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ȱ Análiseȱ deȱ Discursoȱ Crítica:ȱ perspectivaȱ críticoȬexplanatóriaȱ paraȱ estudosȱ daȱlinguagemȱ

ȱ ȱ

Aȱ vertenteȱ britânicaȱ daȱ Análiseȱ deȱ Discursoȱ Críticaȱ (ADC),ȱ desenvolvidaȱ porȱ Faircloughȱ (1989,ȱ 1995,ȱ 2001,ȱ 2003a)ȱ eȱ Chouliarakiȱ &ȱ Faircloughȱ (1999),ȱ constituiȱ oȱ principalȱ pilarȱ teóricoȬmetodológicoȱ destaȱ pesquisa.ȱ Aȱ ADCȱ éȱ reconhecidaȱ comoȱ umȱ desdobramentoȱ dosȱ estudosȱ emȱ Lingüísticaȱ Críticaȱ desenvolvidosȱ naȱ décadaȱ deȱ 1970ȱ naȱ UniversidadeȱdeȱEastȱAnglia.ȱȱ

ConformeȱWodakȱ(1994:ȱ228,ȱ2003),ȱaȱADCȱcomoȱumaȱredeȱdeȱestudiososȱsurgiuȱnoȱ inícioȱ deȱ 1990,ȱ naȱ ocasiãoȱ deȱ umȱ simpósioȱ realizadoȱ emȱ Amsterdãȱ queȱ reuniuȱ pesquisadoresȱ comoȱ Normanȱ Faircloughȱ (Lancasterȱ University),ȱ Guntherȱ Kressȱ (Londonȱ

Printing),ȱ Ruthȱ Wodakȱ (Vienaȱ University;ȱ Lancasterȱ University).ȱ Alémȱ desseȱ encontro,ȱ aȱ autoraȱ destaca,ȱ comoȱ notáveisȱ contribuiçõesȱ paraȱ aȱ formaçãoȱ doȱ grupoȱ “internacional,ȱ heterogêneoȱ eȱ unificado”ȱ deȱ estudiososȱ emȱ ADC,ȱ oȱ lançamentoȱ daȱ revistaȱ Discourseȱ andȱ

Society,ȱemȱ1990,ȱeditadaȱporȱvanȱDijk,ȱassimȱcomoȱaȱpublicaçãoȱdosȱlivrosȱLanguageȱandȱ

power,ȱdeȱFaircloughȱ(1989),ȱLanguage,ȱpowerȱandȱideology,ȱdeȱWodakȱ(1989),ȱdentreȱoutros.ȱȱ Comoȱ retomamȱ Silvaȱ &ȱ Ramalhoȱ (2008),ȱ aȱ Criticalȱ Discourseȱ Analysisȱ chegouȱ aoȱ Brasilȱ emȱ 1993,ȱ peloȱ trabalhoȱ pioneiroȱ deȱ Izabelȱ Magalhãesȱ naȱ Universidadeȱ Brasíliaȱ (UnB),ȱcomȱaȱsiglaȱADC.ȱOutroȱmarcoȱqueȱmereceȱdestaqueȱéȱaȱpublicação,ȱemȱ1996,ȱdoȱ livroȱ Textsȱ andȱ practices:ȱ readingsȱ inȱ criticalȱ discourseȱ analysis,ȱ organizadoȱ porȱ CaldasȬ Coulthardȱ&ȱCoulthard,ȱdaȱUniversidadeȱFederalȱdeȱSantaȱCatarinaȱ(UFSC)ȱeȱBirminghanȱ

University.ȱ Paraȱ esses/asȱ autores/asȱ pioneiros/asȱ noȱ Brasil,ȱ oȱ cerneȱ daȱ ADCȱ estáȱ naȱ compreensãoȱ deȱ queȱ elaȱ éȱ“essencialmenteȱ políticaȱ emȱ suasȱ intençõesȱ jáȱ queȱ os/asȱqueȱ aȱ praticamȱ tentamȱ transformarȱ paraȱ melhorȱ oȱ mundoȱ emȱ queȱ vivem”ȱ (CALDASȬ COULTHARDȱ &ȱ COULTHARD,ȱ 1996:ȱ xi;ȱ COULTHARD,ȱ 2004:ȱ 172).ȱ Está,ȱ ainda,ȱ noȱ compromissoȱdeȱ“mostrarȱosȱefeitosȱconstrutivosȱdoȱdiscursoȱsobreȱasȱidentidadesȱsociaisȱ e,ȱ principalmente,ȱ emȱ queȱ medidaȱ oȱ discursoȱ éȱ moldadoȱ porȱ relaçõesȱ deȱ poderȱ eȱ ideologia”ȱ(SILVA,ȱ2002:ȱ12;ȱ2003,ȱ2005,ȱ2007).ȱPorȱesseȱmotivo,ȱseuȱfocoȱestáȱtambémȱnaȱ mudançaȱ discursivaȱ eȱ social,ȱ eȱ nãoȱ apenasȱ nosȱ mecanismosȱ deȱ reproduçãoȱ (MAGALHÃES,ȱ 2001).ȱ Hoje,ȱ aȱ ADCȱ éȱ umaȱ linhaȱ deȱ pesquisaȱ bastanteȱ consolidadaȱ noȱ Brasil.ȱ Vemȱ tantoȱ fundamentandoȱ pesquisasȱ comoȱ recebendoȱ novasȱ leiturasȱ eȱ contribuiçõesȱ teóricoȬmetodológicasȱ deȱ diversos/asȱ estudiosos/as,ȱ aȱ exemploȱ deȱ Figueiredoȱ (2004),ȱ Heberleȱ (2000,ȱ 2004,ȱ 2005),ȱ Meurerȱ (2004,ȱ 2005,ȱ 2006),ȱ Moitaȱ Lopesȱ (2006),ȱdentreȱváriosȱoutros,ȱalémȱdosȱcitadosȱacima.ȱ

