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Anáfora indireta: posicionamentos conceituais

As discussões a respeito de anáfora indireta retomam as discussões sobre anáfora direta. Em parte, porque, como afirma Marcuschi (2005), em relação àquela, trata-se de um alargamento da noção de anáfora, em que os aspectos inferenciais e cognitivos são fundamentais no processo de textualização. Não iremos aprofundar as discussões a respeito de anáfora indireta, mas as nossas proposições serão suficientes para uma compreensão global. Para Marcuschi (op. cit), discutir anáfora indireta é entender a noção de coerência para além da sua linearidade, ou seja, afeta-se o conceito tradicional de coerência. Isso é

fundamental porque nos impulsiona a ampliar a nossa visão a respeito do texto do aluno em sala de aula.

Schwarz (apud Marcuschi 2005: 58) traz uma definição importante para a questão da anáfora indireta:

“No caso da anáfora indireta trata-se de expressões definidas que se acham na dependência interpretativa em relação a determinadas expressões da estrutura precedente e que têm duas funções referenciais textuais: a introdução de novos referentes (até aí não nomeados explicitamente) e a continuação da relação referencial global.”

Diferentemente da noção primeira que se tem de anáfora direta, que é a retomada de referentes, a anáfora indireta apresenta-se com a proposta de ativação de novos referentes e, nesse aspecto, não mencionado no cotexto anterior.

Os conceitos discutidos de anáfora indireta ou mesmo associativa não são convergentes. Cavalcante (2005) defende uma noção ampla de anáfora. Embora reconheça certas especificidades das anáforas indiretas e associativas, ela prefere não distingui-las, pois os autores que tentam fazer tal distinção não as deixam claras. Na realidade, há muitas posições divergentes em relação à questão das anáforas indiretas ou associativas que precisam ser discutidas, mas pertinentes à investigação textual.

Esquema de processamento da anáfora indireta (2)

Marcuschi propõe o seguinte esquema de anáfora indireta

SNa ... SNb Evoca Evoca Especifica Especifica EA EB

Diferentemente do esquema anterior das anáforas diretas, este esquema apresenta cada sintagma nominal especificando um referente próprio sendo fundamentado cognitiva e discursivamente. O esquema propõe uma compreensão não ampla das anáforas indiretas, no entanto tenta nos situar num esquema padrão de uso, o que ajuda a compreender o fenômeno se comparado à dinâmica textual.

Em seus posicionamentos sobre as anáforas indiretas, Koch (2002) aponta como sendo as anáforas que se caracterizam sem um antecedente explícito, não condicionado morfossintaticamente, que pode ser reconstruído por inferência, pelo co-texto implícito. De acordo com esta autora, este tipo de anáfora desempenha papel muito importante na coerência textual.

De acordo com Koch (op. cit), as anáforas indiretas recebem várias outras denominações, como: inferenciais, mediatas, profundas, semânticas ou associativas. De acordo com Schwarz (2000), citado por Koch (2002), as anáforas indiretas podem ser

classificadas em: 1. de tipo semântico; 2. de tipo conceitual; 3.de tipo inferencial. As de natureza semântica são baseadas no léxico, as do tipo conceitual no conhecimento de mundo, e as inferenciais baseadas em inferências.

Na verdade, toda essa discussão sobre referenciação travada nesse capítulo teve como propósito trazer à tona a noção de referente textual, não como um referente apenas, mas como objeto de discurso. A noção de objeto de discurso, por sua vez, é possível diante da perspectiva de investigação de textos dissertativos, nos seus aspectos sócio-discursivos, o que é crucial nesta investigação.

CAPÍTULO 5

5. DISSERTAÇÃO e ARGUMENTAÇÃO: alguns pressupostos teóricos

É muito comum encontrarmos ainda, em muitos manuais de ensino de língua, distinções didáticas a respeito da noção de dissertação e argumentação. Para tentarmos posicionar melhor as nossas discussões, trazemos à tona a afirmação de Garcia (1992:370) que reflete de forma decisiva essa problemática.

Para ele, há uma distinção visível entre ambas as terminologias, que é fundamental para estabelecer o bom entendimento do texto bem como para a classificação do tipo de texto ou da idéia que se quer transmitir. Nesse sentido, Garcia discute:

Na dissertação, expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de determinado assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser. Já na argumentação, além disso, procuramos tomar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que estamos de posse da verdade.

Acreditamos que as afirmações desse autor apontam para uma certa confusão terminológica, já que entendemos que uma coisa não exclui a outra. Há uma espécie de imbricação nos conceitos apresentados, visivelmente, pois estudos recentes já apontam para isso, o que faz cairem por terra as suas afirmações. Quanto à argumentação postula:

A argumentação deve basear-se nos são princípios da lógica. A argumentação legítima, tal como deve ser entendida, não se confunde com um bate-boca estéril ou carregado de animosidade (1992:370)

Não podemos concordar com tais afirmações, já que o fator argumentação está muito presente em diversas ações cotidianas das pessoas, quando discordam, reivindicam, avaliam ou quando se posicionam diante de qualquer obstáculo. Diante disso, é fundamental o que afirma Koch (2004 a: p.p.17-18):

A interação social por intermédio da língua caracteriza-se, fundamentalmente pela argumentatividade... o ato de argumentar, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato lingüístico fundamental, pois todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção ampla do termo.

Para Pécora (1999) os problemas de argumentação não devem ser entendidos apenas como problemas de manipulação de determinados artifícios; devem, pois, afetar as próprias condições de produção do discurso.

Se a argumentatividade está presente em todas as atividades linguageiras, não podemos isolá-la num formalismo, conforme ainda se postula em algumas posições teóricas. Os atos de fala, nas suas mais simples atuações cotidianas, revelam esse propósito. Nesse sentido, Citelli (2003:7), faz um significativo comentário:

As formas dissertativas estão presentes cotidianamente na vida das pessoas. São os discursos da publicidade, do jornalismo, da política, das aulas, dos conselhos dos amigos, das polêmicas para saber qual o melhor time de futebol.

Isto, por sua vez, descarta as afirmações de Garcia e aponta a questão da dissertação-argumentação para além de um modelo didático, impregnado nas discussões pedagógicas, sempre. Com isso, pontualizaremos algumas discussões a respeito da argumentação: a) na escola; b) na postura do professor; c) na visão do lingüista; d) em alguns manuais de língua materna; e) como fator social.

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