara jurisprudencial.

Antes de abordá-la como possível meio de prova, cabe explicar que a palavra “psicografia” tem origem do grego “psyché”, que significa “borboleta”, “alma”, e “graphô” significa “eu escrevo”, podendo ser traduzida para “escrita da mente ou da alma”. (SANTOS FILHA, 2010) A carta psicografada é um dos mecanismos, segundo o espiritismo kardecista, que comprova a comunicação dos vivos com os mortos. Por certo, não é a única, mas uma das mais convincentes na demonstração de que existe vida após a morte. (RUBIN, 2011)

A carta consiste na escrita feita, em estado de inconsciência/mecânica ou semiconsciência/semi-mecânica, por alguém dotado de determinada capacidade espiritual e que recebe mensagem enviada por alguém já falecido (entidade desencarnada), ou seja, um médium. Essas modalidades citadas de escrita são as mais comuns para os médiuns, apesar de existir ainda a intuitiva. (POLÍZIO, 2009)

A nomenclatura “médium” vem do latim e quer dizer: “meio”, “intermediário”. São as pessoas que tem a facilidade de comunicação com os espíritos e dotadas da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. (SANTOS FILHA, 2010)

Na psicografia semi-mecânica o espírito faz um acesso mais direto aos centros nervosos que controlam a escrita e a fala, mas também faz passar pelo consciente do médium seus pensamentos. Assim sendo, o médium mantém plena consciência da comunicação, em seu teor, mas sente um impulso na mão na psicografia, ou a formação de palavras no seu aparelho fonador. (RESUMO..., [s.d.]) Já na psicografia mecânica, o espírito controla totalmente os centros nervosos que possibilitam a escrita, conduzindo e imprimindo a velocidade que pretender à mão do médium, sem que haja qualquer controle ou interferência deste, que fica apenas na condição de aparelho receptor. O espírito não fala nem sugere, apenas escreve. Ainda, na psicografia intuitiva o pensamento do espirito é passado ao médium que irá aceitar ou não o que lhe é transmitido, ou seja, o espírito sugere e o médium executa. (POLÍZIO, 2009)

No Brasil, pelo que se tem notícia, são nove os casos em que o plano espiritual se fez presente em julgamentos criminais, seis deles foram originados da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, e diretamente ligados a essa área. Os primeiros casos penais começaram a surgir a partir de 1976, antes disso, na esfera civil em 1944. (POLÍZIO, 2009)

O primeiro fato ocorreu no mês de fevereiro, do mencionado ano, em Hidrolândia-GO, entretanto a carta psicografada não foi a juízo, pois o processo já tinha sido julgado, tendo sido o acusado absolvido. (POLÍZIO, 2009) No conteúdo da carta a vítima pedia para que sua mãe perdoasse o acusado, seu amigo, e referia que os dois eram culpados pelo acidente com a arma de fogo. No mês de maio do aludido ano, outro incidente envolvendo arma de fogo. Esse processo teve a carta psicografada apresentada como meio de prova e juntamente com a prova testemunhal e pericial o acusado não foi pronunciado ao júri, o Ministério Público recorreu da decisão, tendo sido reformada a sentença, mas no ano de 1980, em plenário, o acusado foi absolvido. De comum nesses dois casos é que as cartas foram psicografadas pelo médium mineiro, Chico Xavier, e tiveram a atuação do juiz Orimar de Bastos.

Outro caso ocorrido ainda em 1976 foi em São Paulo, capital. Um jovem que servia à Força Aérea Brasileira veio a falecer fatalmente enquanto manuseava sua arma, a bala acertou sua cabeça. Inicialmente acreditava-se em suicídio, mas, posteriormente, uma carta do médium mineiro é que esclareceu o caso, onde o jovem falecido explicava o acidente que deu fim a sua vida. Em Campos do Jordão-SP, em 1987, outro acusado foi absolvido pelos jurados em razão das cartas. Na oportunidade, Chico Xavier havia psicografado três cartas. O quarto caso, em Campo Grande-MS, o médium mais conhecido do Brasil psicografou uma carta de 41 páginas, e em 1985 o acusado foi absolvido pelo júri, mas a acusação apresentou recurso e novo julgamento saiu em 1990, em que o acusado foi condenado a um ano de detenção. Tamanha foi a repercussão do caso que o processo ficou três anos exposto na área de historiografia do Tribunal de Justiça de Campo Grande. (POLÍZIO, 2009)

Em Mandaguari-PR, 1982, o então Deputado Federal Heitor Cavalcante de Alencar Furtado foi baleado por um policial e faleceu dentro do carro. O julgamento ocorreu em 1984 e o acusado foi condenado em pouco mais de oito anos de reclusão, o Ministério Público ainda recorreu dizendo que a carta psicografada por Chico Xavier não tinha valor legal, o Tribunal de Justiça manteve a decisão. O sexto caso foi um dos mais interessantes e ocorreu em Gurupi-TO, na virada para o ano de 1983. Dois irmãos brigaram e um acabou acertando o outro com uma faca. Na carta psicografada pelo médium mineiro, o irmão falecido inocentava o outro. O curioso nesse caso é que o magistrado intimou o médium, Chico Xavier, para falar da carta, tendo sido colhido seu depoimento na oportunidade.