Emboraȱ endosseȱ amplaȱ gamaȱ deȱ perspectivasȱ eȱ filiações,ȱ aȱ ADCȱ defineȬseȱ pelaȱ motivaçãoȱdeȱ“investigarȱcriticamenteȱcomoȱaȱdesigualdadeȱsocialȱéȱexpressa,ȱsinalizada,ȱ constituída,ȱ legitimadaȱ peloȱ usoȱ doȱ discurso”ȱ (WODAK,ȱ 2004:ȱ 225).ȱ Oȱ queȱ diferenciaȱ aȱ vertenteȱ britânica,ȱ pelaȱ qualȱ optamosȱ naȱ pesquisa,ȱ dasȱ demaisȱ abordagensȱ é,ȱ comoȱ indicouȱ Magalhãesȱ (2005:ȱ 3),ȱ “aȱ criaçãoȱ deȱ umȱ métodoȱ paraȱ oȱ estudoȱ doȱ discursoȱ eȱ seuȱ esforçoȱ extraordinárioȱ paraȱ explicarȱ porȱ queȱ cientistasȱ sociaisȱ eȱ estudiososȱ daȱ mídiaȱ precisamȱdosȱlingüistas”.ȱȱ

AȱADCȱconsisteȱnumaȱabordagemȱcientíficaȱtransdisciplinarȱparaȱestudosȱcríticosȱdaȱ linguagemȱ comoȱ práticaȱ social.ȱ Comoȱ esclarecemȱ Faircloughȱ (2003a)ȱ eȱ Chouliarakiȱ &ȱ Faircloughȱ (1999),ȱ aȱ propostaȱ insereȬseȱ naȱ tradiçãoȱ daȱ “ciênciaȱ socialȱ crítica”,ȱ comprometidaȱemȱoferecerȱsuporteȱcientíficoȱparaȱquestionamentosȱdeȱproblemasȱsociaisȱ relacionadosȱaȱpoderȱeȱjustiça.ȱSuaȱcaracterísticaȱtransdisciplinarȱadvémȱdoȱ“rompimentoȱ deȱ fronteirasȱ epistemológicas”ȱ comȱ teoriasȱ sociais,ȱ peloȱ qualȱ objetivaȱ subsidiarȱ suaȱ própriaȱ abordagemȱ sociodiscursivaȱ assimȱ comoȱ oferecerȱ suporteȱ paraȱ queȱ pesquisasȱ sociaisȱ possamȱ contemplar,ȱ também,ȱ aspectosȱ discursivosȱ (RESENDEȱ &ȱ RAMALHO,ȱ 2006:ȱ14).ȱȱȱȱ

Nessaȱperspectivaȱsociodiscursiva,ȱaȱlinguagemȱéȱparteȱirredutívelȱdaȱvidaȱsocial,ȱoȱ queȱpressupõeȱrelaçãoȱinternaȱeȱdialéticaȱdeȱlinguagemȬsociedade,ȱemȱqueȱ“questõesȱsociaisȱ são,ȱ emȱ parte,ȱ questõesȱ deȱ discurso”,ȱ eȱ viceȬversa,ȱ conformeȱ Chouliarakiȱ &ȱ Faircloughȱ (1999:ȱ vii).ȱ Aȱ linguagemȱ constituiȬseȱ socialmenteȱ eȱ tambémȱ temȱ “conseqüênciasȱ eȱ efeitosȱ sociais,ȱ políticos,ȱ cognitivos,ȱ moraisȱ eȱ materiais”ȱ (FAIRCLOUGH,ȱ 2003a:ȱ 14).ȱ Comoȱ ciênciaȱ crítica,ȱ aȱ ADCȱ estáȱ preocupadaȱ comȱ efeitosȱ ideológicosȱ queȱ (sentidosȱ de)ȱ textosȱ possamȱ terȱ sobreȱ relaçõesȱ sociais,ȱ açõesȱ eȱ interações,ȱ conhecimentos,ȱ crenças,ȱ atitudes,ȱ valores,ȱ identidades.ȱIstoȱé,ȱsentidosȱaȱserviçoȱdeȱprojetosȱparticularesȱdeȱdominaçãoȱeȱexploração,ȱ queȱ sustentamȱ aȱ distribuiçãoȱ desigualȱ deȱ poder,ȱ naȱ perspectivaȱ críticaȱ deȱ Thompsonȱ (2002a).ȱȱ

Aȱcompreensãoȱdeȱqueȱproblemasȱsociaisȱsãoȱparcialmenteȱproblemasȱdiscursivos,ȱeȱ viceȬversa,ȱ assentaȬse,ȱ sobretudo,ȱ naȱ ontologiaȱ doȱ Realismoȱ Crítico,ȱ cujoȱ expoenteȱ éȱ reconhecidoȱ noȱ filósofoȱ contemporâneoȱ Royȱ Bhaskarȱ (1978,ȱ 1989,ȱ 1993,ȱ 1998),ȱ conformeȱ discutimosȱaȱseguir.ȱ ȱ ȱ 2.1.1ȱADCȱeȱRealismoȱCrítico:ȱumȱdiálogoȱtransdisciplinarȱ ȱ ȱ ConformeȱdiscutimosȱemȱRamalhoȱ(2007b),ȱaȱontologiaȱqueȱatualmenteȱinformaȱaȱADCȱ originaȬse,ȱsobretudo,ȱdoȱdiálogoȱtransdisciplinarȱcomȱoȱRealismoȱ Crítico.ȱ Naȱ compreensãoȱ deȱBhaskarȱ(1989),ȱoȱmundoȱéȱumȱsistemaȱaberto,ȱemȱconstanteȱmudança,ȱconstituídoȱporȱ

diferentesȱ domíniosȱ (real,ȱ actualȱ eȱ empírico)23,ȱ assimȱ comoȱ porȱ diferentesȱ estratos.ȱ Osȱ

estratosȱ –ȱ físico,ȱ biológico,ȱ social,ȱ semióticoȱ etc.ȱ –ȱ possuemȱ estruturasȱ distintivasȱ eȱ mecanismosȱ gerativosȱ queȱ seȱ situamȱ noȱ domínioȱ doȱ real.ȱ Quandoȱ sãoȱ ativados,ȱ simultaneamente,ȱ causamȱ efeitosȱ imprevisíveisȱ nosȱ demaisȱ domínios.ȱ Bhaskarȱ (1998:ȱ 41)ȱ representaȱaȱ“ontologiaȱestratificada”ȱnumaȱtabelaȱqueȱadaptamosȱaqui:ȱ Tabelaȱ2.1ȱ–ȱOntologiaȱestratificadaȱdoȱRealismoȱCríticoȱ ȱ Domínioȱ doȱrealȱ ȱ Domínioȱdoȱȱ actualȱ Domínioȱdoȱ empíricoȱ Mecanismosȱ 9ȱ ȱ ȱ Eventosȱ 9ȱ 9ȱ ȱ Experiênciasȱ 9ȱ 9ȱ 9ȱ AdaptadoȱdeȱBhaskarȱ(1998:ȱ41).ȱReproduzidoȱdeȱRamalhoȱ(2007b:ȱ83).ȱ

Aȱ Tabelaȱ 2.1ȱ representaȱ aȱ estratificaçãoȱ doȱ mundoȱ emȱ trêsȱ domíniosȱ –ȱ real,ȱ

actualȱeȱempírico.ȱConformeȱSayerȱ(2000:ȱ09),ȱoȱdomínioȱdoȱrealȱcorrespondeȱ“aoȱqueȱquerȱ queȱexista,ȱsejaȱnaturalȱouȱsocial,ȱindependentementeȱdeȱserȱumȱobjetoȱempíricoȱparaȱnósȱ eȱdeȱtermosȱumaȱcompreensãoȱadequadaȱdeȱsuaȱnatureza”.ȱÉȱoȱdomínioȱdosȱobjetos,ȱsuasȱ estruturas,ȱmecanismosȱeȱpoderesȱcausais.ȱSejamȱfísicos,ȱcomoȱminerais,ȱouȱsociais,ȱcomoȱ burocracias,ȱessesȱobjetosȱ“têmȱumaȱcertaȱestruturaȱeȱpoderesȱcausais,ȱistoȱé,ȱcapacidadeȱ deȱseȱcomportaremȱdeȱformasȱparticulares,ȱeȱtendênciasȱcausaisȱouȱpoderesȱpassivos,ȱistoȱ é,ȱsusceptibilidadesȱaȱcertasȱformasȱdeȱmudança.”ȱNesteȱdomínio,ȱmecanismosȱgerativosȱdeȱ diversosȱ estratosȱ (físico,ȱ biológico,ȱ social,ȱ semiótico,ȱ dentreȱ outros)ȱ operamȱ simultaneamenteȱ comȱseusȱpoderesȱcausais,ȱgerandoȱefeitosȱnosȱoutrosȱdomínios.ȱComoȱ Sayerȱ(2000:ȱ11)ȱaindaȱexemplifica,ȱ

ȱ

23ȱ Osȱtermosȱoriginaisȱ emȱBhaskarȱ(1998)ȱ sãoȱreal,ȱactualȱeȱempirical.ȱOptamosȱporȱmanterȱemȱinglêsȱoȱtermoȱ “actual”,ȱassimȱcomoȱvemȱsendoȱfeitoȱemȱtraduçõesȱbrasileiras.ȱȱȱ

ȱ

fenômenosȱsociaisȱsãoȱemergentesȱdeȱfenômenosȱbiológicos,ȱqueȱsão,ȱporȱ seuȱ turno,ȱ emergentesȱ dosȱ estratosȱ físicosȱ eȱ químicos.ȱ Assim,ȱ aȱ práticaȱ socialȱ daȱ conversaçãoȱ dependeȱ doȱ estadoȱ fisiológicoȱ dosȱ agentes,ȱ incluindoȱ osȱ sinaisȱ enviadosȱ eȱ recebidosȱ emȱ tornoȱ deȱ nossasȱ célulasȱ nervosas,ȱ masȱ aȱ conversaçãoȱ nãoȱ éȱ redutívelȱ aȱ estesȱ processosȱ fisiológicos.ȱ [...]ȱ Emboraȱ nósȱ nãoȱ precisemosȱ voltarȱ aoȱ nívelȱ daȱ biologiaȱ ouȱdaȱquímicaȱparaȱexplicarȱosȱfenômenosȱsociais,ȱistoȱnãoȱsignificaȱqueȱ osȱ primeirosȱ nãoȱ tenhamȱ efeitoȱ sobreȱ aȱ sociedade.ȱ Tampoucoȱ significaȱ queȱ podemosȱ ignorarȱ aȱ maneiraȱ pelaȱ qualȱ afetamosȱ estesȱ estratos,ȱ porȱ exemplo,ȱatravésȱdaȱcontracepção,ȱmedicina,ȱagriculturaȱeȱpoluição.ȱ ȱ

ȱ

Talȱ relaçãoȱ deȱ interdependênciaȱ causalȱ implicaȱ queȱ aȱ operaçãoȱ deȱ qualquerȱ mecanismoȱgerativoȱdosȱdiferentesȱestratosȱéȱsempreȱmediadaȱpelaȱoperaçãoȱsimultâneaȱ deȱoutros,ȱdeȱformaȱtalȱqueȱnãoȱsãoȱredutíveisȱaȱumȱeȱsempreȱdependemȱ(eȱinternalizamȱ traços)ȱdeȱoutros.ȱPorȱisso,ȱnãoȱháȱnecessidadeȱdeȱvoltarȱaoȱestratoȱdaȱbiologia,ȱdaȱfísicaȱouȱ daȱ químicaȱ paraȱ investigarȱ fenômenosȱ sociais,ȱ masȱ issoȱ nãoȱ anulaȱ efeitosȱ biológicos,ȱ físicos,ȱ químicosȱ sobreȱ aȱ sociedade,ȱ eȱ viceȬversa.ȱ Nosȱ termosȱ daȱ pesquisa,ȱ issoȱ significaȱ queȱnãoȱháȱnecessidadeȱdeȱvoltarȱaoȱestratoȱdaȱfísica,ȱdaȱquímica,ȱassimȱcomoȱdaȱbiologia,ȱ paraȱinvestigarȱoȱfenômenoȱsocialȱdaȱ“semioticizaçãoȱdoȱmedicamento”,ȱemȱqueȱprodutosȱ farmacêuticosȱsãoȱconvertidosȱemȱ“símbolosȱdeȱsaúde”,ȱporȱexemplo.ȱȱ Nessaȱestratificação,ȱoȱrealȱéȱoȱdomínioȱdasȱestruturas,ȱmecanismosȱeȱpoderesȱ causaisȱdosȱobjetos,ȱaoȱpassoȱqueȱoȱactual,ȱcomoȱSayerȱ(2000:ȱ10)ȱexplica,ȱrefereȬseȱaȱ“oȱqueȱ aconteceȱseȱeȱquandoȱestesȱpoderesȱsãoȱativados”,ȱouȱseja,ȱàquiloȱqueȱessesȱpoderesȱfazemȱeȱ aoȱ queȱ ocorreȱ quandoȱ elesȱ sãoȱ ativados.ȱ Paraȱ exemplificar,ȱ podemosȱ associarȱ oȱ sistemaȱ