Eu nunca tive a intenção de que as mensagens recebidas por mim pudessem atuar em qualquer setor Judiciário. Estou dizendo isso ao senhor de coração. Nunca pensei. Se essas mensagens têm comparecido como peças para defesa de alguém, não é a meu pedido, nem por interferência minha, porque eu respeito as pessoas e respeito os espíritos que se comunicam, com muita veneração pelo intercâmbio espiritual. O que eu recebo é com finalidade de consolo, reconforto, instrução, nunca por influência judiciária, nem política, nem coisa alguma. (POLÍZIO, 2009, p. 148) O sétimo caso se passou em Ourinhos-SP (POLÍZIO, 2009), a vítima foi morta a tiros em 1997, o homicídio não tinha autoria definida, mas em 1999 um dos acusados confessou o crime e se entregou à polícia, indicando também os outros envolvidos, um inclusive era concunhado do falecido. Em 2004 o médium Rogério Leite psicografou uma carta de 11 páginas de autoria da vítima na qual afastava a autoria do crime ao seu concunhado. No ano de 2007 o concunhado foi absolvido pelo júri, o promotor, conhecendo o teor da carta, não recorreu da decisão. Os outros acusados já haviam sido condenados em 2001.

O último e mais recente caso em que a carta psicografada foi utilizada como prova aconteceu no Rio Grande do Sul, na cidade de Viamão. No ano de 2003, uma mulher foi acusada de ter encomendado a morte do amante pelo caseiro deste. Em 2005, duas cartas psicografadas foram entregues ao marido da acusada e usadas em sua defesa, no conteúdo delas a vítima lamentava a injusta acusação contra a mulher e dizia que ela era inocente. Em razão da insuficiência de provas materiais do delito contra a denunciada combinado com o teor de duas cartas psicografadas pela vítima, a acusada foi inocentada por maioria de votos no Tribunal do Júri e o caseiro condenado a mais de 15 anos de prisão, em 2006. Posterior, houve apelação ao Tribunal de Justiça, no entanto tendo sido confirmada, em 11/11/2009, a possibilidade de utilização criteriosa da prova psicografada no processo, sendo mantida a decisão que inocentava a ré. (POLÍZIO, 2009) (Anexo A)

Verifica-se a ementa do caso citado:

Ementa: JÚRI. DECISÃO ABSOLUTÓRIA. CARTA PSICOGRAFADA NÃO CONSTITUI MEIO ILÍCITO DE PROVA. DECISÃO QUE NÃO SE MOSTRA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. Carta psicografada não constitui meio ilícito de prova, podendo, portanto, ser utilizada perante o Tribunal do Júri, cujos julgamentos são proferidos por íntima convicção. Havendo apenas frágeis elementos de prova que imputam à pessoa da ré a autoria do homicídio, consistentes sobretudo em declarações policiais do co-réu, que depois delas se retratou, a decisão absolutória não se mostra manifestamente contrária à prova dos autos e, por isso, deve ser mantida, até em respeito ao preceito constitucional que consagra a soberania dos veredictos do Tribunal do Júri. Apelo improvido. (RIO GRANDE DO SUL, 2012)

O posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul acabou retomando a celeuma em torno do tema que divide opiniões quanto à admissibilidade da carta psicografada como meio de prova no processo penal.

Ganhou, ainda, maior repercussão com a apresentação, junto ao Congresso Nacional, do Projeto de Lei n° 1.705/2007, proposto pelo Deputado Federal Robson Lemos Rodovalho, também teólogo e bispo evangélico. (POLÍZIO, 2009). O referido projeto sugeria a alteração do caput do artigo 232 do Código de Processo Penal, cuja redação seria alterada para: “Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, exceto os resultantes de psicografia.” O texto do parágrafo único seria mantido.