semióticoȱ(aȱpotencialidadeȱparaȱsignificar),ȱaoȱladoȱdeȱdiversasȱoutrasȱestruturasȱeȱpoderesȱ causais,ȱcomȱoȱdomínioȱdoȱrealȱe,ȱ porȱoutroȱlado,ȱosȱsentidosȱdeȱtextosȱ comȱoȱdomínioȱdoȱ

actualȱ(oȱsignificado).ȱEsteȱúltimoȱéȱoȱdomínioȱdosȱeventos,ȱqueȱpassamȱouȱnãoȱporȱnossaȱ

experiência,ȱeȱqueȱseȱlocalizaȱentreȱoȱmaisȱabstratoȱ(estruturasȱeȱpoderes)ȱeȱoȱmaisȱconcretoȱ (eventosȱ experienciados).ȱ Oȱ empírico,ȱ porȱ fim,ȱ éȱ oȱ domínioȱ dasȱ experiênciasȱ efetivas,ȱ aȱ parteȱ doȱ realȱ eȱ doȱ actualȱ queȱ éȱ experienciadaȱ porȱ atoresȱ sociaisȱ específicos.ȱ Seȱ oȱ realȱ éȱ oȱ domínioȱdosȱpoderesȱcausaisȱeȱoȱactualȱoȱdomínioȱdosȱeventosȱemȱqueȱseȱacionamȱessesȱ poderes,ȱ oȱ empírico,ȱ porȱ suaȱ vez,ȱ éȱ oȱ queȱ seȱ percebeȱ daȱ ativaçãoȱ dessesȱ poderesȱ noȱ domínioȱ dosȱ eventosȱ experienciados.ȱ Emȱ outrosȱ termos,ȱ éȱ oȱ queȱ seȱ sabeȱ doȱ realȱ eȱ doȱ

Essaȱconcepçãoȱdeȱmundo,ȱqueȱvemȱinformandoȱpesquisasȱbrasileirasȱcomoȱdeȱPapaȱ (2008),ȱpressupõeȱaȱinviabilidadeȱdeȱseȱterȱacessoȱdiretoȱaoȱdomínioȱdoȱreal,ȱvistoȱqueȱesteȱ sóȱpodeȱserȱalcançadoȱpelaȱmediaçãoȱdeȱnossoȱconhecimentoȱ(eȱcrenças,ȱvalores,ȱatitudes,ȱ ideologias)ȱ sobreȱ ele,ȱ ouȱ seja,ȱ aȱ partirȱ doȱ actualȱ eȱ doȱ empírico.ȱ Paraȱ Bhaskarȱ (1978:ȱ 36),ȱ constituiriamȱ “faláciasȱ epistêmicas”ȱ pretender,ȱ porȱ umȱ lado,ȱ estudarȱ oȱ “mundoȱ real”ȱ deȱ maneiraȱ“objetiva”,ȱvistoȱqueȱsóȱpodemosȱestudarȱoȱmundoȱrealȱpassandoȱpeloȱfiltroȱdeȱ nossasȱ experiências,ȱ e,ȱ porȱ outro,ȱ conceberȱ oȱ mundoȱ comoȱ constituídoȱ apenasȱ peloȱ domínioȱempírico,ȱouȱseja,ȱporȱaquiloȱqueȱexperienciamos.ȱConformeȱabordamosȱnoȱCap.ȱ4,ȱ esseȱ pontoȱ éȱ fundamentalȱ paraȱ aȱ abordagemȱ teóricoȬmetodológicaȱ daȱ ADC,ȱ porȱ descartarȱ aȱ possibilidadeȱdeȱpesquisasȱ“objetivas”ȱemȱanáliseȱdeȱdiscurso,ȱqueȱacessariamȱdiretamenteȱ aȱ “realidade”.ȱParteȬseȱdoȱpressupostoȱdeȱqueȱoȱtrabalhoȱdeȱanáliseȱtextualȱ–ȱumaȱparteȱdaȱ análiseȱdoȱdiscursoȱ–ȱéȱcientíficoȱporqueȱconjugaȱcompreensão,ȱdescriçõesȱeȱinterpretaçõesȱ deȱ propriedadesȱ doȱ texto,ȱ eȱ explanação,ȱ processoȱ situadoȱ entreȱ conceitosȱ eȱ materialȱ empírico,ȱemȱqueȱpropriedadesȱdeȱtextosȱparticularesȱsãoȱ“redescritas”ȱcomȱbaseȱemȱumȱ arcabouçoȱteóricoȱparticularȱ(verȱCap.ȱ4).ȱȱ

Nessesȱ princípiosȱ assentaȬseȱ aȱ compreensãoȱ deȱ queȱ oȱ discursoȱ temȱ efeitosȱ naȱ vidaȱ social,ȱosȱquaisȱnãoȱpodemȱserȱsuficientementeȱinvestigadosȱlevandoȬseȱemȱconsideraçãoȱ apenasȱoȱaspectoȱdiscursivoȱdeȱpráticasȱsociais.ȱDeȱacordoȱcomȱChouliarakiȱ&ȱFaircloughȱ (1999:ȱ67),ȱaȱlógicaȱdaȱanáliseȱcríticaȱéȱrelacional/dialética,ȱ“orientadaȱparaȱmostrarȱcomoȱoȱ momentoȱdiscursivoȱtrabalhaȱnaȱpráticaȱsocial,ȱdoȱpontoȱdeȱvistaȱdeȱseusȱefeitosȱemȱlutasȱ hegemônicasȱ eȱ relaçõesȱ deȱ dominação”24.ȱ Éȱ notávelȱ queȱ oȱ focoȱ dessaȱ abordagemȱ

relacional/dialética,ȱigualmenteȱinformadoȱpelaȱciênciaȱsocialȱcrítica,ȱnãoȱestáȱnaȱestruturaȱ

social,ȱmaisȱfixaȱeȱabstrata,ȱtampoucoȱnaȱaçãoȱindividual,ȱmaisȱflexívelȱeȱconcreta.ȱEstá,ȱdeȱ fato,ȱnaȱentidadeȱintermediáriaȱdasȱpráticasȱsociais.ȱȱ

Oȱ Realismoȱ Críticoȱ endossaȱ umaȱ concepçãoȱ transformacionalȱ deȱ constituiçãoȱ daȱ

sociedadeȱque,ȱsegundoȱBhaskarȱ(1989:ȱ32Ȭ37),ȱdifereȱdosȱ“modelos”ȱdoȱ“voluntarismo”,ȱdaȱ “reificação”,ȱ eȱ atéȱ mesmoȱ doȱ “dialético”25.ȱ Segundoȱ oȱ autor,ȱ noȱ voluntarismo,ȱ objetosȱ

sociaisȱ sãoȱ resultadoȱ doȱ comportamentoȱ intencionalȱ deȱ indivíduos.ȱ Noȱ modeloȱ deȱ reificação,ȱobjetosȱsociaisȱsãoȱexternosȱeȱexercemȱcoerçãoȱsobreȱindivíduos.ȱNoȱdialético,ȱ

24ȱ Maisȱ correto,ȱ aqui,ȱ seriaȱ usarȱ oȱ termoȱ “transformacional”,ȱ porȱ motivosȱ queȱ apresentamosȱ aȱ seguir.ȱ Noȱ entanto,ȱoptamosȱporȱmanterȱnaȱteseȱoȱtermoȱ“dialético”,ȱpeloȱfatoȱdeȱserȱoȱmaisȱusualȱemȱADC.ȱ

porȱsuaȱvez,ȱ“sociedades”ȱeȱ“indivíduos”ȱsãoȱdoisȱmomentosȱdeȱumȱmesmoȱprocesso:ȱasȱ sociedadesȱcriamȱindivíduos,ȱeȱindivíduosȱafetamȱasȱsociedades.ȱPorȱissoȱentendeȬseȱqueȱaȱ sociedadeȱéȱcriaçãoȱdosȱseresȱhumanos,ȱmasȱnãoȱrecursoȱparaȱsuasȱatividades.ȱNosȱtermosȱ deȱBhaskar,ȱ“noȱprimeiroȱmodelo,ȱháȱações,ȱmasȱnãoȱcondições.ȱNoȱsegundoȱmodelo,ȱháȱ condições,ȱmasȱnãoȱações.ȱNoȱterceiroȱmodelo,ȱporȱsuaȱvez,ȱnãoȱháȱdistinçãoȱentreȱaçõesȱeȱ condições”.ȱȱ

Curryȱ (2000:ȱ 102),ȱ emboraȱ reconheçaȱ grandeȱ afinidadeȱ entreȱ asȱ concepçõesȱ transformacionalȱ eȱ dialética,ȱ ponderaȱ queȱ aȱ segundaȱ difereȱ daȱ primeiraȱ noȱ “aspectoȱ crucialȱdaȱirredutibilidadeȱdasȱestruturasȱaosȱagentesȱqueȱasȱtransformam”.ȱIssoȱsignificaȱ que,ȱnaȱperspectivaȱtransformacional,ȱaȱsociedadeȱnãoȱéȱcriaçãoȱdosȱseresȱhumanos,ȱmasȱ préȬexisteȱaȱeles.ȱAȱsociedadeȱexisteȱemȱvirtudeȱdaȱagênciaȱhumana,ȱmasȱnãoȱéȱredutívelȱaȱ ela,ȱ eȱ viceȬversa.ȱ Comoȱ Sayerȱ (2000:ȱ 19)ȱ exemplifica,ȱ açõesȱ sempreȱ pressupõemȱ recursosȱ préȬexistentesȱ eȱ meios:ȱ “falarȱ pressupõeȱ umaȱ língua;ȱ umaȱ língua,ȱ umaȱ comunidadeȱ eȱ recursosȱ materiais,ȱ comoȱ cordasȱ vocaisȱ ouȱ outrosȱ meiosȱ deȱ seȱ efetuarȱ sonsȱ inteligíveisȱ (...)”.ȱ

Talȱ posturaȱ implicaȱ queȱ “sociedades”ȱ eȱ “indivíduos”,ȱ ouȱ estruturasȱ (“conjuntosȱ deȱ regrasȱeȱrecursosȱimplicados,ȱdeȱmodoȱrecursivo,ȱnaȱreproduçãoȱsocial”)ȱeȱagênciaȱhumanaȱ (“capacidadeȱ dasȱ pessoasȱ paraȱ realizarȱ asȱ coisas”),ȱ nãoȱ sãoȱ redutíveisȱ aȱ um,ȱ mas,ȱ sim,ȱ causalmenteȱ interdependentesȱ (GIDDENS,ȱ 2003[1989]:ȱ 10)26.ȱ Conformeȱ retomaremosȱ naȱ

discussãoȱ sobreȱ gênerosȱ discursivosȱ noȱ Cap.ȱ 3,ȱ aȱ propriedadeȱ daȱ estruturaȱ socialȱ deȱ serȱ tantoȱ meioȱ paraȱ aȱ agênciaȱ humanaȱ quantoȱ resultadoȱ daȱ açãoȱ queȱ elaȱ recursivamenteȱ organizaȱ éȱ definidaȱ emȱ Giddensȱ (2003:ȱ 25Ȭ39)ȱ comoȱ “dualidadeȱ daȱ estrutura”.ȱ Essaȱ dualidade,ȱ eȱ nãoȱ dualismo,ȱ pressupõeȱ estruturasȱ (regrasȱ eȱ recursos)ȱ comoȱ propriedadesȱ estruturadorasȱ eȱ igualmenteȱ resultantesȱ daȱ açãoȱ humana.ȱ Assim,ȱ Bhaskarȱ (1989:ȱ 34)ȱ entendeȱqueȱsociedadeȱéȱ

ȱ ȱ

tantoȱ aȱ condiçãoȱ sempreȱ presenteȱ (causaȱ material)ȱ eȱ oȱ resultadoȱ continuamenteȱreproduzidoȱdaȱagênciaȱhumana.ȱEȱpráxisȱéȱtantoȱproduçãoȱ consciente,ȱ eȱ reproduçãoȱ (normalmenteȱ inconsciente)ȱ dasȱ condiçõesȱ deȱ produção,ȱqueȱéȱaȱsociedade.ȱOȱprimeiroȱrefereȬseȱàȱdualidadeȱdaȱestrutura,ȱ eȱoȱúltimoȱàȱdualidadeȱdaȱpráxis.ȱȱ