O Deputado Rodovalho, em sua justificativa, explicou, em síntese, que aceitar como prova um documento ditado ou sugerido por algum espírito desencarnado implica resolver uma questão de fé, diferenciando-se da análise de um dado concreto e passível de contestação. O julgamento, segundo ele, deve necessariamente ser motivado por dados da vida real, e não se pode “permitir que o livre convencimento do juiz seja, essencialmente, fundado meramente na fé religiosa”. (CÂMARA DOS..., 2012)

Por sua vez, o Deputado Federal Costa Ferreira, na tentativa de melhorar a proposta inicial de seu colega, apresentou o Projeto de Lei nº 3.314/2008 (cujo teve trâmite em conjunto com a proposta inicial, Projeto de Lei nº 1.705/2007), oferecendo um segundo parágrafo ao artigo 232, com a seguinte redação: “Não se considera documento o texto psicografado”. Seguindo a mesma linha de pensamento do Deputado Rodovalho, Costa Ferreira comentou que: “O texto psicografado não tem como ser submetido ao contraditório e assim não há como ver obedecido o devido processo legal.” (POLÍZIO, 2009)

Como o Direito não é uma ciência exata, partindo-se do pressuposto que acerca de um tema existem diversas linhas de pensamento e, no caso da carta psicografada, além da polêmica que a envolve, não é diferente.

Resumidamente, os que refutam a carta psicografada como meio de prova insistem que: a psicografia é religião e o judiciário não é religioso, e não haveria forma de se usufruir da ampla defesa e do contraditório.

Quanto ao primeiro ponto, o Estado brasileiro não pertence a uma ordem religiosa, é laico, ou seja, não possui uma religião oficial, mantem-se neutro e imparcial no que diz as religiões e respeitando todas as crenças. Admitindo, entretanto, a espiritualidade, como se verifica pelo preâmbulo da Constituição Federal:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir em Estado Democrático [...] promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 2012)

Ainda o inciso VI, do artigo 5º, da Constituição Federal (BRASIL, 2012), dispõe também que: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença [...]” Em razão da laicidade,

o Estado não pode referir-se normativamente à validade ou não de material psicografado como meio de prova.

Nessa ótica, Nucci (2006), refere que as cartas psicografadas são fruto da fé, tanto de que as escreve como quem as recebe. Quanto ao segundo argumento, alerta ao perigo na utilização da psicografia no processo penal, pois,

fere-se preceito constitucional de proteção à crença de cada brasileiro; lesa-se o princípio do contraditório; coloca-se em risco a credibilidade das provas produzidas; invade-se a seara da ilicitude das provas; pode-se, inclusive, romper o princípio da ampla defesa. (NUCCI, 2006, p. 2)

Na concepção de Lopes (2006, p. 2), criminalista gaúcho, o processo criminal é uma coisa séria, é regido por uma ciência, que é o direito penal. Quanto à juntada da carta psicografada, ele afirma

Isso é o mesmo que documento apócrifo. [...] O Tribunal do Júri se presta a essas coisas fantásticas. O jurado pode julgar segundo sua convicção íntima, eles não têm obrigação de julgar de acordo com a prova.

No ponto de vista de Gandra (2008, p. 1), jurista brasileiro, a utilização da carta em tribunal deve ser descartada, e acrescenta:

Essa carta não pode ser aceita, pois não é prova. Se a lei admitisse, eu podia não concordar, mas teria que aceitar. Mas quando a lei não admite esse tipo de prova, é evidente que isso (usar psicografia como prova), quando analisado pelos tribunais superiores, deve ser reformulado.

Da Silva Júnior, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil),citado por Polízio (2009, p. 158), expressa que: “Escorar uma decisão com base numa prova psicografada não tem ressonância no mundo jurídico. É indevida uma decisão que se embasa na psicografia, que cientificamente não é comprovada.”

No entendimento de Dallari, citado por Polízio, (2009, p. 157-158), o uso da “psicografia é claramente ilegal. [...] Não há o reconhecimento disso no sistema jurídico brasileiro. Se isso for a prova, o julgamento é nulo. [...] Não existe amparo legal na utilização do sobrenatural.”

Entretanto, Nucci (2006, p. 2) mostra-se flexível e refere que no caso de juntada da carta aos autos, esta “deve submeter-se à verificação de sua autenticidade (art. 235, CPP), havendo, inclusive incidente processual próprio a tanto (art. 145 e seguintes, CPP).”

Antes de estudar os argumentos favoráveis ao acolhimento da carta psicografada, o artigo 232 do Código de Processo Penal dispõe o seguinte: “Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.” (BRASIL, 2012)

Diante do que consagra o referido artigo do código, Marcão (2007, p. 3, grifo do autor), promotor de justiça no Estado de São Paulo, comenta: “Nota-se que a lei faz referência a quaisquer escritos, de maneira que os escritos psicografados devem ser considerados como documentos, em sentido amplo.”