26ȱ Diversosȱ autoresȱ têmȱ apontadoȱ relaçõesȱ deȱ parentescoȱ entreȱ oȱ realismoȱ críticoȱ deȱ Bhaskarȱ eȱ aȱ teoriaȱ daȱ estruturaçãoȱdeȱGiddens,ȱaȱexemploȱdeȱChouliarakiȱ&ȱFaircloughȱ(1999),ȱCurryȱ(2000).ȱ

ȱ ȱ

Aȱ relaçãoȱ entreȱ estruturaȱ eȱ agênciaȱ temȱ caráterȱ dual:ȱ estruturaȱ éȱ condição,ȱ causaȱ material,ȱ masȱ tambémȱ éȱ resultadoȱ daȱ atividadeȱ humana,ȱ aȱ qual,ȱ porȱ suaȱ vez,ȱ produzȱ eȱ reproduzȱ essaȱ causaȱ material.ȱ Aȱ concepçãoȱ deȱ queȱ seresȱ humanosȱ nãoȱ criamȱ estruturasȱ sociais,ȱ masȱ asȱ (re)produzemȱ àȱ medidaȱ queȱ asȱ utilizamȱ comoȱ condiçõesȱ paraȱ suasȱ atividades,ȱéȱrepresentadaȱnaȱFiguraȱ2.1:ȱȱ ȱ Figuraȱ2.1ȱ–ȱConcepçãoȱtransformacionalȱdeȱconstituiçãoȱdaȱsociedadeȱ Estrutura Permissão/ȱ ȱȱConstrangimentoȱ Reprodução/ȱ Transformaçãoȱ Agência

Baseado em Bhaskar (1998). Reproduzido de Ramalho (2007b: 87).

ȱ ȱ

Naȱ Figuraȱ 2.1,ȱ oȱ movimentoȱ descendenteȱ daȱ setaȱ representaȱ aȱ açãoȱ humanaȱ comoȱ dependenteȱ deȱ regrasȱ eȱ recursosȱ (incluindoȱ mecanismosȱ eȱ seusȱ poderesȱ causais)ȱ disponíveisȱnaȱestruturaȱsocial.ȱAoȱmesmoȱtempoȱemȱqueȱessaȱestrutura,ȱnaȱqualidadeȱdeȱ

meio,ȱéȱfacilitadora,ȱporȱpermitirȱaȱação,ȱelaȱtambémȱéȱconstrangedora,ȱpois,ȱdeȱcertaȱforma,ȱ “regula”ȱ condutas.ȱ Porȱ outroȱ lado,ȱ oȱ movimentoȱ ascendenteȱ daȱ setaȱ representaȱ queȱ oȱ acionamentoȱdeȱregrasȱeȱrecursosȱdeȱestruturasȱsociaisȱporȱatoresȱsociaisȱpodeȱresultarȱemȱ

reproduçãoȱ ouȱ transformaçãoȱ deȱ talȱ estrutura,ȱ comoȱ resultado.ȱ Assim,ȱ açãoȱ eȱ estruturaȱ constituemȬseȱ transformacionalȱ eȱ reciprocamente,ȱ deȱ maneiraȱ queȱ umaȱ nãoȱ podeȱ serȱ separadaȱdaȱoutra,ȱouȱmesmoȱreduzidaȱaȱoutra.ȱEmȱpráticasȱsociais,ȱagentesȱindividuaisȱseȱ valemȱ daȱ estruturaȱ social,ȱ (re)articulandoȱ mecanismosȱ eȱ poderesȱ causais,ȱ eȱ aȱ (re)produzem,ȱgerandoȱnoȱmundoȱefeitosȱimprevisíveis.ȱȱ

Comȱbaseȱemȱtaisȱprincípios,ȱmasȱtambémȱemȱHarveyȱ(1996),ȱaȱADCȱreconheceȱseuȱ objetoȱdeȱestudoȱnasȱpráticasȱsociaisȱ–ȱ“oȱpontoȱdeȱconexãoȱentreȱestruturasȱabstratas,ȱcomȱ seusȱ mecanismos,ȱ eȱ eventosȱ concretos”,ȱ nosȱ termosȱ deȱ Chouliarakiȱ &ȱ Faircloughȱ (1999:ȱ 21).ȱȱ

ȱ ȱ 2.1.2ȱLinguagemȱcomoȱpráticaȱsocialȱ ȱ ȱ Comoȱdiscutimos,ȱnaȱADC,ȱaȱlinguagem,ȱouȱ“semiose”ȱparaȱabarcarȱmanifestaçõesȱ lingüísticasȱ tantoȱ verbaisȱ quantoȱ nãoȬverbais,ȱ éȱ umȱ dosȱ estratosȱ doȱ mundo.ȱ Oȱ “estratoȱ semiótico”,ȱ comȱ seusȱ mecanismosȱ eȱ poderesȱ gerativos,ȱ mantémȱ relaçõesȱ simultâneasȱ eȱ transformacionaisȱcomȱosȱdemaisȱestratosȱ(físico,ȱsocial,ȱquímico,ȱbiológicoȱetc.),ȱdeȱmodoȱ queȱ internalizaȱ traçosȱ deȱ outrosȱ estratos,ȱ assimȱ comoȱ temȱ efeitosȱ sobreȱ eles.ȱ Talȱ compreensãoȱdeȱmundoȱfundamentaȱaȱidéiaȱdeȱqueȱaȱlinguagemȱtemȱefeitosȱnasȱpráticasȱeȱ eventosȱ sociais.ȱ Issoȱ significa,ȱ conformeȱ Faircloughȱ (2003a),ȱ queȱ aȱ linguagemȱ éȱ parteȱ integranteȱeȱirredutívelȱdoȱsocial,ȱemȱtodosȱosȱníveis,ȱcomoȱilustramosȱnoȱQuadroȱ2.1:ȱȱ ȱ Quadroȱ2.1ȱ–ȱLinguagemȱcomoȱmomentoȱdaȱvidaȱsocialȱ Níveisȱdoȱsocialȱ Níveisȱdaȱlinguagemȱ Estruturaȱsocialȱ Sistemaȱsemióticoȱȱ Práticasȱsociaisȱ (Ordensȱde)ȱdiscursoȱ Eventosȱsociaisȱȱ Textosȱȱ BaseadoȱemȱFaircloughȱ(2003a:ȱ220).ȱȱ ȱ ȱ NoȱQuadroȱ2.1,ȱrepresentamosȱtrêsȱdiferentesȱníveisȱdaȱvidaȱsocialȱcorrelacionadosȱaȱ trêsȱ níveisȱ daȱ linguagem,ȱ conformeȱ propostoȱ emȱ Faircloughȱ (2003a).ȱ Noȱ gradienteȱ decrescente,ȱ temos,ȱ noȱ nívelȱ maisȱ abstratoȱ dasȱ estruturas,ȱ aȱ linguagemȱ comoȱ sistemaȱ

semióticoȱ–ȱcomȱsuaȱredeȱdeȱopçõesȱlexicogramaticais.ȱNoȱnívelȱintermediárioȱdasȱpráticasȱ sociais,ȱ temosȱ aȱ linguagemȱ comoȱ (ordensȱ de)ȱ discursoȱ –ȱ “asȱ combinaçõesȱ particularesȱ deȱ gêneros,ȱ discursosȱ eȱ estilos,ȱ queȱ constituemȱ oȱ aspectoȱ discursivoȱ deȱ redesȱ deȱ práticasȱ sociais”,ȱaȱfacetaȱsocialȱdaȱlinguagem.ȱPorȱfim,ȱnoȱnívelȱmaisȱconcretoȱdosȱeventos,ȱtemosȱ aȱ linguagemȱ comoȱ textoȱ –ȱ oȱ principalȱ materialȱ empíricoȱ comȱ queȱ analistasȱ deȱ discursoȱ trabalham,ȱmasȱnãoȱoȱúnico.ȱDissoȱadvémȱoȱentendimentoȱdeȱqueȱoȱobjetoȱdeȱestudoȱdaȱ ADCȱ nãoȱ éȱ aȱ linguagemȱ comoȱ estruturaȱ (sistemaȱ semiótico),ȱ tampoucoȱ comoȱ eventoȱ (texto),ȱmas,ȱsim,ȱcomoȱpráticaȱsocial,ȱouȱseja,ȱcomoȱ(ordensȱde)ȱdiscurso.ȱȱ

Naȱ ADC,ȱ comoȱ Faircloughȱ (2003a:ȱ 26)ȱ esclarece,ȱ oȱ termoȱ “discurso”ȱ adquireȱ duasȱ acepções.ȱComoȱsubstantivoȱmaisȱabstrato,ȱsignificaȱ“linguagemȱeȱoutrosȱtiposȱdeȱsemioseȱ comoȱ momentoȱ irredutívelȱ daȱ vidaȱ social”ȱ aoȱ passoȱ que,ȱ comoȱ umȱ substantivoȱ maisȱ concreto,ȱsignificaȱ“modosȱparticularesȱdeȱrepresentarȱparteȱdoȱmundo”.ȱDeȱacordoȱcomȱaȱ primeiraȱ acepção,ȱ emȱ práticasȱ sociais,ȱ aȱ linguagemȱ figuraȱ comoȱ discurso,ȱ oȱ momentoȱ semióticoȱ queȱ seȱ articulaȱ comȱ osȱ demaisȱ momentosȱ nãoȬsemióticos,ȱ quaisȱ sejam,ȱ açãoȱ eȱ interação,ȱ relaçõesȱ sociais,ȱ pessoasȱ eȱ mundoȱ material.ȱ Conformeȱ aȱ segundaȱ acepção,ȱ osȱ diferentesȱmomentosȱsemióticosȱdeȱdiferentesȱpráticasȱdãoȱorigemȱaȱ(redesȱde)ȱordensȱdeȱ discurso,ȱ formadasȱ porȱ gêneros,ȱ discursosȱ eȱ estilosȱ particularesȱ deȱ cadaȱ campoȱ ouȱ atividadeȱsocial.ȱȱ

Porȱ tudoȱ isso,ȱ entendeȬseȱ que,ȱ naȱ qualidadeȱ deȱ “pontoȱ deȱ conexãoȱ entreȱ estruturasȱ

abstratas,ȱ comȱ seusȱ mecanismos,ȱ eȱ eventosȱ concretos”,ȱ istoȱ é,ȱ entreȱ “sociedadeȱ eȱ pessoasȱ vivendoȱ suasȱ vidas”,ȱ nosȱ termosȱ deȱ Chouliarakiȱ &ȱ Faircloughȱ (1999:ȱ 21),ȱ ouȱ entreȱ “estrutura”ȱ eȱ “agência”ȱ nosȱ termosȱ deȱ Bhaskarȱ (1989),ȱ práticasȱ sociaisȱ sãoȱ maneirasȱ recorrentes,ȱsituadasȱtemporalȱeȱespacialmente,ȱpelasȱquaisȱpessoasȱinteragemȱnoȱmundo.ȱ Conformeȱ Faircloughȱ (2003a),ȱ práticasȱ sempreȱ articulamȱ açãoȱ eȱ interação,ȱ relaçõesȱ sociais,ȱ

pessoasȱ (comȱ crenças,ȱ valores,ȱ atitudes,ȱ históriasȱ etc.),ȱ mundoȱ materialȱ eȱ discurso.ȱ Emȱ práticasȱ particulares,ȱ essesȱ cincoȱ elementosȱ mantêmȱ entreȱ siȱ constantesȱ relaçõesȱ dialéticasȱ deȱ articulaçãoȱeȱinternalização,ȱsemȱseȱreduziremȱaȱum,ȱtornandoȬseȱ“momentos”ȱdaȱprática.ȱ Resendeȱ &ȱ Ramalhoȱ (2005,ȱ 2006)ȱ explicamȱ queȱ essasȱ relaçõesȱ dialéticasȱ deȱ articulaçãoȱ eȱ internalizaçãoȱ entreȱ osȱ cincoȱ momentosȱ deȱ práticasȱ sociaisȱ particularesȱ podemȱ serȱ tantoȱ minimizadasȱ paraȱ seȱ aplicarȱ àȱ articulaçãoȱ internaȱ deȱ cadaȱ momentoȱ deȱ umaȱ prática,ȱ quantoȱ ampliadasȱ paraȱ seȱ aplicarȱ àȱ articulaçãoȱ externaȱ entreȱ práticasȱ organizadasȱ emȱ redes.ȱ Noȱ primeiroȱ caso,ȱ tomandoȱ comoȱ exemploȱ oȱ momentoȱ discursivoȱ deȱ práticas,ȱ háȱ relaçõesȱ dialéticasȱ entreȱ seusȱ trêsȱ momentosȱ internos:ȱ gêneros,ȱ discursos,ȱ estilos.ȱ Noȱ segundoȱcaso,ȱrelaçõesȱdialéticasȱentreȱdiferentesȱpráticas,ȱassociadasȱaȱdiferentesȱcamposȱ sociais,ȱformamȱredesȱdasȱquaisȱasȱprópriasȱpráticasȱpassamȱaȱconstituirȱmomentos.ȱȱ