Já as vozes que defendem a admissão da carta psicografada baseiam-se, em suma, em dois argumentos: que a utilização da psicografia em nada contraria os dispositivos que regem as fontes de prova do Código Processual, e que também há possibilidade de fraudes e incorreções ocorrerem em qualquer meio de prova, atípico ou típico.

Acerca do primeiro argumento, o ex-promotor de justiça, Borges (2009, p. 1, grifo do autor) aduz que “a mensagem psicográfica, embora não prevista em lei, é admissível como prova, também porque não é contra legem [...]” E é categórico, mencionando que “as mensagens psicografadas podem ser admissíveis como prova documental, desde que se harmonize com o conjunto das provas produzidas.”

Como referido, a lei sequer traz previsão legal contra a carta. E em relação à religiosidade, a carta psicografada não se confunde com religião, mas, sim, trata-se de uma consequência da espiritualidade que qualquer humano carrega consigo. Vez que até mesmo ateus e descrentes podem possuir a sensibilidade para receber mensagens dos desencarnados. (POLÍZIO, 2009)

Segundo Polízio (2009), o Espiritismo é uma ciência/doutrina – através da teoria de Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec – que estuda a existência de vida após a morte, a imortalidade da alma e a busca pela constante evolução espiritual a ser adquirida ao longo das sucessivas reencarnações que se procedem.

O jurista Paulo Filho, citado por Polízio (2009, p. 160), compreendendo a extensão do assunto, se posiciona

A questão divide os juristas. Alguns acham que a psicografia pode ser levada em juízo quando ela está em harmonia com as demais provas; outros entendem o contrário, considerando que as mensagens psicografadas confundem a segurança e as razões jurídicas com a crença religiosa. [...] o Espiritismo não é uma religião, mas sim uma doutrina de cunho filosófico-religioso de aperfeiçoamento moral do homem [...]

Ahmad (2008. p. 97) declara também que “nenhuma das correntes dos opositores ao uso da prova psicografada logrou analisá-la à luz da ciência, geralmente a repelem ao argumento de ser produto exclusivo da fé.”

Quanto “a credibilidade do seu conteúdo, em razão da fonte, não pode ser infirmada com absoluta certeza, tanto quanto não poderá ser fielmente confirmada, apesar da existência de relatos a respeito de confirmações de autoria atestadas por grafologistas.” (MARCÃO, 2007, p. 3)

Nesse sentido, Rubin (2011, p. 1), avalia que

Também se deve admitir a prova psicografada no processo porque se se pode criticar a utilização desta prova espírita em razão de fraudes ou erros na captação da mensagem, não é menos acertado se reconhecer que há possibilidade de fraudes e incorreções em qualquer outro meio de prova, atípico ou típico. Em outros termos, a falibilidade das provas, em razão da imperfeição humana, é fenômeno que obviamente não se limita exclusivamente à psicografia. Com efeito, documentos falsos ou imprecisos não são raros nos processos judiciais;

Da Silva (2009. p. 2), em entrevista ao Jornal Zero Hora, refere que: “Há necessidade de critério, prudência e cautela na aferição do valor probante da carta psicografada, assim como das demais provas existentes nos autos.”

Em linhas gerais, a prova psicografada, se levada aos autos, deve servir como mais um elemento, meio probante, na formação da convicção do julgador e não como prova central do processo. A bem da verdade a carta psicografada irá dar respaldo às conclusões obtidas através das demais provas coligidas aos autos.

Por sua vez, Nereu Lima (2006, p. 2), criminalista gaúcho, diz que a psicografia “não é analisada isoladamente, mas em um conjunto de informações. [...] Quanto à idoneidade da prova, ela será sopesada segundo a valoração feita por quem for julgar. Os jurados decidem de acordo com sua consciência.”

O promotor de justiça no Estado de São Paulo, Eduardo Valério, citado por Polízio, (2009, p. 147), visualiza

[...] a utilização da psicografia nos tribunais com enorme cautela, já que o fenômeno mediúnico (acerca do qual não tenho qualquer dúvida) é de difícil controle quanto à sua autenticidade. Exceto quando produzido por médiuns de inquestionável educação mediúnica (como Francisco Cândido Xavier), tal fenômeno estará sempre sujeito a graves interferências, mesmo quando o médium esteja trabalhando honestamente e com boa vontade. [...], penso que as cartas psicografadas devam ser aceitas como mais um elemento de prova, a serem sopesadas pelo juiz (ou jurados, se no tribunal do júri), à luz do princípio da livre convicção; jamais como elemento absoluto e inquestionável que possa levar, por si só, a uma condenação ou a uma absolvição.

Polízio (2009, p. 10), opina que

[...] é fundamental que o médium, ou seja, o aparelho receptor dessas mensagens,

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