ComoȱdiscutiremosȱmaisȱdetalhadamenteȱnoȱCap.ȱ3,ȱnasȱpráticasȱsociaisȱcotidianas,ȱ utilizamosȱoȱdiscursoȱdeȱtrêsȱprincipaisȱmaneirasȱsimultâneas:ȱparaȱagirȱeȱinteragir,ȱparaȱ representarȱ aspectosȱ doȱ mundoȱ eȱ paraȱ identificarȱ aȱ siȱ mesmoȱ eȱ aosȱ outros.ȱ Essasȱ principaisȱ maneirasȱ comoȱ oȱ discursoȱ figuraȱ simultâneaȱ eȱ dialeticamenteȱ emȱ práticasȱ

sociaisȱcorrelacionamȬseȱaosȱtrêsȱmomentosȱdeȱordensȱdeȱdiscurso.ȱGênerosȱsão,ȱportanto,ȱ maneirasȱrelativamenteȱestáveisȱdeȱagirȱeȱinteragirȱnaȱvidaȱsocial.ȱDiscursosȱsãoȱmaneirasȱ relativamenteȱestáveisȱdeȱrepresentarȱaspectosȱdoȱmundo,ȱdeȱpontosȱdeȱvistaȱparticulares.ȱ Estilos,ȱporȱfim,ȱsãoȱmaneirasȱrelativamenteȱestáveisȱdeȱidentificarȱaȱsiȱeȱaosȱoutros.ȱEssasȱ maneirasȱ deȱ (interȬ)agir,ȱ representarȱ eȱ identificar(Ȭse)ȱ emȱ práticasȱ sociaisȱ internalizamȱ traçosȱdeȱoutrosȱmomentosȱnãoȬdiscursivos,ȱassimȱcomoȱajudamȱaȱconstituirȱessesȱoutrosȱ momentos.ȱ SegueȬseȱ que,ȱ comoȱ adiantamosȱ noȱ inícioȱ doȱ capítulo,ȱ aȱ relaçãoȱ linguagemȬ sociedadeȱ éȱ internaȱ eȱ dialética.ȱ Aȱ linguagemȱ constituiȬseȱ socialmenteȱ naȱ mesmaȱ medidaȱ emȱ queȱ temȱ “conseqüênciasȱ eȱ efeitosȱ sociais,ȱ políticos,ȱ cognitivos,ȱ moraisȱ eȱ materiais”ȱ (FAIRCLOUGH,ȱ2003a:ȱ14).ȱȱ

Maisȱ preocupanteȱ paraȱ estaȱ perspectivaȱ críticaȱ daȱ linguagemȱ sãoȱ osȱ efeitosȱ ideológicosȱ queȱ(sentidosȱde)ȱtextosȱpossamȱterȱsobreȱrelaçõesȱsociais,ȱaçõesȱeȱinterações,ȱconhecimentos,ȱ crenças,ȱatitudes,ȱvalores,ȱidentidades.ȱȱ ȱ ȱ 2.1.3ȱLinguagemȱeȱideologiaȱ ȱ ȱ Naȱesteiraȱdaȱciênciaȱsocialȱcrítica,ȱnaȱADCȱ“ideologia”ȱéȱumȱconceitoȱinerentementeȱ negativo,ȱ porȱ relacionarȬseȱ àsȱ maneirasȱ comoȱ osȱ sentidosȱ servemȱ paraȱ instaurarȱ eȱ sustentarȱrelaçõesȱdeȱdominação.ȱNessaȱperspectiva,ȱoȱprimeiroȱpassoȱparaȱaȱsuperaçãoȱdeȱ relaçõesȱ assimétricasȱ deȱ poder,ȱ eȱ emancipaçãoȱ daquelesȱ queȱ seȱ encontramȱ emȱ desvantagem,ȱ estáȱ noȱ desvelamentoȱ daȱ ideologia.ȱ Segundoȱ Faircloughȱ (1989:ȱ 85),ȱ aȱ ideologiaȱéȱmaisȱefetivaȱquandoȱsuaȱaçãoȱéȱmenosȱvisível,ȱdeȱformaȱqueȱȱ

seȱalguémȱseȱtornaȱconscienteȱdeȱqueȱumȱdeterminadoȱaspectoȱdoȱsensoȱ comumȱ sustentaȱ desigualdadesȱ deȱ poderȱ emȱ detrimentoȱ deȱ siȱ próprio,ȱ aqueleȱaspectoȱdeixaȱdeȱserȱsensoȱcomumȱeȱpodeȱperderȱaȱpotencialidadeȱ deȱ sustentarȱ desigualdadesȱ deȱ poder,ȱ istoȱ é,ȱ deȱ funcionarȱ ideologicamente.ȱ

ȱ

Seȱreproduzimosȱacriticamenteȱoȱsensoȱcomum,ȱaȱideologiaȱsegueȱcontribuindoȱparaȱ sustentarȱdesigualdadesȱdeȱpoder.ȱSe,ȱaoȱcontrário,ȱdesvelamos,ȱdesnaturalizamosȱoȱsensoȱ comum,ȱ deȱ maneiraȱ consciente,ȱ existeȱ aȱ possibilidadeȱ deȱ coibirmos,ȱ anularmosȱ seuȱ funcionamentoȱ ideológico.ȱ Essaȱ posturaȱ críticaȱ eȱ emancipatória,ȱ queȱ sinalizaȱ paraȱ aȱ

possibilidadeȱ daȱ mudançaȱ social,ȱ assentaȬse,ȱ também,ȱ naȱ concepçãoȱ deȱ poderȱ comoȱ

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